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quinta-feira, 2 de maio de 2013

A PALAVRA ESTÁ MORTA.VAMOS DAR FORMA AO MUNDO


JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 25 DE JUNHO DE 1977



Embora com inauguração oficial prevista para o próximo dia 30, a exposição de reproduções das obras dos artistas integrantes do Movimento Anti Barroco De Stijl está aberta, desde o último dia 22 á visitação pública, no Museu de Arte Moderna da Bahia, no Unhão, numa promoção da Fundação Cultural do Estado e do Consulado Geral dos  Países Baixos.
É uma exposição com fins didáticos, reunindo 36 pranchas de trabalhos de pintura, arquitetura, mobiliário, desenho industrial, artes gráficas, fotografia e literatura de Piet Mondriaan, Van Doesburg, Hans Arp e outros que aderiram ao De Stijl.
O movimento cuja essência é a retratação dos fatos sociais através a arte, surgiu na Holanda, em 1917 e seus fundadores divulgaram seus trabalhos, criando a revista De Stijl, com grande repercussão no exterior. O movimento não se restringiu ás artes plásticas, voltando-se igualmente para novos desenvolvimentos em literatura, dança, música, cinema, artes gráficas, arquitetura e para as mudanças sociais de forma geral. Seu apogeu foi de 1917 a 1931.
Os progressos que  a humanidade vem promovendo e assistindo em vários campos da atividade produzem reações as mais variadas no comportamento político, econômico e social das comunidades. Por isto, não foi uma obra do acaso que em 1917 surgiram grupos de artistas progressistas que viam um grande distanciamento entre a classe dominante e os trabalhadores. Na Rússia surgiu a revolução que veio mudar todo o sistema de governo com reflexos em vários países.
Mas é a Holanda que nos interessa porque foi aí que surgiu um grupo de artistas que publicou a revista De Stiji, que veio influenciar artistas de diversos continentes.
Inicialmente composto pelos pintores Van Doesburg, Mondriaan e Huszar, arquiteto Oud e o poeta Antony Kok, que buscavam uma forma de arte que fosse ditada exclusivamente por conceitos artísticos. Estes eram a linha, a composição, a cor e o espaço bi ou tridimensional. Assim os toques individuais ou pessoas, tão importante para o artista, deveriam ser  excluídos, pois isto implicava na abolição de tudo que fosse expressionista, acidental, efêmero, trágico, dramático ou lírico.


Daí surgiu o  Manifesto I em 1918 que diz:
1)      Existem duas concepções de tempo: a antiga e a moderna. A antiga volta-se para o individual. A moderna, em direção ao universal. A luta do individual contra o universal manifesta-se tanto ao conflito mundial quanto na arte de nosso tempo.
2)    A guerra está destruindo o velho mundo e tudo que nele existe: a supremacia do indivíduo em todas as áreas.
3)      A nova arte revelou o conteúdo da nova concepção do tempo: uma equilibrada relação entre o individual e o universal.
4)      Esta nova consciência está preparada compreender tanto a vida interna quanto a vida externa.
5)      As tradições, os dogmas e o domínio do individual são contrários a esta compreensão.
6)      Os fundadores a nova arte plástica apelam portanto para todos os que acreditam  na reforma da arte e da cultura, para que aniquilem estes obstáculos ao desenvolvimento, como já o fizeram na nova arte plástica pela abolição da forma natural que impede a clara expressão da arte, a suprema consequência de toda a inspiração artística.
7)      Os artistas de hoje empolgaram o mundo inteiro para esta nova concepção e assim sendo, participaram, no Âmbito intelectual, desta guerra contra o domínio do despotismo individual.
Desta forma, solidarizam-se com todos os que trabalham para a criação de uma unidade internacional em Vida, Arte, Cultural, quer intelectual quer materialmente.
8)      As edições mensais de De Stijl, fundado com este propósito, tenta atingir, de maneira precisa, esta nova sabedoria de vida. É possível cooperar:
9.1- Enviando noções de apoio, com nome, endereço e profissão ao editor de De Stijl.
9.2- Enviando artigos ou reproduções de crítica, filosofia, arquitetura, ciência, literatura ou música.
9.3- Traduzindo artigos em diferentes idiomas e divulgando os pensamentos e idéias publicadas em De Stiji.
Este primeiro manifesto do grupo vinha assinado por Theo Van Doesbryg, Vilmos Huszar e Piet Mondriaan pintores; pelos arquitetos Robot, van T. Hoff e Jan Wils: o poeta Antony Kok e o escultor O. Vantongerloo.
O que achamos essencialmente gratificante é o ideal de solidariedade e trabalha coletivo pregados por Theo Van Doesburg que foi o grande teórico do movimento e organizador do grupo. Sua capacidade de liderança levou os membros do grupo a manterem contatos em Weimar, na Alemanha com os integrantes do movimento Baubaus e também em Paris. Isto fortalecia as idéias pregadas no primeiro manifesto e já nos últimos anos de vida e inquietude que lhe era natural levou-o a lançar o Elementrismo, que era oposto ao neoplaticismo.

O II MANIFESTO
Em 1920 o Manifesto II ocupa-se especialmente da Literatura. Vejamos:
LITERATURA
O organismo da Literatura contemporânea ainda se alimenta exclusivamente do sentimentalismo de uma geração.
A PALAVRA ESTÁ MORTA
Os clichês naturalistas e os dramáticos filmes mundiais a nós fornecidos pelas técnicas de livros e metro e a quilo. Nada contém de nossa nova e corajosa maneira de encarar a vida.
A PALAVRA ESTÁ IMPOTENTE
A asmática poesia sentimental do seus e do eles em toda a parte e especialmente na Holanda ainda perpetrada sob a influência de um individualismo estrangulador de espaço. Relíquia fermentada de uma época obsoleta nos enche de repugnância.A Psicologia em nossa ficção tem raízes somente na imaginação subjetiva. A análise psicológica e outras retóricas obstrutivas realmente. Destruíram o Sentido da Palavra.
Bem arrumadas frases sobrepostas ou em sequência. Esta árida estrutura Frontal de frase pela qual os antigos realistas externavam suas introvertidas experiências é to ineficaz e impotente para expressar as experiências coletivas de nossa era como a antiga concepção da vida . Os livros se baseiam em Extensão e Duração eles são volumosos . A nova concepção da vida fundamenta-se em Profundidade e Intensidade esta é a poesia que queremos. Para dar forma aos variados eventos a palavra em nós e à nossa volta deve ser restaurada em significado e em som.
Enquanto na velha poesia o significado imanente do mundo parece dominada por emoções relativas e subjetivas. Desejamos por todos os meios à nossa disposição sintaxe,prosódia,tipografia,aritmética e ortografia dar à Palavra um novo significado e um novo poder de expressão. A dualidade da aprosa e da poesia não pode perdurar . A dualidade do conteúdo e da forma não pode perdurar. Portanto, a forma deverá ter um significado claramente espiritual para o escritor moderno que não descreverá ações que em verdades Descreverá de todo que simplesmente Escreverá.
Ele Recriará através da palavra o Conglomerado de Ações. Uma Construtiva Unidade de Conteúdo e Forma.
Contamos com o apoio moral e estético de todos que trabalham para a renovação espiritual do mundo .
Leiden - Holanda abril de 1920
Theo van Doesburg
Piet Moodriaan
Antony Kok

No Manifesto III o grupo De Stijl dizia:
Para dar forma a um novo mundo.
O espírito agora é soberano. Os capitalistas são uma fraude, porém, os socialistas o são igualmente. Os capitalistas são uma fraude, porém os socialistas o são igualmente. Os capitalistas desejam devorar montes de dinheiro, gente, carne, porém os socialistas querem devorar os capitalistas. Quem é pior? Quem levará a melhor? Para nós é indiferente. Sabemos apenas de uma coisa: somente aqueles que estão imbuídos do novo espírito mantém-se de pé.
Eles desejam apenas dar.
Desinteressadamente. Eles podem ser encontrados em todas as raças, em todos os países. Eles estão libertos de fase especiosas, eles não se chamam uns aos outros de irmão, mestre ou Camarada. Eles falam uma linguagem espiritual de mútua compreensão. Os indivíduos deste novo espírito não formam uma seita, igreja ou escola.
No velho mundo, a concentração espiritual Cristianismo e natural capitalismo formavam o eixo em torno do qual revolviam as nações.
Hoje, o elemento espiritual está disperso. Entretanto os que arvoram este novo espírito estão unidos. Em espírito.

A Europa não tem saída.
O Cristianismo e o capitalismo, o individualismo espiritual e material, que constituíam os fundamentos da Velha Europa, são a causa de sua presente escravidão. Ela não pode libertar-se. Caminha para a destruição. Nós a observamos com indiferença, mesmo se pudéssemos ajudar, não o desejaríamos. Não queremos prolongar a vida desta velha prostituta. Porém em nós uma nova Europa começa a se delinear.
Estas ridículas internacionais Socialistas, Primeira, Segunda e Terceira, eram apenas uma exibição, um mero tecido de palavras.
Nossa internacional é espiritual e tácita. Ela não se baseia em palavras mas em ação criativa e em força, viva e eminente. Força do espírito. Com ela, estabeleceremos a estrutura de um novo mundo. Não conclamamos as nações aos gritos de Uni-vos, ou Alistem-se.
Nós de forma alguma as chamamos. Sabemos que os que a nós se juntarem, o farão impulsionados pelo novo espírito. Somente eles serão capazes de criar a foram espiritual do novo mundo. Ao trabalho! 






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