JORNAL A TARDE, SALVADOR, 10 DE
NOVEMBRO DE 1979
BUSTAMONTE SÁ NA TERESA GALERIA
Comemorando seu segundo aniversário, a Teresa Galeria de Arte apresenta a exposição dos trabalhos de Bustamonte Sá que é um artista da velha guarda, pois participou nas últimas décadas do movimento artístico que buscava um reconhecimento social do seu trabalho.
Ao
lado de Pancetti e da Costa, seus companheiros de luta, acompanhou os modismos
que de quando em vez sacodem os setores culturais. Mas permaneceu firme a seu
traço, sua temática, e seu jeito pessoal de retratar as paisagens bucólicas com
lindos céus azuis.
A
perseverança de Bustamonte Sá, que acreditava no seu trabalho, reflete hoje a
qualidade de sua obra pictórica. Reflete também a importância para o artista em
saber o que deseja realizar e a certeza de que está caminhando certo. Os
modismos passaram e outros virão e o Bustamonte estará firme como nos revela o
seu nome, que a princípio nos faz lembrar um personagem de alguma estória
fantástica.
Quem
faz sua apresentação é Walmir Ayala que em certo trecho afirma pintor de
paisagens habitadas e que consegue concentrar numa figurinha minúscula e apenas
esboçada, toda a força de uma presença humana pisando e dominando a terra. A
paisagem soberana, os caminhos, as casas, os bosques. As figuras situadas com
propriedade, aquecendo com seu hálito humilde e espontâneo, a paisagem
elaborada. E esta elaboração disfarçada em pincelada rápida, em lançamento
hábil de movimento carregado de experiência e metier. A disciplina muitas vezes
contaminada pelo prazer, pelo entusiasmo de resolver um projeto pictórico
marcado de intuição. Bustamonte ainda hoje é um risinho combatente, escondendo
por trás de seu ar largado, uma fatia dramática da vida artística em tempos
heroicos.
A
FORÇA DA LUA CAPTADA POR PAULO NEVES
O
fotógrafo Paulo Neves captou estas imagens na Avenida Paralela, próximo à sede de nosso jornal. O Sol ainda estava
brilhando, devagar e fracamente. De repente a Lua surgiu forte clareando mais
que ele. O rei deu lugar á rainha que vinha com sua luz dourada tão cantada em
versos de poetas e admirada pelos enamorados. As imagens de Paulo Neves são
realmente dignas de registro pela beleza plástica, pela feliz ideia de
captá-las através de sua objetiva. Vale apenas registrá-las também,, porque
poucas pessoas possam admirá-lo, embora não tão autêntico como viu o Paulo. Na
primeira foto a Lua surgia e os carros que aparecem transformados em manchas,
seguiam o caminho ditado por seus condutores. Na segunda, os carros são mais
visíveis e a Lua começa a dominar os espaços tangendo a escuridão para bem
longe.
Uma tela de Fantasiado de Gruber |
Seu
trabalho mostra um desenho elaborado dentro de composição bem estruturada, a
técnica perfeita a serviço de uma pintura que objetiva a fatura sem rastros da
mão, uma pintura que seja talvez tão bela quanto á melhor técnica de reprodução
de uma imagem. E, neste aspecto, a finura dos tons, dos ocres aos castanhos,
aos ouros e verdes escurecidos, se fundem com perfeição absoluta, minimizando o
excêntrico da figura central focalizada em Fantasiado II.
Mas,
muito mais que uma temática carnavalesca popular, o tratamento da obra nos
remete antes da obra nos remete antes ao clima super realista da pintura
flamenga ainda na fronteira dos mistérios medievais. Pequenas bandeiras, no
segundo plano, confirmam essa relação com ambientes feudais distantes, no
grotesco enriquecido, amorosamente tratado.
Mário
Gruber começou a pintar e gravar por volta de 1944, participando em São Paulo em 1947 da
exposição Grupo dos 19, ao lado de Grassmann, Sacilotto, Otávio Araújo, entre
outros. Em 1949, Omo bolsista do governo francês, viajou para Paris onde
trabalhou em gravura em metal com Edouard Goerg. Participou da Fundação do
Clube da Gravura em Santos e da União dos Artistas Plásticos de São Paulo.
Objeto
de documentário sobre sua obra do cineasta Rubem Biáfora, Mário Gruber possui
obras também em Wisconsin State
Museu College Union, nos Estados Unidos, no Museu Puskin, em
Leningrado na Rússia e no Mac em Olinda. Também você pode conhecer a obra de
Gruber no acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia, onde existe uma tela.
SALÃO
PARANAENSE COMEÇARÁ HOJE
Será
inaugurado oficialmente hoje no saguão de exposições do Teatro Guaira, em Curitiba,
o 36.º Salão Paranaense, que apresentará 284 trabalhos de 78 artistas de todo o
Brasil, concebidos com as mais variadas técnicas e tendências. A mostra
distribuiu prêmios de CR$735 mil aos selecionados e teve inscritos mais de 650
trabalhos, de 250 artistas, julgados por uma comissão composta pelos críticos
Eduardo Rocha Virmound, do Paraná, Jacob Klintwitz, de São Paulo, e Francisco
Bittencourt, do Rio.
O Salão, este ano, não apresenta o mesmo nível de mostras anteriores, o que
provocou muitas críticas de alguns artistas que não foram classificados. É
natural que isto aconteça, explica o diretor do Departamento de Artes Plásticas
da Secretaria da Cultura, Enio Marques Ferreira. Afinal diz ele, o júri foi o
mais criterioso possível, e seria impossível agradar a todos, levando-se em
conta a qualidade da maioria dos trabalhos inscritos.
O
prêmio principal do salão ao exterior, coube ao paranaense Marcos Bento, com o
trabalho Vila Velha Souvenir, formado por dois desenhos e um filme mudo em
super-8, manifestando as preocupações do artista em relação a cada vez mais
constante e severa destruição da paisagem pelo homem. O trabalho de Marcos
Bento integra um intenso projeto que ele procura desenvolver desde 72, sempre
seguindo a mesma temática ecológica.Já em 77, no mesmo Salão Paranaense, ele fizera uma
espécie de homenagem ao conhecido professor Ruschi, do Espírito Santo, cuja
defesa de um parque natural em seu estado aprovou adesões em todo o país. No
ano passado, Marcos Bento conseguiu o primeiro prêmio no salão, com um trabalho
sobre o Pico de Marumby, no Paraná, que virou apenas um ponto turístico para o
homem, o conquistador de suas belezas naturais.
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