JORNAL A TARDE, SALVADOR, 22 DE
DEZEMBRO DE 1979
SOBEM AS PIPAS DE MÁRCIA MAGNO
As
pipas ganham os céus sob o comando de garotos maltrapilhos que infestam os
bairros populares da maioria das cidades brasileiras. Elas dançam nos espaços
sob o comando de verdadeiros malabaristas. São meninos vivos, alegres e
brincalhões que fazem os seus pegas onde as únicas vítimas são alguns metros de
linha temperada e as arraias que se desprendem das mãos dos vencidos. Uma
batalha portanto, onde sobrevive o mais vivo e aquele que tem uma linha melhor
temperada. Foi exatamente dentro deste quadro, tão comum e belo, que a artista
Márcia Magno foi encontrar o suporte que considerou adequado para realizar sua
obra.
Boa
observadora, encontrou ainda nas pipas os desenhos feitos sem muita pretensão
por aqueles garotos humildes.
Procurou
melhorar e a geometria, que aprendera na Escola de Belas Artes da Bahia e o
chamamento do social que viveu na Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de
Janeiro foram suficientes para lhes dar o
estrato necessário e conceber uma obra interessante e acima de tudo
vibrante. Suas gravuras ganharam forças e a batalha, pois agora mesmo Foi uma
das poucas selecionadas para participar do Salão Nacional de Belas Artes e está
expondo na Galeria Macunaíma, da Funarte, no Rio de Janeiro.
Confesso
que fiquei contente quando soube da sua escolha e desta nova exposição.
Quando
participei do júri no Salão Universitário e Nordestino em 1977 ela estava no
grupo Lama, com um trabalho integrado de arte plásticas, música e dança,
arrebatou o primeiro prêmio. No ano seguinte no 1º Salão Universitário Baiano
de Artes Visuais, concorreu com o Projeto Papagaio 1 e 2, foi agraciada com o
prêmio da Fundação Cultural do Estado da Bahia. Aí apareceram as pipas e o
projeto Papagaio realmente trouxe algo de novo à gravura plana.
Assim,
o foyer do Teatro Castro Alves foi pequeno para receber as pipas que a todo
custo queriam mais espaço. Márcia prosseguiu participando de outros salões e
exposições e agora está mostrando suas pipas aos cariocas.
TRAMA
E LUZ DE MARIA ADAIR
A
artista Maria Adair volta a expor, desta vez na Galeria do Praiamar Hotel, na Ladeira da Barra. São trabalhos inspirados em corpos humanos e de vegetais.
Trabalhos que estão intimamente relacionados com as pulsações da vida no que
diz respeito aos movimentos e ás formas sinuosas que encerram os músculos e os
órgãos. Um trabalho que reflete sua visão pictórica calcada na necessidade de
valorização de tudo que palpita por cima deste universo tão conturbado e tão violento.
As
cores são belas e o preto (bico-de-pena) nos oferece um bom contraste com as
tintas de várias cores que vão esmaecendo á medida que o preto aparece.
Maria
Adair vive exclusivamente de arte. Ministrando aulas de arte nos colégios Maristas e no
São Paulo, ou quando está produzindo suas telas em seu atelier. É uma mulher
que vive dedicada à sua profissão. Recentemente com mais dois colegas fez toda
a decoração natalina do Shopping Center Iguatemi. Nem terminara e já estava
completamente envolvida com esta nova exposição. Tem uma força de vontade
férrea e já está se preparando para uma bolsa de estudos que fará nos Estados
Unidos.
Conheço
de perto a obra de Maria Adair que a princípio sofreu uma influência marcante
do professor Juarez Paraíso, como muitos outros estudantes que aprenderam com
ele a manejar as formas e as tintas.
Mas,
aos poucos Adair está se libertando da batuta do mestre em busca de suas
próprias manifestações e sensibilidades. Não é uma artista conformada com o que
faz ou está fazendo. Agora mesmo está buscando novos horizontes, buscando novas
formas de realizar o seu trabalho dentro da temática que elegeu e que vem
desenvolvendo há alguns anos. Creio mesmo, que a partir desta exposição Maria
Adair começa a delinear o seu próprio caminho em busca do encontro com sua
personalidade pictórica, que é uma das coisas mais difíceis para um artista. É
aquele momento que você diz este quadro é de fulano. Isto não se consegue de
uma hora para outra. E tem ainda o problema d qualidade.
Portanto
é necessário buscar o encontro de uma personalidade pictórica com qualidade.
Acredito que Maria Adair está chegando lá.
FERNANDO
COELHO EM SÃO PAULO
Obra recente de Fernando Coelho. |
Agora
o Fernando Volta com outra mostra na Galeria Renato Magalhães Gouveia, em São Paulo , com
apresentação do Jacob Klintowitz que em certo trecho afirma. Ele trata de
equilibristas, figuras soltas no espaço em pleno momento ou desejo de
ultrapassagem. É o seu assunto.
São
figuras apresentadas com os personagens da história em quadrinhos, parentes
próximos dos comics, São símbolos do homem, humanos no difícil exercício da
sobrevivência e ao gesto. Mas, em todas estas pinturas, há um clima de sonho,
uma atmosfera onírica, como se o artista contemplasse a realidade com os olhos
mágicos de menino. Olhos jovens e esperançosos assistindo os homens no seu vôo
que, também, é o vôo do artista em direção ao seu sonho.
Homens
sonhando e voando, Ultrapassando obstáculos. Homens sem peso, soltos, libertos,
amigos, sonhadores, homens artistas.
Propositalmente
transcrevo parte da apresentação do Jacob o qual continua realçando que: Esta
habilidade, o saber fazer, já lhe valeu, talvez, algumas restrições. Acredito
que as restrições pela coisa bem feita, de boa qualidade é inviável. O que
houve e há em certos setores é discordância da ambigüidade em ter uma visão
crítica da sociedade da qual ele é um dos grandes beneficiados.
Digo
da sociedade bem posta, daquela sociedade ligada ao desperdício e as delícias
da vida. Aí é fácil ter uma visão
critica da vida com a barriga cheia de caviar. Mas, é preciso que sua
arte seja também vista como uma objetiva fora de uma realidade, uma visão de um
sonhador que tenta equilibrar-se numa visão crítica do social e falta-lhe os
instrumentos para senti-la. Uma visão de alguém que olha a tragédia que vivem
os palhaços e os duendes de uma vidraça e prova de odor, e outras
inconveniências, a que estão livres muitos que andam por aí despreocupados com
custo de vida e outras coisas mais. Uma visão diria assim colorida e bem feita,
mas fora da realidade. É como o olhar de alguém que passa pela Avenida
Suburbana num Mercedes e fica encantado com os casebres rústicos e miseráveis
que vão desfilando no vidro fechado, refletindo na lente do seu Ray-Ban
francês.
CRÍTICO
DE ARTES VENCE CONCURSO
O critico Walmir Ayala foi o vencedor do concurso de
monografias sobre o artista plástico Vicente do Rego Monteiro, com o trabalho
Vicente Inventor, promovido pelo Instituto Nacional de Artes Plásticas da
Funarte. O prêmio consiste na publicação do trabalho além de CR$30mil em
dinheiro.
A comissão indicada para a
seleção de estudos, com um mínimo de 90 páginas, realizados por críticos,
pesquisadores e interessados pelo desenvolvimento das artes plásticas no
Brasil, foi formada pelo diretor do INAP e mais quatro críticos. João Vicente
Salgueiro, como Diretor do INAP, foi o presidente da banca composta por Antônio
Bento de Araújo Lima, Antônio Alves Coelho, Ruy Sampaio Silva e Geraldo Edson
de Andrade.Durante a reunião de seleção dos trabalhos foi sugerida a realização
de uma retrospectiva da obra de Vicente Rego Monteiro.
Os melhores do júri, em
seus votos qualificados deram as seguintes opiniões sobre o trabalho,
identificado sob o pseudônimo de Aldebará, que acabou saindo vencedor:
Antônio Bento- É um
trabalho difícil que analisa diversas obras do artista.
Antônio Coelho- A
monografia de Aldebará (Walmir Ayala) é a mais completa, a mais detalhada e a
mais interessante pois enfoca melhor vários aspectos interessantes do pintor.
Ruy Sampaio-Aldebará empregou uma boa metodologia apesar do resultado final do trabalho apresentar
algumas falhas.
Geraldo Edson- o autor
apresenta grande acúmulo de informações sobre um artista que nunca foi estudado
e a respeito do qual não há bibliografia. Daí vem o mérito do trabalho que não
precisa ser o ideal. Basta que seja o melhor, apesar de algumas ressalvas.
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