JORNAL A TARDE , SALVADOR, SÁBADO, 14 DE
FEVEREIRO DE 1976
Painel de Ângelo Roberto, na sede do Instituto Nacional de Pesos e Medidas da Bahia, no Centro Industrial de Aratu |
Com Ângelo Roberto, na realidade,
aconteceu quase tudo isto: advogado por defender e executar um bom trabalho,
boêmio por freqüentar as noitadas baianas e por gostar de um bate-papo
acompanhado pela cerveja ou batida; filósofo por natureza, escritor por usar os
pincéis e por fim, artista, que por um motivo ou por outro pode partir para uma
nova técnica, após criar, trabalhar ou até mesmo renovar sua técnica anterior.
Natural da cidade de Ibicaraí,
Ângelo Roberto costuma dizer que fez de tudo, mas desde cedo descobriu que o único
meio de fazer com que " pudesse sentir a minha maior manifestação era através
da arte, e por isto não hesitei; parti de corpo e alma tendo sempre a intenção
de realizar um trabalho que tivesse consciência de mim mesmo, sem nunca pensar
nas conseqüências com o mercado de trabalho.
Cheguei em Salvador, por volta de
1943.Estudei e consegui, depois de um
certo tempo, ingressar na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da
Bahia, mas tive que abandonar o curso, pois tinha uma mulher pra cuidar e
precisava ganhar dinheiro. Não desanimei. Dei duro. Parti para o desenho
publicitário o que na realidade é muito rendoso e hoje prático o grafismo de
figuras humanas usando a técnica bico de pena."
Apesar de já ter uma larga
experiência com o Desenho Publicitário foi na Escola de Belas Artes da UFBa.,
que Ângelo percebeu sua habilidade em executar certos tipos de trabalhos com a
arte. Nesta Escola ele passou a fazer gravura e xilogravura influenciado pelos
artistas Zé Maria e Juarez Paraíso. Daí partiu para a escultura quando foi
aluno do então professor passando logo em seguida a trabalhar com o óleo sobre
tela. Mas não ficou só nisto, Sua curiosidade se estendeu para outros campos
como a montagem, a caricatura, a charge e a ilustração de livros, mas acredito
que a qualquer hora possa voltar a executar algum trabalho publicitário, desde
quando sinta que o mesmo poderá ser compensador.
Mas, foi na gravura, que Ângelo
Roberto sentiu toda a sua inquietação de artista e através dela, motivado pelo
preto no branco foi que ele partiu para os trabalhos em bico de pena, " o que
posso considerar como uma conseqüência de tudo aquilo que fiz anteriormente não
significando no entanto, que isto se trate de um estilo definitivo, pois a
qualquer momento posso voltar a fazer o que fiz anteriormente, ou o que me der
na cabeça."
Ângelo Roberto,por ocasião de sua última exposição na Galeria Cañizares, da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia no ano de 1975. |
E continua afirmando "as cores me atraem profundamente,
mas prefiro ficar com o preto e o branco. A técnica que uso nos meus trabalhos
em bico de pena é simples. Faço uma média de 50 trabalhos durante o ano todo o
que na realidade dar para eu viver essencialmente. Na prancheta procuro estudar
e analisar aquilo que estou querendo. Começo com o traço da linha para a
execução do desenho propriamente dito, o que na realidade é mais trabalhoso,
mais demorado do que o próprio esboço para a construção de minhas figuras."
Nas suas figuras estilizadas,
retratando sempre as musculaturas e os movimentos de seus personagens bem
ligados à terra, Ângelo Roberto fotografa uma infância não muito distante do
seu estado de espírito, mas que o tempo ensinou-lhe a documentar de uma maneira
muito própria, toda a vida de uma criança interiorana que saboreia as frutas,
usa badogue, sobe me árvores, brinca de gude e monta a cavalo.
Na realidade meus trabalhos tem
muito a ver com minha infância.
Meninos, animais e a natureza. É
aquela mania de menino de querer fazer o tudo com o nada, de transformar os
sonhos em realidade, de inventar e modificar as coisas que estão ao seu redor.
Na tranqüilidade de sua
residência, brincando ou brigando com um dos seus cinco filhos, Ângelo Roberto
fala de sua próxima exposição que será realizada meses
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