JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 24 DE NOVEMBRO DE 1986
TIME DA GALERIA DO ALUNO MOSTRA
SUA TÉCNICA DIA 27
As gaivotas de Guida serão menos figurativas |
Evidente
que este time vem para ganhar os espaços, vem com a disposição de trabalhar e
trabalhar muito em busca de produzir uma arte mais apurada, uma arte integrada
aos padrões da modernidade, e principalmente que conviva com a
contemporaneidade do homem.
Não
se pode exigir de quem está começando, a perfeição, mas, não se pode deixar de
exigir a busca da qualidade como um objetivo a ser alcançado. Acredito no
trabalho deste time e tenho certeza que dele surgirão alguns craques, que no
futuro serão reconhecidos por todos aqueles que acompanham o mercado de arte.
Neste
time o grotesco de Luiz Mota, com suas figuras deformadas, resultado do
sofrimento mundano, contrastam com as gaivotas formosas de Guida Cappelo.
Enquanto, no primeiro a gente pode sentir este lado feio da vida, em Guida, a
gente sente a liberdade expressada pelas
gaivotas que rompem os mares e de quando em vez mergulham em busca do sustento.
Um
encontro paradoxal entre aqueles momentos, onde as pessoas imaginam, que não há
saída, e outros onde a liberdade de voar é vista como um dos atos mais
significativos da vida. Basta lembrar que o homem levou séculos tentando voar e
coube a Santos Dumont a idéia de criar um aparelho que o ajudasse a concretizar
este sonho de Ícaro.
Também
estão expostas as frutas de Jocelma, cada vez maiores ocupando todo o espaço
disponível da tela. Eu sinto tão vivas,
reage Jocelma quando alguém fala em natureza-morta. Uma
pintura gestual e ao lado dela a Hedi Lamar com seus painéis imensos,
onde a sexualidade é questionada.Uma
pintura sensual com figuras masculinas e femininas que se tocam e se
contemplam.
Tem
ainda Dílson Oliveira com sua pintura
geometrizante, que no á uma sensação de movimento.
A
exposição chamada de 14 Bis será uma coletiva que reunirá todos os alunos que
realizaram exposição individual na Galeria do Aluno durante o ano que finda. Um
júri composto de pessoas da comunidade irá selecionar cinco deles para a
exposição da segunda quinzena de maio da Cañizares. Nesta exposição já batizada
com o nome de Os 5 de Maio, terá a presença de um estudante de arte da Tyller
School of Art da Temple University de Filadélfia que virá à Bahia, e em
seguida, um grupo, irá aos Estados Unidos.
UM
NOVO ESPAÇO PARA OS ARTISTAS
Os
artistas baianos ganham um novo espaço cultural, que é o hall do prédio do
IRDEB, na Federação, que será inaugurado no próximo dia 27, às 21 horas. O novo
espaço cultural destina-se a colher eventos artísticos. O próximo a ser
inaugurado contará com a participação de artistas já consagrados e novos talentos
que estão surgindo na Bahia. Jamison Pedra, Guache, Antônio Saturnino, Nilza
Barude, Reinaldo Gonzaga, Robério Cordeiro, Maurício Requião, Vanja Maia, Otto
Terra, Bisa Gurgel, Conceição Andrade, Suzane Pinho, Lígia Aguiar, Mariny
Guanais, Alfredo Salomão, Mônica Daniela, Antônio Lázaro, Eneida Cavalcanti e
Eduardo Tudélia participarão da primeira exposição coletiva.
BETTY
E A RELAÇÃO HOMEM COM A ÁGUA
A arte de Betty King valoriza o alumínio |
Mais
de quarenta trabalhos serão expostos por Betty King, a partir de amanhã, no
Museu de Arte da Bahia.São
trabalhos inspirados nos gestos que o homem faz quando em contato com a água.
Esta relação,onde os corpos ficam difusos e os gestos aparecem com
translucidez, é a fonte de sua inspiração. Nessa relação ela encontrou ainda o
significado, enquanto relacionou os sete elementos que compõem a água com os
mesmos que estão presentes no corpo humano. Tudo isto vem sendo observado por
ela há alguns anos. Começou nos Estados Unidos, e daí em diante partiu em busca
de um suporte que pudesse receber as suas emoções, que se aproximasse um pouco
da realidade observada. Daí surgiu a ideia de trabalhar com placas de alumínio.
Para isso teve que deixar o seu atelier e misturar-se com operários de
fábricas, os quais vêem o seu trabalho com muita curiosidade. Tanto nos Estados
Unidos como aqui na Alcan, em Camaçari,onde ela está trabalhando, os operários
ficam surpresos, e são gentis, querendo saber detalhes da transformação que ela
faz da matéria-prima que eles manipulam, e que é transformada em suporte de
obra de arte.
Ela consegue translucidez captando gestos |
Com
seu sotaque carregado de americana de New Orleans a talentosa Betty King
explica que busca com as placas de alumínio uma ilusão de translucidez. Eu
passo uma tinta especial no alumínio cobrindo as partes que desejo preservar,
depois de desenhar. Em seguida jogo ácido que corrói as demais partes e depois
faço a anodização. Aí entram as cores.É
exatamente neste instante que ela revê os gestos das pessoas nadando numa
praia, num rio ou numa piscina.
Vibra
com os corpos difusos e com as formas irregulares que surgem deste contato do homem com a água.
Betty
King nasceu em New Orleans ,
Louisiana, U.S.A. Estudou na Lousiana State University e complementou sua
formação com Hans Hoffman, curso na Ecole dês Beaux Arts Paris, Havard
University e experiências profissionais no Mass Institute of Tecnology.
Adotando
o Brasil como o seu lugar para morar, desenvolveu aqui a sua arte. Da Bahia saíram
as suas obras para exposições e coleções em diversos estados do Brasil e para
os quatro continentes. Há alguns anos Betty fixou residência outra vez no
Estados Unidos Boston, mantendo contudo suas relações no Brasil em visitas
anuais de lazer e trabalho.
A
artista agora está de volta, por um período mais longo, dividindo entre a Bahia
e São Paulo as suas atividades profissionais. Depois de cinco anos, inaugura,
no dia 25 de novembro mais uma exposição individual, no Museu de Arte da Bahia,
onde estará expondo até o dia 14 de dezembro suas peças em alumínio.
A
ideia de trabalhar com alumínio surgiu, há cerca de 18 anos, teve a oportunidade
de visitar algumas siderúrgicas, e a visão do ferro fundido lhe levou a
experimentar alguns processos tecnológicos.
YEDAMARIA
EM VITÓRIA CONQUISTA
Litografias,
gravuras em metal e pinturas a óleo integram a mostra que Yedamaria vai
realizar, a partir do dia 4 de dezembro, na Galeria Geraldo Rocha, em Vitória
da Conquista. Nesta mostra, a artista apresenta uma evolução no domínio de
técnica das cores e na própria temática que elegeu para se expressar.
Adicionar legenda |
São
anos de um trabalho cuidadoso, e, tanto nas gravuras em metal, em preto e
branco, quanto nas coloridas, Yedamaria mostra ser um artista madura e
criteriosa. Na pintura a óleo sobre tela apresenta belas mesas postas e as
frutas tropicais em
abundância. Numa alusão proposital que contrasta com a mesa
vazia do brasileiro, que a cada hora é assaltado e violentado por medidas
empurradas pela goela abaixo, através de decretos. Diria que Yedamaria consegue
retirar do ambiente doméstico, tão esvaziado com o corre-corre da vida moderna
pois tanto o homem e a mulher na grande maioria sai o dia inteiro para a labuta
nos escritórios ou mesmo nas ruas, a plasticidade de uma mesa farta.
Ela
valoriza este ambiente e como que faz uma elegia ao alimento, que proporciona a
nossa própria sobrevivência.. Não só as frutas, o pão, mas também os vasilhames
de vidro e aço inoxidável são valorizados com sua arte.
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