JORNAL A TARDE ,SALVADOR,SÁBADO,
13 DE AGOSTO DE 1977
Encerrando as comemorações alusivas ao seu tricentenário, o Convento de Santa Clara do Desterro inaugura amanhã uma exposição de obras do seu acervo, principalmente peças do século XVIII, entre imagens, telas de autores desconhecidos, vestuários e pratarias, além de abrir a visitação pública sua capela e o parlatório, onde as irmãs Clarissas, fundadoras do Convento, receberam visitas de parentes ou assinavam escrituras.
Dentro
da programação para a data, estão previstas duas missas, sendo uma celebrada
pelo Cardeal Dom Avelar Brandão Vilela, onde será lida a breve do Papa Clemente
XX, autorizando o funcionamento do Convento, e também a abertura de uma
exposição de artesanato, elaborado por alunas internas do orfanato de Santa
Clara do Desterro.
DIA
DE SANTA CLARA
Imagem de Santa Clara,século XVII |
Organizada
por uma equipe de historiadoras e professoras de museologia, coordenada pelo
Diretor da Fundação Cultural do Estado, Valentim Calderon, a exposição de Arte
Sacra, será inaugurada ás 18 horas, devendo permanecer aberta á visitação
pública durante uma semana.
Entre
o imenso acervo que possui o Convento as organizadoras desta exposição
escolheram peças de grande valor e beleza, detendo-se especialmente ás do
Século XVII, XVIII e XIX, mostrando inclusive vestes religiosas ainda do tempo
em que as irmãs Clarissas eram responsáveis pela instituição religiosa.
Estarão
expostas no segundo pavimento do Convento, peças e alfaias para celebração de
atos litúrgicos, imagens antigas de diversos santos, destacando-se a imagem
mais antiga do acervo, que é de sua Santa padroeira (Santa Clara), um trabalho
cuidadoso e rico em seus menores detalhes.
Belas e antigas imagens nunca expostas ao público baiano |
Entre
as peças de vestuaério que poderão ser apreciadas pelo público, encontram-se
confecções e bordados feitos pelas clarissas, bem como por suas sucessoras, as
irmãs franciscanas do Sagrado Coração de Jesus, atuais responsáveis pelo
convento Arcas seiscentistas onde as Clarissas costumavam guardar seus enxovais
e objetos de prata constituirão ainda atração para os apreciadores de arte que
forem visitar a exposição.
Os
organizadores da exposição chamam a atenção também para o fato de ser esta uma
oportunidade de se conhecer a Capela do Convento, onde existe um tabernáculo de
prata em estilo barroco, bem como a própria arquitetura e beleza interior das
instalações do Convento, primeiro estabelecimento para religiosas construído no
Brasil.
Poderão
ser visitados a Cela de Madre Vitória da Encarnação, religiosa que ingressou no
convento em 1686, falecendo em 1715, com fama de Santidade, e o pariatório das
Clarissas, também chamado de casa das grades, onde estas religiosas recebiam
seus parentes e assinavam documentos.
FUNDAÇÃO
DO CONVENTO
As irmãs franciscanas quando arrumavam a exposição na manhã de ontem |
No
ano de 1907, por decreto superior. A ordem deixou de formar religiosas, porque
foi proibido o noviciado. As poucas clarissas sobreviventes foram transmitindo
seus ensinamentos e suas funções para as suas seguidoras, as irmãs
franciscanas.
Para
dar continuidade a obra das Clarissas atualmente existem 20 irmãs no Convento
do Desterro, encarregadas de manter um orfanato para 50 crianças. As maiores,
diz irmã Maria do Rosário, ajudam nas costuras, no preparo de doces e licores e
nos trabalhos de cozinha, vendidos para que possa ser garantida a manutenção do
internato. Além disto, o Convento tem atualmente uma escola em regime de
externato e com as mensalidades engariadas possibilita respaldo financeiro para
as obras assistenciais.
Nos
seus três séculos de funcionamento, o Convento do Desterro já sofreu alguns
reparos, mas ainda conserva grande parte da antiga estrutura. No dia em que
comemoram a data dedicada a sua padroeira e encerram as festividades do
tricentenário, além da exposição de Arte Sacra, será realizada outra de
bordados, trabalhos de aplicação em tecidos, toalhas de mesa e peças de
artesanato feitas pelas alunas internas.
TÉCNICOS
DA OIT DENUNCIAM VIDA DE ARTISTAS
A diferença entre os salários dos artistas e
outros trabalhadores, bem como o desemprego e a inadequada proteção da
propriedade intelectual, são algumas das denúncias contidas no informe da
Organização Internacional dos Trabalhadores - OIT, que foi elaborado para a
próxima reunião do órgão em Genebra.
Os
artistas mais desprestigiados são os de palco, ou seja atores, cantores e
músicos. O informe revela que na Noruega a maioria dos artistas ganha menos de
1.900 dólares anuais, um quarto do salário médio inicial de um funcionário
público e ainda que na França atores e escultores ganham menos que o salário
mínimo estipulado a nível nacional.
Sobre
os músicos, cantores e atores, o documento revela que estão sempre á revelia
dos altos e baixos da temporada e que, ultimamente, tem sofrido o impacto dos
espetáculos eletrônicos, tais como os transmitidos pelo rádio e televisão, ou
ainda dos discos e fitas gravadas.
Diz
ainda o documento que em quase todo o mundo um número considerável de artistas
são obrigados a procurar trabalhos suplementares para garantir a sobrevivência.
Vale notar que no informe da OIT os Estados Unidos não foram citados.
No
Brasil a situação chega a ser catastrófica porque não existem empregos para
suplementação do salário e mesmo outros elementos importantes, como poder
aquisitivo para consumo da arte e educação que influenciam no mercado, e
portanto, diretamente no bolso do artista. Na Bahia terra de muitos artistas,
terra de casarios e outros bichos, a coisa chega a nos deixar desanimados
quanto a novas perspectivas. Temos que separar os bons dos ruins para que
possamos aplaudir os verdadeiros artistas e assim dotá-los dos instrumentos
necessários a uma vida digna.
A
maioria dos artistas plásticos holandeses não consegue sobreviver com o produto
de sua arte. A venda ocasional de uma obra não permite que se sustentem por
muito tempo, embora exista um pequeno grupo cujo sucesso permite não apenas
sobreviver, mas viver bem! decorre do fato a impressão errônea de que a arte
que produzem é melhor que a de seus colegas menos afortunados. Outra crença sem fundamento e
oposta é de que um artista somente, se, engrandece se labutar na pobreza e na
miséria, incompreendido pelos contemporâneos. Estas duas interpretações
coexistem.
A
maior parte dos artistas plásticos vive de outra profissão. Poucos deles
possuem casa própria, grande número vive de biscates ou leciona. Vários deles
vivem á custa do conjugue, inúmeros dependem da assistência social estatal.
Museum Fodor Keizersgracht,em Amsterdam, Holanda, onde ocorrerá a exposição |
Até
a segunda guerra mundial, os artistas holandeses necessitados recebiam ajuda
financeira do governo equivalente àquela paga aos desempregados. Sob a
influência do sindicato de classe, ganhou terreno a idéia de que um produtor! A
ajuda governamental deveria portanto ser encarada como ajuda ao desenvolvimento
artístico o pagamentos passaram a ser feitos não somente para cobrir a
subsistência como também para criar condições favoráveis ao desempenho da
profissão.
Com
isso, a remuneração mensal passou a ser mais elevada que a de um desempregado.
Para
fazer jus á pensão paga pelo Estado o artista deverá comprovar seu progresso.
Foi criada uma comissão que periodicamente avalia o mérito das obras e a
evolução do autor. Esta nova regulamentação veio estimular grandemente a maior
parte dos artistas clássicos, e teve três consequências imediatas:vários deles
tiveram comprovado seu crescimento em termos artísticos, embora continuassem a
não encontrar compradores no mercado; as academias e escolas de arte estão formando
artistas de categoria em número crescente, sem se preocupar com a escassa
demanda no mercado de trabalho!
Surgiu
certa indecisão da comissão julgadora sobre qual a forma ou expressão artística
moderna deve justificar a concessão de ajuda governamental.
Para
compensar a ajuda financeira recebida, os artistas entregam regularmente, á
comissão julgadora, obras de sua autoria. Que destino será dado a este acervo,
que aumenta constantemente?
No
momento, o governo encomenda aos artistas subsidiados, obras com finalidade
determinada: ornamentação de prédios públicos, jardins, praças etc. Uma
organização especializada se encarregada de administrar a vida das obras ás
quais a comissão atribui valor artístico, emprestando-as a entidades que se
manifestam a respeito e criando pólos de interesse em escolas, bairros, clubes
etc onde são realizadas exposições ou onde as mesmas ficam emprestadas por
tempo limitado.
O
que de início era apenas uma pequena ajuda, dentro da regulamentação da contra prestação, transformou-se em uma
complementação de ganhos obtidos com trabalho artístico mudando inclusive de
nome: Regulamentação das Atividades dos Artistas Plásticos (Beeldende
Kunstenaars Regeling.
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