JORNAL A TARDE, SALVADOR, 19 DE JANEIRO DE 1981.
Depois
do triste episódio que consumiu importantes obras de arte como o incêndio no
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro somos novamente surpreendidos com novo
incêndio, desta vez, no Museu da Imagem e do Som, também do Rio. Todos nós
sabemos que a cultura neste País tem recebido das autoridades um tratamento
inadequado e estúpido.
Cultura
não interessa porque não dá votos – quando existe eleições – e os promotores
pouco aparecem. Além de ser difícil fazer uma mensuração visual, o que não
acontece com a construção de um elefante branco qualquer!
Vejamos
que em pleno Rio
de Janeiro, no sul maravilha, o Museu que guarda parte da memória nacional
funcionava num velho prédio e sua sede data de 1922, uma construção precária
que não tinha recebido nem o visto do bombeiro.
Por
sorte e, chegam até a dizer que Deus é brasileiro as 80 mil fotos, 40 mil
discos , os arquivos de Jacob do Bandolim, Almirante e da Rádio Nacional e, mais de 300 depoimentos de personalidades de nossa cultura, muitos dos quais já
falecidos foram salvos pelos zelosos funcionários que em fila indiana iam
passando os documentos de mãos em mãos salvando milagrosamente o Museu da
Imagem e do Som.
É
preciso cuidado com o que nos resta da cultura e da memória nacional. É preciso
olhar os nossos museus baianos, carentes de verbas, de pessoal especializado e
de movimentação cultural.
Lembro-me
agora que há pouco tempo tive o desprazer de presenciar como são guardados - o
termo não é este certamente ! - obras importantes do Modernismo brasileiro.
Assim, você encontra telas de Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Portinari,e
outros amontoadas em rústicos armários do Museu de Arte Moderna da Bahia,
sujeitos a umidade que vem do mar e bate nas paredes do velho Solar do Unhão.
Em primeiro lugar, pela própria localização do Museu, no Solar do Unhão,
torna-se difícil a conservação das obras porque o salitre danifica com muita
facilidade e é quase impossível recuperá-las. O ideal seria a construção de um
Museu de Arte Moderna num local mais acessível. Arte não é supérfluo ,como podem
pensar alguns insensíveis burocratas tecnocratas da administração estadual.
Arte é uma necessidade inerente ao homem civilizado. É hora do Conselho de
Cultura, da Academia de Letras e outros importantes órgãos de nossa cultura
levantar voz em defesa do patrimônio que está sendo danificado no Museu de Arte
Moderna da Bahia, que de museu só tem o nome.
EXPERIÊNCIAS URBANAS DE CINCO ARTISTAS PAULISTAS
EXPERIÊNCIAS URBANAS DE CINCO ARTISTAS PAULISTAS
Com interesse de divulgar para fora de sua cidade de origem os trabalhos que refletem suas experiências urbanas de intensa mistura cultural, estão participando de uma exposição coletiva os artistas plásticos paulistas Carlos Motta, Circe Bernardes, Gregório, Maique Buser e Maninho.
A
coletiva inaugurada dia 15 no Solar do Unhão é uma promoção da Fundação
Cultural e reúne trabalhos em diversas técnicas de desenho em pastel,
esculturas de ferro, óleo,gravuras em metal a objetos e móveis de madeira.
Painel de Circe Bernardes e Maique Buser , na Rua da Consolação, em São Paulo |
Carlos
Motta é arquiteto. Quando cursava o terceiro ano de faculdade iniciou uma
pesquisa em madeiras e mobiliário. Usou a oficina da escola executando os
primeiro protótipos, muito simples, pois até então não conhecia as técnica de
marcenaria.
Carlos
passou o ano de 1977 na Califórnia, nos
Estados Unidos, estudando e trabalhando com técnica de construção de madeira e
ferro e lá fez suas primeiras esculturas. De volta ao Brasil no ano seguinte,
abriu uma oficina em São
Paulo onde vem executando móveis, objetos e esculturas.
Já
se contam seis anos que Carlos desenvolve esta pesquisa onde não faltam
visitadas as matas brasileiras e as serrarias espalhadas por todo o país. É com
certo orgulho que ele se define como um artesão, um marceneiro que vem
observando os diversos tipos de madeira, de encaixe,de acabamento e o tipo de
mão de obra utilizado nas marcenarias populares.
Segundo
Carlos, seu trabalho com madeira é feito de modo a compatibilizar às
necessidades de consumo com a realidade brasileira e é uma atitude crítica que
comenta o desmatamento irracional, burro e até mesmo anti-econômico das nossas
reservas florestais. Os prejuízos sociais e ecológicos da exploração madeireira
no país já vem sendo por demais denunciadas, mas o que é de espantar, num
sistema onde os lucros e dividendos automáticos são o todo poderoso, que esta
prática seja anti-econômica.
E,
ele dá um exemplo: aqui abatem-se árvores de 10 metros cúbicos
e só quatro a cinco metros são aproveitados, o resto eles queimam, perdendo uma
enorme quantidade de matéria orgânica perfeitamente aproveitáveis para fonte de
energia, adubo, aglomerados e componentes industriais.
Maninho :uma forma de sentir a paz", óleo sobre tela |
Gregório é desenhista ,pintor, gravador, escultor, que
vem expondo desde 1971 em diversos eventos importantes como por exemplo na
Bienal Internacional de São Paulo em 1979 e na Bienal dos Jogos de Paris em 1980
e em várias individuais entre o Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre e agora
em Salvador traz parte do seu trabalho em gravura sobre cobre e zinco. A
temática que aborda gira em torno da vida cotidiana da grande cidade.
Fazendo
parte desta coletiva está também o artista Maique Buser que expõe esculturas em ferro. Seu depoimento é
o seguinte; Conhecemos nosso corpo por sensações, observação e analogia. As
sensações nos localizam parte do corpo em relação ao resto, tanto na pele como
nos órgãos interiores, contudo as sensações não nos informam o que não é corpo.
A
imagem do corpo expressa pela sensações será então uma esfera. Pela observação
vemos parte do nosso corpo mas não conseguimos ver globalmente. Nossas costas
são vistas pelos outros, deduzimos nossa conformação corporal e é apoiado
nessas premissas que pretendo aproveitar estudos de expressão tridimensional.
UM
SOLITÁRIO PINTOR HOLANDÊS
Uma
das mais importantes contribuições para a recente Bienal de Paris foi a obra de
Kees Smits nascido na Holanda em 1945 o
qual pode ser considerado um verdadeiro solitário no mundo da arte holandesa.
Uma
explicação desta sua atitude diferente seria o fato dele trabalhar dentro da
tradição da pintura: na verdade ele mistura o nível pictórico e o nível do
imaginário.
Deveras
, ele não está interessado no resultado material ou visual e nas referências
ilusionistas ou simbólicas, nem busca
obter uma clara e demonstrável reconhecibilidade, mas está interessado na ação,
com referência ao plano, está interessado na maneira pela qual ela se origina .
Kees
Smits busca a união indivisibilidade
convertibildade da forma ou do pensamento. Com a ação mão fazendo. Na
verdade, ele retoma uma atitude semelhante a de Cézanne. Porém, onde Cézanne
parte de um certo número de premissas, as imagens de Kees Smits se originam por
assim dizer impulsivamnete e neste aspecto
ele clara ou diretamente se deixa ligar às condições dos Impressionistas quer
dizer: esta imagem resulta de um momento de ação, quando pintar não é mais que
dar forma a um evento.
A
pintura, como resultado da ação está subordinada ao tempo e como tal, é
incidental.Como conclusão ou conceito final a imagem não pode ser definida de
forma absoluta mas deve ser observada ou avaliada segundo o histórico de sua execução. Isto de
fato representa o ponto de ruptura com a arte do século XX no qual, como é sabido,
forma e ação se tornaram totalmente independentes.
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