JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 23 DE
OUTUBRO DE 1976
SEIS MULHERES NA GALERIA CANIZARES
A técnica de Rosa Alice |
Xilo de Terezinha Dumet |
A estamparia abstrata de Carmem Carvalho |
Uma grande bobagem porque a Academia não ata as mãos, as pernas e muito menos a consciência de ninguém. A Academia dá ao indivíduo a possibilidade de desenvolver seu processo criador através a transmissão de experiências de seus mestres e das técnicas. O resto é um problema individual que depende exclusivamente da capacidade. Esta estória de arrotar que é autodidata, muitas vezes, visa apenas esconder deficiências de desenho e de manejo com o pincel. Elas não tem vergonha de dizer que pertencem à
Foi
dentro desta integração entre estas artistas que consegui reuni-las no último
sábado á tarde na casa de Carmem Carvalho. Na hora marcada já estavam juntas
falando de sua arte. è parte desta conversa informal que mantivemos que
tentarei mostrar. Vejamos.
Zélia
Maria é uma artista apaixonada pelas coisas vivas e naturais. Quando manipula o
barro frio e úmido ela procura dar-lhe vida, concebendo formas arredondadas,
porque nas coisas que tem vida as formas não são retas.
Retos
são os espigões de concreto armado. O homem tem curvas, as árvores também e os
demais animais. Daí suas cerâmicas refletem sua própria personalidade e é
resultado do diálogo que se estabelece entre suas mãos ágeis e o barro, que
ganha vida.
Ela
risca o desenho que pretende jogar. Mas quando o jogo começa, o desenho é
esquecido e vão surgindo as formas arredondadas. Uma prova de vitalidade de
seus trabalhos é que observei durante a vernissage que todos queriam
acariciá-los. O visitante não se contentava em olhar. Olhava de um
lado para outro e de repente passava de leve as mãos em suas cerâmicas como
estivesse acariciando uma coisa viva, uma coisa proibida. É como diz Zélia
Maria um trabalho orgânico.
Carmem
Carvalho está expondo estamparias. A idéia inicial era a padronagem que é uma
repetição de formas.
Mas
passou a observar que seus trabalhos poderiam ganhar e ganharam mais força se
utilizasse um suporte adequado. Encontrou-o e o resultado foi uma série de
trabalhos que tem muita unidade e força. Aqui o espaço é muito mais limitado em
relação a padronagem. O suporte passou a funcionar como uma tela e dentro
desses espaços limitados Carmem Carvalho conseguiu o que desejava. Sua atração
são as formas abstratas, como que deseja expressar-se através de metáforas, uma
fuga inconsciente da realidade que lhe cerca. É o problema do condicionamento
social do artista que reflete na sua personalidade criadora.
Obra de Graça Ramos |
Graça
Ramos- Já a Graça tem a necessidade de definir as suas figuras e ás vezes
desnudá-las. Uma vontade de criar e participar do agressivo. Um de sua própria
personalidade expansiva. As cores e o próprio suporte que escolheu fogem de uma
realidade palpável.
Cria
um mundo de sonhos onde mulheres cavalgam motocicletas. Um mundo mágico, ás
vezes nostálgico. É uma busca, uma projeção em cada um desses trabalhos
expostos. Sempre vivo buscando, por que? Não sei. Sei apenas que tudo está e
deve ser dito por meio deles.
Rosa
Alice- Com seus bicos de penas. Um gosto pelo desenho e da figura humana. Uma
transposição para o sonho de todo o homem que é voar. Assim com suas figuras de
sexos indefinidos Rosa Alice voa para um local indefinido onde a liberdade está
expressa nos cabelos revoltos. Um vôo cego como das gaivotas que buscam ni
infinito dos oceanos algum porto seguro. Rosa Alice fala pouco e tem uma força
de expressão muito grande.
Zélia Maria com suas cerâmicas |
A xilo rebuscada de Hilda Maria |
No
fim temos gravuras com muita expressão tanto a clássica como as xilos
coloridas, mais leves. Usam o desenho, mas a força de seu trabalho está nas
formas conseguidas.
Chego
ao fim. Falando do trabalho de seis jovens artistas que estão perfeitamente
integradas com suas técnicas, suas formas e seus instrumentos de trabalho. Mas
principalmente seis artistas que juntas vão contribuir em muito para o
desenvolvimento das Artes Visuais em nosso Estado , porque é preciso renovar. É preciso
tomar lugar á mesa, onde pessoas estão banqueteando há mais de trinta anos, os
frutos de um trabalho, que vem se repetindo, sem inovar.
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