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quarta-feira, 27 de março de 2013

COPOS DA ANTIGA ROMA À RENASCENÇA , 2 MIL ANOS DE HISTÓRIA - 16 DE JUNHO DE 1979


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 16 DE JUNHO DE 1979

COPOS DA ANTIGA ROMA À RENASCENÇA , 2 MIL ANOS 
DE HISTÓRIA
A arte é um patrimônio que pertence a toda humanidade, não a um povo ou a um País. Por isso, ao contrário de muitas grandes coleções, que são estáticas e passam os anos alojadas em ambientes magníficos, a Cinzano se preocupa  em oferecer ao maior número possível de pessoas a oportunidade de poder ver e apreciar a Cinzano Glass Collection.
Apesar de ter a sua base permanente em Londres, a coleção foi projetada desde o início para viajar de uma grande cidade para outra, a fim de que, com o tempo, este ramo delicado e frágil das antiguidades pudesse se tornar um ponto de interesse para inúmeras pessoas.
A coleção está constantemente em expansão e desenvolvimento e seus responsáveis estão continuamente em busca de peças que possam enriquecê-la, preenchendo as lacunas existentes. Copos de toa a Europa, do Oriente Médio e da América são intensamente procurados. Dentre os artefatos, que os nossos antepassados nos legaram, o copo é provavelmente um dos espelhos mais importantes dos hábitos do homem no mundo ocidental, apesar de raramente ser reconhecido como tal.
Acima copo alemão puzzle, que consiste numa grande taça cuja parte do recipiente tem a forma de um funil arredondado,apoiado numa haste oca  soprada com asas trabalhadas com pinças e três aplicações, sendo uma delas oca e soprada. Isto é suportado por um pé elevado com forma cônica e embainhada. O recipiente é circundado por uma trepadeira e no centro está a haste em vidro oco a qual desce diretamente dentro de uma case de um balaústre oco e soprado. Esta parte é denominada plea figura oca e soprada de um veado com a boca aberta. Altura 28 cm. Data do último quartel do século XVII.

É aos romanos que se deve grande parte dos conhecimentos sobre métodos e estilos. Na época do colapso final do Império Romano, o cristal se tornara quase um lugar-comum e, no entanto, só após meados do século XVIII é que iria atingir novamente o ponto culminante da sua evolução. Apesar de muitas coleções famosas de antiguidades terem sido concebidas e criadas, muito poucas podem alcançar continuidade, cobrindo um período histórico completo de dois mil anos.
Os copos dos tempos romanos, produzido por meio de técnicas que só viriam a ser novamente descobertas no século XIX; os copos raros do milênio seguinte, de 400 a 1400; e a extraordinária qualidade do cristal, desde a Renascença até o fim do século XVIII,  conforme apresentados na Coleção Cinzano, constituem, de per si,uma faustosa apresentação da História. Este aspecto é sublinhado ainda em maior medida pelas gravuras, por vezes de uma simples cena de caça, noutros casos de um motivo comemorativo, mas que podem, em ambos os casos, evocar cenas significativas de tempos passados. Na Cinzano Glass Collection, podemos apreciar, a forma, a delicadeza e o  e o encanto dos copos do fim do século XVIII; a mão-de-obra imaginativa do século XVII; e na verdade, mesmo a simplicidade utilitária dos tempos romanos.
Evidentemente, existem áreas de grande escassez, especialmente durante o Período de Obscurantismo dos primórdios da Idade Média. Copos dessa época, até o século XVI, são especialmente raros. Mas a Coleção Cinzano tem feito todos os esforços para apresentar uma imagem a mais completa possível da evolução dos copos através dos tempos, de sua qualidade, estilo e desenho: essencialmente, uma imagem do nosso passado. É admirável, aliás, que alguns desses copos tenham durado até dois mil anos de idade.
E é notável a mudança que se observa nos estilos e motivos decorativos, com o decorrer das épocas.
Na Coleção Cinzano, todos estes copos refletem o fausto de nosso passado. Imaginar quem poderia ter bebido nestes copos frágeis e delicados é, por si mesma uma idéia estimulante. Pois sua beleza decorre não só da sua própria existência, mas também do estilo e do trabalho dedicados a sua feitura, um reflexo notável e verdadeiramente memorável do legado do nosso passado.

NA EUROPA OCIDENTAL, O PRIMADO FOI DA ALEMANHA E HOLANDA

Até meados do século VXII, quase todos os artigos de cristal fabricados na Europa foram influenciados no seu desenvolvimento, material e estilo, pelos venezianos. A partir desse período, outros países começaram a criar estilos e desenhos nacionais. Os alemães produziram cristais como o passglas e o humpen, e principalmente o característico cristal roemer, que veio a ter grande influência. O cristal era fabricado em todo o país, especialmente na Boêmia e na Silésia e nas cidades de Potsdam e Colônia. Foi da Alemanha que se propagou o cristal com as melhores gravações por roda e com o mais complexo trabalho de esmaltagens, inclusive a decoração e esmalte preto, designada por Schwarziot, de Nuremberg, e o  cristal gravado a dourado, conhecido por Zwischengoldglas, da Boêmia, com cenas de grande opulência encerradas entre duas camadas de cristal.
Cristais Roomer,lindo conjunto
Foto Google
A área que provavelmente teve maior influência na produção de cristal foi a dos Países Baixos. Foi aí que o cristal ao estilo de Veneza foi fabricado em grande quantidade até meados do século XVII e também foi aí que se reuniram os melhores artesãos de toda a Europa. Esta região era a bolsa de mercadorias da Europa, onde artistas de todos os credos sabiam que alcançariam refúgio, e é possivelmente na Holanda que se encontravam os melhores gravadores de cristal. Freqüentemente, esses grandes artistas da gravação de cristal, os mais famosos dos quais foram Frans Greenwood, Jacob sang e David Wolff, exigiam não apenas cristal holandês, mas inglês ou alemão, para seu trabalho de decoração. Apesar dos holandeses terem desenvolvido uma grande indústria do cristal, os desenhos que adotavam eram essencialmente ingleses.
Na Noruega encontrava-se em Nostetangen, sob o patrocínio do rei Cristiano VI; mas, apesar de terem características próprias, estes cristais também eram de desenho inglês e o mestre de cristaleria era James Keith, de Newcastle. O cristal russo era fundamentalmente de má qualidade, até métodos do século XVIII, quando foram construídas duas grandes fábricas, na área de São Petersburgo. Lá durante os reinados de Isabel I e Catarina, a Grande, sob a direção do príncipe Potemkin, a qualidade do cristal atingiu nível bastante elevado, mas devia muito, no seu desenho, ao produto alemão da Silésia. O melhor período do cristal russo foi o último quarto do século VXIII e primeiros anos do século XIX, quando se fabricavam cristais coloridos de todas as tonalidades.
É lamentável verificar que restam muito poucos exemplares de artigos de cristal franceses ou espanhóis de qualidade, a partir do século XVIII. Apesar dos primeiros terem atingido nível excelente na produção de espelhos, seus copos não eram de grande qualidade e foi só a partir de meados do século XIX, com a reabertura das grandes fábricas de Baccarat e de St. Louis, que belos cristais voltariam a ser introduzidos naquele país. O cristal espanhol, por sua vez, é excepcionalmente rude e demonstra, ainda hoje, a influência mourisca e veneziana que afetou todos os países vizinhos, á volta do Mediterrâneo. Provavelmente a fábrica espanhola mais importante tenha sido La Granja, que fabricou muitos cristais coloridos, coalhados, opacos, esmaltados e dourados.

NOS COPOS INGLESES, O MAIOR ESPLENDOR DO CRISTAL NO MUNDO
Cristal inglês datado de 1870.
Os cristais ingleses oferecem uma experiência que dá a maior satisfação, devido a sua alta qualidade e grande brilho. Em 1681, o farmacêutico amador George Ravenscroff descobriu que, acrescentando óxido de chumbo à mistura, conseguia fabricar cristais de tal perfeição que, durante mais de 140m anos, a excelência do cristal inglês foi absoluta. Essa superioridade se devia a muitas razões quase indefiníveis: sua robustez, maciez para a roda do gravador, brilho e durabilidade. Os pesados mas maravilhosos ,suportes dos primeiros anos, a simplicidade estilo das hastes ou pés isentos de decoração, o brilho das volutas de ar, a delicadeza dos pés torcidos em vidro opaco e finalmente, no século XVIII, o corte extremamente fino do cristal facetado que iria causar a refração e multiplicar as luzes dos grandes salões de época, marcam o cristal inglês como muito superior dos seus rivais.
As grandes fábricas de cristal de Londres, Bristol e Newcastle eram sem dúvida notáveis, mas é apenas á de Newcastle que devemos uma contribuição excepcional. Desenvolveu-se naquela cidade um intenso comércio de exportação para a Holanda, onde se encontravam os melhores gravadores. É a sua simplicidade de estilo, combinada com o encanto do bom gosto, que distingue os cristais de Newcastle em especial e os ingleses em geral, como os melhores do mundo. É praticamente  impossível determinar a data de fabricação de um copo, a não ser por seu feitio e método de fabricação.
Portanto, a divisão da história do cristal inglês em cinco períodos definidos é de grande auxílio, quando se trata de se colocar um copo numa geração ou noutra. Apesar dos cristais ingleses com chumbo, mais antigos, ainda apresentarem influência veneziana, esta perdeu-se rapidamente e o período dos suportes pesados marcou um estilo vivamente nacional, em sua história. É a sua grande simplicidade de equilíbrio que não tem rival e que simboliza a solidez desses primeiros anos  do século XVIII. A sua própria capacidade reflete a vida social da última década do século XVII e das duas primeiras décadas do século XVIII.
O segundo grande período do cristal inglês, caracterizado por copos de pé simples, de 1710 a 1760, surgiu devido à combinação de várias razões, mas primordialmente devido ao fato de, na época, ser cobrado um imposto muito pesado sobre bons vinhos de mesa e da conseqüente maior popularidade das bebidas fortemente alcoólicas, o que resultou na redução automática das dimensões das taças. Em sua maioria, estes copos eram fabricados pelo método mais simples possível: eram formados por duas partes, com a taça e o pé puxados e transformados numa só peça e a base do pé acrescentada separadamente. Mais uma vez, a simplicidade do estilo é da máxima importância.
O terceiro período do cristal inglês, caracterizado pela decoração do pé dos copos com uma voluta de  ar, vai de 1740 a 1765; e o quarto, distinguido pela decoração de cristal opaco torcido, nos pés dos copos, vai de 1750 a1795, sendo estes dois períodos muito semelhantes. É de meados do século XVIII que datam os melhores exemplares de copos gravados e comemoratios. Os pés muito decorados dos copos de Newcastle, gravados na Holanda, as excelentes gravuras contemporâneas do período de Jaime II, as taças de casamento, os copos do período dos reis da Dinastia da Casa de Hanover são todos derivados deste período. Posteriormente, na segunda metade do século XVIII, os pés dos copos tornam-se cada vez mais complicadas na decoração e as taças menos decoradas.
Isso porém, não impedir que a grande família de esmaltadores de Beilby fabricassem nesse período os mais maravilhosos e decorativos copos brasonados.
O período final do cristal inglês é do pé facetado, que vai de 1770 a 1810. Durante esse período o cristal era lapidado, não aos moldes da nossa moderna lapidação geométrica, mas como uma pedra preciosa, quer hexagonalmente ou em diamante, mas sempre côncavo. Esta era uma técnica usada pelos romanos, para que o corte côncavo causasse a refração da luz.
O período do cristal facetado coincidiu com uma época de extrema elegância, e as próprias decorações dos copos identificam o período laçadas ou grinaldas, patterae e urnas com cenas clássicas e achinesadas, para espelhar as modas daqueles dias. Esta foi a época dos artesãos que, sem assinarem um único copo, na verdade assinaram todas as peças, com sua grande personalidade e alta qualidade.

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