JORNAL A TARDE, SALVADOR, 24 DE FEVEREIRO DE 1979
O TRABALHO DE CELSO CUNHA
Celso Cunha é um dos jovens artistas plásticos da Geração dos Anos 70 sobre a qual
venho insistindo, há uma necessidade premente de ser escrito um trabalho sério,
de pesquisa, de grande fôlego mesmo.
No
mínimo duas dezenas de jovens artistas baianos deverão figurar na obra a ser
elaborada sobre esta geração que terá como principal objetivo enfocar a
contribuição indiscutível destes artistas emergentes ao cenário plástico visual
baiano. Trata-se, acredito, de uma contribuição significativamente nova,
criadora, a destes artistas, que pensada pelos nossos pouquíssimos críticos de
artes visuais, servirá de ponto de apoio para uma avaliação das possibilidades
da Bahia em termos de Artes Contemporânea nos últimos anos da próxima década.
Em resumo, no que diz respeito às artes plásticas na Bahia, deparamos com um
público pobremente informado por falta de estudos mais sérios, de trabalhos
sistemáticos, fundamentados em pesquisas.
Não
fosse a contribuição dos críticos que semanalmente escrevem em dois dos jornais
que circulam em Salvador, a coisa se reduziria a zero em matéria de informação.
O
criador dos três imponentes painéis para o Centro de Convenções da Bahia, o
jovem artista Celso Cunha, com diversos trabalhos realizados para casas de
crédito da capital e do interior do Estado é um desses valores pessimamente
divulgados e, não fosse o interesse do responsável por esta permanente coluna
de Artes Visuais não teria o público baiano informações sobre o importante e
sério trabalho do artista.
A
técnica utilizada por Celso Cunha na elaboração dos seus painéis é o entalhe em
madeira, o cedro, onde o artista fez o desenho definitivo, usando lápis cera e
pincel atômico e valendo-se de formões, goivas e outras ferramentas, fixa
definitivamente sua linguagem altamente intelectualizada da nossa Bahia. Com um
acabamento de alto nível técnico, feito a fogo com maçarico a gás, pintura,
cera de carnaúba, aplicando uma variedade de conchas marinhas. O entalhe dos
painéis variou de 0,00 à 0,05 de profundidade, já que as pranchas utilizadas
possuem 0,07m de espessura. Usando texturas várias, cortes, planos e tensões
harmônicas, transmite grande beleza plástica. É realmente uma obra soberba e
grandiosa, causando um efeito emocional sobre o observador.
Os painéis que serão colocados no Centro de Convenções totalizam uma dimensão de
quase 40m2. Vale dizer que todos os trabalhos de Celso Cunha são caracterizados
por grandes dimensões. É certo afirmar sobre o artista, valendo-me do grande
critico de arte americano Clement Greenberg, trata-se de um artista envolvido
desde cedo pela concepção da parede em oposição ao cavalete, algo
característico da revolucionária arte contemporânea. Assim os trabalhos do
jovem artista Celso Cunha com seus dominadores sóis no painel central, com
estilizados peixes, cavalos marinhos, conchas espessas de moluscos gastrópodes
branquiados e generalizada Yemanjá no painel a ser posicionada à esquerda, e, finalmente,oferece o painel fixado à direita, figuras extraordinariamente estilizadas de
baianas, além de figurarem peixes recortados por uma vibrante faixa diagonal a
evitar equivalentes visuais realistas, misteriosos signos de estranha beleza.
É
assim a obra de Celso Cunha artista consciente, a sacudir critérios
tradicionais da arte muralista, com novas soluções formais, algo que nos faz
acreditar que os meios artísticos baianos seria no futuro sem esperança, sem
respeitável teor criativo se não contássemos com a força dos jovens e
determinados valores da Geração dos Anos 70.
PROGRAMAÇÃO
EM BRASÍLIA MARCA
DOIS ANOS E MEIO
DE
ATIVIDADES DA FUNARTE
Foi
inauruada no dia 14 de fevereiro, no Núcleo da Funarte em Brasília, com a
presença do presidente da República, a exposição Vida, Trabalho e Produto da Funarte.A
programação que inclui uma mostra dos objetos da Funarte em fotos, painéis e
mapas, se inicia no dia 8 de fevereiro, com a estréia do Verão Funarte, com o
espetáculo de música popular.
Também
no dia 14, foi lançado o livro Artesanato Brasileiro, produzido pelo Instituto
Nacional do Folclore, e editado pela Funarte, e que é o produto final do PAB –
Projeto Artesanato Brasileiro. Iniciado em fevereiro de 1978 e terminado em
novembro, este projeto abordou coleções e acervos voltados ao patrimônio da cultural
popular, com destaque para o artesanato e uso e a função social. Com a
introdução do crítico Clarival do Prado Valadares, o livro reúne grande
quantidade de fotografias, com análise de conteúdo e qualidade gráfica.
Já
o Verão Funarte apresentou uma série de shows de 8 a 16 de fevereiro, reunindo
alguns artistas que participaram do Projeto Pixinguinha, em duas sessões, às 19
horas e às 21 horas, sempre na Sala Funarte Brasília.
A
EXPOSIÇÃO
Reunindo
documentação desde 1976 até o início de 1979 a Exposição apresenta um balanço das
atividades da Funarte em dois anos e meio de atuação, através de fotos , textos
e mapas explicativos, cartazes de promoções, publicações, discos e apresentação
ilustrada dos seguintes projetos em quatro áreas:
Artes
Plásticas: Educação Artística / Verde Funarte, Arco-Íris, I Salão Nacional de
Artes Plásticas, Museu Imaginário.
Folclore:
Festa do Folclore Brasileiro, Recuperação de Grupos Folclóricos, Cursos,
Edições, Exposições e Museus, Concurso e Atlas Folclórico
Música: Bandas,
Rede Nacional de Música, Luteria, Música Sacra Mineira, Apoio a Criação Musical
Brasileira, Concertos para a Juventude, Projeto Espiral, Disco, Melhoria do
Instrumento Nacional.
Diversos:
Pixinguinha, Vitrine,Núcleo de Cinema, Centro de Documentação e Pesquisa, Multimeios, Festivais de Arte, Projeto Universidade, Salas Funarte e Restauração e
Conservação de Prédios Históricos.
BONECAS DE LOUÇA NO MUSEU
Se
você curte bonecas antigas de porcelana como a velha Europa fabricava antes da
última Guerra, o Museu Francês da Fotografia está patrocinando umas das mais
belas e estranhas exposições jamais vista na Cidade Luz. O único modelo que
posou foi uma dessas bonecas da Coleção Sapène e o que vemos é a sua história , a
sua reação diante da vida e dos homens ,
suas paixões, dúvidas, sonhos e sofrimentos, tudo vista através do talento de
Annie Fontanilles , jovem fotógrafa francesa, já com trabalhos nos arquivos da
Biblioteca Nacional, como sua colega a premiada fotógrafa Danny Cotton.
GERARD
BELIN, UM FOTÓGRAFO DIFERENTE
Paris,
fevereiro , 1979 – Gerard Belin tem 31 anos, é francês católico, autor de uma
exposição de fotos que tem abalado Paris pela força, originalidade e drama
contido em cada uma delas. O tema da exposição: A Paixão de Cristo. Os que
posaram foram escolhidos pelo fotógrafo por serem surdos- mudos.
Recusando
a banalidade do retrato superficial onde cada um pode se reconhecer Gerard
Belin visa situar o ser profundo além da simples aparência, numa espécie de
conhecimento interior. Fotografia que se torna linguagem. Trabalhando um rosto
durante meses ele incita este rosto a se reduzir a si próprio. A ser sincero
consigo mesmo. O trabalho com cada modelo dura de cinco a oito meses, às vezes
anos. As poses duraram de três a oito horas. Conhece-te a ti mesmo e conhecerás
os deuses. A chave será ser ou não ser este fantasiado que se apresenta no
mundo e em face de si mesmo. Para Gerard Belin o objetivo do fotógrafo é de
fotografar o rosto original. O homem se contemplado dentro de si mesmo. A
fotografia para ele é uma necessidade de redenção e mortalidade. É a separação
da alma e do corpo - dualidade-, a arte sagrada.
Gerard
Belin teve dificuldade em encontrar os modelos ideais que seriam os personagens
da Via Sacra diante da sua máquina fotográfica. A sua escolha para o papel de
Jesus recaiu num jovem surdo-mudo, o que no caso verificou-se de ser uma
ideia de gênio. O jovem foi um Cristo inesquecível. Maria foi revivida com
muita intensidade pela atriz Agnes Morghen.
Todos
os outros eram de uma autenticidade notável. O resultado foi uma exposição
impressionante que se via enquanto se ouvia cânticos gregorianos na Galeria
Univers, Place des Vosges.
O
inesperado aconteceu : Belin foi convidado por ordens religiosas a vir a expor
suas obras em igrejas, por toda a França, o que o nosso fotógrafo tem feito com
fervor.
Este
é o Gerard Belin, o poeta místico da fotografia. Psicologia e Alquimia. Paixão,
humildade e fé ( Mara Guimarães)
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