JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO 30 DE
OUTUBRO DE 1976
WALDOMIRO DE DEUS O PREDESTINADO
O artista Waldomiro de Deus numa exposição |
Semi-alfabetizado
e natural do município baiano de Itajibá, este artista já foi alvo de dezenas
de reportagens e jornais e revistas não somente brasileiras côo estrangeiras.
Em minha vida de repórter jamais encontrei alguém nomeio artístico brasileiro,
que foi tão focalizado pelo jornalismo.
Ele
carrega consigo cinco grossos álbuns de recortes de jornais falando de suas
peripécias e exposições realizadas.
É
sobre esta figura que pretendo tecer alguns comentários. Waldomiro de Deus tem
32 anos de idade e começou sua carreira de pintor em 1959, quando em São Paulo trabalhava de
jardineiro numa residência de uma família de italianos. Quando limpava um
canteiro na imensa mansão encontrou alguns vidrinhos. Levou-o para o seu patrão
e perguntou do que se tratava. Eram tintas de várias cores, e logo em seguida
ele pediu permissão para usá-las. Daí passou a desenhar e pintar sem parar ao
ponto de ser despedido porque estou precisando é de jardineiro e não de pintor
disse-lhe o patrão. Foi despedido perdido na Grande São Paulo resolveu levar
seus rústicos desenhos para o Viaduto do Chá, local onde desfilam milhares de
pessoas todos os dias. Uma dessas pessoas apressadas ao passar pelos desenhos
de Waldomiro resolveu comprá-los.
Ofereceu
CR$ 15,00 por dois desenhos. O pintor raciocinou se ele dá CR$ 15,00 é porque
valem mais. Pediu CR$ 20,00 e a compra foi efetuada. Do Viaduto do Chá foi
convidado para fazer sua primeira exposição individual. Foi levado por um
desconhecido para a redação da Gazeta de São Paulo e aí começou propriamente a
sua trajetória na vida artística. Alugou um quarto e passou a trabalhar, e,
hoje, já realizou dezenas de individuais.
Agora
ele está expondo na Galeria Panorama, na Barra. São trabalhos de autêntico
primitivo. De um artista que embora vivendo na metrópole não conseguiu perder
sua natureza primitiva e seus valores de semi-analfabeto. A desproporção entre
as figuras concebidas, a utilização de temas comuns na vida do povo brasileiro
lhe credenciam para ser considerado pela crítica como um dos mais importantes
primitivos do país senão do mundo.Aliado
a estas qualidades Waldomiro de Deus é um cara de fácil comunicação.
Sua linguagem é uma linguagem simples da gente do interior, que pronuncia as palavras como entende, isto é, sem a preocupação em pronunciá-las como manda a gramática. Sua pintura é um trabalho instintivo. Um dom natural que vem sendo explorado por ele e aceito por todos aqueles que entendem a importância de sua obra simples e forte.
Obra de Waldomiro em cartolina |
O
curioso é que embora baiano poucos conhecem a sua obra. Isto porque Waldomiro
cedo transferiu-se para São Paulo e passou a frequentar as galerias do Rio e
São Paulo e do exterior. Esta é a sua primeira exposição na Bahia, sua terra
natal.
A
fidelidade á sua qualidade de homem do povo, simples da zona rural, lhe
credenciam para o respeito que mantém hoje no setor artístico. Nada consegue
abalar Waldomiro de Deus.
Quando
ele pintou N.S. Aparecida de botas e numa minúscula saía e outros santos desnudos, como o
Cristo de bermudas, vários setores da igreja o condenaram. Isto permitiu que
ele se tornasse conhecido em todo o país e assim pudesse continuar pintando.
Não tem amor as coisas materiais e sua vida artística é perfeitamente
identificada com sua filosofia existencial.
PROCURA
DE SOLUÇÃO PARA O MOBILIÁRIO
Visando
o encontro de novas formas de mobiliário para a arquitetura contemporânea o
Instituto dos Arquitetos do Brasil e a Associação Brasileira de Desenho
Industrial com o patrocínio da Forma S.A. Móveis e Objetos de Arte estão promovendo
um concurso destinado á criação de um sistema integrado de móveis estofados,
com vista aos mercados brasileiros e internacional.
O
concurso foi lançado oficialmente no IX Congresso Brasileiro de Arquitetos, que
está sendo realizado no Parque Ibirapuera em São Paulo. O concurso, tem
méritos pois não visa apenas mais um produto original, uma solução nova na área
do mobiliário.
Podem
participar todos os profissionais associados aos Instituto dos Arquitetos e
Associação Brasileiro de Desenho Industrial. Serão conferidos prêmios em
dinheiro de CR$ 50, CR$ 25 e CR$ 15 mil cruzeiros aos três primeiros lugares e
CR$ 7 mil para cada um dos anteprojetos escolhidos na fase final de seleção.
Os
formulários de inscrição encontram-se á disposição dos interessados na
secretaria do IAB e o prazo de entrega encerra-se-á no dia 26 de janeiro do
próximo ano. Os trabalhos deverão ser inéditos, entregues também nas
secretarias das entidades promotoras, sem qualquer assinatura, marca ou sinal
de identificação.
Os
desenhos deverão ser apresentados em cópias heliográficas em preto fino,
fixadas em pranchas rígidas leves, no formato A-1, colorida ou texturizadas,
acompanhadas, a critério do autor, com fotografias em preto e branco, no
tamanho 18x24cm.
Como
afirma o presidente da Associação Brasileira de Desenho Industrial, Marco
Antônio Amaral Resende.Campo
privilegiado de Intervenção para o Desenhista Industrial brasileiro, o móvel e
sua história refletem o processo de evolução desta atividade de projeto.
Em
1930, foram Warchavchilk, John Jraz e Flávio de Carvalho. Na década de 40, foi
a vez de Rino Levi, Artigas, Rudofzki, Zanini, Hauner, Tenreiro. Os anos 50
viram nascer o Studio de Arte Palma um fato divisor de águas, responsabilidade
de Lina Bo Bardi e Giancarlo Palanti. De 1960 para cá, o número destas
intervenções cresce exponencialmente. Ainda que de forma não tão vertiginosa
também desenvolve-se nosso DI-acompanhando o desenvolvimento tecnológico e
econômico do País. Foi, é, e continua a ser um processo lento, de idas e
vindas. Impossível de se encarar com otimismo, mas como um trabalho a
realizar-se. E que, de tempos em tempos, emite alguns de seus sinais a serem
traduzidos..
PAINEL
O
DIABO- O que será que estão bolando com o diabo? Acabo de receber um convite
com a imagem gravada de um Exu e com as seguintes inscrições: Como o diabo
gosta... Novembro 76, Rio Vermelho, Salvador, Bahia, Brasil. Esta figurinha tão
familiar está deixando muitas interrogações. Vamos aguardar que ele aparece...
IMPORTANTE
SUA OBRA- O homem Di Cavalcanti morreu e sua obra renasceu com muito mais
força. As mulatas estão alegres e tristes, e as paisagens, que servem de fundo,
cada vez mais belas. Emiliano Di Cavalcanti, partiu depois de semanas de
sofrimento. Pintor, poeta, memorialista, tapeceiro, desenhista de jóias e até
caricaturista. O pintor das mulatas foi-se. Elas ficaram com a incumbência de
sempre lembrar DI Cavalcanti, que as amava.
ESSE
PIMENTA- Está expondo na Rua do Paço, 58, na galeria Margot o pintor fluminense
Esse Pimenta. Sua mostra abriu esta nova galeria. O artista já participou de
várias coletivas e individuais. É um artista que prima pela figura e podemos
afirmar que é bom pintor de casarios e de costumes. O Esse vive pelos cantos da
velha Salvador retratando nossas ladeiras. Viaja constantemente por força de
sua profissão por este Brasil afora e assim vai pintando as cidades por onde
passa. Portanto tem uma trajetória pictórica, que será difícil algum dia uma
retrospectiva, porque seus quadros estarão espalhados por este Brasil.
LOGOTIPO-
O trabalho elaborado por Pedro Delpino Bernardes, João Eustáquio Delpino,
Marcelo Portela Sampaio, Joaquim Heraldo Lima, João Claudio Santa Rosa e Ivan
Pedro Jorge foi escolhido pela Funarte no concurso para seu logotipo. Os
autores de projetos não classificados deverão solicitar a devolução dos seus
trabalhos.
COLETIVA
NA O CAVALETE- Trabalhos de Carlos Bastos, Rescala Luís Jasmin, Carl Brussel,
Leonardo Alencar, Costa Lima, Jaime Hora, J. Cunha Antoneto, Britto, José
Artur, Capelotti, Edison da Luz, dentre outros estarão expostos a partir do
próximo dia 10 de novembro na Galeria O Cavalete.
Esta
exposição é comemorativa dos quatro anos de fundação da galeria e representa
uma homenagem de sua proprietária Jaci aos artistas que j realizaram
exposições.
CENSURA-
Chega agora às artes visuais. Foi apreendido o quadro Penhor de Igualdades, do pintor Lincoln Volponi,
premiado no IV Salão Global de Inverno de Belo Horizonte.
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