JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 12 DE JUNHO DE 1989
A
A pintura do sergipano Vauluizo Bezerra nos leva a um lugar onde é permitido pensar. Daí surgem os questionamentos da presença do homem neste mundo conturbado e particularmente neste Brasil que consegue manter-se de pé, apesar das corrupções e outras questão ao nosso povo. Utilizando mensagens às vezes sutis, o artista nos coloca diante de personagens, que a princípio parecem simplórios, mas que são questionadores de nossa realidade. Seus arquétipos devem ser entendidos como participantes de um trabalho lúdico. Há o tornar de tudo, mesmo o novo, antigo, como referencial. Este jogo torna o Empire State semelhante á primeira roda.
Para
mim, Vauluizo nos apresenta heranças deixadas por nossos antepassados e que
servem de motivação para o seu trabalho questionador. Assim ele consegue
resgatar alguns elementos e os veste com uma roupagem de modernidade. Ele diz
conjugar seus aspectos psicológicos com o condicionamento do homem dentro de
sua própria realidade histórica. Neste momento, despontam as suas neuroses e
todas as informações de que dispõe para elaboração de sua obra.
O
artista vai expor 18 telas a partir do dia 15 no Escritório de Arte da Bahia,
Atestando mais uma vez ser um dos nomes mais significativos da Geração 70. Para
Vauluiso esta mostra é o trajeto de uma circularidade. A história chega a um
ponto que adquire tal densidade que ela se encontra do ponto original. É um
círculo espiral. Em seguida indaga a si próprio se esta proposição o insere no
chamado pós-modernismo.
Diz
o artista que ver o pós moderno asmático. E eu quero vigor. O que faço passa
pelo referencial de obras de arte, e argamassa toda sua história. Além do mais,
não me preocupa o rótulo que dão. Quero sempre a eficiência.
É
claro que não podemos deixar de sentir uma influência benéfica do mestre
Picasso no traço de Vauluizo.
Fico
inclusive muito satisfeito quando vejo que ele mesmo reconhece esta influência
quando afirma que a presença existe, embora diluída. Antes era marcante. Eu
fazia uma experimentação e o começo de conversa é sempre tenso, e ele tinha que
prevalecer. Hoje é uma conversa mais cordial, inclusive com as referências de
arte medieval. Enfim são incorporações que o artista estudioso, questionador,
vai buscar como embasamento de sua formação intelectual e profissional. Ele
demonstra interesse em todas as épocas da arte e sempre está buscando nos
livros as fórmulas utilizadas pelos grandes mestres. São seus interlocutores.
Porque
ele não vê a história fragmentada. É exatamente neste rebuscar da história que
Vauluizo vem crescendo, pois vem dando a cada dia uma demonstração do seu
talento questionador. Sua pintura é recheada de significação. Não é formada de
traços sem nexo que desaguam em figuras grotescas. Nada disto.
Tudo
é concebido dentro de uma intrigante compreensão da sua realidade, da busca
constante de referencial histórico, do papel do homem sobre este planeta
combalido. Diria que o artista procura dentro de seus conflitos, de suas
emoções mais fortes compreender a história e a si próprio.
Nascido
em Aracaju, 1952, mas vindo bem pequeno morar no sul do estado, em Itabuna,
Vauluizo se considera itabunense, grapiúna. Só em 1970, passando a morar em
Salvador, inicia a pintura, para cinco anos mais tarde realizar sua primeira
exposição, em Genebra, Suíça, local onde também faz a segunda, em 1976, mesmo
ano que ingressa na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia.
Nesta trajetória, com muitas coletivas e individuais, ganhou em 1980 o prêmio
Funarte de Desenho, em 1982 a
seleção no Concurso de projeto de Arte Experimental, e em 1989 o I Salão Baiano
de Artes Plásticas.
VÁRIAS
COLAGENS ALEMÃS ESTÃO NO NÚCLEO DE ARTES
Está
aberta ao público a exposição O Princípio Colagem, promovido pelo Núcleo de
Artes do Desenbanco e o Instituto Goethe. Esta exposição itinerante merece ser
vista porque é uma rara oportunidade de examinarmos trabalhos originais de 30
artistas alemães contemporâneos.
Além
disto é uma demonstração da seriedade do trabalho desenvolvido pelo núcleo no
seu esforço de fazer á Bahia 80 trabalhos de valor artístico indiscutível. Vejo
com tristeza muitas exposições e outras manifestações internacionais serem
realizadas em várias capitais e a Bahia sempre está fora do roteiro.
Portanto,
vejo com entusiasmo esta mostra dos trabalhos de Joseph Beuys, Matthias
Gessinger, Franz Monz, Miriam Munky, Max Sollner, Wolf Vostell, Michael Schenik
e do velho Carl Buchheister, remanescente modernista, contemporâneo de Schwitters
e de outros Dadaístas dos anos 20.
O
QUE É COLLAGE ?
A
colagem, segundo estudiosos, é o momento onde o tempo e espaço, o alheio e o
familiar, o consciente e o sonho, imaginação e manipulação fundem-se numa
superfície plana ou num espaço, que não são pintados ou esculpidos, mas
colados, montados ou arranjados, representando um quadro completamente novo de
realidade e da arte. Começou na pintura dos cubistas que usavam pedaços de
papel parede ou jornal e aplicavam á pintura. Com os Dadaístas, quadros inteiros
eram confeccionados de colagens e montagens. Daí foram introduzidos as
palavras, filmes, objetos.
A
revolução surrealista conseguiu alcançar um dos pontos altos da colagem
utilizando-se da combinação de material heterogêneo. As obras de Marx Ernst, de
Hannah e Kurt Scwilters surgem no processo dialético acidental e intencional,
no qual as ideais se complementam através de reflexões coerentes,
transformando-se então em
idéia-imagem. A Mona Lisa do bigode de
Marcel Duchamps (1919) causa até hoje polemicas discussões.
A
obra de Salvador Dali (1929) As acomodações do desejo enfeitiçou o público
europeu. Neste rol dos mais famosos, A duas mulheres de Marx Ernst (1923)
pertencem à mesma temática e ao mesmo estilo, copiado, recriado e inovado por
centenas de artistas plásticos de todo o mundo.
A
mostra do Núcleo do Desenbanco está dividida em duas partes. A primeira,
documentação internacional que proporciona uma introdução e ostensivamente
ilustrada do desenvolvimento da Colagem e da Assemblagen até o happening e o
desenvolvimento simultâneo de uma poesia fonética específica; de provocação e
agressão, próprios das primeiras colagens, a é a aproximação radicalmente hones
a de uma realidade muitas vezes caótica. A segunda parte da exposição mostra
originais de artistas alemães contemporâneos: colagens, foto-montagens,
combinações surreais, colagens-texto, colagens-pinturas.
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