JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO , 05 DE MARÇO DE 1977
A artista Emma Valle ao lado de sua irmã e alguns amigos num momento de confraternização |
Ela
continua arraigada a seus costumes e sua vida está transportada nos objetos que
pinta e sugere. Segundo ela a ambientação que fez busca uma comunicação maior
com o público que necessita sentir como trabalha o artista. Mas, nós que
conhecemos Emma Valle sabemos que aquilo representa a sua própria personalidade
primitiva e curiosa.
A
exposição reúne trabalhos de Emma com utilização de várias técnicas: Pintura,
xilogravura, tapeçarias, cerâmica e até esculturas. Além de vários objetos que
são pintados e transformados, segundo a artista em objetos de arte. Um deles,
que chama a atenção de todos, ela utilizou um caixão de gás e embutiu um rádio
antigo, que funciona. Uma grande imagem de Santa Bárbara de gesso foi colocada
numa posição estratégica para protegê-la e a todos os visitantes de sua bizarra
exposição.
E
explica: "eu não podia suportar a rigidez dos horários a serem obedecidos e a
obrigação no cumprimento de atividades escolares. Esta necessidade de
descompromisso para agir mais livremente e a força que sentia para executar
imediatamente suas criações a levaria também a não concluir os cursos de
Desenho e Gravura iniciados na Escola de Belas Artes, passando logo a
comercializar suas obras. A primeira gravura que tirei em 1967 vendi para um
alemão", e daí em diante passou a vender cada vez mais para estrangeiros.
Diz
Emma: "Gostaria que os baianos adquirissem minhas obras. Seria mais
gratificante. Afinal, sou filha de Brotas e nestes meus dez anos, numa
homenagem ao meu povo que diz que vendo caro, estou com esta exposição onde
cada trabalho está sendo vendido pela metade do preço. Penso que esta é uma
ótima oportunidade para quem gosta do que eu faço."
Esta
exposição, disse Emma Valle, "é uma promoção da Fundação Cultural do Estado da
Bahia, que iniciou com ela o seu programa de atividade culturais deste ano. Com
ela pretendo dar uma visão de tudo que já realizei nestes dez anos dedicados à
arte."
Tenho
exemplares dos primeiros trabalhos de xilogravuras, quando iniciei minha
carreira, em 1967, e de toda a evolução de minha atividade, passando da pintura
á tapeçaria á qual venho me dedicando mais ultimamente.
Por
desejo familiar, inspirado no costume das meninas estudarem para se
transformarem em professores. Emma
Valle deveria concluir o curso normal. Recusando esta ideia e
insistindo em seguir sua inclinação interior, que se voltava para a pintura,
ensaiada desde os seus primeiros anos de escola era quem preparava os trabalhos
escolares das colegas. Emma Valle forçou reprovações sucessivas e terminou por
abandonar o curso.
Obra de Emma Valle na Galeria de Dimitri |
Emma
Valle afirma que seus trabalhos tem a marca da espontaneidade. Normalmente as
idéias surgem sem que eu esteja provocando ou pensando no trabalho.
Quando
isto ocorre aproveito sempre rabiscando num papel. Transformo em seguida num
trabalho artístico, sem abandonar as novas inspirações que podem aparecer no
momento da execução, porque afinal, os meus trabalhos sempre contam uma estória
e elas não tem final ou início fixados previamente.
Diversas
foram as exposições individuais ou coletivas que Emma Valle participou em todo
o Brasil. Somente no ano passado expôs, em galerias no Rio de Janeiro, na 81ª.
Exposição do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, no III Congresso
de Artes Plásticas de Goiás e em Mato Grosso.
Dentre
as suas preocupações com o futuro, além
de continuar produzindo suas primitivas telas, gravuras e tapeçarias, pretende
fazer um Museu Emma Valle. Para isto está recolhendo as tradições da família. O
acervo do Museu será de obras que pretende deixar para o filho e netos. Seu
atelier em Salvador, o Cartola, localizado próximo ao Museu de Arte Sacra, é um
mundo todo particular. Cada coisa, por mais insignificante que pareça, tem toda
uma estória a contar. Emma está montando um novo atelier em Castelo Branco , o
primeiro como informa, a surgir por aquelas bandas.
Entrevista
concedida a Zoraide V. Boas.
MARYSIA,
SEGALL E PANCETTI NO PRIMEIRO LEILÃO DO ANO
O
leiloeiro Sérgio Florestano abre a temporada de 1977, com um grande leilão de
pintura moderna e objetos antigos, nas noites de 8 e 9 de março, nos salões da Avenida
Rebouças 3551. Entre os quadros, obras assinadas por Marysia, Segall, Picasso, Speltri, PancettI. De Chirico, Bonadei, Mabe, Belmiro de Almeida, Dali,
Visconti, Carybé, Scliar, Lewy, Portinari, Hartung, Zanini, Gomide, Rebolo, Manoel Martins, José Antônio da Silva, Seeling, Heitor dos Prazeres,
Novella Parigini e Pedro Alexandrino. Entre as antiguidades, destacam-se
importantes peças que pertenceram á coleção de Olívia Guedes Penteado. Marysia
nasceu em Araçatuba, no Estado de São Paulo, a 14 de março de 1937. Sua
carreira de pintora inicia em 1950, quando a família se muda para São Bernardo
do Campo e o tio, Cândido Portinari, a leva consigo para o Rio de Janeiro,
ensinando-lhe a técnica do desenho, e da pintura a óleo.
Realizou
numerosas exposições individuais e participou de coletivas em capitais
européias e sulamericanas. Nos anos 60 é descoberta pelos marchands
norte-americanos, obtendo boa aceitação especialmente de colecionadores novaiorquinos. Com seus quadros de casamentos caipiras e noiva com flores. Carybé
nasceu na Argentina, em 1911, mas se aclimatou de tal forma no nosso meio
cultural que é por todos considerado baiano, Chegou a nossa terra em 1950, e,em
1957, já recebia o prêmio de melhor desenhista nacional na Bienal de São Paulo.
De estilo elegante e leve, Carybé se tornou, através dos nanquins, presença
obrigatório nas melhores coleções, sendo suas obras mais antigas disputadas no
mercado dos últimos anos. Nascido em Jaú, a 20 de janeiro de 1940. Speltri se
iniciou na pintura ainda adolescente; estreou nos salões oficiais em 1957,
chamando a atenção pelo poder de comunicação, simples e direto. Sua primeira
exposição individual, em 1971, na galeria de arte do SESC, em São Paulo , foi
apresentada por Mário Schenberg, da Associação Internacional de Críticos de
Arte. Foi distinguido com o prêmio maior, no Salão de Santo André, e com várias
medalhas em outros certames.
CURSOS
LIVRES DA ESCOLA DE BELAS ARTES
A
Direção da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, divulgou a
programação dos Cursos Livres para 1977. As aulas terão início a partir da 2ª
quinzena do mês de março. Os cursos são:
Pintura-
objetivo específico: dar aos participantes as condições básicas para o
posterior desenvolvimento de atividades profissionais no campo da pintura em
várias técnicas e processos. Prof. Oscar Caetano e como coordenador o Prof.
Evandro Walter Scheiter.
Desenho-
objetivo, estudar a natureza, voltando para
a origem, tendo no homem sua peça principal. Prof. Edson Barbosa,
coordenador Prof. Onias Camardelli.
História
de Arte Contemporânea- objetivo: dar aos alunos uma visão da História de Arte
Contemporânea, mediante um enfoque critico dos principais estilos plásticos.
Profª. Maria Vidal Camarco e como coordenador o Prof. Ivo Vellame.
Iniciação
às Artes Plásticas- objetivos específicos: proporcionar aos adolescente o
conhecimento de técnicas visando estimular a criatividade e desenvolver a
percepção visual no campo das artes plásticas. Profa. Dagmar Souza Pessoa e
como Coordenador Profa. Evandro Walter Schneider.
A
Secretaria da Escola de Belas Artes prestará aos interessados. Informações
quanto ás mensalidades e horários dos referidos cursos.
PAINEL
LIVRO - O
critico José Roberto Teixeira Leite está trabalhando na feitura de um livro
sobre Pancetti, e outro encomendado pela Funarte, com 30 mil linhas, que é uma
história de arte no Brasil. Já Walmir Ayala foi encarregado pela igreja
Messiânica de levar para Tóquio uma exposição de obras de 25 brasileiros. A
mostra será aberto no dia 15 de março e os quadros devem ser figurativos, de
acordo com a única exigência dos promotores.
O
pintor Rubens Gerchaman exporá a partir de abril na Galeria Luís Buarque de
Holanda, Paulo Bittencourt uma série de óleos intitulada Striptease.
SEM
DINHEIRO- o filho de Vitalino de nome Manoel Vitalino Pereira dos Santos passou
maus momentos no Rio de Janeiro.
É
que ele foi convidado para assistir o desfile da Império da Tijuca, em
homenagem ao seu pai, e não lhe deram a passagem de volta. Teve que vender
alguns bonecos de barro para conseguir uns trocados para voltar para Caruaru,
onde reside.
IMITAÇÕES
PARA LADRÕES- o aumento considerável de roubos de obras de arte nos museus,
igrejas, palácios e casas de colecionadores está alarmando o mundo civilizado.
Basta
dizer que somente na Alemanha Ocidental os ladrões conseguiram pilhar 16
milhões de marcos em obras de arte. O roubo de uma parte do tesouro da catedral
de Colônia, foi o mais espetacular dos últimos anos. Dão os técnicos
recomendaram a substituição de originais de alto ou mesmo de inevitável valor
por imitações quase que perfeitas. O originais são guardados com sete chaves em
locais seguros. Na foto o escultor e restaurador Wilhein Reaut, de Hanover,
trabalha na feitura de algumas limitações empregando borracha de silicone, que
é um material suscetível de reproduzir fielmente as mais finas estrias. Sobre o
molde ele verte um gesso especial misturado com verniz, que dá á gravura uma
coloração tirante á madeira. Uma vez solidificado o gesso, o trabalho recebe
ainda algumas mãos de cera e verniz. Depois de prontas, um leigo não consegue
distinguir imitações deste tipo de seus originais.
À DISPOSIÇÃO- desde o último dia 1º que se encontra a disposição dos interessados
na Reitoria da UFBa. O regulamento do Concurso Nacional de Monografias Sobre Museus. O concurso é destinado a estudantes universitários domiciliados ou
residentes no Brasil, é uma iniciativa da Fundação MUDES em convênio com o
Departamento de Assuntos Culturais do MEC. Os trabalhos, deverão ter 30 laudas
de papel tamanho ofício, datilografadas em um só lado, em espaço 2, e entregues
em 3 vias até o dia 30 de maio. Os prêmios são de 25, 15 e 10 mil cruzeiros.
GUERNICA
NA ESPANHA- quatro anos após a morte de Pablo Picasso, o quadro Guernica, que
representa o massacre de civis da cidade espanhola do mesmo nome, pela aviação
nazista, e, que há anos está no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, poderá
ser visto pelos espanhóis. O autor deliberou quando vivo, que só deixaria seu
quadro entrar na Espanha quando fossem realizadas eleições livres naquele País.
Picasso pintou a obra após a guerra civil espanhola, como protesto contra o
mandante intelectual do bombardeiro, o
generalíssimo Francisco Franco, falecido há um ano.
JORNAL
MENSAL DE ARTES- saiu o último número GAM com uma boa matéria com Caetano
Veloso, outra Ronaldo Azeredo: poesia visual, de autoria de Antônio Risério.
Além
de belas fotos de Luiz Barata. Bom nível.
INFORMATIVO- outro
informativo, Galeria Fandango, Olinda, Pernambuco. Um resumo das atividades
desta galeria, apresentando o seu calendário para o ano em curso.
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