JORNAL A TARDE SÁBADO, 27 DE
DEZEMBRO DE 1975
Pela primeira vez não registro
nesta coluna uma exposição realizada na Bahia.Isto porque tudo é festa. Ninguém
quis arriscar expor seus trabalhos, pois o velho de barba branca domina todos
os espíritos. Porém, registro algumas notícias de grande interesse para as
Artes Plásticas, a saber: 1) O funcionamento da Funarte, ainda no primeiro
semestre de 1976, que trará grandes benefícios não somente para o
desenvolvimento das artes plásticas, como também da dança, da música e do
teatro. 2) registro também uma exposição de 56 trabalhos inéditos de Debret,
aquele francês que pintou os costumes brasileiros no Brasil Colônia. 3) A
decisão do Presidente da República em isentar do imposto de importação as obras
que participarem da Bienal Internacional de São Paulo visando a sua
comercialização e o enriquecimento do nosso acervo artístico; 4) Solução para
as dotações do MAM-Rio, que era uma preocupação geral no meio das artes
plásticas. No próximo ano, esta
instituição não enfrentará os problemas e as necessidades do ano que
finda; 5) Finalmente, a realização do Primeiro Encontro Nacional de Pintores,
com quatro obras cada um, que terá lugar na cidade de Bagé, a 400 quilômetros de
Porto Alegre.
Essas notícias que registro são
necessárias para mostrar que o setor vem sofrendo com o passar do tempo grandes
transformações que por certo determinarão maiores possibilidades de
criatividade e expressão.
PROTEÇÃO DE OBRAS
Um método engenhoso para
ludibriar vândalos ou ladrões que danificam ou se apossam de valiosos quadros
em galerias foi demonstrado recentemente em Londres. Trata-se
de uma técnica fotográfica que reproduz a textura de qualquer pintura em uma
cópia que, segundo o inventor, o público será capaz de distinguir do original.
Um plano para fornecer essas
reproduções ao custo de até 1.500 libras esterlinas por peças para exibição
em base rotativa foi submetido a algumas galerias internacionais, inclusive o
Rijksmuseum, em Amsterdã, onde a obra-prima de Rembrandt, A Ronda Noturna, foi
há pouco seriamente danificada. Esta obra -em neerlandês: De Nachtwacht - é o nome pelo qual se conhece comumente a uma das mais famosas do mestre e pintor holandês Rembrandt, pintada entre 1640 e 1642. Esta é uma das jóias da exposição permanente do Rijksmuseum, de Amsterdã, pinacoteca especializada na Pintura neerlandesa.(Foto, ao lado)
A ARTE ESQUIMÓ
Pela primeira vez um museu
europeu expôs arte de esquimós canadenses. A exposição de 97 pequenas
esculturas, a maior parte delas de esteatite ou ossos de animais, bem como de 35
estampas multicores de 1950 . A mostra foi preparada na República Federal da Alemanha, pelo embaixador canadense, durante 18 meses.
Esta exposição possibilitou uma
visão na arte de um povo descoberto para a civilização, só em 1950, com as
informações de caráter etnológico. Foram mostrados utensílios de uso diário e
peças do vestuário. Sessões de filmes complementares elucidavam sobre a
história de 4.000 anos dos habitantes do Ártico, para quem a Terra, a água,
animais mitológicos, e cenas de caça continuam a ser ainda hoje o tema
preferido dos seus objetos de arte
DEBRET VAI A MINAS
A partir de fevereiro os mineiros
terão oportunidade de ver obras inéditas de Debret, no Museu do Padre Toledo,
mantido pela Fundação Rodrigo Melo Franco e Andrade na cidade de Tiradentes.
Serão mostrados 56 desenhos de Debret, o pintor francês que no século passado
retratou as paisagens, usos e costumes de várias regiões brasileiras.
A Fundação possui ainda, em
Tiradentes, um Centro de Estudos com mais de 250 mil microfilmes de documentos
antigos provenientes do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa e do Qual d’
Orsay, francês, relativo a atos da política exterior brasileira, documentos
consulares sobre a invasão francesa e sobre a revolução pernambucana,
abrangendo o período de 1650
a 1826. Criada em 1967, a Fundação que mantém
convênio com o 3º Distrito Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional e com o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de
Minas, tem por finalidade a recuperação e a preservação artística, cultural e
arquitetônica da cidade de Tiradentes.
Já o Museu do Padre Toledo,
instalado na Casa do Inconfidente, possui poucas peças em seu acervo, mas
constantemente expõe peças emprestadas por outros museus, como o da
Inconfidência, de Ouro Preto, e o de São João Del Rei.
NEM COMEÇOU E JÁ ESTÃO MUDANDO
Finalmente foi criado um órgão
que pretende concentrar todos os departamentos e divisões do setor cultural.
Acontece que alguns deles ficaram de fora do plano inicial, da Funarte - Fundação
Nacional de Arte. Além disso, este órgão vai executar a política cultural do
governo nas áreas do teatro, música, folclore e artes plásticas.
O decreto que a institui já foi
sancionado pelo Presidente e terá a flexibilidade necessária, a exemplo, das
fundações, e com oportunidades de obtenção de recursos.
A Funarte deverá funcionar ainda
no primeiro semestre do próximo ano.
ISENTAS DE IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO
Foi também assinado um
decreto-lei pelo Presidente Geisel, baseado numa exposição de motivos do
Ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen concedendo isenção do imposto de
importação às obras de arte provenientes do estrangeiro que participarem das
bienais internacionais de São Paulo, promovidas pela Fundação Bienal de São
Paulo. O decreto presidencial determina que a isenção abrangerá,
exclusivamente, as obras de arte vendidas no recinto da exposição, observado o
limite de valor fixado pelo Ministro da Fazenda. Este limite poderá ser fixado
em caráter global, compreendendo vendas de todas as representações participantes
da Bienal Internacional de Artes Plásticas ou parcial, por representação
estrangeira.
Na exposição de motivos que
acompanha o decreto, o Ministro Mário Henrique Simonsen argumenta que, tradicionalmente,
a importância de obras de arte não tem sido objeto de tributação no Brasil,
tendo em vista os benefícios culturais decorrentes de sua incorporação ao
acervo artístico nacional, seja público ou particular.
Observa o Ministro, que cm adoção
de medidas visando conter as importações de bens não essenciais ao
desenvolvimento econômico, as obras de arte foram inseridas no contexto de uma
elevação geral de alíquotas do Imposto de importação, de até 100 por cento,
destinada a entrar em vigor até 31 de dezembro do próximo ano.
O Ministro da Fazenda diz ainda
que, embora justificada pela necessidade de poupar divisas, sendo inegável sua
validade com referência às importações
efetuadas por galerias de arte particulares ou pessoas físicas, essa majoração
do alíquotas carece flexibilidade, de modo a excluir de seu âmbito de
aplicação, mesmo que parcialmente, as obras destinadas às bienais
internacionais de artes plásticas.
Caso contrário, prossegue a
correr-se o risco de impossibilitar a venda dessas obras em nosso país, com
prováveis reflexos negativos sobre o nível de participação dos artistas
estrangeiros nas próximas bienais de São Paulo.
Finalmente, ressaltou que os
participantes estrangeiros representam oficialmente seus países, convidados que
são pelo ministério das Relações Exteriores do Brasil. Além do mais, é preciso
levar em conta as despesas suportadas por essas representações, tais como
transporte, hospedagem, impressão de catálogos, montagens de stands, etc. Por
isso, acredito, que esta medida fortalecerá significativamente a Bienal
Internacional de São Paulo, cuja importância para a imagem cultural de nosso
país no exterior è dispensável justificar.
DINHEIRO PARA O MAM-RIO
Os frequentadores e artistas
estão contentes com a notícia: é que o Diretor finaceiro do Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro, Leônidas Bório resolveu o problema das dotações para
este órgão cultural. De agora em diante você poderá fazer doações àquela
instituição e tem direito a desconto no Imposto de Renda. Com isto acabou o
problema da retração de algumas pessoas físicas e jurídicas que poderão fazer
doações. Assim, as dificuldades enfrentadas pelo MAM-Rio durante o ano que
finda, não se repetirão em 1976.
ENCONTRO DOS PINTORES
Carlos Scliar,um artista grandioso |
Artistas plásticos brasileiros estão sendo
convidados para participar, com quatro obras cada um, do Primeiro Encontro
Nacional de Pintores, que será realizado entre 4 e 25 de janeiro próximo, na
cidade gaúcha de Bagé, a 400 quilômetros de Porto Alegre. Entre os nomes
já confirmados estão Antônio Maia, Ninita Moutinho, Maria Luiza Leão, José de
Lima, Carlos Scliar, Glauco Rodrigues e Glênio Biancheti.A promoção é do Museu Dom Diogo de Souza, em
colaboração com a Secretaria Estadual de Turismo. A localização do Encontro em
Bagé deve-se ao fato de que quatro grandes nomes das artes brasileiras nasceram
lá: Biancheti, Danúbio, Glauco e Scliar.Fizeram ali suas primeiras pesquisas e juntos
fundaram o Clube de Gravura, em 1950, possibilitando o surgimento de uma
infinidade de gravadores no sul do país.Os artistas participantes ficarão hospedados em
fazendas da região e pintarão novos quadros com temas gaúchos. Paralelamente ao
encontro serão promovidas palestras e grupos de debates.
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