JORNAL A TARDE,SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JUNHO DE 1987
A ARTE ERÓTICA DE MASO VAI SER
EXPOSTA NO RIO
Esta tela ilustra o convite da exposição de Maso |
Está
havendo um mercado cada vez maior para a arte erótica. Já existe no Rio de
Janeiro uma galeria especializada, que é Erótica, situada no Art Cent
Itanhangá, Estrada da BR, 1636, loja C. É exatamente aí que o artista paulista,
radicado na Bahia há vários anos. Cuidadoso, verdadeiro e detalhes, e depois
ele vê todo local do corpo da escolhe
lançar pequeninas figura sua e ouras vezes uma gotas tatuagem ou até mesmo que
surge no canto. Maso consegue bons efeitos de luz e sombra, o que na verdade, é
o grande trunfo do bom fotógrafo. Ele procura também fotografar suas modelos em
posições que permitem cortes os quais resultam em telas com muita estética,
leveza e equilíbrio, e um erotismo suave e intrigante. Nosso amigo comum,
psiquiatra Ricardo Chequeer diz que se chamássemos seus trabalhos de
hiper-realistas estaríamos sendo absolutamente pobres em nossa desumana secura.
“Maso é metal-real, antes de ser concreto”.
Concordo
com ele e nunca canso de lembrar que certa vez Maso me procurou na redação com
alguns trabalhos e os colegas confundiram suas telas com fotografias, tal a
perfeição das figuras.
Diz
ainda Ricardo que “em pleno século XIX, Oscar Wilde afirmava que o homem do
nosso tempo teme o realismo assim como Calibã temia contemplar sua própria face
no espelho .
A
assertiva lapidar de Wilde é atemporal. Vale para, inclusive, aqui e agora. Os
nus de Maso desnudam a própria polpa da condição Mulher. O âmago da verdade
contido nos corpos é por ele assim mastigado, engolido e por fim transfigurado
num fortíssimo de explosão vital.
São
as entranhas da loucura e da carne o que Maso nos oferece em banquetes: as
curvas quase entortando a tessitura do espaço-tempo, a linha que fulgura
perseguindo as curvas, o olho e as carnes do observador volteando junto aos
caos em vertiginosa queda livre. Isto são as fêmeas de Maso, ou melhor a Mulher
atemporal atrás do volume-Mulher emergindo das janelas que o pintor recorta na
parede branca.
Toda
a luz vinda do fundo não está na tela, porém no mais ocultado sem-fim do
inconsciente. Maso espouca e brota parido da sombra, da Mãe-Terra ancestral e
perdida que reside no cerne de todos os ventres, na penugem do eu e do nada, que
flutua no abismo de todas as solidões”.
CARLOS
BARBOSA COMEMORA SEUS 20 ANOS DE DEDICAÇÃO Á ARTE
O artista Carlo Barbosa retoca um novo trabalho em seu atelier |
Uma
homenagem justa será prestada pelos feirenses ao artista Carlo Barbosa. A
última vez que o encontrei estava desmontando sua exposição no Museu de Arte da
Bahia.
Notei
que o artista andava meio aborrecido, e com razão; queixava-se da falta de
interesse de algumas pessoas. Sua reação era fruto exatamente do contraste de
sua experiência vivida no Sul, onde realmente o interesse é maior, o tratamento
melhor e outros elementos que gratificam o artista. Agora, vejo com alegria e
disposição de seus conterrâneos, tendo á frente o jornalista Antônio José
Larangeiras, e outras pessoas de destaque da sociedade feirense, colocando as
coisas nos seus devidos lugares. A arte de Carlo Barbosa merece ser vista com
muita atenção. Ele é um artista que foge do tradicional, que rompe com a
figuração em busca de expressões que explodem em emoção. Cada pequeno
traço, cada mancha que surge nos levam a momentos de poesia.
Carlo
é um poeta que escreve com as cores.Cores
que se misturam; se multiplicam, explodem e se esmaecem. Ao pegar no pincel,
sinto a presença de um maestro com uma batuta a reger uma orquestra de variados
instrumentos, acompanhado por um coral afinadíssimo. Sua obra é um festival de
cores que formam um conjunto harmonioso.
A
exposição será no Museu Regional de Feira de Santana, que vai abrir seu espaço
a mostra Síntese- 20 anos de arte- Carlo Barbosa, no período de 3 a 10 de julho. É um dos
artistas plásticos feirenses mais reconhecidos no Brasil, principalmente no
eixo Rio/São Paulo, e no exterior, lugares onde é mais promovido e seus
esforços têm boa resposta. Ele está de volta a Feira de Santana numa
reintegração ás suas origens, vivendo a questão de todas as contradições
contemporâneas.
Mesmo
tolhido de enriquecer o patrimônio artístico de sua terra, pelas injunções,
pelos boicotes, pelas barreiras que encontra desde que voltou, Carlo Barbosa
está disposto a dar sua contribuição para a cidade natal. Contribuição na forma
de um painel vertical, de 2,40 x 1,50, denominado O Flagelo de Lucas, onde
procura resgatar a memória de Feira e sendo uma resposta a todas as posturas de
poder. Documentando o tempo de Lucas, Carlo Barbosa, o próprio Lucas
interpretado na tela, acredita que a violência de hoje seria a mesma de ontem.
Sem
custo definido, a obra tem endereço para o Salão Nobre da Prefeitura Municipal;
para a Câmara de Vereadores; para o futuro Centro Administrativo ou para o
Museu Regional, devendo para tanto ser adquirida pelo município. Esses são
locais onde o público poderá apreciar toda a criatividade de um artista
preocupado em documentar a memória de uma cidade sem memória.
Foi
o crítico de arte Flávio de Aquino, que morreu em Janeiro passado, quem disse
na revista Manchete, em 1983: “Carlo Barbosa promete ser um dos bons artistas
brasileiros desse final de século se não cair numa literatura pictórica
desnecessária”. Para Wilson Rocha, a pintura de Carlo Barbosa “vem de um
percurso íntegro e sólido, avançando por caminhos límpidos, adensando as
próprias tensões interiores de energia espacial e cromática, definindo-se como
imagem de uma concepção e construção quase laboratorial de pintura”.
Carlo
Barbosa é um artista que reavalia constantemente seu trabalho, e prossegue
confiando na lição criadora e no profissionalismo. Assim, reflete no singular
vocabulário plástico de sua obra, “uma percepção universal”.
Nos
quase 100 trabalhos que serão mostrados nos quatro salões do Museu Regional que
este ano completou 20 anos, todas as faces do artista, com trabalhos
cuidadosamente escolhidos em seu acervo em coleções particulares que serão
arrumados em seqüência que ofereça uma leitura de sua trajetória desde 1965,
quando expôs no Salão Nobre da Prefeitura Municipal.
No
Museu Regional, palco desta mostra praticamente didática, Carlo já se
apresentou em 1966, coletiva, e em 1970 e 1982, individuais. Suas mais recentes
aparições em sua cidade foi no ano passado: em setembro, Síntese da Arte Feirense,
no Clube de Campo Cajueiro, e em dezembro, Exposição de inauguração da Galeria
de Arte Raimundo de Oliveira. Quem ainda não tem Carlo Barbosa em seu
patrimônio artístico terá oportunidade de adquirir seus trabalhos recentes, de
aprimorada técnica, onde ele cria buscando afirmação na descoberta de novos
frutos.
Para
esta mostra ser possível foi preciso o apoio cultural de empresas como
Rodoleste, Banco Econômico, Ottan Center, Nossa Papelaria, Artes Gráficas, Drogafarma
e Sindicato Rural de Feira de Santana.
Algumas
exposições individuais que realizou:
1965-
Salão Nobre da Prefeitura Municipal; em 1969- Faculdade Estadual de Educação;
em 1970-Museu Regional de Feira de Santana; em 1972 e 1973- Real Galeria de
Arte-RJ; em 1974- Galeria Bahiarte- Londrina PR; em 1975- Galeria Ponto de Arte-
Rio de Janeiro/RJ, exposição documentada em curta-metragem pela Atlântida: em
1976- Galeria o Cavalete-Ba; em 1977- Galeria Eucatexpo- DF; em 1978- Galeria
Borghese-RJ; em 1980- Galeria Sérgio Milliet-MEC/Funarte/INAP- Rio de
Janeiro/RJ-Universidade Federal de Santa Catarina- Projeto Arco-Íris
Florianópolis-SC; em 1982-Museu Regional de Feira de Santana-BA- Museu de Arte
Moderna da Bahia; em 1983- Galeria Charting-RJ; e em 1986- 20 Anos de Pintura-
Museu de Arte da Bahia.
MARCOS
BUARQUE PREPARA MOSTRA DE 15 TRABALHOS
Vontade
é um trunfo importante para quem está começando. No entanto é preciso ainda uma
dose muito forte de persistência, de tenacidade, de decisão para vencer em
qualquer atividade profissional. No caso da profissão de artista plástico é
preciso muito mais. O artista que começa, tem que enfrentar muitas
dificuldades.
Tem
de batalhar espaços nos jornais, convencer donos de galerias, caçar
patrocinadores e dispor de tempo e dinheiro para continuar pintando.
Se
não tiver ajuda de alguém as coisas tendem a piorar. Mas, estamos aqui para dar
força aos que estão iniciando. È o caso de Marques Buarque, de 23 anos de
idade, que está preparando sua primeira individual. Já participou de algumas
exposições, porém, só recentemente decidiu que deseja ser pintor. Sua mostra
será no Itaigara, exatamente no dia 15 de novembro. Alguns porém, à primeira
vista, achar que está muito longe para falar de sua exposição. Respondo que não
está. Esta nota serve de incentivo para que Marcos capriche mais ainda nos seus
trabalhos. É interessante que ele pinte muito mais que possa fazer uma escolha
dos melhores para expô-los. Ele pretende mostrar 15 trabalhos, todos com forte
tendência abstracionista. Dos que me apresentou gostei deste da foto, onde
mistura elementos geométricos com fortes pinceladas abstratas. Tanto pelo
conjunto dos elementos que os integram, como, também, pelo equilíbrio das cores
e formas. Nos outros, Marcos jogou a sua espontaneidade, e evidentemente,
deixou transparecer não ingenuidade, mas alguma falta de experiência. Isto só
tende a desaparecer á medida que o artista trabalhe mais. Chamo sua atenção
para os elogios gratuitos ou mesmo as críticas perversas, porque ambas só
servem para destruir e confundir aqueles que iniciam uma carreira profissional.
Ele é comerciário e sempre que tem um tempo disponível está diante de uma tela
jogando com suas cores e formas.
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