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terça-feira, 14 de maio de 2013

CRITÉRIO


JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 20 DE AGOSTO DE 1977

                   

Duas exposições pobres em qualidade: a de Aderbal Rodrigues e Nilza Barude, na Minigaleria ACBEU, e a de Antônio Sibassoly, na Galeria Panorama. É duro o papel do crítico que tem de apontar os erros. Quando aos elogios todos gostam de recebê-los. Mas, tenho uma responsabilidade para com os leitores deste jornal, e, especialmente, desta coluna daí a razão dos comentários que faço sobre essas duas exposições, que em minha opinião não deveriam ter acontecido. Aliás, é ora de chamar a atenção dos responsáveis pelas galerias da Cidade que devem também respeitar seus clientes e público de maneira geral. É preciso um certo critério para realizar exposições. Se as obras são de péssima qualidade ou mesmo de qualidade duvidosa, digam aos artistas que trabalhem melhor e voltem. Exposições pobres servem para prejudicar o nome da galeria e frustrar o próprio artista iniciante.
Felizmente esta semana finda, com a exposição de trabalhos de boa qualidade de Carl Brussel, na Galeria O Cavalete, e na próxima semana, estão anunciadas as exposições de Guel, no Panorama, com uma série de marinhas com tendência ao abstracionismo, a exposição de Murilo e Antenor, na Galeria Teresa antiga Sereia, e a Lígia Milton, que exporá na Galeria do Hotel Méridien.
Quero desta forma mostrar a necessidade de critérios para realização de exposições. Constato tristemente que alguns proprietários de galerias de Salvador querem vender obra de arte como um balconista vende um quilo de sabão ou açúcar. A tela é um objeto, uma mercadoria nobre, que necessita de certos cuidados. É preferível não realizá-la de qualquer jeito. Será que é a disputa dessas pessoas para ver quem fica mais tempo nas páginas dos jornais? Será que simplesmente desejam suas galerias repletas de bebedores de batida e visitantes inconsequentes?
Chamo a atenção para o critério na escolha dos expositores. Leia:

O CONFIANTE ANTONIO SIBASOLLY

É necessário estudar e amadurecer,antes de expor
A exposição montada na Galeria Panorama de Antônio Sibasolly é menos ruim em relação a da Acbeu. Só que este jovem artista também não deve estar muito confiante como afirma no seu catálogo. Diz ele : "Mas o que se ouve falar é em Arte Moderna, estas tão modernas, que nem os seus genitores são capazes de decifrá-las. O que acontece é que o jovem artista pinta uma meia dúzia de telas, e diz confiante: este é o meu estilo, e parte para o mundo do absurdo, querendo fazer o que fizeram e fazem os gênios da pintura clássica ou contemporânea dos nossos tempos, isto porque não pararam para olhar, o que fizeram os grandes da pintura."
Talvez Sibasolly queria justificar o primarismo em algumas de suas telas. Uma delas mostra uma paisagem onde aparece duas árvores que estão praticamente soltas no espaço. Ele não soube prendê-las ao chão. Noutras notamos a sua dificuldade no sombreamento e uma marinha exposta é simplesmente terrível. Um jovem artista que tem certo talento, mas que deve trabalhar mais antes de programar outra exposição. O que salva sua mostra é um quadro intitulado Vila Rural  e três mini quadros que não definem as figuras. As demais telas carecem de técnica e contemporaneidade. Ele tenta ainda justificar sua escolha por paisagens, casarios e marinhas dizendo que  "sou grande admirador de Arte Moderna, o que não posso admirar, são os rabiscos e garatuxos de apedeutas esnobes sem autocrítica que se dizem pintores modernos, outros pensam que a arte se faz da noite para o dia, simplesmente por não saber que, a arte não se improvisa, é fruto de um estudo sério e constante."
Acredito que Antônio Sibasolly precisa de autocrítica antes de partir para julgamentos outros, que devem ser emitidos pelos críticos especializados. Acho que deve contentar-se com seu papel de um jovem artista que precisa trabalhar e estudar. Acredito em seu talento o chamo a sua atenção para tal Arte Moderna que tenta criticar. O que existe é que a arte que ora faz já passou. É de outros tempos. Estamos no final de um século e coisas novas são apresentadas e mostradas.
Quanto ao entendimento dos garatujos  ou rabiscos é um problema de educação. Alguns dispõem das informações necessárias para compreensão das mensagens.
Outros simplesmente não entendem porque não tiveram oportunidade de aprender e  absorver essas informações para decodificar as mensagens. Antônio, é preciso antes de tecer considerações sobre Arte Moderna cuidar melhor dos seus trabalhos, aceitar as críticas com resignação e também olhar para frente. O artista não pode parar. Ele deve estar engajado num processo de busca constante de novas técnicas e formas de expressão. Veja grandes artistas contemporâneos que passará entender a razão das coisas que revela não entender em sua própria apresentação. Você chegou ao cúmulo da confiança e falta de autocrítica que embora desconhecido do público baiano, faz uma apresentação que é simplesmente bizarra.

O ENCONTRO INFELIZ: ADERBAL RODRIGUES E NILZA BARUDE

Um trabalho insólito de Aderbal
A exposição que está montada na Minigaleria Acbeu, na Vitória não deveria existir. Antes de montar uma exposição os proprietários ou responsáveis por uma galeria devem ter em mente não apenas o lucro fácil, com a possível venda de obras. É necessário respeito para com o público. Sinceramente o trabalho mostrado por Aderbal Rodrigues é de qualidade duvidosa e demonstra falta de conhecimento de técnicas de pintura, quer na seleção de cores, quer no simples ato de não saber nem diluir as tintas. É inegável que em certos momentos algumas telas nos dão ideia de que o Aderbal tem pequenas noções do desenho. Porém, examinando todos os quadros expostos notamos uma falta de cuidado profissional gritante. Ele próprio revelou a mim que alguns dos trabalhos expostos são obras de uma mostra que fez no Rio Grande do Sul, e outras, telas são antigas, isto é, estavam em sua casa encalhadas. Ora, uma prova da falta de mentalidade profissional de um artista jovem. Faço estas considerações de público. Não apenas para malhar o Aderbal, mas simplesmente para chamar-lhe a atenção e também dos dirigentes da galeria Acbeu.
Voltando à exposição, encontrei algumas peças de cerâmica feitas a quatro mãos. A moeda invertida. O Aderbal que é pintor teria dado formas ao barro e a Nilza Barude, que nada mais é do que uma artesã imatura, teria colorido as primeiras peças feitas por Aderbal. Talvez a saída para Aderbal seja a cerâmica, é o que posso compreender do que vi exposto. Quanto a sua companheira de infortúnio Nilza Barude posso dizer que é  mais uma senhora que colore bules, jarras e panelas comprados prontos. Não tem portanto qualquer identificação com o barro e com as formas. Simplesmente se apodera de formas bonitas e sugestivas de outras pessoas e joga tinta por cima. O único mérito do seu trabalho é a técnica de esmaltar, técnica esta que pode era aprendida por qualquer pessoa num cursinho de um mês numa escolinha de prendas domésticas.
Encantada com a Bahia a Nilza Barude arranjou alguns nomes sugestivos para as peças que podemos tirar de bom nesta mostra, que nada mais é do que um encontro infeliz entre um jovem que precisa trabalhar com mais cuidado antes de realizar exposições, e de uma senhora que deve guardar suas panelas, bules e jarrinhos pintados para distribuir com suas amigas em chás vespertinos.



CARL BRUSSEL NA GALERIA O CAVALETE



Brussel é um pintor que está preocupado com a profissionalização. Não é um pintor de domingo. É um artista que tem consciência do seu papel, do que deseja expressar e acima de tudo inconformado com certas conotações que possam atribuir-lhe por sua condição social privilegiada. Sua arte merece ser refletida porque ele consegue  superar tudo e parte para uma concepção formal de alta qualidade, com uma pintura dina e acima de tudo livre. As figuras sugeridas nos dão oportunidade de concebê-las prontas ou feitas com um exercício lúdico. As linhas retas, firmes e os contornos fortes dão um realce maior.
Logo abaixo no mesmo catálogo diz: Wilson Rocha: "Sua pintura que envolve uma condensação expressionista onde a linha tem por vezes qualidades gestuais enriquecidas por vigorosas cores terrosas e belos cinzas intimistas, pinturas de ritmo, luz e cor, cor velada, saída do sentimento e revertida ao espírito através da essência e do instinto, da poesia, e do amor das coisas, mas que de sua realidade material, do cálculo e dos valores estritamente pictóricos, supera o impressionismo pela profundidade do conteúdo e por seu amor á ordem e a harmonia conjugados com liberdade, acima da marginalidade acadêmica."
Estas palavras que dedicamos ao trabalho pictórico representa exatamente a essência desta exposição que está aberta ao público na galeria O Cavalete, no Rio Vermelho, onde estão expostos vinte e cinco trabalhos que tem unidade formal e de cores. Um trabalho de um homem amadurecido que sabe o valor da sua profissão e no momento deseja dedicar-se de corpo e alma. Fiquei impressionado com a força de vontade deste artista que prefere ficar plantado em frente a seu cavalete do que cuidar de outros afazeres comerciais. Um homem, que já maduro, reencontrou aquilo que mais desejava fazer. Não que tenha deixado de pintar, porque a pintura é  parte da vida de Brussel que agora apresenta uma pintura mais forte, de melhor qualidade e mais livre em elação a outras épocas.

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