JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 3 DE NOVEMBRO DE 1986
ENVOLVIMENTOS E A TRAMA CRIADA
POR MARIA ADAIR
Observem as tramas que ela constrói com maestria |
Evidente,
que as pessoas que acompanham o movimento de arte já devem a esta altura ter
identificado esta personagem cheia de força e criatividade. Mas, para os
iniciantes informo que trata-se de Maria Adair. Ela vive com os pés no caminho,
pronta a dar um passo adiante ou mesmo alçar voo, se preciso for. Ação é uma
palavra presente na sua arte que se multiplica em formas abstratas retas ou
sinuosas colorindo a nossa existência. Ação, também na presença da pintura que
ás vezes se acomoda na superfície da tela ou do papel, mas que também invade
uma parede. Ganha o espaço real para cobrir o corpo, vestir a madeira, envolver
o ferro e poder ser vista em todas as dimensões e por todas as dimensões e por
todas as direções, ganhando forma nova em cada ângulo de visão. Diz Maria
Adair.
Nos
revela ainda que são 10 anos de trabalho árduo. O registro de parte de uma vida
dedicada á arte, tanto na produção, como no ato incontido do magistério,
observando e orientando os novos talentos que surgem e vão crescendo no
dia-a-dia do fazer.
Sua
arte é o próprio registro de uma trama viva que vai construindo situações
entrelaçadas e multicoloridas permitindo uma leitura suave. É uma linguagem
trançada por linhas que funcionam como verdadeiros signos, cada uma com um
significado, que varia na medida e ao gosto do espectador.
Ao
olhar uma tela de Adair a gente sente necessidade de acompanhar os caminhos, ás
vezes difíceis, seguidos por cada uma linha até o seu final.
Outras
somem na trama armada pela artista que parece brincar ou querer testar a nossa
sensibilidade.
E
chego ao ninguém sozinho. Auto-suficiente nada exatamente ai é que é preciso
ter cuidado! Estas duas frases inseridas pela artista no catálogo me deixaram
pensando sobre o perigo da individualidade, do superego e da auto-suficiência.
Um perigo que não ronda apenas Maria Adair, mais muitos outros artistas alguns
até iniciando, na difícil tarefa de ser artista.
É
preciso uma interação maior e também uma abertura para receber de outras
pessoas de fora as informações, as criticas e observações sobre o trabalho.
Isto é importante porque é o resultado, o consumo. Quando escrevo um artigo no
jornal preocupo-me como o meu público vai recebê-lo.
Obra recente de Adair. Ela pinta tudo! |
A cadeira vira objeto de Arte em suas mãos |
Voltando
a sua arte, vejo a presença das gametas de madeira, tão úteis nas casas ou
lares humildes do interior do estado. Inicialmente, Maria Adair as utilizou
como suporte, sem interferir na sua forma. Pendurou, alinhou e finalmente,
agora recortou algumas e as envolveu com treliças coloridas! O fundo verde da
vegetação contribuiu para dar-lhes maior grandeza e eis que estes objetos
transmutados ganham força plástica espetacular. Até uma velha cadeira foi
envolvida nesta trama plástica, assumindo também status de nobreza no mundo
plástico-lúdico de Maria Adair.
ATÉ
SARNEY TIRA UMA DE ARTISTA
A
1º Exposição de Artes Plásticas e Literatura dos funcionários do Planalto
conseguiu reunir pela primeira vez numa mostra pública quadros a óleo do
presidente José Sarney, que, além da poesia, dedica parte de seu tempo de lazer
para a pintura. Isto para mim é uma terapia ocupacional - explicou o presidente
ao fazer uma visita de surpresa à exposição e olhar atentamente os quadros de
antigos funcionários da casa.
O
ministro-chefe do SNI, general Ivan de Souza Mendes, disse que é uma forma dele
descarregar as tensões diárias do importante cargo que ocupa.
FASCÍNIO
DOS TRENS DE COSTA LIMA
O artista Costa Lima e um dos seus trens que causam saudades |
Depois
de dar este mergulho no tempo e passar por cima desta magia que é o trem, vamos
para na estação onde repousam os quadros de Costa Lima. Um artista que divide o
seu amor entre o mar e o trem. Pinta belas marinhas, mas o seu forte é o trem.
É mesmo um apaixonado por trens. Para onde vai leva consigo um trem. Pode ser
numa tela ou mesmo miniaturas de trens que manda vir de todas as partes. Sua
casa é um grande pátio onde várias locomotivas se cruzam, descem e sobem
ladeiras, vencem túneis e pontes, param em estações, e prosseguem com aquele
barulho característico das pesadas rodas de ferro correndo celebres pelos
trilhos. Ele comanda tudo. Como uma criança acompanha cada lance e vibra quando
todo aquele mecanismo funciona bem.
Evidente
que sendo um artista não poderia ficar restrito aos trenzinhos instalados num
dos cômodos de sua casa, e nem tampouco ao saudosismo daquelas imagens de
infância.
Usando
a tela como suporte, Costa Lima vai dando forma aquela atmosfera dos sertões e
surgem os trens e agente sente quase aquele cheiro de madeira verde queimando e
ouve o barulho do seu apito recheado de alegria.
E
as Marias-Fumaça vão trilhando os espaços branco das telas envolvendo todos
aqueles que se apressam a observá-los. Algumas delas estão reunidas na Galeria
Nogueirol, que fica numa das salas do prédio do Salvador Praia Hotel, em Ondina. Portanto ,
os aficionados por trens ou mesmo que gostam de ferromodelismo procurem
conhecer Costa Lima, que lhe proporcionará momentos de alegria.
JADIR
FREIRE VEIO MOSTRAR SUAS FANTASIAS COLORIDAS
Jadir
Freire é baiano, mas vive e trabalha no Rio de Janeiro. Dia 4 de novembro, pela
primeira vez na Bahia, realiza uma individual no Escritório de Arte,
apresentando suas pinturas recentes.
Sobre
o seu trabalho, Calasans Neto escreveu: Dê um mergulho profundo no
inconsciente do sonho, formando um jogo perene de cores vivas, saídas de um
caleidoscópio fixo, é a formula que Jadir Freire executa com maestria o início
de seu trabalho. Depois aplica toda a sua força criadora num detalhamento
consciente entre a cor e o desenho, juntando as peças básicas da sua fantasia.
São falecias que se assemelham ás grandes paredes cortadas longitudinalmente,
impregnadas de areias coloridas. Tão vistas neste Brasil seco do Nordeste.
Jadir
Freire não as usa como decoração imediata e sim como uma verdadeira navegação
do universo que é dele, onde o pincel é o astrolábio e a brancura da tela seu
mapa e seu guia.Sua
trajetória é perfeita e limpa. Cada acaso é um encontro feliz e as suas
realidades vão surgindo e sendo estocadas para o mundo de aventuras em
descobrir rotas inexistentes. As mãos de Jadir Freire comandam sua viagem ao
imponderável mundo do não existir e a fantasia é o sonho maior. Ele vai
seguindo, desvendando a si próprio neste labirinto onde a objetividade é um
sentimento ou mera peça decorativa. O que importa é o seu final, e este Jadir
sabe fechar e dar aquela pincelada que define o começo de um outro trabalho,
mais versátil, mais maduro, numa seqüência gradativa do seu amadurecimento. O
seu sonho não é perdido ao acordar e sim, atropelado e lembrado nesta avalanche
de cores e de formas que é o seu jeito de falar e de ser amado.
Tendo
participado da V Bienal de Cali, Colômbia, este ano, Jadir esteve ainda no
Salão Nacional de Artes Plásticas, Projeto Arco-Íris, 30 Anos de Arte no
Brasil, Desenho brasileiro Contemporâneo na cidade do México e em Bogotá 1984,
IV Salão Brasileiro de Arte, VII Exposição de Arte Brasil- Japão em Tóquio, III
Salão Paulista, sendo integrante da exposição Como Vai Você, Geração 80? No
Parque Laje, Rio.
DOZE
TELAS DE CÍCERO DIAS NA GALERIA PANCETTI
De
qualquer modo, Cícero Dias é um poeta e os poetas quase sempre acertam mais que
os outros mortais, escreveu Antônio Bento sobre este pernambucano que há anos
reside na França. Doze pinturas do artista estão expostas na Galeria Pancetti e
em todas as obras está registrada a marca de sua gente nordestina. O mar como
fundo, e no primeiro plano as figuras com os olhos contemplando todas aquelas
pessoas que se dispõem a observá-las. São olhares parados no tempo, mesmo
naquelas figuras que estão abraçadas a uma palmeira tentando tirar um fruto ou
mesmo as que descansam sobre um tronco de uma árvore.
O
mestre Cícero Dias é enaltecido por críticos, tanto daqui como na Europa, e já
se vão quase 60 anos de pintura. Ele começou em 1925 quando entrou para a
Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro e dois anos depois já figurava entre
aqueles que integravam o Movimento Modernista. Fez vários murais em Recife, e
seu conterrâneo Gilberto Freire escreveu, em 1976, que a pintura de Cícero Dias
é importante para a fixação da memória brasileira, através da descoberta de
cores e de formas características de passados nacionais através dos regionais.
Dos coletivos através dos individuais. No caso de Cícero, através
principalmente do passado pernambucano, da paisagem de Pernambuco, dos sobrados
de Recife.
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