JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 24 DE SETEMBRO DE 1977
Uma obra de João Augusto |
Podemos
depreender que estas afirmações de João Augusto revelam sua necessidade de
falar e escrever coisas que muitas vezes não agradam a determinados setores.
Chega ao ponto de fazer sua própria apresentação na mostra que abriu no último
dia 21, na galeria da Pousada do Carmo, quando fez uma autocrítica, dizendo que
reconhece que os anos que antecederam sua opção em tornar-se pintor de nada
valem.
Queria
passar uma esponja, lembrando apenas sua convivência com Bandeira e outros
artistas brasileiros, que vivem na Europa. Foi á Itália e manteve muitos
contatos com o Bernard Leclerc, um artista francês lá radicado, também um
abstrato. Esteve em outros lugares sempre numa busca inconsciente. Uma busca
que lhe trouxe de volta à Bahia, para esta exposição. Uma volta com vontade de
dizer para que veio, percorrendo as redações dos jornais, fazendo seu
relacionamento com os novos jornalistas, que não conhecia e com os encarregados
das colunas de crítica de arte.
Desembaraçado
e acima de tudo, demonstrando uma liberdade de ação, João Augusto apresenta
suas telas e seus traços multiplicados. Uma caligrafia que deve ser decifrada
por todos aqueles capazes de entender a sua angústia e a sua vontade inerente
em se expressar, quer através dos seus escritos, quer através de suas telas.
Diz
ele que a liberdade do inconsciente atinge geralmente na construção e
elaboração da obra de arte, um alto grau de originalidade, fugindo às
perfeições lógicas de forma, que julga o estágio ideal da criatividade. Parte
assim para uma pintura longe do figurativo, porque é a revelação de um
inconsciente incontido. Digo talvez contido, até o momento em que João não pega numa
caneta num lápis ou num papel para traduzir as suas idéias.
DECORATIVA
De repente surgiu diante de mim um rapaz, que trazia um quadro.Não queria uma apreciação crítica, mas apenas "divulgar minha exposição", foi logo dizendo. Indaguei quando seria a exposição e respondeu que na primeira quinzena de dezembro.
De repente surgiu diante de mim um rapaz, que trazia um quadro.Não queria uma apreciação crítica, mas apenas "divulgar minha exposição", foi logo dizendo. Indaguei quando seria a exposição e respondeu que na primeira quinzena de dezembro.
Afirmou
que criara um estilo próprio e desejava fundar uma galeria. Portanto, o rapaz
estava realmente tropeçando em idéias, que certamente estão longe de uma
concretização. Primeiro, sua exposição ainda está longe para uma divulgação.
Depois não criou estilo, e sim, faz uns quadros que não merecem muita
importância, porque não tem qualidade técnica. Poderiam ser comercializados por
qualquer artista menor no Terreiro de Jesus, ou mesmo no Mercado Modelo.
Finalmente, já pensa em fundar uma galeria com objetos comerciais, misturando
sua função de artista (será ?), com de comerciante.
Fiquei
surpreso, quando soube que é formado em Belas Artes e que já realizou 35 exposições.Por
aí afora, ele afirma uma série de babozeiras que prefiro não reproduzir. Não
tenho nada de pessoal contra este rapaz, mas chamo a sua atenção para que
continue procurando o seu estilo, porque este que apelidou de estilo, nada mais
é do que uma pintura sem definição, sem força, sem expressão. O Barouh precisa
usar o vigor do seu físico para caminhar em busca de uma linguagem pictórica,
que realmente mereça crédito. Talvez esteja entusiasmado com os elogios
gratuitos de amigos e amigas, que os cercam nestes momentos de iniciação mais,
que só servem para esconder a necessidade de uma crítica.
Outra
curiosidade é que já passou por várias fases. Imagine se não tivesse passado
por essas tais de fases. Seria evidente o fim. A tela seria capaz de chorar e
as tintas escorreriam à mesma que fossem lançadas, como a chorar de tanta
crueldade. O pincel ficaria careca e a greve estava estabelecida.
MAIS
UMA VÍTIMA
Estou cansado de falar sobre o amadorismo existente em determinados setores culturais da velha Bahia. Já falei diversas vezes da necessidade de uma estrutura, de instrumento de apoio no momento da realização de exposições, especialmente com relação aos artistas de fora. Mas, nada foi feito e a Fundação Cultural continua fazendo suas vítimas. Desta vez foi a artista Zorávia Beltiol, gaúcha, que saiu de sua cidade com a esperança de um sucesso. Acontece que jogaram a artista na Galeria da Pousada do Carmo, os convites quase não foram destinados soube da exposição devido um telefonema que recebi e não cuidaram da divulgação. Trazendo 40 gravuras de qualidade, abordando uma temática perfeitamente cansada com xilo Zorávia merecia um tratamento adequado e a altura de seu talento como profissional. Fiquei espantado quando cheguei a Galeria e lá estavam menos de dez pessoas em volta da artista. É bom lembrar que ela já expôs em vários museus e capitais de países estrangeiros. Tem um curriculum rico em exposições, todas com sucesso. O seu insucesso vai acontecer logo na Bahia, da qual esta afastada há cerca de 10 anos, porque o amadorismo ainda impera nos dirigentes dos órgãos culturais do nosso Estado. Quando uma artista qualquer vai expor numa galeria ou museu oficial precisa do respaldo administrativo e do relacionamento das pessoas que ocupam cargos. Do contrário, e devido ao pouco tempo que os artistas dispõem a mostra ficará entregue às moscas, o que reflete numa imagem negativa para Salvador. Parece coisa de politicagem, porque outras exposições de artistas menores, mas relacionados socialmente, tudo saiu às mil maravilhas...
Estou cansado de falar sobre o amadorismo existente em determinados setores culturais da velha Bahia. Já falei diversas vezes da necessidade de uma estrutura, de instrumento de apoio no momento da realização de exposições, especialmente com relação aos artistas de fora. Mas, nada foi feito e a Fundação Cultural continua fazendo suas vítimas. Desta vez foi a artista Zorávia Beltiol, gaúcha, que saiu de sua cidade com a esperança de um sucesso. Acontece que jogaram a artista na Galeria da Pousada do Carmo, os convites quase não foram destinados soube da exposição devido um telefonema que recebi e não cuidaram da divulgação. Trazendo 40 gravuras de qualidade, abordando uma temática perfeitamente cansada com xilo Zorávia merecia um tratamento adequado e a altura de seu talento como profissional. Fiquei espantado quando cheguei a Galeria e lá estavam menos de dez pessoas em volta da artista. É bom lembrar que ela já expôs em vários museus e capitais de países estrangeiros. Tem um curriculum rico em exposições, todas com sucesso. O seu insucesso vai acontecer logo na Bahia, da qual esta afastada há cerca de 10 anos, porque o amadorismo ainda impera nos dirigentes dos órgãos culturais do nosso Estado. Quando uma artista qualquer vai expor numa galeria ou museu oficial precisa do respaldo administrativo e do relacionamento das pessoas que ocupam cargos. Do contrário, e devido ao pouco tempo que os artistas dispõem a mostra ficará entregue às moscas, o que reflete numa imagem negativa para Salvador. Parece coisa de politicagem, porque outras exposições de artistas menores, mas relacionados socialmente, tudo saiu às mil maravilhas...
O
ALEMÃO DIETER JUNG
O
artista plástico alemão Dieter Jung, que inaugurou, no Instituto Cultural
Brasil-Alemanha, uma exposição incluindo trabalhos de desenhos, hologramas e
gráficas de vídeo-computador, e está ministrando um curso sobre Crítica
Cinematográfica, na Biblioteca do ICBA.
Na
coleção de retratos, que exibe na exposição, Dieter Jung refere-se à energia brutal dos rostos que transitam na
Broadway. Alguns retratos da série são resultados de incompletas experiências
ocorridas ali, retratos que os proprietários não quiseram pagar; pedidos por
crianças que só queriam brincar, outros são feitos por ele mesmo, utilizando o
vidro-computador.
As
técnicas holográficas foram descobertas pelo físico Dennis Gabor, com base em
seus estudos sobre intensificação da energia para microscópios eletrônicos. As
possibilidades do emprego da holografia se estendem as mais diversas áreas,
desde a computação, ás técnicas de comunicação e ao armamento radioativo. É a
técnica de gravação empregada para a produção de uma imagem tridimensional.
Para isto é usado um aparelho de lazer que funciona como fonte de luz. O
holograma é o registro das interferências das fontes de luz do laser, refletidas
pelo objeto de gravação, com outro raio coerente incluindo sobre a chapa do
filme.
Dieter
Jung estudou na Alemanha Teologia e Belas Artes fez estágios e lecionou em
diversos países do Mundo, entre os quais o Brasil. Desde 1965 fez inúmeras
exposições coletivas e individuais principalmente em Berlim, Rio de Janeiro,
Nova Iorque, Paris, Itália e Salvador.
PAINEL
DANÇARINO
E PINTOR- Foi aberta no dia 22 no Museu de Arte Moderna a exposição de Clyde
Morgan, um grande dançarino que tem seu trabalho voltado para cultura
afro-brasileira. Como não poderia deixar de ser, suas pinturas estão calcadas
nesta temática. São trabalhos feitos entre 1966 e 1972 que representam um pouco
de sua história.
MANOEL
NETO- Está expondo na Galeria Le Dome. Um pintor de marinhas, casarios e tipos
populares.
PRIMEIRA
INDIVIDUAL- "Realmente me sinto incapaz de falar sobre minha pintura de um
ângulo crítico-analítico. Creio que o mais sensato seria apresentá-la apenas
como produto, cria de uma pessoa inquieta, preocupada com as limitações
imposições de seu meio, em seu tempo. Não é critica, não é denúncia. É clima."
"Opressivo
talvez para alguém cuja formação intelectual faz co que sofra e se angustie
pelo momento histórico em que vive. Se fosse poeta, certamente seria marginal e
não pela forma ou pela estrutura, que me preocupariam menos que o discurso e o
sons de fundo. A pintura então tem uma intenção direta à emoção, sem se
preocupar com celebrações herméticas e procurando ser tão bela quanto o permite
a técnica de que disponho e cujo estudo só me impulsiona no sentido da busca,
do retrato psicológico o momento vivo". Assim fala Luiz Carlos Coelho Cruvinal,
de Goiás, que está expondo na Galeria Panorama. Falarei depois sobre o seu
trabalho. Foto.
WANDA
DO NADA- As grandes e expressivas esculturas de Wanda do Nada estão na Galeria
Do Garrafão, no Largo da Matriz, em São Paulo , numa mostra coletiva que reúne
trabalhos de pintura, batik, escultura e cerâmicas. Participam Aécio, Aidil,
Dilmah, Edi, Ivo Melo, Jacob Rissin, Marlô, Rivera, Sauro de Col, Tio Hok Tjay,
Wanda do Nada, Walde-Mar, Irany Calheiros, Celso Berton e Ruth Tarasantchi.
Wanda lutou com muitas dificuldades para levar seus trabalhos volumosos e de
qualidade para São Paulo.
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