JORNAL A TARDE, SALVADOR, 01 DE JUNHO DE 1985
GERAÇÃO 70 REPERCUTE E RECEBE
NOVAS ADESÕES
Repercutiu
muito bem a ideia lançada na semana passada para a realização de uma exposição
enfocando a Geração 70. Recebi vários telefonemas apoiando a ideia, e
principalmente tive a felicidade de contar com a boa vontade de muitos artistas
dispostos a arregaçar as mangas para trabalharem em prol desta exposição. Um
grupo está encarregado de arregimentar gente de outras áreas para que possamos
apresentar uma performance no dia da abertura ou até mesmo durante a exposição.
A data fixada na pauta do MAB deve ser de 25 de julho a 8 de agosto. Este mês
de junho será de muito trabalho e espero que os artistas adotem a postura de
verdadeiros profissionais, para que possamos cumprir todos os prazos
estabelecidos, e assim tudo ocorra dentro do que realmente planejamos. Não
adianta agente trabalhar com desculpas, porque vai prejudicar aqueles que estão
empenhados em apresentar um bom trabalho.
Também,
é bom que se diga.
Recebi
através de telefonemas, e mesmo pessoalmente, indagações sobre os critérios que
estava aplicando para convidar os artistas. Evidente que não sou juiz de
concurso de miss, e muito menos um indivíduo arbitrário, disposto a escolher
amigos. Os critérios são aqueles pautados em primeiro lugar pela qualidade do
trabalho e segundo no desenvolvimento da obra de cada artista de 70 para cá, e
assim por diante, Inclusive sobre a preocupação da artista Denise Pitágoras,
presidente da Associação dos Artistas Plásticos, questionando os critérios,
respondi que a solicitação deveria ser feita à Fundação Cultural e não a mim.
Vou executar um projeto de acordo com minhas convicções estéticas, que por
acaso podem não ser as mesmas de algumas
pessoas, mas não vou errar sozinho, porque comigo tenho pelo menos umas 15
pessoas trabalhando.
Elas
estão perfeitamente enquadradas no que podemos chamar de artistas emergentes,
com obras em desenvolvimento e cujo valor é inquestionável.
Mas,
compreendo este rebuliço que uma exposição desta causa e, também sei que os que
ficarem de fora certamente tentarão diminuir a sua importância. Asseguro, no
entanto, que , por trás desta legenda
Geração 70, apresentaremos o que existe de melhor nesta geração que chegou para suceder, a uma outra criativa e de grande importância. Os caminhos estão ali delineados, e esta mostra é mais um elemento que vem fixar as nossas vistas para eles.
Geração 70, apresentaremos o que existe de melhor nesta geração que chegou para suceder, a uma outra criativa e de grande importância. Os caminhos estão ali delineados, e esta mostra é mais um elemento que vem fixar as nossas vistas para eles.
Jovens
e talentosos sofrem na própria carne as dificuldades do início. Alguns já
conseguem até sobreviver de sua arte. Outros ainda não. Continuam batalhando
por mais espaço para viverem com a mesma dignidade, do fruto de sua obra. E, com
eles estou de mãos dadas, disposto a apoiá-los, disposto a divulgar cada passo
conquistado. E este o trabalho que me proponho a fazer. As discórdias e as
pressões passam. O que fica é o resultado de um trabalho qualitativo.
Enfrento
dificuldades em definir os nomes. Dez é um número relativamente pequeno para
englobar todos os artistas desta geração. Cheguei até a pensar em aumentar um
pouco, e talvez, quem sabe, posso colocar 13 nomes, isto está dependendo de
alguns acertos, porque a verba do catálogo estava estabelecida para 10 cromos,
e neste instante estou lutando para ver se consigo uma verba específica para
financiar a performance e complementar o preço do catálogo.
Estou
contando com todo o apoio de Heitor Reis e também do incentivador desta
exposição, que é Sante Scaldaferri.
Eles
estão dispostos e abertos a nos ajudar. O coordenador de museus me surpreendeu
por sua boa vontade, coisa que não é muito comum nas pessoas que estão
assentadas na burocracia cultural em nosso País. Heitor ,
ao contrário, evita as dificuldades e vai apontando as soluções.
Agora,
espero esta semana ter todos os nomes definidos.
Gostaria
que aqueles que já convidei entrasse em contato comigo para falarmos de alguns
detalhes e marcarmos uma reunião geral. Precisamos definir a maioria das providências
que temos que tomar nesta primeira semana de junho.
A
NATUREZA URBANA DE TAKASHI FUKUSHIMA
Obra mais recente de Takashi Futkushima |
Paisagem Invasora, de Takashi |
Evidente
que esta posição de observador da natureza de um jovem que nunca morou no campo, que não sabe o que é a vida no campo, não exige que
Takashi assuma uma postura crítica. Mas todo ser humano é político e embora ele
tenha a preocupação em ressaltar que sua obra está longe do panfletário, ele
assume uma visão crítica ao enquadrar a passagem urbana dentro da sua poética
visual.
Viveu
sempre envolvido com o meio artístico e tem formação de arquiteto. Mas, sou
apenas formado em
arquitetura. Minha profissão é de artista plástico, esclarece
Takashi que para minha surpresa é um nissei de fácil comunicação. Fala com
fluência do seu trabalho e vai esclarecendo a sua visão estética e sua ligação
com a natureza.
Sua
arte ou sua pintura enfoca paisagens urbanas que não são necessariamente de São
Paulo. Elas podem ser identificadas com qualquer outra grande metrópole. É o
verde que se transforma em cinza, é o quintal que vira garagem, e assim por
diante. É esta visão de observador que Takashi assume e transporta para suas
telas através do uso de tintas acrílicas, facilmente dissolvidas em água, o que
permite uma leveza e transparências excepcionais.
O artista com uma obra de sua autoria |
Seu próprio sobrenome Fukushima, em japonês, quer dizer felicidade, e Takashi, o alto dessa ilha. Assim, como um observador, Takashi vai construindo o seu mundo visual, relatando o que está vendo com a técnica e a concepção formal que a dotou.
O
artista, portanto, não é um contestador, um militante engajado em movimentos
ecológicos. Diz apenas que constata, olha e pinta. O que importa é a sua
linguagem plástica e ele se mantém como observador escudado num limite, através
de uma linha imaginária entre o campo e a cidade.
Numa
das pinturas que integra o catálogo, Fukushima olha da janela de um automóvel,
em velocidade, a paisagem e enxerga linhas retas de um campo. E nos deixa a
impressa de que o artista está sempre de
olhos abertos vendo a paisagem e captando a sua essência para transportar sua
obra.
GIL
MÁRIO E O ENFOQUE FANTÁSTICO
Existe
uma marcante preocupação na obra de Gil
Mário com a liberdade dos animais e principalmente dos pássaros. Esta liberdade
é uma dádiva que ele não abre mão, e quando trabalha com as elegantes garças e
mesmo com os mamíferos, os transporta para ambientes onde ficam confinados. Uma
dicotomia e acima de tudo um contraste, porque o confinamento está oposto à
liberdade. Mas, esta visão do artista é exatamente como que uma denúncia de que
confinados os animais parecem tristes, porque perdem aquela sensação de força
indomável.
A
figura, humana também se faz presente em algumas telas, inclusive integradas
com os animais. Aí ele busca novos efeitos e as formas dos corpos oferecem ao
espectador significativas emoções. Noto também que embora tenha uma postura
firmemente figurativa, Gil Mário aos poucos tende para uma maior simplificação
das figuras, na medida em que busca ambientalizá-las de acordo com sua
imaginação, que pode descambar para o fantástico e para o imaginário.
Ele
recebeu o prêmio Olney São Paulo no II Salão de Artes Plásticas, promovido pelo
Museu Regional de Feira de Santana, o qual reuniu trabalhos de artistas das
mais diversas tendências.
Feirense,
37 anos, estudou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, e
já realizou algumas exposições aqui em Salvador na Cañizares e Acbeu.
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