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quinta-feira, 2 de maio de 2013

O CURIOSO MUNDO DE EMMA VALLE


JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO , 05 DE MARÇO DE 1977

           
A artista Emma Valle ao lado de sua irmã e alguns amigos num momento de confraternização
A artista Emma Valle transportou toda a sua ambientação do seu local de trabalho para a capela do Solar do Unhão reunindo uma  infinidade de objetos os mais estranhos e curiosos que encontrou pela frente. A exposição mostra o próprio mundo primitivo e autêntico em que vive Emma, embora habite uma casa na ladeira de Santa Tereza, portanto no centro de uma metrópole.
Ela continua arraigada a seus costumes e sua vida está transportada nos objetos que pinta e sugere. Segundo ela a ambientação que fez busca uma comunicação maior com o público que necessita sentir como trabalha o artista. Mas, nós que conhecemos Emma Valle sabemos que aquilo representa a sua própria personalidade primitiva e curiosa.
A exposição reúne trabalhos de Emma com utilização de várias técnicas: Pintura, xilogravura, tapeçarias, cerâmica e até esculturas. Além de vários objetos que são pintados e transformados, segundo a artista em objetos de arte. Um deles, que chama a atenção de todos, ela utilizou um caixão de gás e embutiu um rádio antigo, que funciona. Uma grande imagem de Santa Bárbara de gesso foi colocada numa posição estratégica para protegê-la e a todos os visitantes de sua bizarra exposição.
E explica: "eu não podia suportar a rigidez dos horários a serem obedecidos e a obrigação no cumprimento de atividades escolares. Esta necessidade de descompromisso para agir mais livremente e a força que sentia para executar imediatamente suas criações a levaria também a não concluir os cursos de Desenho e Gravura iniciados na Escola de Belas Artes, passando logo a comercializar suas obras. A primeira gravura que tirei em 1967 vendi para um alemão",  e daí em diante passou a vender cada vez mais para estrangeiros.
Diz Emma: "Gostaria que os baianos adquirissem minhas obras. Seria mais gratificante. Afinal, sou filha de Brotas e nestes meus dez anos, numa homenagem ao meu povo que diz que vendo caro, estou com esta exposição onde cada trabalho está sendo vendido pela metade do preço. Penso que esta é uma ótima oportunidade para quem gosta do que eu faço."
Esta exposição, disse Emma Valle, "é uma promoção da Fundação Cultural do Estado da Bahia, que iniciou com ela o seu programa de atividade culturais deste ano. Com ela pretendo dar uma visão de tudo que já realizei nestes dez anos dedicados à arte."
Tenho exemplares dos primeiros trabalhos de xilogravuras, quando iniciei minha carreira, em 1967, e de toda a evolução de minha atividade, passando da pintura á tapeçaria á qual venho me dedicando mais ultimamente.
Obra de Emma Valle na Galeria
de Dimitri
Por desejo familiar, inspirado no costume das meninas estudarem para se transformarem em professores. Emma Valle deveria concluir o curso normal. Recusando esta ideia e insistindo em seguir sua inclinação interior, que se voltava para a pintura, ensaiada desde os seus primeiros anos de escola era quem preparava os trabalhos escolares das colegas. Emma Valle forçou reprovações sucessivas e terminou por abandonar o curso.
Emma Valle afirma que seus trabalhos tem a marca da espontaneidade. Normalmente as idéias surgem sem que eu esteja provocando ou pensando no trabalho.
Quando isto ocorre aproveito sempre rabiscando num papel. Transformo em seguida num trabalho artístico, sem abandonar as novas inspirações que podem aparecer no momento da execução, porque afinal, os meus trabalhos sempre contam uma estória e elas não tem final ou início fixados previamente.
Diversas foram as exposições individuais ou coletivas que Emma Valle participou em todo o Brasil. Somente no ano passado expôs, em galerias no Rio de Janeiro, na 81ª. Exposição do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, no III Congresso de Artes Plásticas de Goiás e em Mato Grosso.
Dentre as suas  preocupações com o futuro, além de continuar produzindo suas primitivas telas, gravuras e tapeçarias, pretende fazer um Museu Emma Valle. Para isto está recolhendo as tradições da família. O acervo do Museu será de obras que pretende deixar para o filho e netos. Seu atelier em Salvador, o Cartola, localizado próximo ao Museu de Arte Sacra, é um mundo todo particular. Cada coisa, por mais insignificante que pareça, tem toda uma estória a contar. Emma está montando um novo atelier em Castelo Branco, o primeiro como informa, a surgir por aquelas bandas.
Entrevista concedida a Zoraide V. Boas.

MARYSIA, SEGALL E PANCETTI NO PRIMEIRO LEILÃO DO ANO

O leiloeiro Sérgio Florestano abre a temporada de 1977, com um grande leilão de pintura moderna e objetos antigos, nas noites de  8 e 9 de março, nos salões da Avenida Rebouças 3551. Entre os quadros, obras assinadas por Marysia, Segall, Picasso, Speltri, PancettI. De Chirico, Bonadei, Mabe, Belmiro de Almeida, Dali, Visconti, Carybé, Scliar, Lewy, Portinari, Hartung, Zanini, Gomide, Rebolo, Manoel Martins, José Antônio da Silva, Seeling, Heitor dos Prazeres, Novella Parigini e Pedro Alexandrino. Entre as antiguidades, destacam-se importantes peças que pertenceram á coleção de Olívia Guedes Penteado. Marysia nasceu em Araçatuba, no Estado de São Paulo, a 14 de março de 1937. Sua carreira de pintora inicia em 1950, quando a família se muda para São Bernardo do Campo e o tio, Cândido Portinari, a leva consigo para o Rio de Janeiro, ensinando-lhe a técnica do desenho, e da pintura a óleo.
Realizou numerosas exposições individuais e participou de coletivas em capitais européias e sulamericanas. Nos anos 60 é descoberta pelos marchands norte-americanos, obtendo boa aceitação especialmente de colecionadores novaiorquinos. Com seus quadros de casamentos caipiras e noiva com flores. Carybé nasceu na Argentina, em 1911, mas se aclimatou de tal forma no nosso meio cultural que é por todos considerado baiano, Chegou a nossa terra em 1950, e,em 1957, já recebia o prêmio de melhor desenhista nacional na Bienal de São Paulo. De estilo elegante e leve, Carybé se tornou, através dos nanquins, presença obrigatório nas melhores coleções, sendo suas obras mais antigas disputadas no mercado dos últimos anos. Nascido em Jaú, a 20 de janeiro de 1940. Speltri se iniciou na pintura ainda adolescente; estreou nos salões oficiais em 1957, chamando a atenção pelo poder de comunicação, simples e direto. Sua primeira exposição individual, em 1971, na galeria de arte do SESC, em São Paulo, foi apresentada por Mário Schenberg, da Associação Internacional de Críticos de Arte. Foi distinguido com o prêmio maior, no Salão de Santo André, e com várias medalhas em outros certames.

CURSOS LIVRES DA ESCOLA DE BELAS ARTES

A Direção da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, divulgou a programação dos Cursos Livres para 1977. As aulas terão início a partir da 2ª quinzena do mês de março. Os cursos são:
Pintura- objetivo específico: dar aos participantes as condições básicas para o posterior desenvolvimento de atividades profissionais no campo da pintura em várias técnicas e processos. Prof. Oscar Caetano e como coordenador o Prof. Evandro Walter Scheiter.
Desenho- objetivo, estudar a natureza, voltando para  a origem, tendo no homem sua peça principal. Prof. Edson Barbosa, coordenador Prof. Onias Camardelli.
História de Arte Contemporânea- objetivo: dar aos alunos uma visão da História de Arte Contemporânea, mediante um enfoque critico dos principais estilos plásticos. Profª. Maria Vidal Camarco e como coordenador o Prof. Ivo Vellame.
Iniciação às Artes Plásticas- objetivos específicos: proporcionar aos adolescente o conhecimento de técnicas visando estimular a criatividade e desenvolver a percepção visual no campo das artes plásticas. Profa. Dagmar Souza Pessoa e como Coordenador Profa. Evandro Walter Schneider.
A Secretaria da Escola de Belas Artes prestará aos interessados. Informações quanto ás mensalidades e horários dos referidos cursos.

                                  PAINEL
LIVRO - O critico José Roberto Teixeira Leite está trabalhando na feitura de um livro sobre Pancetti, e outro encomendado pela Funarte, com 30 mil linhas, que é uma história de arte no Brasil. Já Walmir Ayala foi encarregado pela igreja Messiânica de levar para Tóquio uma exposição de obras de 25 brasileiros. A mostra será aberto no dia 15 de março e os quadros devem ser figurativos, de acordo com a única exigência dos promotores.
O pintor Rubens Gerchaman exporá a partir de abril na Galeria Luís Buarque de Holanda, Paulo Bittencourt uma série de óleos intitulada Striptease.

SEM DINHEIRO- o filho de Vitalino de nome Manoel Vitalino Pereira dos Santos passou maus momentos no Rio de Janeiro.
É que ele foi convidado para assistir o desfile da Império da Tijuca, em homenagem ao seu pai, e não lhe deram a passagem de volta. Teve que vender alguns bonecos de barro para conseguir uns trocados para voltar para Caruaru, onde reside.

IMITAÇÕES PARA LADRÕES- o aumento considerável de roubos de obras de arte nos museus, igrejas, palácios e casas de colecionadores está alarmando o mundo civilizado.
Basta dizer que somente na Alemanha Ocidental os ladrões conseguiram pilhar 16 milhões de marcos em obras de arte. O roubo de uma parte do tesouro da catedral de Colônia, foi o mais espetacular dos últimos anos. Dão os técnicos recomendaram a substituição de originais de alto ou mesmo de inevitável valor por imitações quase que perfeitas. O originais são guardados com sete chaves em locais seguros. Na foto o escultor e restaurador Wilhein Reaut, de Hanover, trabalha na feitura de algumas limitações empregando borracha de silicone, que é um material suscetível de reproduzir fielmente as mais finas estrias. Sobre o molde ele verte um gesso especial misturado com verniz, que dá á gravura uma coloração tirante á madeira. Uma vez solidificado o gesso, o trabalho recebe ainda algumas mãos de cera e verniz. Depois de prontas, um leigo não consegue distinguir imitações deste tipo de seus originais.

À DISPOSIÇÃO- desde o último dia 1º que se encontra a disposição dos interessados na Reitoria da UFBa. O regulamento do Concurso Nacional de Monografias Sobre Museus. O concurso é destinado a estudantes universitários domiciliados ou residentes no Brasil, é uma iniciativa da Fundação MUDES em convênio com o Departamento de Assuntos Culturais do MEC. Os trabalhos, deverão ter 30 laudas de papel tamanho ofício, datilografadas em um só lado, em espaço 2, e entregues em 3 vias até o dia 30 de maio. Os prêmios são de 25, 15 e 10 mil cruzeiros.

GUERNICA NA ESPANHA- quatro anos após a morte de Pablo Picasso, o quadro Guernica, que representa o massacre de civis da cidade espanhola do mesmo nome, pela aviação nazista, e, que há anos está no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, poderá ser visto pelos espanhóis. O autor deliberou quando vivo, que só deixaria seu quadro entrar na Espanha quando fossem realizadas eleições livres naquele País. Picasso pintou a obra após a guerra civil espanhola, como protesto contra o mandante intelectual  do bombardeiro, o generalíssimo Francisco Franco, falecido há um ano.

JORNAL MENSAL DE ARTES- saiu o último número GAM com uma boa matéria com Caetano Veloso, outra Ronaldo Azeredo: poesia visual, de autoria de Antônio Risério.
Além de belas fotos de Luiz Barata. Bom nível.

INFORMATIVO- outro informativo, Galeria Fandango, Olinda, Pernambuco. Um resumo das atividades desta galeria, apresentando o seu calendário para o ano em curso.


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