JORNAL A TARDE, SALVADOR, 15 DE
MAIO DE 1981
O BAIANO ALDERICO E SUA OBRA NASCIDA DA INFÂNCIA
Descalço , o menino Alderico sentia em seus pés o chão quente e ressacado pelo sol forte do Nordeste baiano, no lugar onde só o mandacaru resiste todo o tempo foi esta imagem que o pintor Alderico de Freitas relembrou, no começo de 1980 ao ver o drama de milhares de flagelados de nordestinos afetados pela seca. Ai, começou uma nova fase de sua carreira, em que predomina a figura agreste e vitoriosa do mandacaru de sua infância.
É
o resultado deste trabalho, cerca de 30 quadros , que Freitas expõe na Galeria
de Arte Impacto de Comunicação, em São Paulo.
Os quadros em óleo sobre tela, custam de CR$10 mil a CR$30 mil. " Fiquei comovido com as
notícias sobre a seca", conta Freitas. Então comecei a me lembrar da minha
infância e percebi que conhecia muito o problema e me deu aquela vontade de
pintar, usando o mandacaru para compor os quadros.Isto
foi há mais de um ano e ainda continuo querendo mostrar esta imagem que faz parte
da minha infância."
APRENDIZADO
Esta inquietação artística começou a se manifestar
em Freitas quando ainda criança, em Pindobaçu, perto de Campo Formoso, na Bahia, onde nasceu em 12 de outubro de 1932, suas mãos irrequietas já
procuravam modelar pequenas figuras de madeira e de barro o que custou muitas
reprimendas de sua mãe.
Freitas,
quinto filho de uma família formada por mais seis irmãs, teve uma adolescência
marcada por várias atividades. Dos 12 aos 17 anos, dividiu o tempo dedicado aos
estudos com o aprendizado das profissões de barbeiro e marceneiro e com a ajuda
da roça do pai.
Aos
17 anos, deixou Pindobaçu para servir ao Exército em Salvador. Mas acabei
sendo dispensado do serviço militar conta ele.; Mesmo assim ficou em Salvador
até os 22 anos.Nos fins de semana trabalhava como barbeiro. Seu principal
serviço era marcenaria habilidade que acabou aproximando-o da arte. Foi
restaurador de imagens sacras de madeira. Sua inquietação e o desejo de
aprender mais levaram-no ao Rio de Janeiro e, depois São Paulo9, em 1954.
ARTE
Trabalhou
em cenografia na extinta Televisão Excelsior e no Teatro Aliança Francesa e
posteriormente no Canal 5. De lá Alberto Silva, da Agência de Publicidade
Standard levou-o para trabalhar com Mário Gruber.
Já
um experiente marceneiro Freitas ficou fascinado com o trabalho de gravação,
aprendendo a técnica com Gruber. A falta de dinheiro para a compra de material
de arte foi uma dificuldade que enfrentou com imaginação: em vez de metal,
utilizou chapas fórmica para fazer as matrizes.
O
uso inusitado deste duro material utilizado na construção de móveis deu bons
resultados em gravuras, com a técnica da ponta seca.Muitos artistas ficaram
impressionados e, com o incentivo recebido, Freitas passou a se dedicar a arte.
Da
gravura, o que ainda faz, Freitas passou para a tela, sempre com tinta a óleo.
Sua inquietação mais uma vez, levou-o a passar por diversas fases, algumas
influenciadas por sua vivência em Salvador e outras mais marcadas por elementos
urbanos do sul.
A
primeira exposição individual de Freitas foi de gravura, na Associação Cristão
de Moços, de São Paulo, em 1969. Entre outras mostras ele expôs individualmente
ou em coletivas no Museu Assis Chateubriand, no Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro, na Feira de Bruxelas e tem obras nos acervos dos museus da Iugoslávia,
Bélgica, Suécia e em vários museus brasileiros.
Em
1976, Freitas fez o que considera a maior aspiração de um artista:Doze murais
na agência da CEF,na Avenida Paulista. O projeto da agência foi do arquiteto
João Clodomiro de Abreu, que convidou o artista para fazer os murais de 6,40m
por 4m e de 8m por 4m. O último degrau de um pintor é fazer um mural e eu
consegui. Já posso morrer tranqüilo . Deixo uma obra para meus filhos e mostro
ao mundo que vivi na Terra, diz Freitas.
A
esta altura de sua carreira, no entanto, Freitas já era conhecido o suficiente
. Tarsila do Amaral, por exemplo, afirmou que sua obra é interessante pelas
linhas puras e ingênuas. E Mário Schoemberg disse: "Freitas, que começara como
um gravador e pintor primitivista evolui rapidamente para uma pintura
fortemente relacionada com os Construtivismo Abstrato e beneficiou-se do seu
belo sentimento da cor, tão característico dos primitivistas brasileiros."
RESOLUÇÕES
DO IV SALÃO
A
Comissão Nacional de Artes Plásticas recém nomeada pelo Ministro da Educação e
Cultura, encaminhou ao Instituto de Artes Plásticas da Funarte, após reunião
uma série de resoluções referentes ao IV Salão Nacional de Artes Plásticas.
Ficaram assim definidos o período da realização do Salão de 4 a 30 de novembro e o prazo
para as inscrições de 15 de junho a 31 de julho. Na última reunião a Comissão
definiu o regulamento do IV Salão e escolheu três nomes para a Sub Comissão de
Seleção e Premiação. Os outros três membros indicados pelos artistas na ficha
de inscrição, serão conhecidos após a apuração no dia 10 de agosto, às 14 hora,s
no auditório do Museu nacional de Belas Artes. Os locais e horários das
inscrições que poderão ser feitas em várias capitais, serão anunciados,
possivelmente, na reunião do dia 11.
A
Comissão nacional de Artes Plásticas tem atribuição de deliberar sobre todas as
questões referente ao Salão do ano em que é nomeada. Em 1981, são estes os seus
membros: José Cândido de Carvalho , Presidente da Funarte; Adriano de Aquino,
Presidente da Associação Brasileira de Artistas Plásticos Profissionais; Aline
Figueiredo, Crítica de Arte; Anna Letycia Quadros, Artista Plástica; Casimiro
Xavier de Mendonça, Crítico de Arte; Ennio Marques Ferreira, Crítico e Artista
Plástico; Frederico de Morais, Crítico de Arte; Haroldo Barroso, Artista
Plástico e Ítalo Campofiorito, Arquiteto.
A
Comissão tem ainda a atribuição de apresentar estudos para uma possível
reformulação do Salão Nacional de Artes Plásticas a partir de 1982.
CONCURSO
DE MONOGRAFIA SOBRE ANTÔNIO BENTO
Ficam
abertas até 30 de setembro as inscrições para o Prêmio Antônio Bento que dará
40 mil cruzeiros a melhor monografia sobre Arte
ou Artista Brasileiro, feita por universitário de qualquer instituição
de ensino do País . A entrega do prêmio acontecerá no dia 15 de dezembro, em
solenidade na sala do Conselho Curador da Fundação nacional de Arte , no Rio de
Janeiro.Promove o concurso a Universidade Federal do Espírito Santo, a
Associação Brasileira de Críticos de Arte e a Funarte.
Os
originais devem ser entregues na sede da Associação Brasileira de Críticos de
Arte – ABCA, na Rua Evaristo da Veiga, 91, Centro, Rio de Janeiro, ou enviados,
sob registro, pelo Correio com as indicações Prêmio Antônio Bento, Concurso
Universitário de Ensaio sobre Arte Brasileira.Podem participar todos os
estudantes universitários e matriculados durante o ano letivo de 1981,
admitindo-se trabalhos de equipe . Os textos, de 30 laudas datilografadas no
mínimo, devem ser inéditos, ou seja, não terem sido editados ou
divulgados,sequer parcialmente, por meios de comunicação. Os trabalhos serão
apresentados sob pseudônimo e sem título, em três vias, acompanhados de
envelope lacrado contendo: título de ensaio, pseudônimo do autor ou autores,
nome, endereço completo e assinatura do concorrente.
Os
participantes cederão a Fundação Ceciliano Abel de Almeida, da Universidade
Federal do Espírito Santo, o direito de exclusividade para a edição da
monografia pelo prazo de um ano, com tiragem máxima de um mil exemplares e
respeitados os direitos autorais. Os Júri, composto por membro da ABCA, UFES e
Funarte, poderá recomendar a publicação de outros ensaios , além do primeiro
colocado.
QUEM
É ANTÔNIO BENTO
Paraibano da cidade de Araruna, Antônio Bento de Araújo Lima nasceu em 1902, transferindo-se em 1923 para o Rio de Janeiro, onde se tornou um dos primeiros intelectuais a exercer a crítica diária de artes plásticas em veículo de imprensa. Colaborou no diário carioca Última Hora e Rádio MEC, incentivando artistas do quilate de Portinari,Guignard, Djanira e Cícero Dias. Em dezembro do ano passado lançou o livro Portinari, considerado por estudiosos o trabalho definitivo. Antônio Bento é o Presidente de Honra da ABCA e membro da Association Internationale dês Critiques d’Art.
Nesta foto histórica vemos Cândido Portinari,Antônio Bento,Mário de Andrade e Rodrigo de Melo Franco, em 1936, no Rio de Janeiro.
PRÍNCIPE
CHARLES GANHARÁ UM MURAL
O
pintor e escritor brasileiro Moacir Andrade, autor de murais em tela e em
madeira de lei da Amazônia, para catedrais, igrejas, bancos, museus,
universidades e mais de 400 empresas estatais e privadas de todo o mundo.
Sempre exaltando as características mais importantes da cultura amazonense está
trabalhando já há alguns meses num gigantesco mural em mogno da Amazônia
especialmente escolhido e abatido naquela floresta tropical para esta finalidade.
Com
dois mil quilos , medindo 6
metros de comprimento por 2 metros e cinqüenta
centímetros de altura intitulado A Visita do Príncipe Charles à Amazônia ou a
Síntese de Sua Mitologia, será um dos mais originais presentes de núpcias de
Sua Majestade. A referida obra, cujos detalhes são comprados às rendas
minuciosas do Nordeste brasileiro iniciada em julho de 1980, recebeu a visita
de mais de 5 mil pessoas que vão ao atelier do pintor em Manaus para admirá-la,
por isto já está conhecida em todo o Brasil e será presenteada ao Príncipe
Charles, da Inglaterra, por ocasião de seu casamento em julho próximo, em
Londres.
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