JORNAL A TARDE , SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA 09 DE OUTUBRO 1989
O pintor paulista Gilberto Salvador |
A
apresentação deste barbado paulista, que se assemelha mais a um barítono de
ópera que um delicado manipulador de pincéis e cores, originou um belíssimo
vernissage nessa galeria, situada a poucos metros da célebre Praça da Bastilha,
que, este ano, comemora um duplo acontecimento: o bicentenário da Revolução
Francesa e a inauguração da nova ópera parisiense.
A
Brasil Inter Art Galerie converteu-se, este ano, em um destacado centro da arte
pictórica deste rincão da velha Paris, que lentamente está aspirando galerias e
livrarias de outros afamados bairros, entre eles o de Saint German.
Inspirado
pelos cocares com plumas usados pelas tribos indígenas, Gilberto Salvador
conseguiu dar a suas telas uma singular transparência, utilizando unicamente
material acrílico.
Marci
Gaymu explicou que os cocares brasileiros são uma incursão na cultura dos
indígenas de seu País, sobre o tema da plumagem dos mais bonitos pássaros que
adornam a cabeça dos ainda primitivos habitantes da Amazônia.
Tempo de Rei, uma pintura de Gilberto Salvador |
Acrescentou Marci que através destes objetos Gilberto expressa sua maneira de combater para defender a cultura indígena através de suas linhas, suas curvas e seus símbolos, quase abstratos, guiado pelas leis geométricas. É todo um diálogo entre o homem e o pássaro.
"É a segunda vez que venho à França, mas é a primeira vez que faço uma exposição
em Paris ", afirma em depurado português este artista nascido em 1946, em São Paulo , de pais
italianos e espanhóis, que fez seus estudos na Faculdade de Arquitetura da
Universidade de São Paulo, e sempre viveu no Brasil, onde tem uma relação muito
forte com os movimentos ecológicos.
O
artista brasileiro faz parte de uma organização ecológica em São Paulo chamada SOS
Mata Atlântica relacionada com Green Peace, que é um movimento de preservação
de natureza e, principalmente, dos territórios indígenas da Amazônia.
A
exposição que apresento aqui é uma parte do meu trabalho relacionado com a utilização
dos elementos indígenas como os cocares utilizados nas manifestações
mitológicas.
A
ideia desta exposição foi a de trazer, exatamente, uma tradição da Coiffuture Indienne e mostrar a maneira de
como se vê o problema dos elementos indígenas através do olho do pintor.
DUAS
EXPOSIÇÕES DE KATE SCHERPENBERG NO RIO
A
artista Katie van Scherpenberg realiza duas exposições simultâneas no Rio de
Janeiro. Sendo uma na Artespaço onde mostra seus desenhos e na Galeria Anna
Maria Niemeyer apresentando trabalhos que traduzem o aprofundamento de certas
questões da pintura e da formação da imagem. Diz a artista que apesar de alguns
trabalhos não serem desenhos no entendimento usual desse termo, eles o são no
que se refere a três aspectos: a relação direta com o suporte; não há
modificações importantes do material empregado; a não-utilização de
instrumentos de pintura, isto é pincel, pigmentos suspensos em meios
previamente preparados, etc. As datas desses trabalhos vão de 1985 até 1988.
Estes
trabalhos são a base para o projeto A Via Sacra, apresentado na XX Bienal de
São Paulo deste ano.
Os
trabalhos que estão na Galeria Anna Maria Niemeyer tentam traduzir um
aprofundamento de certas questões de pintura e da formação da imagem.
Nos
trabalhos de 110cm por 160cm em sua maioria usa vários materiais e meios, de
acordo com a demanda do processo sobre a imagem, ou da imagem sobre o processo.
Em
certos trabalhos o linho é colado sobre um painel de madeira e sobre o suporte
é usado desde a têmpera a ovo até a eucástica fria.
Em
outros, a têmpera e a folha, de ouro se completam.Os
pigmentos, os meios e as colas são usados mantendo uma dialética entre o
material e a imagem- A Realidade e o Sonho.
VIA SACRA NA BIENAL
Katie
participa da XX Bienal de São Paulo com uma Via Sacra baseada nas 14 estações
da cruz da religião católica.
Sua
ideia principal é o local do rito e na seqüência ela consegue levar o visitante
a tentar decifrar um sentido, uma maneira de ver. Como fundo pintado em óxido
de ferro sugere o barroco colonial ou uma caveira. Diz a artista que são formas
mais simples, são sugeridas pela própria matéria e não representam
absolutamente nada. E prossegue:
Não
há conhecimento prévio. Isto não é uma ilustração de uma Via Sacra.Tenta
ser talvez o próprio caminho para algo ainda invisível, como o conjunto final
dessas obras.Na
pintura contemporânea existe um trabalho a que eu poderia me referir.
As
Quatorze Estações da Cruz de Barnett Newnwnn, no National Gallery em
Washington. Esta
Via Sacra é na realidade uma continuação de um caminho que estou trilhando há
quase 10 anos, tentando ver e pensar pintura.
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