JORNAL A TARDE,SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 13
DE FEVEREIRO DE 1989
Os barranqueiros do São Francisco
vivem no mundo bem diverso deste que estamos vivendo nas grandes cidades. Nas
águas barrentas do Velho Chico eles descem e sobem calmamente, transportando
produtos indispensáveis à sua sobrevivência e das populações ribeirinhas.
As velas vão sendo substituídas
por motores a diesel em suas embarcações mas ainda podemos sentir o lado
poético, como nesta foto de Carlos Santana, onde estão ligados dois elementos:
o barqueiro e o ceramista. Um espetáculo de beleza singela, mas, acima de tudo,
cheio de vida. São pessoas cheias de dificuldades, mas que conservam a
dignidade, a vizinhança, o respeito pelos outros, enfim, conservam valores que
precisamos resgatar para vivermos melhor, também nas metrópoles.A Casa da
América Latina que já existe em Paris há muitos anos, e foi presidida por
vários decênios por um amigo do Brasil, o conde Robert de Billy, está tentando
propagar a arte e cultura sul-americana em Mônaco.
MADELEINE COLAÇO EM MÔNACO
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Sobradão em Parati,um tapete de Medeleine |
A artista Madeleine Colaço,
criadora de tapeçarias, cuja técnica foi descoberta por ela : uma mistura do
ponto de Bayeux (francês) e o ponto Arraiolos (português), fez recentemente uma
exposição dos seus trabalhos, com muito sucesso. O seu atelier é em Maricá,
estado do Rio, e lá ela tem uma centena de operárias-fadas que fabricam seus
tapetes. Nas suas tapeçarias de cores quentes as florestas, as flores
tropicais, as frutas exóticas e o movimento das dançarinas estão presentes,
transportando um pouquinho do nosso folclore, além do casario colonial.O senhor Michel Pastor,
presidente da organização, tem feito um trabalho constante para a divulgação
das belezas da nossa América do Sul.
ARTISTAS BAIANOS EXPÕEM SUAS
OBRAS EM LOS ANGELES
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O místico religioso do mestre Didi |
Introspective: Contemporary Art
By Americans na Brazilians of African Descent é a exposição que foi aberta no
último sábado no Califórnia Afro-American Museum (CAAM), de Los Angeles,
reunindo artistas brasileiros e americanos que trabalham sob influência da cultura
africana. São 14 brasileiros e 17 americanos, totalizando quase uma centena de
obras. A exposição permanecerá aberta ao público de Los Angeles até 30 de
setembro próximo, quando seguirá para o Bronx Museum de Nova Iorque. Mas o
interessante é que entre os brasileiros estão vários baianos como Juarez
Paraíso, Maria Adair, Rubem Valentim, Terciliano, o Mestre Didi com seus
instrumentos e esculturas afro religiosas e Edson da Luz, além de Siron Franco,
Lizar, José Roberto, Leonel Barreto, Maria Lígia Magliani, Edval Ramosa e
Gervane de Paula.
A representação americana é composta por Richard Hunt, Mel
Edwards, Sam Gilliam, Martin Puryear, Willian T. Williams, Tyrone, Mitchell,
Robert Colescott, Sylvia Snowden, Bill Hutson, Keith Morrison, Yvonne Pickering
Cartes, Mary O Neil, Jack Whitten, Martha Jacson Jarvis, Calude Clark, Emílio
Cruz e Vicent Smith.
Esta iniciativa do Califórnia
Afro American Museum, Segundo Tery Knoll, que é uma das assessoras da curadoria, objetiva a
discussão da identidade afro através da arte.
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A leveza escultural de Emanoel Araújo |
É uma prática daquela instituição
a promoção de trabalhos produzidos por artistas negros americanos. Desta vez a
curadoria ousou, convidando artistas brasileiros que trabalham sob a influência
a cultura africana e,por esta razão, aí está para nossa satisfação um número
considerável de baianos. É verdade também que esta escolha deve estar ligada ao
interesse que neste momento desperta tudo que está acontecendo no Brasil.
Com a morte de índios, do
seringueiro Chico Mendes, com a dívida externa maior do mundo, com uma economia
instável, com o grande espetáculo do Carnaval, enfim, com estes grandes
contrastes e mazelas, o nosso País tem despertado interesse e até mesmo a
cobiça de aventureiros estrangeiros. Agora querem trocar nossa Amazônia por parte
da dívida e burramente a chamada imprensa de esquerda está embarcando nesta.
Lembro que até as missões religiosas aqui aportam trazendo geólogos,
engenheiros, biólogos e outros técnicos para pesquisar as riquezas deste País
cambaleante. Mas, voltando a nossa exposição, devo dizer que este interesse
explícito ou velado deve ter a ver com este momento histórico que o País
atravessa.
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Obra de Maria Adair |
Dizem os curadores que
Introspective busca mostrar uma sutil diferença na produção artística com
influência africana do Brasil e nos Estados Unidos. Não vejo como uma diferença
sutil, mas como uma diferença muito significativa. Os organizadores acreditam
que os artistas americanos tenderiam a mostrar acentuadamente a influência
étnica, enquanto os brasileiros sofreriam mais a influência de escolas e
movimentos artísticos independentes de raça. No caso dos artistas baianos estão
bem mais próximos da África do que de escolas provindas da Europa. Basta à
gente dar uma olhada na maioria dos expositores. Só que não se pode por exemplo, pinçar apenas o Emanoel Araújo, que tem uma
arte mais elaborada com uma geometrização próxima a movimentos de outras
culturas, porém, qualquer análise que se venha fazer forçosamente desaguará
também em sua descendência africana. Diz o texto de promoção da exposição que o
escultor baiano Emanoel Araújo é um exemplo de renascimento da arte
afro-brasileira depois de 1977.
O trabalho de Araújo é parte de
um movimento contemporâneo e internacional da escultura forte, geométrico e
abstrato... similar a esculturas contemporâneas européias e americanas. Mesmo
assim, Araújo define suas formas abstratas como Abstrações.Afro, e elas baseiam-se quase
literalmente em alguns casos de formas esculturais africanas.
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