JORNAL A TARDE, SALVADOR, 16 DE JUNHO DE 1979
COPOS DA ANTIGA ROMA À RENASCENÇA , 2 MIL ANOS
A arte é um patrimônio que pertence a toda humanidade, não a um povo ou a
um País. Por isso, ao contrário de muitas grandes coleções, que são estáticas e
passam os anos alojadas em ambientes magníficos, a Cinzano se preocupa em oferecer ao maior número possível de
pessoas a oportunidade de poder ver e apreciar a Cinzano Glass Collection.
Apesar
de ter a sua base permanente em Londres, a coleção foi projetada desde o início
para viajar de uma grande cidade para outra, a fim de que, com o tempo, este
ramo delicado e frágil das antiguidades pudesse se tornar um ponto de interesse
para inúmeras pessoas.
A
coleção está constantemente em expansão e desenvolvimento e seus responsáveis
estão continuamente em busca de peças que possam enriquecê-la, preenchendo as
lacunas existentes. Copos de toa a Europa, do Oriente Médio e da América são
intensamente procurados. Dentre os artefatos, que os nossos antepassados nos legaram,
o copo é provavelmente um dos espelhos mais importantes dos hábitos do homem no
mundo ocidental, apesar de raramente ser reconhecido como tal.
Acima copo alemão puzzle, que consiste numa grande taça cuja parte do recipiente tem a forma de um funil arredondado,apoiado numa haste oca soprada com asas trabalhadas com pinças e três aplicações, sendo uma delas oca e soprada. Isto é suportado por um pé elevado com forma cônica e embainhada. O recipiente é circundado por uma trepadeira e no centro está a haste em vidro oco a qual desce diretamente dentro de uma case de um balaústre oco e soprado. Esta parte é denominada plea figura oca e soprada de um veado com a boca aberta. Altura 28 cm. Data do último quartel do século XVII.
Acima copo alemão puzzle, que consiste numa grande taça cuja parte do recipiente tem a forma de um funil arredondado,apoiado numa haste oca soprada com asas trabalhadas com pinças e três aplicações, sendo uma delas oca e soprada. Isto é suportado por um pé elevado com forma cônica e embainhada. O recipiente é circundado por uma trepadeira e no centro está a haste em vidro oco a qual desce diretamente dentro de uma case de um balaústre oco e soprado. Esta parte é denominada plea figura oca e soprada de um veado com a boca aberta. Altura 28 cm. Data do último quartel do século XVII.
É aos romanos que se deve grande parte dos conhecimentos sobre métodos e estilos. Na época do colapso final do Império Romano, o cristal se tornara quase um lugar-comum e, no entanto, só após meados do século XVIII é que iria atingir novamente o ponto culminante da sua evolução. Apesar de muitas coleções famosas de antiguidades terem sido concebidas e criadas, muito poucas podem alcançar continuidade, cobrindo um período histórico completo de dois mil anos.
Os copos dos tempos romanos, produzido por meio de técnicas que só viriam a ser
novamente descobertas no século XIX; os copos raros do milênio seguinte, de 400 a 1400; e a
extraordinária qualidade do cristal, desde a Renascença até o fim do século
XVIII, conforme apresentados na Coleção
Cinzano, constituem, de per si,uma faustosa apresentação da História. Este
aspecto é sublinhado ainda em maior medida pelas gravuras, por vezes de uma
simples cena de caça, noutros casos de um motivo comemorativo, mas que podem,
em ambos os casos, evocar cenas significativas de tempos passados. Na Cinzano
Glass Collection, podemos apreciar, a forma, a delicadeza e o e o encanto dos copos do fim do século XVIII;
a mão-de-obra imaginativa do século XVII; e na verdade, mesmo a simplicidade
utilitária dos tempos romanos.
Evidentemente,
existem áreas de grande escassez, especialmente durante o Período de
Obscurantismo dos primórdios da Idade Média. Copos dessa época, até o século
XVI, são especialmente raros. Mas a Coleção Cinzano tem feito todos os esforços
para apresentar uma imagem a mais completa possível da evolução dos copos
através dos tempos, de sua qualidade, estilo e desenho: essencialmente, uma
imagem do nosso passado. É admirável, aliás, que alguns desses copos tenham
durado até dois mil anos de idade.
E
é notável a mudança que se observa nos estilos e motivos decorativos, com o
decorrer das épocas.
Na
Coleção Cinzano, todos estes copos refletem o fausto de nosso passado. Imaginar
quem poderia ter bebido nestes copos frágeis e delicados é, por si mesma uma
idéia estimulante. Pois sua beleza decorre não só da sua própria existência,
mas também do estilo e do trabalho dedicados a sua feitura, um reflexo notável
e verdadeiramente memorável do legado do nosso passado.
NA
EUROPA OCIDENTAL, O PRIMADO FOI DA ALEMANHA E HOLANDA
Até
meados do século VXII, quase todos os artigos de cristal fabricados na Europa
foram influenciados no seu desenvolvimento, material e estilo, pelos
venezianos. A partir desse período, outros países começaram a criar estilos e
desenhos nacionais. Os alemães produziram cristais como o passglas e o humpen,
e principalmente o característico cristal roemer, que veio a ter grande
influência. O cristal era fabricado em todo o país, especialmente na Boêmia e
na Silésia e nas cidades de Potsdam e Colônia. Foi da Alemanha que se propagou
o cristal com as melhores gravações por roda e com o mais complexo trabalho de
esmaltagens, inclusive a decoração e esmalte preto, designada por Schwarziot,
de Nuremberg, e o cristal gravado a
dourado, conhecido por Zwischengoldglas, da Boêmia, com cenas de grande
opulência encerradas entre duas camadas de cristal.
Cristais Roomer,lindo conjunto Foto Google |
Na
Noruega encontrava-se em Nostetangen, sob o patrocínio do rei Cristiano VI;
mas, apesar de terem características próprias, estes cristais também eram de
desenho inglês e o mestre de cristaleria era James Keith, de Newcastle. O
cristal russo era fundamentalmente de má qualidade, até métodos do século
XVIII, quando foram construídas duas grandes fábricas, na área de São
Petersburgo. Lá durante os reinados de Isabel I e Catarina, a Grande, sob a
direção do príncipe Potemkin, a qualidade do cristal atingiu nível bastante
elevado, mas devia muito, no seu desenho, ao produto alemão da Silésia. O
melhor período do cristal russo foi o último quarto do século VXIII e primeiros
anos do século XIX, quando se fabricavam cristais coloridos de todas as
tonalidades.
É
lamentável verificar que restam muito poucos exemplares de artigos de cristal
franceses ou espanhóis de qualidade, a partir do século XVIII. Apesar dos
primeiros terem atingido nível excelente na produção de espelhos, seus copos
não eram de grande qualidade e foi só a partir de meados do século XIX, com a
reabertura das grandes fábricas de Baccarat e de St. Louis, que belos cristais
voltariam a ser introduzidos naquele país. O cristal espanhol, por sua vez, é
excepcionalmente rude e demonstra, ainda hoje, a influência mourisca e
veneziana que afetou todos os países vizinhos, á volta do Mediterrâneo.
Provavelmente a fábrica espanhola mais importante tenha sido La Granja , que fabricou muitos
cristais coloridos, coalhados, opacos, esmaltados e dourados.
NOS
COPOS INGLESES, O MAIOR ESPLENDOR DO CRISTAL NO MUNDO
Cristal inglês datado de 1870. |
As
grandes fábricas de cristal de Londres, Bristol e Newcastle eram sem dúvida
notáveis, mas é apenas á de Newcastle que devemos uma contribuição excepcional.
Desenvolveu-se naquela cidade um intenso comércio de exportação para a Holanda,
onde se encontravam os melhores gravadores. É a sua simplicidade de estilo,
combinada com o encanto do bom gosto, que distingue os cristais de Newcastle em
especial e os ingleses em geral, como os melhores do mundo. É praticamente impossível determinar a data de fabricação de
um copo, a não ser por seu feitio e método de fabricação.
Portanto,
a divisão da história do cristal inglês em cinco períodos definidos é de grande
auxílio, quando se trata de se colocar um copo numa geração ou noutra. Apesar
dos cristais ingleses com chumbo, mais antigos, ainda apresentarem influência
veneziana, esta perdeu-se rapidamente e o período dos suportes pesados marcou
um estilo vivamente nacional, em sua história. É a sua grande simplicidade de
equilíbrio que não tem rival e que simboliza a solidez desses primeiros anos do século XVIII. A sua própria capacidade
reflete a vida social da última década do século XVII e das duas primeiras
décadas do século XVIII.
O
segundo grande período do cristal inglês, caracterizado por copos de pé
simples, de 1710 a
1760, surgiu devido à combinação de várias razões, mas primordialmente devido
ao fato de, na época, ser cobrado um imposto muito pesado sobre bons vinhos de
mesa e da conseqüente maior popularidade das bebidas fortemente alcoólicas, o
que resultou na redução automática das dimensões das taças. Em sua maioria,
estes copos eram fabricados pelo método mais simples possível: eram formados
por duas partes, com a taça e o pé puxados e transformados numa só peça e a
base do pé acrescentada separadamente. Mais uma vez, a simplicidade do estilo é
da máxima importância.
O
terceiro período do cristal inglês, caracterizado pela decoração do pé dos
copos com uma voluta de ar, vai de 1740 a 1765; e o quarto,
distinguido pela decoração de cristal opaco torcido, nos pés dos copos, vai de
1750 a1795, sendo estes dois períodos muito semelhantes. É de meados do século
XVIII que datam os melhores exemplares de copos gravados e comemoratios. Os pés
muito decorados dos copos de Newcastle, gravados na Holanda, as excelentes
gravuras contemporâneas do período de Jaime II, as taças de casamento, os copos
do período dos reis da Dinastia da Casa de Hanover são todos derivados deste
período. Posteriormente, na segunda metade do século XVIII, os pés dos copos
tornam-se cada vez mais complicadas na decoração e as taças menos decoradas.
Isso
porém, não impedir que a grande família de esmaltadores de Beilby fabricassem
nesse período os mais maravilhosos e decorativos copos brasonados.
O
período final do cristal inglês é do pé facetado, que vai de 1770 a 1810. Durante esse período
o cristal era lapidado, não aos moldes da nossa moderna lapidação geométrica,
mas como uma pedra preciosa, quer hexagonalmente ou em diamante, mas sempre
côncavo. Esta era uma técnica usada pelos romanos, para que o corte côncavo
causasse a refração da luz.
O
período do cristal facetado coincidiu com uma época de extrema elegância, e as
próprias decorações dos copos identificam o período laçadas ou grinaldas,
patterae e urnas com cenas clássicas e achinesadas, para espelhar as modas
daqueles dias. Esta foi a época dos artesãos que, sem assinarem um único copo,
na verdade assinaram todas as peças, com sua grande personalidade e alta
qualidade.
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