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quinta-feira, 14 de março de 2013

GERAÇÃO 70 REPERCUTE E RECEBE NOVAS ADESÕES - 01 DE JUNHO DE 1985


JORNAL A TARDE, SALVADOR,  01 DE JUNHO DE 1985

GERAÇÃO 70 REPERCUTE E RECEBE NOVAS ADESÕES

Repercutiu muito bem a ideia lançada na semana passada para a realização de uma exposição enfocando a Geração 70. Recebi vários telefonemas apoiando a ideia, e principalmente tive a felicidade de contar com a boa vontade de muitos artistas dispostos a arregaçar as mangas para trabalharem em prol desta exposição. Um grupo está encarregado de arregimentar gente de outras áreas para que possamos apresentar uma performance no dia da abertura ou até mesmo durante a exposição. A data fixada na pauta do MAB deve ser de 25 de julho a 8 de agosto. Este mês de junho será de muito trabalho e espero que os artistas adotem a postura de verdadeiros profissionais, para que possamos cumprir todos os prazos estabelecidos, e assim tudo ocorra dentro do que realmente planejamos. Não adianta agente trabalhar com desculpas, porque vai prejudicar aqueles que estão empenhados em apresentar um bom trabalho.
Também, é bom que se diga.
Recebi através de telefonemas, e mesmo pessoalmente, indagações sobre os critérios que estava aplicando para convidar os artistas. Evidente que não sou juiz de concurso de miss, e muito menos um indivíduo arbitrário, disposto a escolher amigos. Os critérios são aqueles pautados em primeiro lugar pela qualidade do trabalho e segundo no desenvolvimento da obra de cada artista de 70 para cá, e assim por diante, Inclusive sobre a preocupação da artista Denise Pitágoras, presidente da Associação dos Artistas Plásticos, questionando os critérios, respondi que a solicitação deveria ser feita à Fundação Cultural e não a mim. Vou executar um projeto de acordo com minhas convicções estéticas, que por acaso podem não ser  as mesmas de algumas pessoas, mas não vou errar sozinho, porque comigo tenho pelo menos umas 15 pessoas trabalhando.
Elas estão perfeitamente enquadradas no que podemos chamar de artistas emergentes, com obras em desenvolvimento e cujo valor é inquestionável.
Mas, compreendo este rebuliço que uma exposição desta causa e, também sei que os que ficarem de fora certamente tentarão diminuir a sua importância. Asseguro, no entanto, que , por trás desta legenda
Geração 70, apresentaremos o que existe de melhor nesta geração que chegou para suceder, a uma outra criativa e de grande importância. Os caminhos estão ali delineados, e esta mostra é mais um elemento que vem fixar as nossas vistas para eles.
Jovens e talentosos sofrem na própria carne as dificuldades do início. Alguns já conseguem até sobreviver de sua arte. Outros ainda não. Continuam batalhando por mais espaço para viverem com a mesma dignidade, do fruto de sua obra. E, com eles estou de mãos dadas, disposto a apoiá-los, disposto a divulgar cada passo conquistado. E este o trabalho que me proponho a fazer. As discórdias e as pressões passam. O que fica é o resultado de um trabalho qualitativo.
Enfrento dificuldades em definir os nomes. Dez é um número relativamente pequeno para englobar todos os artistas desta geração. Cheguei até a pensar em aumentar um pouco, e talvez, quem sabe, posso colocar 13 nomes, isto está dependendo de alguns acertos, porque a verba do catálogo estava estabelecida para 10 cromos, e neste instante estou lutando para ver se consigo uma verba específica para financiar a performance e complementar o preço do catálogo.
Estou contando com todo o apoio de Heitor Reis e também do incentivador desta exposição, que é Sante Scaldaferri.
Eles estão dispostos e abertos a nos ajudar. O coordenador de museus me surpreendeu por sua boa vontade, coisa que não é muito comum nas pessoas que estão assentadas na burocracia cultural em nosso País. Heitor, ao contrário, evita as dificuldades e vai apontando as soluções.
Agora, espero esta semana ter todos os nomes definidos.
Gostaria que aqueles que já convidei entrasse em contato comigo para falarmos de alguns detalhes e marcarmos uma reunião geral. Precisamos definir a maioria das providências que temos que tomar nesta primeira semana de junho.

A NATUREZA URBANA DE TAKASHI FUKUSHIMA

Obra mais recente de Takashi Futkushima
Nos últimos anos, os jovens estão cada vez mais preocupados com a agressão que sofre a natureza em todos os recantos do universo. Uma agressão constante e desenfreada. Esta preocupação é um elemento inerente a um jovem que por exemplo, nasce e vive numa metrópole como São Paulo. Talvez aí esteja a raiz que empurra o nissei Takashi Fukushima a olhar, da janela de sua moradia, a natureza cada vez mais confinada a pequenos espaços e a paisagem urbana concretada, subir e descer, emparedando o solo e o horizonte. É verdade que não existe na sua obra uma preocupação contestatória, panfletária e sim, com a estética, vamos assim dizer da estática que a paisagem urbana nos relega. Ele mesmo faz questão de salientar esta diferença, porque seu trabalho, ligado essencialmente á natureza, não deve ter entendido e visto como uma ação contestatória.
Paisagem Invasora, de Takashi
Sua postura é de um observador da natureza, que não precisa do homem para continuar a sua trajetória, mas que este não vive sem ela. Lembra Fukushima que a natureza não é apenas o ser vivo, mas também é composta pelos minerais, e estes, principalmente, não necessitam dos homens.
Evidente que esta posição de observador da natureza de um jovem que nunca morou no  campo, que não sabe  o que é a vida no campo, não exige que Takashi assuma uma postura crítica. Mas todo ser humano é político e embora ele tenha a preocupação em ressaltar que sua obra está longe do panfletário, ele assume uma visão crítica ao enquadrar a passagem urbana dentro da sua poética visual.
Viveu sempre envolvido com o meio artístico e tem formação de arquiteto. Mas, sou apenas formado em arquitetura. Minha profissão é de artista plástico, esclarece Takashi que para minha surpresa é um nissei de fácil comunicação. Fala com fluência do seu trabalho e vai esclarecendo a sua visão estética e sua ligação com a natureza.
Sua arte ou sua pintura enfoca paisagens urbanas que não são necessariamente de São Paulo. Elas podem ser identificadas com qualquer outra grande metrópole. É o verde que se transforma em cinza, é o quintal que vira garagem, e assim por diante. É esta visão de observador que Takashi assume e transporta para suas telas através do uso de tintas acrílicas, facilmente dissolvidas em água, o que permite uma leveza e transparências excepcionais.
O artista com uma obra de sua autoria
Recentemente ele fez uma exposição em São Paulo que chamou de Shizen, em japonês significa viver de acordo com a natureza. Ela tem uma ligação muito profunda com esta que inaugura amanhã, no escritório de Arte da Bahia, intitulada Natureza Urbana.

Seu próprio sobrenome Fukushima, em japonês, quer dizer felicidade, e Takashi, o alto dessa ilha. Assim, como um observador, Takashi vai construindo o seu mundo visual, relatando o que está vendo com a técnica e a concepção formal que a dotou.
O artista, portanto, não é um contestador, um militante engajado em movimentos ecológicos. Diz apenas que constata, olha e pinta. O que importa é a sua linguagem plástica e ele se mantém como observador escudado num limite, através de uma linha imaginária entre o campo e a cidade.
Numa das pinturas que integra o catálogo, Fukushima olha da janela de um automóvel, em velocidade, a paisagem e enxerga linhas retas de um campo. E nos deixa a impressa  de que o artista está sempre de olhos abertos vendo a paisagem e captando a sua essência para transportar sua obra.

GIL MÁRIO E O ENFOQUE FANTÁSTICO

Existe uma marcante preocupação na obra de  Gil Mário com a liberdade dos animais e principalmente dos pássaros. Esta liberdade é uma dádiva que ele não abre mão, e quando trabalha com as elegantes garças e mesmo com os mamíferos, os transporta para ambientes onde ficam confinados. Uma dicotomia e acima de tudo um contraste, porque o confinamento está oposto à liberdade. Mas, esta visão do artista é exatamente como que uma denúncia de que confinados os animais parecem tristes, porque perdem aquela sensação de força indomável.
A figura, humana também se faz presente em algumas telas, inclusive integradas com os animais. Aí ele busca novos efeitos e as formas dos corpos oferecem ao espectador significativas emoções. Noto também que embora tenha uma postura firmemente figurativa, Gil Mário aos poucos tende para uma maior simplificação das figuras, na medida em que busca ambientalizá-las de acordo com sua imaginação, que pode descambar para o fantástico e para o imaginário.
Ele recebeu o prêmio Olney São Paulo no II Salão de Artes Plásticas, promovido pelo Museu Regional de Feira de Santana, o qual reuniu trabalhos de artistas das mais diversas tendências.
Feirense, 37 anos, estudou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, e já realizou algumas exposições aqui em Salvador na Cañizares e Acbeu.


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