JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 1989
O artista Leonardo Alencar está expondo na Casa da Gravura no Solar do Barão, em Curitiba, uma série de xilos baseadas no poema Navio Negreiro, de Castro Alves. O artista foi convidado pela Fundação Cultural de Curitiba, após participar do Salão de Gravura.
Leonardo captou a essência do poema |
O poema épico Navio Negreiro, de Castro Alves ,inspirou Leonardo |
RETROSPECTIVA DE ANDY WARHOL
Nova Iorque (UPI)- A primeira
grande retrospectiva de Andy Warhol desde a sua morte, há dois anos, foi
inaugurada no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, e exalta mais a importância do artista como historiador
visual do que a imagem de um extraordinário gênio criativo.
Andy ainda jovem |
Nada marca mais os anos de 1962 a 1987 do que a
gigantesca mostra do gênio da pintura pop. Os historiadores e arqueólogos do
futuro terão uma visão mais abrangente desta época para estudar do que qualquer
outra oferecida por outro artista.
A exibição apresenta uma antologia
pictórica de rostos célebres, desde Marilyn Monroe a Mao Tse-Tung, manchete de
jornais, o assassinato do presidente Kennedy, distúrbios raciais, produtos
comerciais com ênfase nos alimentos, publicidade, moedas, recortes de esportes
e quadrinhos, os quais Warhol transformou na imagem típica norte-americana.
Também reflete sua particular
preocupação com as penas capitais, o aumento da violência, a vulgarização da
religião e a falta de moralidade. Entre a variedade de trabalhos de Warhol,
nenhum se iguala a poderosa pintura de 1978, que mostra um crânio sobre um dos
ombros do artista.
Autoretrato de Warhol |
Esta exposição começa por algumas
de suas obras comerciais da década de 50, incluindo uma vitrina da loja Bonwit
Teller. Warhol mudou um pouco a maneira de vermos o mundo á nossa volta,
comentou Kynaston McShin, que dirige a mostra. Também teve a inata habilidade
de escolher as imagens certas, e que hoje em dia ainda são de grandes
ressonâncias: grandes furos de jornais e revistas ou descobertas fotográficas.
São imagens simples que, ao encontrarem seu caminho de destaque, tornaram-se
imortais e signos potentes.
Para provar que o artista merece
mais do que os 15 minutos proverbiais de celebridades, o Museu de Arte Moderna
expôs mais de 300 trabalhos, pinturas, desenhos e fotografias e 12 vídeos sobre
Nova Iorque e outros museus com obras de Warhol, além de algumas coleções
particulares de nove países.
O dirigente chinês Mao Tse-Tung |
Espera-se uma grande afluência de
público ao museu para apreciar as obras de Warhol, mas não será cobrado nenhum
ingresso especial para assistir à exibição. O ingresso normal para visitar o
Museu (US$6) dá direito a sala onde estão expostos os trabalhos de Warhol, que
ocupam dois andares.
Existe uma variedade de exemplos
de imagens bidimensionais na exibição-32 variedades de latas de sopa da marca
Campbell desde a de camarão até a de carne, 192 notas de um dólar, 36 retratos
da colecionador Ethel Scull e 16 de Jackie Onassis e 30 reproduções da Mona
Lisa cujo título é Thirty is Better Than One.
Ele também tentou múltiplas
imagens tridimensionais mediante a reprodução de caixas de embarque dos
produtos Brillo e Del Monte, Heinz e Campbell, numa réplica de madeira.
Há uma infinidade de esboços em
tinta, lápis e crayon, incluindo um grande estudo de um barco de lixo, que
foram realizados em carvão e que mostram seu extraordinário talento. Um dos
poucos trabalhos de grande impacto foi feito em 1962, que mostra um maço de
notas de um dólar atados com uma fita cor-de-rosa, deixando claro o interesse
de Warhol pelo dinheiro, e o que mais tarde se traduziria - em sua fortuna cerca
de 50 milhões de dólares.
Uma parte da retrospectiva foi dedicada a década de 1963-1972, durante o
qual o artista se concentrou na produção de filmes; mas a década de 70 está
fracamente representada.
Na década dos anos80, uma fase
pouco conhecida, voltou ás imagens de serigrafia cobertas por desenhos de
camuflagem militar e outros trabalhos de mestres como Edvard Munch, Giorgio de Chirico
e Rafael.
As expressões de sua
religiosidade anteriores á sua morte retrataram a sua preocupação com o
consumismo e a degradação dos aspectos, algumas vezes sagrados, de sua vida.
O MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA
São Paulo já conta com mais um
centro cultural. No dia 18 de março passado, foi inaugurado junto á estação
Barra Funda do metrô, o Memorial da América Latina, pelo governador do estado
de São Paulo, Orestes Quércia, em presença de muitos convidados.
Uma foto na entrada do Memorial da América Latina,obra de Niemeyer |
A primeira preocupação de
Niemeyer foi a de inserir suas idéias acima mencionadas na arquitetura da obra,
no arrojo de suas estruturas, concomitantemente ousadas e simples, onde
predominam o apuro técnico e a forma inovadora na sua plástica.
Clara, simples e diferente, o
Memorial da América Latina apresenta arquitetura reduzida a dois ou três
elementos, com vigas de 90 a 60m, que sustentam as placas curvas pré-fabricadas.
Para Niemeyer é a procura da beleza nas suas superfícies curvas e sensuais, nas
espessuras de suas lages e apoio.
O professor e antropólogo Darcy
Ribeiro, responsável pelo projeto cultural da obra, afirma que é necessário que
se promova uma integração da cultura latino-americana no Brasil, em São Paulo , a fim de que
ela torne mais abrangente o universo de referência e de informações da nossa
juventude, tornando-se capaz de fazer suas opções culturais mais
conscientemente, mais dentro da realidade em que se vive.
Para tentar aproximar os 400
milhões de vizinhos do continente, que há cerca de 500 anos mal se falam, 20
mil metros cúbicos de concreto e 2.200 toneladas de aço foram usadas nos 20 mil
metros quadrados de área construída, que compõe os diversos blocos do memorial,
localizado num terreno de 78 mil metros quadrados, na Barra Funda, bairro
central de São Paulo.
Pela primeira vez o Brasil toma a
iniciativa de promover em grande escala, um projeto de aproximação continental
que contará com uma Praça Cívica, a Biblioteca das Américas, um auditório, um
pavilhão de criatividade para exposição de artesanato latino americano e o
Salão de Atos que conta com painéis dos povos indígenas, afros, dos iberos, dos
imigrantes, dos libertadores e dos edificadores.
O Memorial, na palavra de seus
criadores é uma proposta muito ambiciosa, com traços de grande ousadia; na
verdade um gigantesco centro de difusão cultural.
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