JORNAL A TARDE SALVADOR 26 DE
JANEIRO DE 1981
OS IMÓVEIS TOMBADOS E A FALTA DE
CONSERVAÇÃO
Várias ladeiras históricas estão com o casario deteriorado Foto Correio da Bahia / Google. |
O
tombamento não significa que os ocupantes ou proprietários deixaram de ter
responsabilidades para com os imóveis, ao contrário, isto significa que a
responsabilidade aumenta, já que aquele imóvel pertence ou integra a memória
nacional. Mas é preciso alertar esta
gente para a necessidade de exercer uma conscientização e evitar,
inclusive, a instalação de pequenas oficinas e o exercício de outras atividades
que venham colocar em perigo esses imóveis.
Acompanhei
de perto, por algum tempo, o trabalho incansável do professor Vivaldo Costa
Lima, a quem a Bahia deve parte da conservação de seu patrimônio, contra a
dilapidação por alguns proprietários inescrupulosos que só desejam o lucro.
Lembro
que alguns deixavam o imóvel chegar a condições precaríssimas no desejo de
levantar um monstrengo qualquer. O professor Vivaldo Costa Lima não permitia e
a briga era para valer. Isto acontece também com alguns prefeitos do interior
do estado que deixam os imóveis de valor cultural chegarem a estados de quase
irrecuperação. Cruzam os braços à espera que o governo federal venha dotar
recursos para sua recuperação. Acho mesmo que a responsabilidade é de toda a
comunidade e não apenas de seus proprietários quer seja igreja, entidades ou
comerciantes. É necessário denunciar aqueles que mutilam esses imóveis ou que
simplesmente deixam que o tempo os destrua.
ARTISTAS
BAIANOS JÁ PODEM PREPARAR SUAS PROPOSTAS
Finalmente,
aparece um concurso público voltado às artes plásticas promovido pela Fundação
Cultural do Estado da Bahia. Os projetos podem ser entregues até 15 de
fevereiro, no Museu de Arte Moderna da Bahia. O principal objetivo do concurso
é fornecer recursos financeiros para a montagem integral de dez propostas,
visando estimular a criatividade nessa área, bem como atender ás expectativas
do mercado de trabalho do meio produtor local. Realmente, as artes plásticas
estavam relegadas pela Fundação Cultural a um plano inferior e quase sempre
venho criticando esta atitude. Basta você passar uma vista na programação
distribuída mensalmente, que constará que os eventos plásticos estão em escala
bem inferior. As exposições importantes que aconteceram ou acontecem,
geralmente chegam aqui através de embaixadas e outras entidades culturais.
Portanto,
agora é hora de enaltecer o acordar dos burocratas na esperança que outros
concursos virão. Na esperança de que lançamentos de livros de qualidade
duvidosa seja preteridos em benefício de outras atividades culturais mais
dignas. Quando escrevo parece ao menos avisados que nutro qualquer antipatia
pela Fundação. Mas, não é nada disto.
Apenas
cumpro com a responsabilidade de criticar e sugerir (mesmo que não peçam)
caminhos, já que são muitos os descaminhos. O compromisso é com a cultura
baiana e com a nossa comunidade.
DETALHES
O
concurso destina-se exclusivamente, a artistas baianos ou brasileiros radicados
na Bahia há mais de dois anos e a responsabilidade da elaboração dos projetos
da elaboração dos projetos poderá ser assumida individualmente ou por equipe,
formada por artistas de diversas áreas de expressão, mas impreterivelmente
liderada por um artista plástica.
Os
prêmios para os dez melhores projetos são no valor de cem mil cruzeiros para
cada um e as propostas devem ser concebidas de forma a atender aos requisitos
explícitos no regulamento do concurso, tais como propostas inéditas,
considerando como referencial as manifestações contemporâneas das artes
plásticas, que sejam concebidas com um enfoque específico na realidade cultura
regional de modo a despertar interesse a nível nacional que tenham como característica
fundamental a expressão de novos significados estéticos relacionados com os
diversos aspectos dos nossos conteúdos culturais.
Os
artistas concorrentes podem se utilizar de diversas linguagens expressivas,
desde que a dominante seja inerente às artes plásticas e, por isso mesmo, devem
observar que cada parte da proposta esteja estruturalmente vinculada à proposta
maior, reforçando a unidade de cada trabalho como um todo.
No
projeto de realização deve constar um memorial descritivo da idéia-tema e apresentação
da proposta de trabalho comunicada clareza de exposição, de modo a facilitar
seu julgamento e o exame da viabilidade de execução.
Apresentar
também a concepção geral da proposta, definindo as diversas linguagens que
serão utilizadas e a concepção visual apresentada através de desenhos, estudos
e maquetes e tudo o mais que for necessário para perfeita definição.
Além
dos recursos financeiros, os vencedores do concurso do MAMB terão á sua
disposição, para a realização das propostas, o apoio do museu, incluindo pauta
de exposição para uma mostra conjunta, espaço físico disponível para os
trabalhos de montagem e ensaios, apoio da equipe técnica interna para a
montagem da exposição e elaboração de um catálogo contendo informações
relativas aos trabalhos selecionados.
Os
artistas devem apresentar seus projetos de concepção e execução quando da
inscrição no Museu de Arte Moderna da Bahia, Avenida de Contorno, s/n.º, Solar
do Unhão, até dia 15 de fevereiro, quando será encerrada.
Os
trabalhos que forem executados através dos recursos que o concurso favorece estarão automaticamente
selecionados para participar do Salão Nacional de Artes Plásticas, que se
realizará no segundo semestre deste ano, aqui em Salvador.
MARCO
FOI PREMIADO EM MINAS
O
artista mineiro Marco Túlio Resende ganhou o grande Prêmio Prefeitura de Belo
Horizonte, no valor de CR$80 mil, do XII Salão Nacional de Arte, no Museu de
Arte da Pampulha, como parte das comemorações dos 83 anos da capital mineira.
Todos
também com trabalhos sobre o temas A Cidade, foram ainda premiados, cada um com
CR$50 mil, os artistas Marco do Valle, Hugo Denizar, Maria do Carmo Secco,
Fátima Pena, Ângelo Marzano, Rubens Gerchaman, Manfredo de Souza Neto, Sandra
Bianchi, Nilton Machado, Regina Silveira, Carlos Muniz, Maluba, Ana Amélia
Diniz Camargo, Vicente Barbosa Coura, Herculano Ferreira e equipe da escola
Guignarde.
A
comissão julgadora, integrada por Aracy Amaral, Celma Alvim, Frederico Morais,
Maristela Tristão e Márcio Sampaio, selecionou ainda 47 trabalhos, que integram
a mostra, juntamente com as obras de 11 artistas convidados. O júri selecionou
ainda seis propostas de intervenção, executadas durante a realização do salão e
foram premiadas com CR$50 mil cada, apresentadas pelos artistas José Renato
Sartori inchausti, Marcelo Nitsche, Geraldo de Souza Dias Filho, Elizabeth
Cavalcanti, Lúcia Batista Andrade e Ana Torrano.
SUCESSO CHEGOU DEPOIS QUE HOBBEMA DESAPARECEU
Meindert
Hobbema (1638-1709), amigo e aluno de Jacob van Ruijsdael, figura hoje entre os
mais eminentes pintores do século 17. Suas
paisagens com moinhos enriquecem muitos grandes museus da Europa Ocidental,
desde Amsterdam onde nasceu até Viena. A obra prima Avennida em Middlharnis
está na National Gallery de Londres. (Foto ao lado)
O
artista era pouco cotado em sua terra, porém, os colecionadores ingleses dos
séculos 18 e 19 buscavam suas obras e sua influência sobre a pintura britânica
foi aparentemente considerável. Até pouco a Holanda possuía apenas seis
Hobbemas. Algumas de suas mais belas criações estão em museus americanos. A
Frick Collection, a Sociedade Histórica e o Museu Metropolitano (NY),
Filadélfia e Washington possuem quadros de Hobbema quase indistinguíveis dos de
Ruijsdael.
A
Mauritshuís (Haia) e sua requintada coleção de obras dos séculos 17 e 18,
possui apenas uma paisagem de Hobbema, presente de um colecionador holandês
radicado na Suíça. O segundo Hobbema ali exposto foi emprestado pelo
Rijksmuseum.
Em 1913 a
Mauritshuís ganhou um soberbo Hobbema; entretanto em 1950 um comitê decidiu doá-lo ao povo do Canadá como
prova de gratidão pela inestimável ajuda prestada durante a libertação da
Holanda.
E
assim, a tranqüila paisagem foi para o Museu Nacional de Ottawa.
Uma bela paisagem pintada por Hobbema |
Por
não ter podido vender suas paisagens, Hobbema, muito necessitado de dinheiro,
aceitou um pequeno emprego na Fiscalização do Imposto de Consumo. Nas palavras
de famoso historiador de arte inglês, é difícil compreender como um homem com
tanto talento pode se resignar a abandonar a pintura e passar quarenta anos
medindo o vinho dos tonéis. Meindert
Hobbema não foi o único mestre subestimado e somente reconhecido longo tempo
após a morte.
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