JORNAL A TARDE,SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 16
DE OUTUBRO DE 1989
O artista Jamison em seu atelier. Tudo limpo e organizado. |
Não
o conheço na intimidade, mas sinto que o artista transmite um pouco de sua
busca incessante da perfeição. Deve ter embutido em sua vivência um alto
sentido profissional, que aliado á sua sensibilidade, que extrapola, vai
trilhando inclusive o difícil caminho de valorização do papel como suporte.
Nos
contatos que tenho tido a felicidade de ter com o Jamison, ele me passa
exatamente esta sensação de responsabilidade e cuidado com sua obra, com o seu
trabalho. Suas inquietações, me parecem, ficam contidas nos traços ora retos,
ora circulares e nas tênues sombras que escurecem suas cores, também com certa
suavidade.
A
arquitetura está sempre presente em seus trabalhos, que antes são esboçados, e
também, a geometria, enfim, nas formas concebidas, sempre buscando uma forte
linha de equilíbrio. Defende que a melhor forma de pintar é num atelier
coletivo, onde existe uma troca de informações. No entanto, embora Jamison
pense assim, ouso dizer que pela meticulosidade das linhas e formas que ele nos
presenteia dificilmente se adaptaria a um atelier coletivo, onde as
individualidades muitas vezes ficam de lado, ou á margem, diante da presença de
estranhos.
A intrigante ilusão do espaço |
Sua
trajetória na cidade é conhecida. Iniciou com uma exposição na antiga Galeria
Bazarte, hoje desaparecida, por volta dos anos 60. Era um grupo de artistas
plásticos e músicos que se reunia e discutia os movimentos e tendências da
arte, sob a coordenação de Castro. E, daí, foram para o Sul do País mostrar
seus trabalhos. O próprio Jamison participou das IX e XI bienais nos anos de
1967 e 1973. O grupo se dispersou e Jamison continuou aqui, chegando a realizar
alguns experimentos de fotografia até de cinema.
Jamison
fez verdadeiros exercícios ópticos através da criação ilusória do espaço na
superfície plana. Exploro deliberadamente a contradição entre a pintura e a
sugestão de espaços. Nos convida a participar do seu exercício óptico com seus
jogos de luz, sombra e cores. De repente, surgiu um elemento figurativo como
pedras, fotos, sempre como suporte daquela ideia de ilusão do espaço, lembra
Jamison Pedra. Os trabalhos mais recentes do artista estarão expostos a partir
de amanhã até o dia 27 de outubro, no Escritório de Arte da Bahia, que fica
localizado no prédio do Salvador Praia Hotel.
MÁSCARAS
AFRICANAS ESTÃO NO MUSEU
AFRO-BRASILEIRO
AFRO-BRASILEIRO
As
máscaras sempre exerceram sobre mim uma sensação de medo e festa. Até parecem
contraditórias essas sensações, mas na realidade é isto que ocorre. Lembro-me
de meu tempo de criança quando os mascarados, que lá na distante Ribeira do
Pombal a gente chamava e ainda continua chamando de caretas, faziam suas
estripulias com o objetivo de agradar a garota, aterrorizando-a. Chorava e
corria desesperado para longe das caretas. Esta ligação do mundo com a festa
carnavalesca ainda é muito forte em mim, que continuo guardando como lembrava
Vinícius das palavras do também saudoso Flávio Rangel: São as raízes...
Vieram
em seguida as máscaras do teatro e, enfim, passei já adolescente a conhecer as
máscaras africanas, nos rituais afro-brasileiros e também através de
publicações as manifestações escultóricas dos povos africanos.
Agora
mesmo, oito alunos de Célia Prata, essa dinâmica professora, estão expondo suas
máscaras no Museu Afro-brasileiro que fica no Terreiro de Jesus, no prédio da
antiga Faculdade de Medicina.
É
uma proposta experimental de criação artística e os alunos usaram argila,
acrílico, panos e papel marche. São eles Dilma Magalhães Onofre, Ednaide
Ornelas da Silva, Eriel de Araújo Santos, Eurenice Lopes Carmo, Joselita Veloso
Aguiar da Silva, Maria Terezinha Cardoso Tanajura, Maria Auxiliadora de
Carvalho e Vera Regina Bonaspetti. Todos alunos da Escola Técnica Federal.
AFRESCOS
ENCONTRADOS NUMA IGREJA QUE
VIROU GRANJA
VIROU GRANJA
Milão,
Itália (AFP)- Um admirável grupo de afrescos do ano 1000, que representam o
martírio de São Vicente, esquecidos em uma igreja abandonada e transformada em
granja, foram descobertos em Galliano norte da Itália, a uns 40km de Milão.
Ao
iniciar-se a restauração da antiga igreja, ordenada pela superintendência de
Milão, encontrou-se, debaixo de poeira e do mofo que cobria os muros, um grande
Cristo na Abóbada e sobre ele a história de Vicente de Zaragoza, mártir da
última perseguição do imperador Dioclesiano, em 303 a .C. 10 anos antes do
reconhecimento do cristianismo pelo imperador Constantino.
O
artista desconhecido, que realizou os afrescos, pintou a detenção de São
Vicente, remonta de fato ao século V, como testemunham as inscrições que
subsistem e os restos de solo de mármore negro e branco com desenho geométrico.
Mas for reconstituída e ampliada nos séculos X e XI, na época em que o Sacro
Império Romano- Germânico restaura a unidade depois das lutas que seguiram ao
reino de Carlos Magno dois séculos antes.
Os
afrescos da abobada representam também uma ascensão do profeta Elias em seu
carro de fogo, assim como os profetas Jeremias e Ezequiel ajoelhados aos pés de
Cristo diante dos grupos de mártires. Nos muros laterais outra série de
pinturas representa São Cristovão, padroeiro dos viajantes, pela primeira vez
na arte cristã ocidental.
A
decadência da igreja, situada na periferia da aldeia de Galliano, começou em
1585, quando seus sacerdotes foram trasladados á cidade próxima de Cantu. Seu
desaparecimento como templo, remonta a 1801, quando a igreja foi profanada e
vendida depois para ser utilizada como granja. O campanário e uma das neves
foram destruídos, o resto do edifício bastante danificado.
O
grupo de afrescos de São Vicente é considerado pelo peritos como um dos mais
importantes da arte em mutação do ano 1000.
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