JORNAL A TARDE, SALVADOR, 14 DE
JULHO DE 1979
ARTES PLÁSTICAS UNIVERSITÁRIAS
HOJE
Tela de Deraldo Tourinho |
Quarenta
artistas foram convidados e estão expondo um total de setenta trabalhos. Valeu
de certa forma o esforço, embora continue no firme propósito de não concordar
com a falta de empenho dos organizadores do Festival de Arte Bahia 79 em
realizar o Salão Universitário. Uma falta inesquecível.
Trabalho do artista Guache |
Fiz
uma visita ao Salão no último dia 11 e fiquei surpreso com o que vi. Em
primeiro lugar, a agressividade do Zivé que voltou-se para uma preocupação com
a temática sexual. O sexo ganhou os espaços, numa limitação a uma fase da obra
de Juarez Paraíso.
Como
que ouve uma regressão no tratamento do tema. E o que concluo pelo que pude
ver. Não que seja um moralista, mas seus trabalhos são gratuitos e primários.
Em seguida encontro o Pitanga unido com o Edizio Patriota que apresentam um
trabalho intitulado Conseqüências, quando na realidade demonstram que estão perdidos.
Pitanga conseguiu realizar uma proposta ecológica no ano passado, infelizmente
faltam-lhe alguns requisitos básicos em termos de informação para continuar
aquilo que propusera no seu primeiro trabalho, que cheguei a dar um voto de
confiança. Depois encontro uma gaivota de Ângela Cunha e restabeleço minha
confiança nesta geração 70 como querem denominar este grupo e a seguir vejo um
Bel Borba, um Murilo, Guache, Deraldo Tourinho e as jóias de Iza Assumpção os
quais conseguem salvar a tal amostragem.
A Gaivota, de Ângela Cunha |
BAIANO NOS ESTADOS UNIDOS.
O baiano Fernando Oliveira está terminando seus estudos juntamente com mais
111 colegas japoneses, coreanos e de outras nacionalidades na Academia de Belas
Artes da Pensilvânia. Ele acaba de fazer uma mostra espécie de competição onde
foi considerados um dos melhores pela técnica e a mensagem que anunciam suas
telas. Deve voltar ao Brasil em agosto próximo trazendo consigo alguns desses
trabalhos e aqui pretende manter contatos com artistas e galerias. Na carta que
fez, a esta colunista, Fernando alimenta a ideia de manter correspondências com
brasileiros e deixa o seu endereço que é:214 W. Duncannon Ave, Phila, PA 19120
e o telefone 215-4561495. Agora vejam o que publicaram os jornais da Filadélfia
sobre sua obra.
O
artista brasileiro Fernando Oliveira deu aos seus instrutores uma aura de
santidade.Ele
os pintou como Cristo e seus discípulos num quadro de 7 x 12 representando a Última Ceia.
"Eu
conheço alguma coisa da Bíblia disse o estudante da Academia de Belas Artes da
Pensilvânia. E, há alguns anos atrás decidi que faria uma pintura como esta.Olhando
para alguns instrutores, com suas barbas e tudo, imaginei que seria uma boa ideia
convidá-los para vir a ser modelo em meu trabalho.A
pintura tomou a maior parte da sua primavera na academia e alguns pontos ainda
não estão concluídos", disse ele.
Mas
quando ele estava pendurado na galeria principal do museu da academia,
tornou-se um ponto focal com os estudantes tentando adivinhar a qual membro da
faculdade pertencia aquele discípulo.
Franklin
Shore, que tinha sido um dos instrutores durante os cinco anos de estudos de
Oliveira, está claramente identificado como Cristo, enquanto Bill Omwake está
representado como um abatido Judas.
Oliveira,
que é notado no Brasil por sua ultra-realista pintura, estudou Leonardo da
Vinci por um longo período antes dele iniciar seu trabalho. Ele também estudou
a versão de Salvador Dali ,na Galeria Nacional, em Washington, para a pintura
seu primeiro bíblico.
Eu
decidi fazê-lo completamente diferente, disse ele. Embora os apóstolos estejam
mais animados como no original, não há alimentos na toalha branca da mesa e a
postura indefinida do original está claramente identificada como os pilares e
paredes da academia na versão de Oliveira.
Oliveira,
34 anos, submeteu o quadro numa fracassada tentativa para conseguir uma Bolsa
de Estudo na Europa. Ele está vendendo por 10.000 dólares.Oliveira
veio a Salvador, na Bahia, Brasil, há cinco anos atrás.
NÃO
SABIA
Franklin
Shore não sabia que iria acabar como Cristo quando parou no estúdio de Fernando
Oliveira para procurar por um quadro no qual ele estava trabalhando.
Oliveira,
um estudante da Academia de Belas Artes da Pensilvânia, estava pintando sua
versão da última ceia, e pediu a Shore, um instrutor da academia, para posar
para ele.
Eu
não sabia para que ele iria me usar, mas quando ele me deu o pão para segurar,
eu comecei a entender a idéia. Disse Shore.
Shore
posou com um robe branco, segurando um pedaço de pão partido com seus braços
levantados, para sempre consagrado na pintura, ele não é o único. A pintura
realista de Oliveira, sua entrada na amostra anual de quadros estudantis da
academia em 3 de junho, tomou-o numa espécie de Quem é Quem jogos adivinhar para
aqueles familiares da faculdade de academia.
Lá
na extrema direita da mesa como um desesperado, humilhado, Judas é Bill Omwake.
Perto dele está outro membro da Faculdade Louis Sloan. A direita de Cristo está
Tony Greenwood, dois lugares para a esquerda está o acadêmico conservador
Joseph Amaroto. Na verdade todos os discípulos tem as fisionomias dos membros
da academia e o local desta última ceia
e a escola Broad na rua Cherry Streeets.
Oliveira,
um brasileiro que havia completado os cinco anos de estudos na academia, disse
que não tinha nenhum motivo particular para usar os membros da academia como
modelos. Ele disse que colocou os personagens onde elas ficariam melhor, não
por causa de qualquer afinidade que ele pudessem ter com qualquer um dos
discípulos em particular.
Por
que Shore, que ensinou perspectiva a Oliveira durante cinco anos, tinha sido
escolhido para ser o Cristo?
"Eu
estava tentando encontrar alguém que aparecesse bem no centro do quadro disse
Oliveira.
Eu
realmente não conhecia ninguém além de Franklin Shore. Eu queria alguém com uma
barba não tão envelhecida."
Ninguém pesquisando o trabalho de Oliveira teria conseguido identificar sem a ajuda do artista. A mesa, coberta com uma toalha branca está pobre de iguarias. Uma pomba branca voa acima da mesa e alguns apóstolos aparecem apontando para ela.
Ninguém pesquisando o trabalho de Oliveira teria conseguido identificar sem a ajuda do artista. A mesa, coberta com uma toalha branca está pobre de iguarias. Uma pomba branca voa acima da mesa e alguns apóstolos aparecem apontando para ela.
Tudo
isto está no quadro, e Oliveira disse porque: Eu decidi colocá-la.
Oliveira
explicou que imaginou que teria muita dificuldade para encontrar alguém que
consentisse ser Judas. Eu não desejava que ninguém ficasse meu inimigo.Não
houve problema para encontrar o traidor de Cristo.
Ele
pediu-me para posar e eu disse que o faria se fosse o Judas, disse Omwake, o
qual adiantou, que a sua visão de Judas não era
a mesma vista por Oliveira. Ele o
fez triste e abatido. Minha ideia de Judas é mais de um homem desgastado entre
o mundo real e o espiritual. (Tradução de Suely Temporal Soares).
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