JORNAL A TARDE, SALVADOR, 13 DE
ABRIL DE 1981.
A HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA TEM RETROSPECTIVA NO MIS
O fotógrafo Clemens Seeber com seu equipamento ambulante, em 1886. |
O
Brasil é o primeiro país no continente americano a receber a mostra que já se
apresentou em vários países da Europa, entre eles Holanda e a Itália, além da
própria Alemanha. A iniciativa do MIS tem o patrocínio da Secretaria da Cultura
de São Paulo e a colaboração da Bayer do Brasil – Departamento Foto e da
Lufthansa, empresa áerea que fez o transporte de todo o material da exposição.
PEÇAS HISTÓRICAS
Neste
evento é destacada a figura do franco-brasileiro Hércules Florence, que em
1833, inventou em Campinas, São Paulo, um processo fotográfico pioneiro.
Florence é considerado um dos pais da fotografia, junto com os europeus Niepce
, Daguerre e Talbot. A exposição é complementada por uma cronologia de
reproduções mostrando o desenvolvimento da fotografia no Brasil, pertencente ao
acervo do professor Boris Kossoy, atual diretor do MIS e um dos principais
pesquisadores do assunto no país. Na foto ao ldo o livro de Boris Kossoy sobre o fotógrafo Hércules Florence.A
Fotohistorama está aberta de terça à domingo das 15,30 m às 22,30 m com entrada gratuita.
O MIS fica na Avenida Europa número
158,Jardim Europa, São Paulo, Capital. .Quem for à São Paulo não deve deixar de
visitá-la.
DOIS
SÉCULOS DE FOTOGRAFIA
O
Museu de Imagem e do Som de São Paulo mostra uma exposição extraordinária.
Trata-se de uma coleção de câmeras e imagens de dois séculos de fotografias.
Essa
mostra é complementada por imagens do acervo particular do prof. Boris Kossoy,
direto do MIS.
O
Fotohistorama da Agfa Gevaert, em Leverkusen, é um dos três maiores museus de
fotografia da república federal da Alemanha,
e o único que surgiu da iniciativa de uma empresa do ramo fotográfico. O
Fotohistorama tem mais de 40 mil objetos históricos e pode ser considerado um
dos maiores do mundo nesse gênero, mostrando antes de tudo o desenvolvimento da
fotografia na Alemanha, do seu início até hoje.
A Fotohistorama reúne diferentes grandes coleções sobre a história da fotografia,
como os acervos de Stenger e Wendel. Foi adquirido pela Agfa-Gvaert em 1955 e
está aberto ao público desde 1974, mas não pode mostrar todos os seus imensos
componentes por falta de espaço. Exatamente por essa razão é que foi criada uma
coleção especial, na forma de uma exposição ambulante, que traça
cronologicamente um perfil altamente informativo através de toda a história da
fotografia.
Inicia-se
com a chamada câmera obscura, da que os pintores desde o século XVIII se
utilizavam para captar imagens fiéis da natureza. A mostra traz, além disso,
equipamentos, produtos químicos, documentos e materiais dos país da fotografia,
seus primeiros inventores. É claro que o inventor brasileiro Hércules Florence
também ocupa um lugar de destaque ao lado dos inventores europeus como
Daguerre, Talbot, Steinheile Bayard, porque Florence iniciou suas primeiras
pesquisas bem antes que os europeus, e foi ele o primeiro que utilizou a
palavra fotografia.
O
desenvolvimento da fotografia, no século passado, naturalmente ocupa um espaço
significativo dentro da exposição. Pode-se ver até um ateliê típico de
portraits da segunda metade do século XIX. Nesse ateliê não falta o fundo
pintado no estilo da época nem o suporte de cabeça, usado para manter o cliente
imobilizado durante o longo tempo de exposição então necessário pata que a foto
não saísse tremida. Complementando este quadro, está também uma daquelas
típicas poltronas estofadas de veludo, que o status da alta burguesia daquela
época exigia.
Para
uma mostra como esta, que abrange toda a história da fotografia, além dos
equipamentos e materiais utilizados, antes de tudo tem importância o produto
final desta atividade, que é a fotografia. Por isso, da guerreotipias,
talbotipias, ambrotipias e impressões em alumínio dos mais conhecidos
fotográficos alemãs e europeus são mostradas nesta exposição e além disso,
também uma coleção de fotografias brasileiras.
Uma
mostra especial dentro da exposição traz 60 fotos que foram feitas por fotógrafos
europeus na América do Sul no século passado.
Na
maioria, esses fotógrafos faziam parte de grandes expedições de pesquisa e,
além, das fotos encomendadas que mostram
um eclipse do sol ou diferentes espécies de plantas raras, produziram também muitas
imagens que mostram todo a beleza do continente sul americano. Depois, na
Europa, os trabalhos foram reunidos em álbuns para dar aos administradores e ao
grande público, uma impressão deste continente. Neste caso, é claro, as belezas
e cenários pitorescos foram colocados em primeiro plano no interesse dos
fotógrafos.
Fotógrafo em sua câmera escura em 1865. |
Assim,
essas fotos mostravam, antes de tudo, a imagem que o turista europeu na metade
do século passado podia esperar; quadros de cidades com interessante
arquitetura diante de impressionantes cadeias de montanhas, cachoeiras e
córregos no meio de paisagens virgens ou índios em seus trajes tradicionais.
Tudo
isto certamente não contribui muito como descrição histórica dos países
retratados, porém representa exatamente a impressão que um europeu tinha da
América do Sul naquele tempo.
Um
importante capítulo da fotografia é o desenvolvimento desta mídia, a partir da
técnica complicada dominada somente por poucos especialistas até o manejo
simples de hoje em dia, que transformou a fotografia num hobby para milhões de
pessoas. No final do século passado forma descobertos a chapa seca e o filme de rolo. As câmaras
ficaram menores (a história das Câmaras dos Detetives neste caso é
especificamente interessante e de fácil aquisição e manejo para qualquer
pessoa, inclusive crianças. Tudo isto é mostrado na exposição através de uma
série de câmeras, objetivas, rolos de filmes, embalagens de papel e muitas
fotos.
Além
de ter-se tornado um hobby para muita gente, alguns amadores do mundo inteiro
declararam ser a fotografia uma nova arte. Uma infinidade de diferentes
técnicas de criação começaram a ser desenvolvidas, e, com isso, fotos simples
ganharam a aparência de pinturas, litogravuras ou guaches. Assim nasceu a arte
fotográfica, e o que esses fotógrafos conseguiram no desenvolvimento desses
novos estilos não foi apenas atribuir á fotografia a características de uma
nova arte, mas também criar consciência no público para as vantagens inerentes
a essa nova mídia.
Na
exposição em São Paulo
também se pode ver alguns exemplares desse tipo de fotografia.
Nesse
meio tempo foi se tentando produzir fotos mais fiéis à natureza, ou seja, a
foto colorida, que foi criada no ano de 1861 mas só se tornou praticável para o
grande público depois de 1908, quando
foi introduzido o sistema da chapa altocromo com base de amigo de batata
colorido. Em 1916 a
Agfa começou a comercializar uma chapa um pouco mais aperfeiçoada, que foi
utilizada até a introdução do filme Agfacolor em 1936.
Também
as imagens tridimensionais não demoraram a ser desenvolvidas.
Muitos
inventores buscaram soluções e melhoramentos para a fotografia esterescópica;
baseados no simples fato de que o homem tem dois olhos separados por uma
distância de aproximadamente 65 milímetros , e que, com a Câmera com duas
objetivas colocadas naquela mesma distância, poderiam produzir imagens que
permitissem uma visão semelhante do espaço.
A
história da fotografia estereoscópica está representada na exposição em São Paulo com seus mais
importantes exemplos.
Expedição ao Pólo Norte do Conde Wilcek. Foto de Buerger, em 1872. |
Para
aqueles de hoje em dia utilizam uma máquina fotográfica cem por cento
automática e com filmes coloridos de alta sensibilidade, é quase impossível
imaginar quão rapidamente se desenvolveu a história dessa mídia, a partir do
árduo trabalho de um daguerreotipista de então até o amador de uma câmara
pocker, e dos fotógrafos de portraits do século passado até os repórteres
fotográficos de hoje.
Todo
esse desenvolvimento pode ser sentido muito bem nessa exposição onde o
visitante terá uma surpresa a cada instante, imaginando quantas idéias estão
atrás das milhões de fotos que nos cercam hoje em dia. De Rolf Sachsse,
historiador alemão, nascido em 1949,
ex-repórter foto gráfico, tendo publicado livros e artigos para revistas
especializadas, abordando a história da fotografia, além de assuntos como a
História da Arte, a Língua Alemã e Pesquisa da Comunicação.
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