JORNAL A TARDE SÁBADO, 04 DE
JUNHO DE 1977
É difícil a tarefa de criticar, embora muitos pensem ser fácil e gratuita,
provoca comentários favoráveis, quando
são feitos elogios e, desfavoráveis, quando é negativa. Mas evidente que temos
que criticar para separar os bons e verdadeiros artistas dos ruins. Evidente
que isto gera, quando em vez, alguns deslizes e mesmo o imperativo do gosto
onde quem faz a crítica. O que interessa no momento é a presença em Salvador de
John Edwin Canaday consagrado crítico norte-americano que ora visita o Brasil e veio
para inauguração da exposição. O Brasil Visto por Ethel Easton Paxson ,de 1916 a 1921.
Quando
de sua passagem pelo Rio de Janeiro ele concedeu uma entrevista a Liana Moreira, de O Globo que transcrevo por considerar ilustrativa para todos nós que nos
interessamos pelas artes. Ele tem setenta anos e aposentou-se recentemente de
sua função como crítico do New York Times. Acredita que a crítica profissional
fez muito mais mal do que bem ás artes nos últimos 30 anos. É uma posição
discutível, tendo em vista o papel que exerce a crítica na divulgação e
orientação daqueles que gostam e adquirem obras de arte. Por serem longas as
perguntas de Liana vou apenas transcrever algumas das respostas do Sr. Canaday.
Vejamos:
"Picasso
era uma força da natureza. Mesmo assim, quando ele começou, ninguém lhe deu
atenção. E quando eu digo ninguém não estou deixando os críticos de fora. Eles
também não perceberam que estavam diante de um gênio. Eu acho realmente que a
pintura sofreu muitos prejuízos nos últimos 25 ou 30 anos, graças aos críticos.
Eles estimularam movimentos muito artificiais.
O
certo seria o artista apontar o caminho e o crítico segui-lo. Mas o que
acontece é exatamente o contrário. Nos últimos 30 anos os críticos colaboraram com
os artistas apontando novas direções. Com isto apareceram movimentos como a
minimal art, a arte conceitual, o colorfield painting, todos artificialismos. O
colorfield painting, é bonito se olhar,
aquelas telas enormes cobertas de um tom laranja com um pouquinho de amarelo de
repente. Mas é puro artifício.
Diz
ainda Canaday que sem dúvida nenhuma foi a pop art, o movimento pop teve uma
grande importância porque trouxe a arte de volta ás suas ligações com o
cotidiano. Foi um movimento de resultados comparáveis ao Realismo francês da
metade do século XIX. Dentro do movimento pop o trabalho que mais me agrada é o
de James Rosenquist. O Andy Warnol não é mais um artista. Hoje ele é apenas uma
personalidade profissional.
Acha
que a art pop trouxe a arte de volta ao nosso mundinho do dia a dia. O
hiper-realismo tirou a arte de uma posição elitista que ela vinha tomando,
graças a incapacidade do grande público de compreendê-la. O abstrato era para
uma meia dúzia de pessoas. O hiper realismo é para todo mundo.
Para
ele os críticos sobrevivem porque as pessoas não tem confiança em seu próprio
julgamento. A função de crítico levaria a sério, é muitíssimo limitada. Nas
conferências que venho fazendo, abordo o papel do crítico, tanto em relação ao
público quanto em relação ao artista. Antes de mais nada, o crítico tem a
obrigação de escrever de forma tal, que qualquer pessoa tenha todas as
condições para compreender. Evidente, que está sua posição de uma linguagem
voltada para o público devemos procurar fazer. É muito fácil para algumas que
se arvoram a críticos, principalmente em
Salvador escolher uma palavras bonitas nos dicionários e largar. Muitas vezes
sem o sentido lógico, sem permitir inclusive á formação de uma imagem sobre o
que escrevem. Quando iniciei esta coluna tive a primeira preocupação em atingir
a todos, especialmente, os novos artistas e novos colecionadores. Aplico a
minha experiência jornalística de escrever com objetividade, e, usando na
medida do possível, palavras fáceis de entendimento. Poderia utilizar uma
veborréia com trajetos e um palavreado, mas não levaria a nada.
Esta
posição de John Canaday é da mais alta importância e vem dirimir uma série de
dúvidas com relação a certos trechos que encontramos nos catálogos de
exposições de artistas baianos.
Quanto
ao vídeo-tape como arte ele afirma que é televisão, e, como televisão, não me
entusiasma como meio para transmissão de arte.
Acho
que o veículo não é apropriado. Creio que a única maneira de mostrar arte
através do vídeo-tape está ligada a algo bem diferente do que eu estudo: a arte
dramática.
Falando
sobre o mercado da arte disse que não diria que o mercado de arte americano é
corrupto. O que existe é uma competição terrível. Este é o grande problema. Em nova Iorque existe uma
quantidade inimaginável de bons pintores.
Você
pode ser um grande pintor e não conseguir encontrar uma única galeria que
mostre os seus quadros.
Uma
vez conseguida a galeria, o pintor terá
que entregar 30% do valor do quadro á galeria. Isso é tudo.
Nova
Iorque começou a liderar as arte e as idéias em geral depois da Primeira Grande
Guerra. Atualmente, com a velocidade das comunicações, as idéias pululam por
todos os lugares ao mesmo tempo. O que ocorre hoje em dia é que Nova Iorque
continua sendo uma cidade muito estimulante.
Mas
já não se pode falar em liderança ou centro internacional das artes."
MUSEU
OU CENTRO DE ARTE POPULAR
Cinco
mil pessoas já visitaram no Rio de Janeiro a exposição composta de peças
afro-brasileiras muitas das quais foram recolhidas em nosso Estado. Por
isto a galeria Sérgio Millet, da Funarte bateu o recorde de visitantes em outro
espaço de tempo obrigando aos promotores do evento a prorrogá-lo até 10 de
junho.
O
grande destaque são dos dez orixás representados em manequins, portando os
trages rituais de Exu, Ogum, Oxossi, Omolu, Ossãe, Oxum, Xangô, Iansã, Yemanjá
e Oxalufan acompanhados de seus ornamentos simbólicos.
Uma
completa coleção da Panos da Costa, de origem africana e baiana confeccionados
por Abdias, esculturas e símbolos do candomblé, de autores anônimos, além de
estatuetas em marfim representativas dos mitos angolanos constituem outro
destaque da mostra.
Dentre
as esculturas de marfim figura uma representando Zumbi, divindade comum aos
candomblés de Angola, Congo do Brasil, que é o deus da fertilidade e da
criação.
Mas
o que nos importa de perto é a capacidade criativa do artesão encarregado de
perpetuar através de suas mãos calejadas e hábeis toda uma gama de utensílios
que são usados como ornamento ou dentro de uma simbologia religiosa.
O
Abdias que fica horas e horas em frente ao tear tecendo os famosos Panos da
Costa é uma dessas figuras. Outros são quase anônimos que labutam diariamente
com o barro, metal e fibras criando as cartinhas, as esculturas de Exu, e as
braçadeiras. São pessoas do povo que vivem diretamente ligadas aos cultos e as
pessoas que deles participam.
Portanto,
é um trabalho integrado e feito com amor e fé em certos preceitos de suas
seitas e religiões.
Já
tivemos em Salvador um Museu de Arte Popular onde figuravam centenas de peças,
sendo que a maioria pertencia a colecionadores.
Deixaram
as peças sem a conservação devida e por isto as peças foram sendo retiradas
paulatinamente por seus donos. O que não entendo é que a Bahia é talvez o
estado mais rico em arte popular e não possuímos um museu, uma sala com este
material reunido em maior ou menor quantidade. É um apelo que faço aos
dirigentes da Fundação Cultural para que não fiquem apenas editando ou
reeditando livros e deixem de lado tão importante setor, inclusive para o nosso
turismo que começa a crescer. Fico imaginando também, como as pessoas são tão
displicentes ao ponto de deixar dentro de caixotes empoeirados o acervo do
Museu de Arte Moderna.
Mas,
o que levanto é necessidade da realização de um estudo de uma pesquisa, feita
por gente responsável de nosso artesanato. O baiano de modo geral quando fala
em artesanato lembra a figura de um turista com uma figa ou um patuá nas mãos.
Nada disto. Temos instrumentos, indumentárias e toda uma gama de objetos que
são verdadeiras obras de arte. A cerâmica e a escultura são talvez mais ricas
em relação à tecelagem, porém esta também é muito importante. Surge portanto
uma medida a médio prazo e confio que as pessoas que agora tenham a
sensibilidade em pensar que estamos relegando o setor a um plano secundário. A
arte popular tem o mesmo valor que a arte feita para uma cama da mais
intelectualizada.
Antes
de tudo é feita por gente que sente a necessidade de criação com muito mais
pureza.
PAINEL
CORDEL - Quero
falar também da importância dos gravadores que ilustram os livretos de cordel.
Alguns de aguçada sensibilidade, que poderiam obter imenso sucesso de mercado,
caso fossem promovidos como merecem.
Agora
mesmo foi lançada uma Antologia de Literatura de Cordel, editada pela Fundação
José Augusto, entidade cultural do Rio Grande do Norte, com patrocínio da
Shell. Com 330 páginas e uma tiragem de 20 mil exemplares, a obra contém 60
títulos de estórias rimadas dos principais poetas populares do Nordeste, com
excelentes ilustrações de gravadores nordestinos.
A
Antologia foi organizada por Sebastião Nunes Batista, que classificou os poemas
de acordo com os diversos círculos da Literatura de Cordel, dividindo-os em:
maravilhoso, gigantesco, heróico, religioso, moralizante, cômico, satírico,
histórico e circunstancial.
Esta
Antologia reproduz um acervo de subsídios e indicativos para pesquisas em
lingüística, sociologia, comunicação de massas, artes visuais o antropologia.
Segundo
os historiadores é oriunda das folhas volantes portuguesas a literatura de
cordel, que apareceu em Lisboa por volta de 1895.
Trazida
pelos portugueses para o Nordeste, encontrou aqui condições plenamente
favoráveis, frutificando em seu ambiente sócio-cultural. Dizem ainda que a
palavra cordel é devido os folhetos serem amarrados em cordéis, para exposição
em locais públicos.
As
xilogravuras são de autores dos Estados da Bahia, Rio Grande do Norte, Ceará,
Pernambuco, Paraíba e Alagoas.
ADERBAL-
o artista Aderbal Rodrigues esteve expondo no Rio Grande do Sul, vinte telas a óleo,
mostrando um pouco do candomblé e seus orixás. Alguns desses trabalhos serão
mostrados numa futura exposição, que fará juntamente com a ceramista Nilza
Barude na Mini Galeria da Associação Cultural Brasil-Estados Unidos.( Foto)
ROMANTISMO-
Uma escultura de metal refinado fosco e que representa o Caminhante sobre o Mar
Enublado, do pintor Caspar David Friederichs. A escultura foi feita por August
Ohm, que pretende erigir o monumento em homenagem ao romantismo alemão.
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