JORNAL A TARDE,SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA 04
DE DEZEMBRO DE 1989
COTIDIANO DA GENTE SIMPLES DA
BAHIA FIXADO
POR CARYBÉ
Barqueiros em sua labuta diária enfrentando o mar |
"Gosto
de gente, de bichos, da terra. Cada coisa tem uma linguagem própria, através da
qual pode ser expressa.O
mural, a pintura a óleo ou a têmpera vinil: tudo são formas para fixar meu
trânsito por esse mundo." São palavras do velho Carybé, um homem curtido pelas
viagens por este mundo afora e, que ao
invés de fixar, como fez Pierre Verger o cotidiano através da lente da máquina
fotográfica, escolheu o pincel como ferramenta. Nos 22 anos de fundação de A
Galeria, o marchand Valdemar Szaniecki promoveu no MASP uma exposição de Carybé
Agora esta mostra estará a partir do próximo dia 6 no Escritório de Arte da
Bahia. É o encerramento das atividades dessa galeria e conforme explica seu
proprietário Paulo Darzé, Não poderíamos deixar de trazer esta importante
exposição à Bahia, como uma forma de homenagear o público baiano, ávido de
eventos dessa magnitude, e este grande artista, que há 40 anos vem descrevendo
e revelando, na tela, os hábitos do povo e as paisagens da Bahia.
Carybé envolvido pela fumaça do charuto pensa numa próxima tela |
Uma
obra está sendo ultimada para ser distribuída pela Odebrecht, onde vocês vão ficar sabendo muitas coisas sobre este
homem que adotou a Bahia como sua segunda terra-mãe. Nascido em Lanus, na
Argentina, em 1911, ele passou a infância na Itália e veio para cá em 1920.
Estudou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio e depois na Escola de Artes
Decorativas, em Buenos Aires.
Esteve aqui na Bahia em 1938, enviado por um jornal de Buenos
Aires. O jornal faliu e acabou ficando seis meses aqui na mais completa
miséria. Acabou voltando várias vezes, finalmente se fixou em 1950.
Além
de gostar de gente, Carybé tem uma paixão desenfreada por santos antigos e
candomblé. É filho de Oxossi, Obá de Xangô e presidente do Conselho de Obás no
Axé do Opô Afonjá. Sua arte fixa a gente simples da Bahia que é a presença nas
páginas imortais do nosso grande escritor Jorge Amado, ambos estão intimamente
ligados com a paisagem, a gente e as coisas da Bahia. Sua temática é fruto
dessa mistura de brancos, pretos e índios, nessa miscigenação responsável por
uma cultura diferenciada do resto do País, pela sua magia, pela sua sabedoria
malandra, capaz de instrumentalizar as pessoas para enfrentar com firmeza
ditaduras, crises econômicas e depois explodir uma vez por ano atrás de dezenas
de trios elétricos ou mesmo dançar de novembro a março nas inúmeras festas que
se realizam em vários pontos da cidade.
Uma cena do cotidiano de Carybé |
Diz
Jacob Klintowitz que Carybé é uma espécie de prodigo nacional. Ele é o artista
que registrou de maneira extensiva e
expressiva os ritos do candomblé, observou a vida dos mitos africanos no Brasil
e descreveu em detalhes de conhecedor a história e os hábitos das entidades.
Apenas a realização desse trabalho e
inventário, sem igual do mundo inteiro, bastaria para colocar esse artista em
nossa história visual e e conferir significativa importância cultural e
antropológica ao seu feito.
Diria
ainda que Carybé não apenas fixou o candomblé, mas todas as manifestações
populares da Bahia. A puxada de rede, nos tempos em que a orla marítima era
farta de xaréus, e outros peixes; as feiras livres, as festas de largo, o
comércio nos portos de Água de Meninos e da Rampa do Mercado Modelo, os
capoeiristas, enfim, ele nos apresenta artistas que fixaram nas paredes das
pirâmides e nos papiros antigos as manifestações de suas épocas. Portanto, além
do valor plástico, a obra de Carybé tem uma importância fundamental, por seu
papel documental.
ARTE
EM SÉRIE DA FAZARTE
A Galeria Fazarte está promovendo até o dia 09 de dezembro a I Feira Baiana de Arte em
Série, com participação de mais de 30 artistas plásticos baianos que vêm
trabalhando com o múltiplo.
A
arte em série, como gravuras, serigrafias, cerâmicas é de fácil acesso, tomando
como princípio a sua reprodução sem a perda do valor artístico.
A
iniciativa da Fazarte em abrir espaço para a arte em série, criando um evento
que pretende ser anual, tem tudo a ver com a forma de ser e pensar dos artistas
que fazem da entidade uma vida ativa de atelier coletivo.
Um
espaço que hoje representa não somente uma galeria, mas também um Show-room de
peças assinadas da produção individual e coletiva dos artistas Hilda Maria
Sônia Regina e Zeca Araújo, como também daqueles que se integram á filosofia do
espaço e buscam a Fazarte para exposição de sua arte e escoar sua produção.
Hoje
são muitos os artistas que trabalham com o múltiplo, colocando ideias geniais num adesivo, numa camiseta, reproduzindo no papel com a gravura, a fotografia,
utilizando da serigrafia, da cerâmica, como muitas das formas de expressão em
tantos e tão diversos suportes que estimulam a pesquisa.
A
história da Fazarte começa com a criação de um atelier coletivo, onde artistas
Hilda, Sônia e Zeca trabalham, pesquisam e fazem de uma geração nova que
vivencia a troca de experiências, envolvidas com diversas propostas, abertos
para desenvolver suas criações nas fachadas, nas ruas, muros e murais.
Produzindo em ateliers suas idéias, estes artistas despontam no cenário para a
conquista do espaço do artista plástico.
Até
09 de dezembro a Fazarte abre sua Galeria para a I Feira Baiana de Arte em
Série, que pretende ser uma grande exposição da produção artística desses artistas
que assinam cerâmicas, gravuras, serigrafias, camisetas, entre outros.
Na
programação da Feira, atrações voltadas para o público, como a participação da
Orquestra Sinfônica da Bahia através do Projeto Camerata Para Todos.
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