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sábado, 6 de julho de 2013

MADELEINE COLAÇO EM MÔNACO

JORNAL A TARDE,SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 13 DE FEVEREIRO DE 1989


Os barranqueiros do São Francisco vivem no mundo bem diverso deste que estamos vivendo nas grandes cidades. Nas águas barrentas do Velho Chico eles descem e sobem calmamente, transportando produtos indispensáveis à sua sobrevivência e das populações ribeirinhas.
As velas vão sendo substituídas por motores a diesel em suas embarcações mas ainda podemos sentir o lado poético, como nesta foto de Carlos Santana, onde estão ligados dois elementos: o barqueiro e o ceramista. Um espetáculo de beleza singela, mas, acima de tudo, cheio de vida. São pessoas cheias de dificuldades, mas que conservam a dignidade, a vizinhança, o respeito pelos outros, enfim, conservam valores que precisamos resgatar para vivermos melhor, também nas metrópoles.A Casa da América Latina que já existe em Paris há muitos anos, e foi presidida por vários decênios por um amigo do Brasil, o conde Robert de Billy, está tentando propagar a arte e cultura sul-americana em Mônaco.

                MADELEINE COLAÇO EM MÔNACO

Sobradão em Parati,um tapete de Medeleine
A artista Madeleine Colaço, criadora de tapeçarias, cuja técnica foi descoberta por ela : uma mistura do ponto de Bayeux (francês) e o ponto Arraiolos (português), fez recentemente uma exposição dos seus trabalhos, com muito sucesso. O seu atelier é em Maricá, estado do Rio, e lá ela tem uma centena de operárias-fadas que fabricam seus tapetes. Nas suas tapeçarias de cores quentes as florestas, as flores tropicais, as frutas exóticas e o movimento das dançarinas estão presentes, transportando um pouquinho do nosso folclore, além do casario colonial.O senhor Michel Pastor, presidente da organização, tem feito um trabalho constante para a divulgação das belezas da nossa América do Sul.

ARTISTAS BAIANOS EXPÕEM SUAS OBRAS EM LOS ANGELES

O místico religioso do mestre Didi
Introspective: Contemporary Art By Americans na Brazilians of African Descent é a exposição que foi aberta no último sábado no Califórnia Afro-American Museum (CAAM), de Los Angeles, reunindo artistas brasileiros e americanos que trabalham sob influência da cultura africana. São 14 brasileiros e 17 americanos, totalizando quase uma centena de obras. A exposição permanecerá aberta ao público de Los Angeles até 30 de setembro próximo, quando seguirá para o Bronx Museum de Nova Iorque. Mas o interessante é que entre os brasileiros estão vários baianos como Juarez Paraíso, Maria Adair, Rubem Valentim, Terciliano, o Mestre Didi com seus instrumentos e esculturas afro religiosas e Edson da Luz, além de Siron Franco, Lizar, José Roberto, Leonel Barreto, Maria Lígia Magliani, Edval Ramosa e Gervane de Paula.
A representação americana é composta por Richard Hunt, Mel Edwards, Sam Gilliam, Martin Puryear, Willian T. Williams, Tyrone, Mitchell, Robert Colescott, Sylvia Snowden, Bill Hutson, Keith Morrison, Yvonne Pickering Cartes, Mary O Neil, Jack Whitten, Martha Jacson Jarvis, Calude Clark, Emílio Cruz e Vicent Smith.
Esta iniciativa do Califórnia Afro American Museum, Segundo Tery Knoll, que é uma  das assessoras da curadoria, objetiva a discussão da identidade afro através da arte.
A leveza escultural de Emanoel Araújo
É uma prática daquela instituição a promoção de trabalhos produzidos por artistas negros americanos. Desta vez a curadoria ousou, convidando artistas brasileiros que trabalham sob a influência a cultura africana e,por esta razão, aí está para nossa satisfação um número considerável de baianos. É verdade também que esta escolha deve estar ligada ao interesse que neste momento desperta tudo que está acontecendo no Brasil.
Com a morte de índios, do seringueiro Chico Mendes, com a dívida externa maior do mundo, com uma economia instável, com o grande espetáculo do Carnaval, enfim, com estes grandes contrastes e mazelas, o nosso País tem despertado interesse e até mesmo a cobiça de aventureiros estrangeiros. Agora querem trocar nossa Amazônia por parte da dívida e burramente a chamada imprensa de esquerda está embarcando nesta. Lembro que até as missões religiosas aqui aportam trazendo geólogos, engenheiros, biólogos e outros técnicos para pesquisar as riquezas deste País cambaleante. Mas, voltando a nossa exposição, devo dizer que este interesse explícito ou velado deve ter a ver com este momento histórico que o País atravessa.
Obra de Maria Adair
Dizem os curadores que Introspective busca mostrar uma sutil diferença na produção artística com influência africana do Brasil e nos Estados Unidos. Não vejo como uma diferença sutil, mas como uma diferença muito significativa. Os organizadores acreditam que os artistas americanos tenderiam a mostrar acentuadamente a influência étnica, enquanto os brasileiros sofreriam mais a influência de escolas e movimentos artísticos independentes de raça. No caso dos artistas baianos estão bem mais próximos da África do que de escolas provindas da Europa. Basta à gente dar uma olhada na maioria dos expositores. Só que não se pode por exemplo,  pinçar apenas o Emanoel Araújo, que tem uma arte mais elaborada com uma geometrização próxima a movimentos de outras culturas, porém, qualquer análise que se venha fazer forçosamente desaguará também em sua descendência africana. Diz o texto de promoção da exposição que o escultor baiano Emanoel Araújo é um exemplo de renascimento da arte afro-brasileira depois de 1977.
O trabalho de Araújo é parte de um movimento contemporâneo e internacional da escultura forte, geométrico e abstrato... similar a esculturas contemporâneas européias e americanas. Mesmo assim, Araújo define suas formas abstratas como Abstrações.Afro, e elas baseiam-se quase literalmente em alguns casos de formas esculturais africanas.

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