JORNAL A TARDE, SALVADOR, 16 DE
MARÇO DE 1981
OS PERIGOS DA INOVAÇÃO
Sou
uma das vítimas da inovação arquitetônica que está assolando o setor. Adquiri
um apartamento num edifício onde o arquiteto resolveu inovar colocando uns
canteiros laterais. As plantas dos tais canteiros invadiram a tubulação
plástica de águas pluviais e inundaram os apartamentos do oitavo até o décimo
andares. Uma inundação sui generis. O pior é que ninguém consegue plantar coisa
alguma da metade em diante dos tais canteiros, sob pena de arriscar sua própria
vida. Isto porque os canteiros ficam do lado direito da sacada do prédio, e quanto mais alto o perigo vai aumentando.
Pior
ainda aconteceu com uma família que reside num edifício na Rua Tenente Pires
Ferreira, uma transversal da Ladeira da Barra. Um pai brincava com seu filho
quando a criança foi de encontro ao vidro do numa chamada área livre e caiu, morrendo instantaneamente.
Imaginem
que colocaram um vidro no lugar de uma parede. Noutro edifício construído na
Rua Aloísio de Carvalho, o arquiteto substituiu as paredes que antecedem os
janelões, por vidros. Um eterno perigo para as famílias que tem crianças.
Algumas mais prevenidas já instalaram grades no redor de seus apartamentos.
Estes são alguns casos, mas existem às dezenas em Salvador.
Também
não posso deixar de lembrar os tristes incêndios que estão ocorrendo
ultimamente em São Paulo. As
tragédias dos edifícios Andraus, Joelma e agora do Edifício Avenida, que não apresentava
qualquer preocupação com a segurança.
Dizem
que o arquiteto depende de terceiros ou sejam do calculista de concreto, das
disponibilidade de mercado, das leis, do clima, da paisagem, das condições do
terreno e de tantas outras coisas. Concordo, mas isto não implica que ele deve
ceder aos destemperos dos terceiros que defendem outros interesses.
A
obra do arquiteto tem que ser respeitada e quando não acontecer, o profissional
dispõe do Instituto dos Arquitetos e do sindicato, para fazer denúncia e tomar
providências. Portanto, dispõe de meios de denunciar as injunções. O medo de
ser despedido também não deve intimidá-lo. Na verdade, o que existe é a
preocupação de produzir e ganhar mais.
Os
poleiros envidraçados demonstram a despreocupação com os futuros adquirentes e
são esses que vão pagar pela omissão do profissional de vários setores serviram
a Mussolini da Itália, inclusive um famoso arquiteto, que tanto serviços tem
prestado às artes no Brasil. Portanto há várias formas de servir. Não podemos é
aceitar a arquitetura da beleza falsa e das aparências. O que precisamos é de
uma arquitetura ligada ao nosso clima, após materiais disponíveis em nosso país
e acima de tudo que respeite o conforto e a segurança dos usuários.
Tudo
depende de uma visão político–ideológica do profissional, o que deve ter
consciência de sua responsabilidade. Ao projetar, deve pensar nas vidas que vai
abrigar aquele imóvel. A visão fria de uma prancheta iluminada a luz de
mercúrio deve acender também a visão global do que representa uma moradia,
lembrando a presença de senhoras, velhos e crianças, da labuta do homem da
classe média que sai de casa o dia inteiro para batalhar a sobrevivência,
deixando em casa seus filhos. A
necessidade do playground e áreas destinadas às suas brincadeiras. Nunca
projetar um prédio onde o playground fique entre um apartamento e outro,
porque o morador de baixo não suportará o barulho da criançada e assim por
diante.
Tudo
é apenas uma questão de senso. A própria palavra funcional diz que é o que tende
ao pratico e à função.Só
que muitos desses profissionais estão atendendo a disfunção e atentando contra
a própria vida dos que devem abrigar.
O
MECENAS DO SURREALISMO TEM UMA VIDA DE FANTASIAS
O sofá de Dalí representando os lábios da atriz Mae West |
Segundo
a Christie’s este é um dos lotes mais importantes de obras de arte surrealistas
já postas a venda. James espera que o leilão lhe renda pelo menos 2,3 milhões
de dólares (168.774.000 cruzeiros) para prosseguir com uma obra arquitetônica
fantástica que sugou quase toda a sua fortuna.
James,
cujo padrinho foi o Rei Eduardo VII da Inglaterra, tornou-se excepcionalmente
rico com a morte de seu pai, aos cinco anos de idade, e há 30 anos vem tentando
construir um paraíso numa floresta do México.
Com
a morte do pai, James herdou cerca de 15 por cento de todo o sistema
ferroviário norte-americano, além de um grande número de ações de empresas
norte-americanas de madeira e cobre. Durante a maior parte de sua vida, James
foi tão rico que não sabia o quanto tinha.
Atualmente,
aos 73 anos, a sua obsessão pela construção dos palácios de Xilitla, deixou sua
fortuna reduzida a cerca de meio milhão de dólares (cerca de 37 milhões de
cruzeiros). E por isto que ele vem, aos poucos, vendendo suas obras de arte,que
formam a coleção surrealista mais famosa do mundo.
Estas
obras não foram meramente compradas por James. Ele se envolveu e aplicou
dinheiro no movimento surrealista durante a década de 1930. Durante um ano,
James pagou a Dali para pintar exclusivamente para ele. Deu apoio a pintores
como Magritte e Chirico, cujas obras constam da coleção que está a venda. Um
dos quadros mais famosos de Magritte, que apresenta um homem olhando em um
espelho, que reflete a parte de trás de sua cabeça, é um retrato de James.
Usando
um taco de bilhar de ouro, James certa vez apresentou Dali, vestido em traje de
mergulho, para uma conferência. O capacete teve que ser retirado para que Dali
não morresse sufocado e então verificou-se que não se conseguia entender a
conferência, devido a seu sotaque.
James
comprou obras de Picasso quando ainda não era conhecido e concentrou suas
aquisições na Escola Surrealista, apesar da família ridicularizar este hábito.
Recentemente,
James declarou que seus parentes diziam que suas compras eram bobagens, mas que
foram um grande investimento.A
coleção está me mantendo nestes últimos anos, afirmou.
Losch
era uma cantora austríaca que estava na moda. Em 1933, James pagou a um grupo
de opereta para lhe dar um papel de destaque. Participavam do grupo
George Balanchine, Bertold Brecht, Lottle Lenya e Kurt Weill.Depois
do divórcio com Losch,um dos grandes escândalos da década de 1930, James se
transferiu para Hollywood, fazendo uma escala em Nova Iorque , onde
financiou 48 por cento de uma extravagância que Dali apresentou na Feira
Mundial da Cidade.
Em
Hollywood, ele rapidamente fez amizade com as pessoas famosas e morou na cidade
quase 25 anos, sem mudar seu modo surrealista de vida.
Em
certa ocasião, James saiu inesperadamente de sua casa em Los Angeles e voltou
oito anos depois, encontrando sobre a mesa os pratos sujos que havia usado.
Em
vez de mandar limpar a casa, James construiu uma outra no jardim.
Durante
uma de suas misteriosas viagens ao México, com suas roupas embrulhadas uma a
uma em papel de seda cor-de-rosa dentro das malas, Jaime encontrou o que
considera a sua versão do Jardim do Éden.
Desde
então, vem tentando construir um palácio no local, um vale escarpado, e perdeu
o interesse pelos quadros surrealistas.
Em
1976, ele tentou dar todas as 300 obras para a Grã-Bretanha, mas o governo
recusou, afirmando não ter fundos para manter um museu em West Dean , que
atualmente abriga uma fundação
educacional para trabalhadores rurais.
É
para financiar este projeto arquitetônico no México que James está vendendo
mais este lote de obras surrealistas. Outros lotes já foram vendidos e com
certeza outros o serão.
O
projeto é um complexo fantasmagórico de palácios construídos segundo a
concepção de James, poucos dos quais foram terminados. Alguns se desintegram
antes de estarem terminados, outros deslizam pela encosta da montanha. A
floresta toma conta dos palácios antes que James consiga terminar a construção.
LOZANO-
O Consulado da Espanha e a Fundação Cultural do Estado da Bahia farão a partir
do dia 20 do corrente uma exposição dos trabalhos de Francisco Lozano. E
ninguém melhor que o próprio Lozano para agradecer o apoio do seu compatriota Valentin Calderon. Vejamos:
" Nunca se podra dejar em el universo del olvido, la
conciencia de quein em vida entrego su tiempo a um pueblo. La dedicacion de mi humilde obra acompaña, a
este andante mensajero que cumplio hasta el termino de su esistir um amplio
trabajo de orientador.
Valentin Calderón, como hombre a ti me dirijo y te
entrego la mas hermosa criatura que a este mundo traje - la paloma. Es mi
naturaleza que de mis manos, dejo posada en ti. Los pensamientos de todos
aquellos que te conocieron estan acompanãndote em el difícil camino que tan
cerca de ti esta."
COLETIVA-
Caribé, Carl Brusell, Carlos Bastos, Emídio Magalhães, Floriano Teixeira, José
Maria, Mirabeau Sampaio, Newton Silva, Rescála e Sauro De Col estão
participando de uma coletiva que a Margot Galeria de Arte está promovendo até o
dia três de abril. A galeria fica no Largo do Carmo.
ARTE
INFANTO-JUVENIL- Crianças e jovens, de 6 a 16 anos, de qualquer parte do mundo poderão
participar da IV Bienal Internacional de Arte infantil e Juvenil da Argentina,
que ocorrerá nos meses de outubro e novembro. Os interessados devem procurar aqui
no Brasil o Instituto Nacional de Artes Plásticas da Funarte, (Rua Araújo Porto
Alegre, 80, Centro, Rio de Janeiro-RJ CEP. 20.030), onde obterão maiores
esclarecimentos e o regulamento do evento.
O
candidato poderá concorrer nos seguintes gêneros: desenho, pintura, recortes,
colagem, gravura, cerâmica, escultura, marionetes e cenários para bonecos.
No
verso de cada trabalho deverá constar o nome completo do autor, data do
nascimento, nacionalidade, sexo, endereço, nome da sua escola e data da
realização da obra, que sendo gráfica, deverá ser remetida sem moldura. Poderá
haver inscrição de trabalho feito coletivamente suas dimensões não devem
ultrapassar ás medidas 2mx1m. Três temas estão orientando os candidatos: Minha
Cidade Vista do Céu, Rios e Lagos e Montanhas e Vales.
Até
o dia 1º de agosto o trabalho deverá chegar ao Instituto Nacional de Artes
Plásticas, e caso não haja tempo o candidato deverá remetê-lo para o Instituto
Municipal de Educacion por El Arte; Casilla de correo 9, 1870-Avellanedo, Província
de Buenos Aires, República Argentina, até o dia 30 de setembro. E é também para
este último endereço que devem ser dirigidos os pedidos de informação dos
professores que quiserem participar na mesma época da bienal, de um encontro
quando serão discutidos os aspectos importantes da arte infanto-juvenil em
âmbito internacional.
GERALDO
DE BARROS- Este trabalho corresponde ao período de retorno do artista à
figuração, quando a utilização de deformações a partir da fotografia em alto
contraste constitui uma das inspirações para suas criações. Posteriormente,
Geraldo de Barros trabalharia em pintura sobre cartazes publicitários, obtendo
a transcedência das imagens, através de sua manipulação expressiva.
Um
dos pioneiros da fotografia abstrata entre nós, Geraldo de Barros iniciou-se em
pintura como aluno de Clóvis Graciano, Takaoka e Colette Pujol, tendo estagiado
em 1951, por período breve em Paris, onde estudou gravura com S.W. Hayter.
Apresentou-se em individuais, figurando as bienais de São Paulo (1951 e 1953) e
a Bienal de Veneza de 1956. Fotógrafo, artista gráfico, obteve o 1º Prêmio de
Cartaz do IV Centenário de S, Paulo.
Participou
da fundação do Grupo Ruptura, iniciador do concretismo em S. Paulo , bem como da
Unilabor, Form-inform e do Grupo Rex, em 1966. O MAM-SP organizou em 1977 uma
exposição individual de seus trabalhos, cobrindo o período de 1964 a 1976.
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