JORNAL A TARDE, TERÇA-FEIRA, 1º
DEOUTUBRO DE 2002.
GOYA LOPES DESENHA CAPA DE LIVRO
A designer Goya Lopes, criadora
da estamparia Didara, é a autora da capa da nova edição de Malês,a Insurreição
das Senzalas,de Pedro Calmon, livro com que a Academia de Letras e a Assembléia
Legislativa homenageiam o centenário do saudoso historiador ( nascido em
Amargosa / BA, em 23 de dezembro de 1902 ). Em 1998, as duas instituições, que
mantêm convênio para publicação de livros, patrocinaram a segunda edição do A
Bala de Ouro,m outro clássico de Pedro Calmon. Goya Lopes é formada pela Escola de Belas Artes da Ufba e fez pós-graduação em Florença ( Itália). Sua
trajetória designer do setor têxtil foi iniciada na indústria paulista há cerca
de 20 anos e incrementada, pouco tempo depois, quando optou pela criação da
própria marca, a Didara, cujo grafismo mistura influências afros e indígenas
brasileiras, predominando a variação de tons de uma só cor ou de duas cores. A
artista possui loja no Pelourinho e
exporta os trabalhos para o Estados Unidos e Europa.
Reprodução da capa criada por Goya Lopes do livro de Pedro Calmon.
INFOGRAVURAS
Será aberta, hoje , a exposição
de André Faria que remete ao sistema mitológico indígena transmitido oralmente
por várias gerações criando um elo entre as relações socioculturais existentes
nessas tribos e a ancestralidade. André explica que seu trabalho” gira em torno da imagem de
uma senhora sentada, apática, mas não distraída. A expressão facial e a tensão
muscular demonstram incômodo e falta de perspectivas”. Ele quer questionar
sobre nosso País e a nossa identidade. A princípio, a partir de sua imagem, das
suas vestes, pode-se pensar em uma índia que carrega alguns traços da civilização
ocidental. De alguma forma, isso caracteriza esta nação, mas é como se não
estivesse bem explicado, como se algo estivesse por se desvendar. Para ele “ as
cores empregadas sobre um fundo de formas concretas remetem ao urucum e ao
jenipapo, variações do vermelho e preto,
respectivamente. Para muitas etnias , o urucum aplicado sobre a pele está
relacionado às atividades cotidianas ou às festividades; o jenipapo pode trazer
signos de luto ou guerra. Assim, pode-se seguir uma ordem no desenvolvimento
deste trabalho que culmina com a cor preta, refletindo o momento de inércia e a
necessidades de transformação”.
INSTALAÇÕES Á BASE DE DENDÊ
O artista plástico Ayrson
Heráclito apresentou, no Museu de Arte Moderna – MAM, a exposição Ecologia de
Pertencimento,. A mostra reúne três instalações utilizando o dendê como
matéria-prima central. A proposta, segundo o artista , “ É uma leitura da
História Cultural Baiana,a partir de dados históricos, sociológicos e
culturais, visando a uma reflexão sobre questões culturais afro-baianas”.
Baiano de Macaúbas,Heráclito é mestre em artes plásticas pela Ufba é professor
da Ucsal, já tendo realizado várias exposições no Brasil e no exterior. Ele foi
selecionado pelo Prêmio Braskem de Cultura e Arte deste ano, o que lhe rendeu o
patrocínio da empresa para a exposição, através do FazCultura ( programa de
incentivo à cultura do Governo da Bahia ). ” O objetivo desta exposição é
sondar a questão racial na Bahia, ampliar o significado do discurso étnico,
especialmente falar dos negros e do holocausto da escravidão”., afirma
Heráclito. O produto do óleo de palma é utilizado pelo artista como matéria-prima central para pensar a cultura baiana. “O
dendê não é um elemento pacífico, é ativo, sexual, quente, está associado a
divindades, como Exu”., diz o artista plástico.Em sua leitura , ele explica que
“toma a escravidão como elemento fundamental do processo investigativo, seu passado
e seu presente aberto, metaforizados, ordenados e sistematizados no dendê, em
suas cores, volumetria, densidade, solubilidade e condutibilidade”.
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