JORNAL A TARDE, SALVADOR, 26 DE NOVEMBRO DE 1977
O artista Antônio Peticov Foto recente |
Sobre
a sua obra, ele diz o seguinte: "A
partir do momento em que a reflexão e a análise do meu trabalho o qual
considero em grande parte intuitivo, deixaram de ser mera especulação para
tomar lentamente a forma de conceito teórico consciente, creio que seja
apropriado transmitir certos dados que contribuirão para uma leitura mais
completa e fiel dele.
Esses
dados seriam a luz. O processo de criação. O cosmo. A interação do homem e o
infinito. Deus, seu amor. Todo o mágico realismo que nos cerca."
O
espaço. O infinito interior. O homem e sua relação com o seu (?) planeta. A
beleza interna. Harmonia. O equilíbrio. O instante da rutura. Comunicação.
Intercomunicação. A passagem. Hojeamanhãontem. Entrada e saída.A
possibilidade. A chave do mistério.
Quanto
ao ato de criar, ele se refere fazendo uma analogia a partir de elementos
abstratos:
A
cor é um fenômeno similar ao comprimento da onda, do som e do perfume, e para
que se possa compreender a sua natureza se faz necessário indagar o mistério do
processo de criação, o qual, ocupando uma faixa
de tempo variável e relativo, paradoxalmente se auto justifica."
O
ARTISTA
O
próprio artista fez questão de elaborar o seu curriculum vitae que, segundo
ele, foge às normas tradicionais e está muito mais próximo da pessoa e do
artista Antônio Peticov. Passei
os meus primeiros anos de vida na cidade de Cachoeira de Itapemirim, no Estado
do Espírito Santo, vivendo em uma casa, onde funcionava um pequeno internato
feminino junto a uma escola, na parte de trás de um grande terreno, tendo na
frente a II Igreja Batista, da qual o meu pai era o Pastor. Em tal propriedade
havia uns trinta tipos de árvores frutíferas e, aos cinco anos de idade, calcei
meu primeiro sapato.
Cinco
anos na Mooca, que em 1953 e ainda às margens de São Paulo, e depois a Tijuca
e o Rio de Janeiro a me trazer uma quantidade de informação e contato humano
que me conduziram a um preciso instante de interesse pelas artes. Com 13 anos
de idade via uma média de seis filmes por semana.
Mário
Sales Jr., um artista que conhecei na época, foi o primeiro a estimular em mim
uma visão plástica, que iria depois, em São Paulo , nos anos 60, manifestar-se em uma
série de exposições, tanto individuais como coletivas, entre estas as Bienais
de 67 e 69.
Diversas
medalhas, prêmios e menções especiais, mais a participação em alguns grupos de vanguarda
antecederam a minha primeira viagem á Europa e EEUU em 1969. O retorno ao
Brasil, depois de alguns meses de ausência, marcou um período de início de
pesquisas quando tendo quase que definitivamente abandonado o concretismo
sempre retendo, porém, toda a herança construtivista deste, influenciado pelo
ambiente artístico internacional e com destaque o inglês, produzi uma série de
trabalhos principalmente desenhos, nos quais se antevia uma preocupação já
maior em relação á magia cósmica que caracteriza o ato de criação.
Voltei à Europa em 1970, desta vez com a intenção de permanecer por algum tempo em Londres. Observações ,
contatos e estudos, destacando-se o curso de serigrafia no Candem Arts Center,
inclinaram-me contudo, a transferir-me para Milão. O resultado do contato com a
vanguarda italiana ao mesmo tempo que com a fantástica presença dos mestres
renascentistas, extrapolou relações de tempo e espaço, mostrando-me um caminho
onde a própria observação das relações físico-matemáticas adquiria uma chave de
leitura mágico-poética.
Uma obra de Peticov,sempre antenado |
Na
Itália, já há quase seis anos, fiz tanta coisa... De posters, cúpulas
geodésicas, trabalhos relacionados com a macrobiótica, ecologia e formas de
energia alternava á fotografia, design gráfica posters, capas de discos e revistas
e grandes afrescos murais.De
não deixar de lado a experiência com as primeiras rádios livres italianas, ás
quais pude dar a minha colaboração aprendendo muito.
Em
1974, através de um trabalho que fizera com a Record, vim a conhecer
Serighelli, ótimo impressor, com o qual reativei a minha produção gráfica,
realizando onze edições de serigrafias. A pintura, porém, continuou a ocupar a
parte maior do meu tempo e neste período realizei diversas exposições em
algumas cidades europeias. Em março de 1975 depois de cinco anos de ausência,
fiz uma mostra em São Paulo. O
afluxo do público e os louvores da critica me pareceram justificar a exposição.
Desde
então, outras três exposições de gráfica e desenho em São Paulo e na Suíça,
prepararam o caminho para HOMO FABER, que apresento no Brasil em duas cidades:
em novembro, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e em dezembro, na
Galeria Luísa Strina, em
São Paulo.
FERNANDO
COELHO
O artista continua buscando novas formas de
dizer as coisas relacionadas com o significado do homem em cada linha, gesto ou
pincelada. Uma busca que ficou marcante com a rutura pictórica dada em 1976,
quando Fernando extravasou todo um sentimento retido nas formas e cores de seus
trabalhos anteriores. Vieram assim os palhaços que apareciam no palco onde as
caixas e retângulos limitavam seus espaços. Seguros em finíssimos fios eles
balançavam no tempo. Uma visão da vida onde muitos procuram um equilíbrio e
terminam por cair.
Outros
mais seguros, conseguem um equilíbrio parcial, desta ou daquela forma e dão o
espetáculo. A cainhada de Fernando Coelho será longa e certamente encontrará
pela frente coisas que vão causar alguns tropeços.
Sim,
porque os caminhos tem alamedas e lugares inacessíveis. Confesso que os
trabalhos de 1975 e1976 agradam mais que os expostos gora na Galeria Teresa.
Uma busca é certo a simplificação, uma ova linguagem visual e verbal, porém,
aquela era mais forte, mais direta e tocava mais de perto a qualquer um. Cada
palhaço funcionava como um espelho onde as pessoas procuravam um diálogo
silencioso, mas profundo e sério. Sei que o trabalho ora desenvolvido é tão
consciente quanto aquele de 1975
a 1976, mas a simplificação através de tendências tirou
um pouco a força que carregavam os palhaços.
O
próprio Clarival Prado Valadares quando da apresentação que fez para sua mostra
um ano depois no Rio de Janeiro falava que o artista abria as portas de seu
mundo de duendes como se a vida fosse, em toda condição humana, o ininterrupto
espetáculo de um circo fantástico em que gesto, cada ação, cada tipo é uma
simples tradução de que se vai acontecendo na terra dos vivos.
Assim
vai Fernando caminhando num doce vale, estranho, em busca de novas formas de
dizer as coisas.
Entendi
perfeitamente sua linguagem tanto nos óleos como nos desenhos, porém continuo
pensando nos palhaços que agora completam um e dois anos de idade.,
respectivamente 75 e76. E que este capítulo de 1977 tenha uma continuidade e
uma conclusão realmente significativa.
CODEVASF
REALIZA EXPOSIÇÃO DE ARTE
Uma
exposição de artes plásticas e um concurso literário assinalaram o terceiro
aniversário de fundação da Companhia de Desenvolvimento do Vale de São
Francisco, empresa pública vinculada ao Ministério do Interior.
Foi
aberto ao público na sede oficial do clube do congresso o I Salão de Arte e
Cultura do Vale do São Francisco, com trabalhos de artes plástica do pessoal da
empresa que tem cerca de 2 mil funcionários, lotados nos cinco Estados da Lusa
sanfranciscana e em Brasília
A
finalidade da mostra, que se prolongou até o dia 25 passado foi estimular as
vocações artístico-literária dos funcionários promovendo ao mesmo tempo, o
interesse pelo aspectos culturais do Vale de São Francisco.
Os
trabalhos apresentados no salão de arte e cultura foram selecionados por uma
comissão dos seguintes especialistas: Walter Mello, assessor para artes
plásticas da Fundação Cultural do DF. Hugo Mund. Diretor do Centro de
Criatividade do DF, e Raimundo Nonato Veloso Filho professor de Artes Plásticas
da Universidade de Brasília. A comissão premiou os melhores trabalhos expostos.
Concomitantemente
com esta mostra a Codevasf promove um concurso literário entre os seus
funcionários, cujos trabalhos, serão julgados por outra comissão, constituída
pelo poeta Fernando Mendes Viana, autor de Silfohipofrifo que, em 1972, recebeu
o prêmio literário nacional de poesia inédita, Ronai Vieira, editora de arte e
cultura do Jornal de Brasília, e Tetê Catalão, editor de arte e cultura do
Correio Brasiliense.
PAINEL
PEDRO
ROBERTO- Está expondo no Clube Cajueiro, em Feira de Santana o artista Paulo
Roberto, que já participou de algumas coletivas e individuais desde 1973. Já
fez figurinos para várias peças de teatro e é autor de um painel em concreto
que existe no Feira Palace Hotel, além de vários cartazes para espetáculos. Seu
catálogo apresenta um desenho onde a figuração de uma mulher sobressai e
demonstra o perfeito equilíbrio e capacidade de preencher os espaços com belas
composições. Um mundo imaginativo que Pedro Roberto constrói partindo de sua
visão e sensibilidade.
LEILÃO- Ainda em comemoração aos dez anos de A Galeria ,
SERIGRAFIAS-
Estão expostas serigrafias de Alexandre L. Caldenhof e Michael Walker numa
mostra intitulada Impressões Bahianas, no ICBA. Também estão sendo mostrados
fotos, desenhos, objetos e slides.
Continuam
atuando os Falsos Valores... Cuidado.
DUKE-
Os cariocas terão oportunidade de ver uma das principais exposições já
realizadas neste país. Serão trabalhos de Wesley Duke Lee que a partir de 3 de
dezembro estarão na Galeria Luís Buarque de Holanda e Paulo Bitencourt.
FAYGA
VIAJOU- A gravadora Fayga Ostrower realiza uma retrospectiva em Madri
abrangendo vinte anos de sua produção artística. Os espanhóis ganham um presente
antes dos brasileiros, que ainda não tiveram a oportunidade de uma mostra da
gravadora, deste porte.As
exposições estão diminuindo de número neste fim de ano. Talvez a safra de
artistas tenha acabado, embora nesta cidade de São Salvador muitas pessoas
continuam iludidas...
RIOLAN-
O mestre Riolan Coutinho está expondo na Galeria Cañizares com a apresentação
de Ivo Vellame.Um
mestre no lápis e no pincel. Capaz de uns poucos traços definir uma figura
livre e bela. Ex discípulo de André Lothe, em Paris, hoje Riolan divide o seu
tempo entre os ensinamentos que dá aos seus alunos na Escola de Belas Artes da
UFBa e seu atelier no exercício individual de sua principal atividade que é de
desenhista e pintor. Filho de Pojuca hoje com 45 anos de idade, Riolan tem
muito ainda que produzir, porque capacidade não lhe falta. Foto II.
DELIMA
MEDEIROS- O pernambucano está expondo na Galeria da Pousada do Carmo. Desde
janeiro de 1961 que reside na Europa tendo frequentado estúdios de alguns
artistas na França e viajado por quase toda a Europa agora está radicado em
Milão. Sua exposição fica aberta até 4 de dezembro.
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