JORNAL A TARDE,SALVADOR, 16 DE ABRIL DE 1977
A VIA CRUCIS DE ZU CAMPOS
Pintor de paredes, carpinteiro, jogador de futebol, funcionário público e cantor de inferninhos foram algumas das ocupações de Zu Campos durante vários anos em Salvador e outras cidades.
Uma cena da Via Crucis do artista Zu Campos |
Ali
os três pernambucanos trabalharam e Zu observava a técnica do entalhe. Pegou um
pedaço de uma velha janela e com uma chave de fenda improvisada de formão
passou a esculpir. O primeiro trabalho foi difícil e outros vieram em série. No ano seguinte
participava de uma coletiva no antigo Instituto Cultural Hispânico ICHUB- dos
funcionários da Universidade Federal da Bahia. Mas continuava trabalhando no
Museu de Arte Sacra e nas horas de folga entalhava. Quando tinha juntado 26
peças organizou uma expedição no Teatro Castro Alves a convite de José Augusto.
Nesta época o critico Clarival Prado Valadares lançaria seu livro Riscadores de
Milagres e disse
Vim
lançar um livro e lancei também um artista de talento. Talento que se
desenvolveu e cresceu e fez escola. Sim, porque Zu Campos é o pai de uma gama
de entalhadores baianos.
Mestre
no ofício de entalhar Zu desliga-se do Museu de Arte Sacra e passa a viver do
fruto de seu trabalho.
Daí
vieram várias exposições individuais aqui e fora do Estado.Os sulcos feitos de
madeira tornaram-se mais profundos num caminho natural em busca de novos
espaços. A escultura passou a ser sua preocupação, e, hoje, Zu Campos inicia
vamos assim dizer sua carreira de escultor. Ele próprio diz das dificuldades
que encontrou para fazer suas primeiras esculturas. Fala das dificuldades que
enfrentou para conseguir formas equilibradas.
Recentemente
esteve em Brasília e Belém do Pará a convite de órgãos culturais dando aulas de
entalhe.
Formou
uma escola que ganha e vence nossas fronteiras. Embora com esta imensa
atividade Zu Campos é um artista cuidadoso e meticuloso. Todas as peças que faz
são devidamente documentadas fotograficamente e os desenhos que lhes dão origem
são guardados.
Tem
uma preocupação desesperada em não se repetir.
A
arte de Zu Camos vem ganhando terreno e a matéria-prima utilizada é a mesma ou
seja as janelas, portas e outros
materiais retirados dos velhos casarões que são demolidos para dar lugar aos
berrantes espigões. Sua arte serve também para salvaguardar um pedaço do
casario colonial baiano que vai desaparecendo dia a dia. A junção desses
materiais com as figuras e símbolos cristãos determina uma perfeita identidade
e toda uma atmosfera da velha Bahia. Sim porque é justamente numa velha
ladeira- Ladeira de Santa Tereza, que encontra-se o seu atelier, também num
velho casarão bem próximo do Museu de Arte Sacra sua fonte inspiradora.
Sua
atual exposição está na Galeria Cañizares e tem belos trabalhos especialmente
uma Via Sacra que ele pretende vender na Bahia.São
14 peças de alta qualidade que retratam cenas do sofrimento de Cristo.
O
ARTISTA
Seu
nome é Jesuino de Oliveira, Zu Campos nascido em Vitória da Conquista, na Bahia
em 9 de março de 1939. Filho de um mestre de obras, aprendeu vários ofício.
Viveu no interior até 1958. No ano seguinte foi trabalhar no Museu de Arte
Sacra.
De
1959 a
1964 fez parte do quadro do Galícia esporte Club. Em 1968 desligou-se do Museu
e passou a viver de sua arte. É autodidata e criador de escola de entalhadores
baianos. Calmo e cuidadoso o mulato Zu Campos inicia os primeiros passos na
difícil arte da escultura. Um caminho natural para todos aqueles que militam
com a madeira na confecção de entalhes.
ESCULTURAS
HUMANAS DO NIKOLAIS DANCE THEATRE
Todas
as pessoas sensíveis deverão assistir os espetáculos do Nikolais Dance Theatre,
que serão apresentados no Teatro Castro Alves, nos dias 19 e 20 do corrente.
Trata-se de uma das mais originais companhias de ballet do mundo, e
recentemente realizou uma temporada de três semanas na Broadway, juntamente com
o Grupo de Dança de Murray Louis no Teatro Beacon, Nova Iorque, com sua lotação
de três mil cadeiras esgotada.
Seu
criador é Alwin Nikolais, de 65 anos de idade, baixinho e de vasta cabeleira
branca, que está no ruge de sua criatividade. È um dos inovadores e uma das
maiores expressões da dança moderna. Há 30 anos vem desenvolvendo o seu
trabalho sempre renovador. Um homem que cria movimentos, trajes, cenários e
iluminação, Já ensinou dança em diversas Universidade
americanas e coordenou vários seminários de verão. Diretor da Playhouse de Nova
Iorque, desde 1948, foi também presidente da Associação Norte Americana de
Dança, membro do Conselho de Artes do Estado de Nova Iorque, membro da comissão
de seleção do Instituto Internacional de
Educação, dentre outras atividades.
Ele
acredita que sua técnica coreográfica representa um meio de reunir
qualificações, através de movimentos livres e não moldados. Meu objetivo é
fazer com que o corpo responda a qualquer tio de dinâmica ditada pela
mente.Interesso-me pelo corpo humano como uma peça de escultura; disse
Nikolais.
O
critico do Washington Post Allan Kriegsman disse o teatro de dança de Nikolais
deveria ser apreciado por todas as pessoas
interessadas nas artes, quer interpretativas ou de outra natureza. Pode
parecer um pouco exagerado dizer-se que quem não viu o trabalho de Nikolais não
viveu.
Noumenon, de Nikolais Dance Theatre |
Durante
suas exibições em Salvador, Alwin Nikolais apresentará números novos, como
Styx, Triada e Guinhol e alguns já consagrados como Sanetum Vaudeville dos
Elementos, Noumenon, Tenda e Torre.
As
pessoas que já tiveram oportunidade de assistir, afirmam que os bailarinos do
Nikolais Dance Theatre ficam mais sem evidência em Tenda, considerado como o
trabalho complexo do repertório, devido ao emprego de projeção de slides e
varas.
Uma
imensa peça de fazenda carregada pelos dançarinos e suspensa, por fios de
arame, se transforma sucessivamente em dossel, manto múltiplo, e finalmente em
nuvem diáfana em forma de cogumelo.
As
cores deslumbrantes e a irresistível música eletrônica, produzem efeitos
sensacionais, e os dançarinos com malhas e máscaras co da pele parecem seres
extraterrenos. É uma manifestação artística que ficará gravada eternamente na
mente daqueles que terão oportunidade de assistir.
PAINEL
SÉRGIO
LEMOS - o pernambucano Sérgio Lemos está expondo pela primeira vez no Rio de
Janeiro na Galeria Signo, em
Ipanema. Um trabalho sem dúvida que sofre a influência de
João Câmara. Uma escola de pintura onde estão surgindo artistas de grande
talento e Sérgio é um membro desta plêiade.
Como
da Walmir Ayala a realidade tocou os artistas citados com a mesma iconografia,
e desencadeou um processo semelhante de interpretação técnica. Foto.
LOZANO
– o artista Francisco Lozano- está mostrando óleos, desenhos e esculturas na
Galeria da Sereia, na Ladeira da Barra. Nascido em Madrid, Espanha, Lozano fez
seus estudos na Ecole Nationale Superieure des Beaux-Arts de Paris e tem
exposições realizadas em vários países.
Por
outro lado, a galeria mostra dez placas de alumínio de Betty King.
NORTE
AMERICANOS- foi inaugurada a exposição O Bicentenário visto por artistas norte
americanos, integrada de 20 bandeiras, 12 gravuras originais duas séries de
cartazes e cinco serigrafias originais. São 50 trabalhos de renomados artistas.
SANDUARTE-
trazendo desenhos em bico-de-pena e guache, o artista Sanduarte mostrará dentro
em breve trinta trabalhos. Sua arte é ligada ao contexto vivencial de região
sanfranciscana.
ANTUNES-
apresentado por Jacob Klintowitz o pintor Antunes, que recentemente expôs em
Salvador está agora na Galeria Debret, em Paris. Uma artista de grandes recursos técnicos.
SIMEONE-
a Galeria Cosme Velho, São Paulo, organizou uma exposição de João Simeone. Ele
fez parte do famoso grupo Santa Helena, levou por muito tempo uma vida obscura
como a maioria dos componentes deste grupo. Faleceu em 1969 e esta mostra é uma
homenagem merecida.
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