JORNAL A TARDE , SALVADOR, SÁBADO, 10 DE
DEZEMBRO DE 1977
UM EXEMPLO
A empresa privada de porte além de visar o lucro, objetivo máximo do
sistema de livre empresa, tem obrigações para com a comunidade que lhes cerca.
É por esta razão que vejo com bons olhos a iniciativa da Sul América em
investir no setor artístico. Na música, no teatro, nas artes plásticas e até no
esporte amador, esta companhia de seguros está presente. Este exemplo poderia
ser seguido por muitas empresas privadas. Poderiam contribuir na impressão de catálogos e cartazes, etc. Vemos nas estações de televisão que alguns espetáculos de teatro e shows de cantores contam com anúncios publicitários e trazem o patrocínio desta
ou daquela empresa. Mas ainda é uma atuação que carece de força. Sim, carece de
uma maior vontade. O atendimento a este chamado significa que a empresa passa a
ser vista melhor pela comunidade, pelos artistas e consumidores. Demonstra um
dado importante dentro do marketing, porque forma uma imagem mais abrangente e
simpática além de colaborar juntamente com o Governo para o desenvolvimento
desses setores tão carentes de apolo.
Muitas
empresas baianas poderiam imitar ou seguir este exemplo desta companhia, que
não é novidade tomando a atuação de empresa na comunidade global.
Infelizmente
é um exemplo ainda raro em nosso país. Os empresários tem responsabilidade e
devem participar deste processo que ora estamos enfrentando. A omissão é um
grande pecado cultural. A falta de visão para uma abertura de seus gabinetes
afeitos aos executivos é uma prova de inteligência. O empresário não deve ficar
apenas como mero colecionador, porque tem capital e pode cobrar objetos
artísticos ou assistir espetáculos. Ele deve pensar também que outras pessoas,
também integrantes, da comunidade onde vive tem as mesmas necessidades. Para
atendê-las caba a ele empresário, que dispõe do capital e também ao Governo
através de seus órgãos culturais, atendê-las.
A
Sul América começou constituindo um importante e valioso acervo de aristas
brasileiros contemporâneos e hoje sua
coleção é uma das mais importantes do país. Nela encontramos obras de Di
Cavalcanti, Volpi, Pancetti, Djanira, Raimundo de Oliveira, Manabu Mabe, José
de Dome, Brennand, Teruz, Vicente do Rego Monteiro, Siron Franco e muitas
outras. Portanto um estímulo ao mercado de arte. Agora, que estamos ás vésperas
do Natal é hora dos empresários lembrarem que quadros são belos presentes e
agradam a todos. Portanto, podem estimular o mercado de arte baiano, que
basicamente vive de pouquíssimos colecionadores e dos turistas que aportam para
comprar quadros e oferecer a seus amigos e clientes. Assim estarão
proporcionando a sobrevivência de algumas galerias de arte, ajudando o artista,
é divulgando a nossa arte.
A
dedicação pelas artes é uma prova de inteligência e civilização. Arte é cultura
e como tal deve ser incentivada.
Deixem
de lado outros brindes que muitas vezes são verdadeiros trambolhos e visitem as
galerias e estúdios de nossos artistas, onde encontrarão valiosos e originais presentes.
UM
ÍNDIO ARTISTA DA TRIBO TIMBIRA
O cocar,os colares e o arco servem de símbolos para este índio artista |
No
Ceará trabalhou em algumas peças de teatro e fez muitas exposições coletivas e
individuais. Inquieto, veio para Salvador e aqui está estabelecido na Rua da
Poeira, 33, onde pinta seus quadros primitivos sempre retratando temas
folclóricos de sua terra. Uma fixação de infância que vem sendo acrescentada
com as informações que conseguiu captar em suas andanças.
Isaías
é um índio incapaz de viver no meio de sua gente porque já adquiriu todos os
costumes e vícios de nós civilizados. Mas seu físico, seus cabelos e seus
traços e sua pele servem de lembranças constantes para sua consciência. Talvez
por isso ele carrega dentro de uma sacola um cocar de penas de araras e uma
tanga ricamente trabalhada, que normalmente é usada por seus parentes deixados
na cidade de Cândido Mendes, no Maranhão.
Ele
não sabe quase nada de sua tribo. Não sabe nem por onde andam suas irmãs, já
que seus pais faleceram.Não
sabe nada da família que lhe criou. É um artista, e como tal gosta do que faz.
Vive exclusivamente para sua arte, uma arte primitiva, uma arte rica do ponto
de vista de uma visão de vida. Uma arte calcada nas informações que possui. É
meticuloso e calmo, um traço marcante de silvícola. Não gosta de muita
conversa. É desconfiado. Trabalha sozinho e leva os seus trabalhos para o Hotel
Méridien onde consegue vendê-los por CR$ 1.500,00 cada um. Assim vai vivendo em
busca de uma realização maior que lhe estava sendo proibida.
TOCAR
NAS OBRAS DE ARTES É QUEBRAR VELHO TABU
Os cegos procuravam tocar em tudo para uma integração na ambiência do Museu |
O Projeto Visão Tátil apareceu, desde o mês de agosto, inicialmente com visitas
guiadas numa fase experimental, a fim de constatar se os cegos estavam captando
ou não a mensagem do artista plástico. O resultado foi bastante positivo e o
mito da proibição de não se tocar nos objetos de arte em museus foi eliminado.
O deficiente da visão só passou a tocar
os objetos através deste ato foi possível desenvolver a sensibilidade,
levando-os a conhecer e analisar as variadas formas, texturas, dimensões e
espaço existentes na obra de arte.
Os
artistas selecionados para a mostra representam várias tendências e são
oriundos de várias gerações das artes plásticas na Bahia: Mário Cravo Neto,
Mário Cravo Júnior, Arlindo Gomes, Jamison Pedra, Madalena Rocha e outros, num
total de quatorze obras em madeira, alumínio, acrílico, metal e até elementos
em estado natural, como a água. Os trabalhos não foram realizados especialmente
para a mostra e os cegos, por intermédio do sentido tátil, iam captando e se
extasiando com os objetos de natureza estética.
PRIMEIRA OPORTUNIDADE
No Salão do MAB onde estavam expostos os trabalhos, os cegos ficaram contentes. Para a grande maioria, aquela tinha sido a primeira oportunidade de participar como visitante de uma exposição artística. Eles tocavam nos objetos artísticos, expressando em seguida o que sentiam, qual a forma e a mensagem lançadas pelo autor da obra.
Nadir,
que ensina música no Instituto dos Cegos, estava entusiasmada em poder
vivenciar as emoções, que uma obra de arte pode transmitir ao ser humano,
apesar de ter uma grande tristeza na sua vida que é a de não poder enxergar os
quadros de seu irmão Rubem Valentim. Jonivaldo Cordeiro dos Santos tocava nos
objetos e depois de uma certa concentração, ia descrevendo as formas,
especialmente do trabalho Tritão e Sereia com Concha e Pérola, de Arlindo
Gomes.
Causou
um certo impacto neles a obra de Mário Cravo Neto feita de fibra de vidro com
formas que flutuam dentro d’água. Não sei exatamente o que seja, dizia Pedro.
Parece um bicho do mar... ou talvez uma caveira, Olhe as orelhas! Opiniões como
esta eram ditas a todo momento, causando sempre um ambiente descontraído.
Outros reagiam de uma forma mais calada e quieta, tocando os objetos com
suavidade e descrevendo com minucias de detalhes os movimentos e os
significados dos trabalhos expostos.
SENSIBILIZAÇÃO
O projeto visão não só objetiva o entrosamento do deficiente da visão com todos os setores educativos e culturais diz a professora Ana Lúcia Peixoto, como também, numa ampla dimensão, mostrar que a arte, embora seja de extrema visualidade, também pode ser tocada e sentida atingindo a sensibilidade de cada indivíduo.
O
museu é uma das formas de transmissão de conhecimentos que se faz por
intermédio dos objetos. Ele leva o indivíduo a exercitar a imaginação,
conduzindo-os a experimental sentimentos de satisfação e gosto,
proporcionando-lhe, enfim, educação.
Cada
objeto não traz dentro de si uma mensagem única, certa e determinada. A obra de
arte desperta em cada pessoa uma sensação, e ao lado da mensagem do artista, o
consumidor também projeta a sua sensibilidade na compreensão da obra. Este
projeto se apresenta com uma proposição de normas e critérios para o
desenvolvimento da sensibilidade, conclui Ana Lúcia, diretora do Museu de Arte
da Bahia.
O PORTUGUÊS ALBANO NEVES NA CREDICARD
O
português Albano Neves e Souza há quarenta anos que vem pintando, pois realizou
sua primeira individual em 1937, em Luanda. Tem um vasto curriculum e uma carreira
pictórica invejável. Agora nos mostra a partir do próximo dia 13 alguns
trabalhos inspirados em motivos africanos, sua grande paixão. Como diz Carybé:
Minucioso, estudioso, cioso de seu trabalho traz tudo documentado em dezenas de
pastas de desenhos e apontamentos feitos ao vivo no vaivém dos mercados, ou no baticum estrondoso dos atabaques de lá. E
há incêndios e misteriosas plantas do deserto, luares e madrugadas brumosas. Eu
acrescentaria, e lindas negras com seios desnudos capazes de penetrar em rudes
roupagens.
PAINEL
FORMANDOS-
Está aberta a visitação pública a exposição coletiva dos formandos em Belas Artes da
Universidade Federal da Bahia. A mostra reúne alguns trabalhos de certa
qualidade e outros que não deveriam ser expostos porque realmente vem constatar
uma afirmação de que artista não de faz nos bancos escolares. De qualquer
sorte, agora profissionais, muito terão que desdobrar seus esforços para
conseguirem um lugar ao sol. Espero que esta nota sirva apenas de estímulo para
que os novos profissionais sintam a necessidade de renovação e especialmente de
modernidade.
ESMALTE-
o Sérgio Sampaio expõe na Le Dome Galeria de Arte uma técnica mista que
trabalhando sobre o metal consegue alguns efeitos que lembram objetos de
joalheiro. Bem acabados, seus trabalhos tratam quase sempre das mulheres e de
figuras sacras, como temas centrais, circundando-as com adornos leves e
bonitos. (Foto)
II
FEIRA- no próximo dia 17, O Cavalete Galeria de Arte está promovendo a sua
II Feira de Arte a partir das 10 horas no jardim do Rio Vermelho, em frente á sede da Galeria. Jacy espera reunir um grande número de pessoas pois muitos artistas estarão participando com trabalhos de qualidade.
II Feira de Arte a partir das 10 horas no jardim do Rio Vermelho, em frente á sede da Galeria. Jacy espera reunir um grande número de pessoas pois muitos artistas estarão participando com trabalhos de qualidade.
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