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quarta-feira, 27 de março de 2013

O AGRESTE NA PINTURA DE ANÍSIO DANTAS - 08 DE SETEMBRO DE 1979


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 08 DE SETEMBRO DE 1979

    O AGRESTE NA PINTURA DE ANÍSIO DANTAS

Os anos que passou na Suíça foram necessários para uma influência marcante na obra de Anísio Dantas. Seu trabalho ganhou um formalismo pictórico que ás vezes era confundido com a frieza européia. Mas, Anísio é um artista de sentimento e de grande percepção artística.
Agora, o vejo mais solto, ligado á terra, com uma série de trabalhos onde aparece a vegetação do agreste, do sertão, onde as árvores e pequenos arbustos apontam para o céu como a reclamar da seca ou a pedir clemência. Esta vegetação que impressiona pela sua fortaleza, pela capacidade de agüentar tempos ruins, está agora presente em seus trabalhos. Só que ainda limitada por quadrados e retângulos. Mas a impressão que nos deixa é que desejam romper as linhas que lhes cercam em busca de movimento.
Gosto muito de pintura de Anísio pela seriedade com que trabalha, pela qualidade de seu traço, pelo conhecimento que tem das tintas ao ponto de brincar com os pigmentos.
E um artista químico. Um homem que conhece os meandros das tintas e muita coisa que passa despercebida pela maioria de seus colegas.
Agora Anísio Dantas está com uma mostra inaugurada no último dia 3 na Galeria Itaú em São Paulo.
Ele já expôs em importantes galerias européias e atualmente está radicado entre nós. Sua pintura revela portanto a exuberância da natureza e o lirismo interior do artista.

                    LÍGIA  LIPPI, A MINEIRA

"A arte para mim ou em minha vida sempre viveu eternamente. Mas foi em 1971 que iniciei o meu trabalho profissional e devo confessar que não cursei nenhuma escola formal. O que tive foram cursos com artistas consagrados e contatos em busca do aperfeiçoamento de minha técnica pictórica e também uma preocupação em conhecer as manifestações.
Com isto não estou afirmando que detesto ou sou contra as escolas de Belas Artes. Acho elas importante e que desempenham o seu papel. Apenas não me sentiria bem pela própria formação de minha liberdade contra os formalisimos. Estas palavras foram proferidas com a rapidez de alguém que vai tomar um trem. Elas fluíram espontaneamente de Lígia Lippi, esta mineira que agora brinda a Bahia com algumas telas de excelente qualidade que estão expostas na Galeria panorama, na Barra."
Sei que Minas é um celeiro de desenhistas e que são poucos os pintores. Já falei inclusive sobre alguns pintores mineiros que estão aparecendo por aqui através de um trabalho sério que vem desenvolvendo a Galeria Panorama, através a pessoa de D. Iolanda.
Mas, confesso que Lígia é uma das melhores que já apareceu, quer pelo tratamento da temática, pela utilização das cores e também pela espontaneidade de sua arte. Uma arte onde as paisagens e as figuras humanas parecem nos tocar de perto. Um toque mágico, um toque onde parece  surgir a maviosidade das notas musicais. Esta exposição me tocou de perto.
Os espaços foram preenchidos por Lígia Lippi que conhece de perto os segredos do equilíbrio, canto das formas como também das tonalidades.
Ela sente a necessidade da busca de emoções. È uma mulher cheia de  emotividade, uma mulher que dá ao seu trabalho aquele toque essencial da feminilidade. No diálogo demonstra objetividade. É desprovida de preconceitos que marca muito outras pessoas com reflexos terríveis. Lígia Lippi não possui essas capas que só servem para empanar. Ao contrário é despojada e rica em criatividade, em emoções sinceras que vão fluir através dos seus pincéis na produção de belas paisagens, naturezas mortas e figuras humanas.
Tanto as figuras, o casario ou a paisagem são de qualidade.

 LEILÃO DESTINA PARTE DA RENDA ÁS OBRAS DA LAR


A Galeria Grosmman promove de hoje até o dia 12 o I Leilão de Arte, no Salvador Praia Hotel, onde três quadros serão vendidos em benefício da Liga de Assistência e Recuperação. A presidente da LAR, Eliana Kertész, informou também que logo depois haverá o I Salão de Arte, no Salão de Convenções do Salvador Praia Hotel, onde três quadros serão vendidos em benefício da Liga de Assistência e Recuperação. A presidente da LAR, Eliana Kertész, informou também que logo haverá o I Salão de Arte, cuja arrecadação será destinada á implantação de uma  creche no Conjunto Bahia, no IAPI, em área doada pela Casaforte.
As 240 obras  que farão parte do I Leilão de Arte estão expostas ao público desde ontem e hoje será dado início ao leilão, com os lances podendo ser feitos em três noites seguidas, a partir das 21 horas. Algumas obras tem valor superior a CR$ 25 mil.

SALÃO DE ARTE
Ainda está sem data marcada o I Salão de Arte, no qual a Liga de Assistência e Recuperação também terá participação e cuja renda será investida na construção da creche. Inúmeros artistas baianos já doaram várias obras à LAR, como Emanuel Araújo, Scliar, Raul, Francisco Brennand, Nélson Oliveira Filho, Norma Badaró, Antônio Rebouças, Jota Machado, Floriano Teixeira, José Pinto, Bel Borba e Clara Melo.

               FOTOS DE MIGUEL RIO BRANCO NO TCA

No foyer do Teatro Castro Alves encontra-se expostas algumas fotos do artista Miguel Rio Branco.
Pelo que pude observar podemos chamar de uma  reportagem cheia de riqueza plástica onde Miguel mostra os tipos humanos e o trabalho duro da mineração Boquira, dos mangues do interior, do Pelourinho. Uma objetiva voltada para a marginalidade trabalhadora, que carrega sobre seus ombros o peso do trabalho mal pago, a esperança que deus melhores vidas. Até o material utilizado como suporte O papel carne-seca revela a sua preocupação em busca da autenticidade.
Suas fotos trazem á cidade grande, outro sofrimento. Isto é, o sofrimento da gente que desconhece a poluição dos grandes centros humanos, a sub habitação das favelas, mas que também é carente, que vive mergulhado na verminose,m na fome e principalmente na ignorância.
Assim  a objetiva de Miguel como que fez uma radiografia de determinados lugares escolhidos e selecionados por ele. Sua preocupação não está voltada à qualidade do papel onde tirou as cópias das fotografias, em buscar um brilho ou até às vezes enfocar com o cuidado da luz e sombra. Não, o que Miguel nos traz   é uma  reportagem crua de uma realidade crua que muitos  tentam esconder através de imagens sorridentes e coloridas.

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