JORNAL A TARDE, SALVADOR, 08 DE SETEMBRO DE 1979
O AGRESTE NA PINTURA DE ANÍSIO DANTAS
Os
anos que passou na Suíça foram necessários para uma influência marcante na obra
de Anísio Dantas. Seu trabalho ganhou um formalismo pictórico que ás vezes era
confundido com a frieza européia. Mas, Anísio é um artista de sentimento e de
grande percepção artística.
Agora,
o vejo mais solto, ligado á terra, com uma série de trabalhos onde aparece a
vegetação do agreste, do sertão, onde as árvores e pequenos arbustos apontam para
o céu como a reclamar da seca ou a pedir clemência. Esta vegetação que
impressiona pela sua fortaleza, pela capacidade de agüentar tempos ruins, está
agora presente em seus trabalhos. Só que ainda limitada por quadrados e
retângulos. Mas a impressão que nos deixa é que desejam romper as linhas que
lhes cercam em busca de movimento.
Gosto
muito de pintura de Anísio pela seriedade com que trabalha, pela qualidade de
seu traço, pelo conhecimento que tem das tintas ao ponto de brincar com os
pigmentos.
E
um artista químico. Um homem que conhece os meandros das tintas e muita coisa
que passa despercebida pela maioria de seus colegas.
Agora
Anísio Dantas está com uma mostra inaugurada no último dia 3 na Galeria Itaú em São Paulo.
Ele
já expôs em importantes galerias européias e atualmente está radicado entre
nós. Sua pintura revela portanto a exuberância da natureza e o lirismo interior
do artista.
LÍGIA LIPPI,
A MINEIRA
"A arte para mim ou em minha vida sempre viveu eternamente. Mas foi em 1971 que iniciei o meu trabalho profissional e devo confessar que não cursei nenhuma escola formal. O que tive foram cursos com artistas consagrados e contatos em busca do aperfeiçoamento de minha técnica pictórica e também uma preocupação em conhecer as manifestações.
Com
isto não estou afirmando que detesto ou sou contra as escolas de Belas Artes.
Acho elas importante e que desempenham o seu papel. Apenas não me sentiria bem
pela própria formação de minha liberdade contra os formalisimos. Estas palavras
foram proferidas com a rapidez de alguém que vai tomar um trem. Elas fluíram
espontaneamente de Lígia Lippi, esta mineira que agora brinda a Bahia com
algumas telas de excelente qualidade que estão expostas na Galeria panorama, na
Barra."
Sei
que Minas é um celeiro de desenhistas e que são poucos os pintores. Já falei
inclusive sobre alguns pintores mineiros que estão aparecendo por aqui através
de um trabalho sério que vem desenvolvendo a Galeria Panorama, através a pessoa
de D. Iolanda.
Mas,
confesso que Lígia é uma das melhores que já apareceu, quer pelo tratamento da
temática, pela utilização das cores e também pela espontaneidade de sua arte.
Uma arte onde as paisagens e as figuras humanas parecem nos tocar de perto. Um
toque mágico, um toque onde parece surgir a maviosidade das notas musicais. Esta
exposição me tocou de perto.
Os
espaços foram preenchidos por Lígia Lippi que conhece de perto os segredos do
equilíbrio, canto das formas como também das tonalidades.
Ela
sente a necessidade da busca de emoções. È uma mulher cheia de emotividade, uma mulher que dá ao seu
trabalho aquele toque essencial da feminilidade. No diálogo demonstra
objetividade. É desprovida de preconceitos que marca muito outras pessoas com
reflexos terríveis. Lígia Lippi não possui essas capas que só servem para
empanar. Ao contrário é despojada e rica em criatividade, em emoções sinceras
que vão fluir através dos seus pincéis na produção de belas paisagens,
naturezas mortas e figuras humanas.
Tanto
as figuras, o casario ou a paisagem são de qualidade.
LEILÃO
DESTINA PARTE DA RENDA ÁS OBRAS DA LAR
A
Galeria Grosmman promove de hoje até o dia 12 o I Leilão de Arte, no Salvador
Praia Hotel, onde três quadros serão vendidos em benefício da Liga de
Assistência e Recuperação. A presidente da LAR, Eliana Kertész, informou também
que logo depois haverá o I Salão de Arte, no Salão de Convenções do Salvador
Praia Hotel, onde três quadros serão vendidos em benefício da Liga de
Assistência e Recuperação. A presidente da LAR, Eliana Kertész, informou também
que logo haverá o I Salão de Arte, cuja arrecadação será destinada á
implantação de uma creche no Conjunto
Bahia, no IAPI, em área doada pela Casaforte.
As
240 obras que farão parte do I Leilão de
Arte estão expostas ao público desde ontem e hoje será dado início ao leilão,
com os lances podendo ser feitos em três noites seguidas, a partir das 21
horas. Algumas obras tem valor superior a CR$ 25 mil.
SALÃO
DE ARTE
Ainda
está sem data marcada o I Salão de Arte, no qual a Liga de Assistência e
Recuperação também terá participação e cuja renda será investida na construção
da creche. Inúmeros artistas baianos já doaram várias obras à LAR, como Emanuel
Araújo, Scliar, Raul, Francisco Brennand, Nélson Oliveira Filho, Norma Badaró,
Antônio Rebouças, Jota Machado, Floriano Teixeira, José Pinto, Bel Borba e
Clara Melo.
FOTOS
DE MIGUEL RIO BRANCO NO TCA
Pelo
que pude observar podemos chamar de uma
reportagem cheia de riqueza plástica onde Miguel mostra os tipos humanos
e o trabalho duro da mineração Boquira, dos mangues do interior, do Pelourinho.
Uma objetiva voltada para a marginalidade trabalhadora, que carrega sobre seus
ombros o peso do trabalho mal pago, a esperança que deus melhores vidas. Até o
material utilizado como suporte O papel carne-seca revela a sua preocupação em
busca da autenticidade.
Suas
fotos trazem á cidade grande, outro sofrimento. Isto é, o sofrimento da gente
que desconhece a poluição dos grandes centros humanos, a sub habitação das
favelas, mas que também é carente, que vive mergulhado na verminose,m na fome e
principalmente na ignorância.
Assim a objetiva de Miguel como que fez uma
radiografia de determinados lugares escolhidos e selecionados por ele. Sua
preocupação não está voltada à qualidade do papel onde tirou as cópias das
fotografias, em buscar um brilho ou até às vezes enfocar com o cuidado da luz e
sombra. Não, o que Miguel nos traz é
uma reportagem crua de uma realidade
crua que muitos tentam esconder através
de imagens sorridentes e coloridas.
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