JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA , 27 DE NOVEMBRO DE 1989
Ângela ao lado de um desenho de técnica mista que vai expor |
Está
de volta, para a nossa alegria, Ângela Cardoso, que passou uma temporada
afastada das telas e do circuito artístico por opção e outras preocupações
particulares. Aliás já lhe falei pessoalmente que esta sua opção nos privou do
acompanhamento de sua produção.
Mas,
o que importa é que chegou e está aí para lutar por um lugar a sol, com muita
garra, alguma inibição e até nervosismo. Mas ela é assim mesmo e tenho certeza
que dentro de pouco tempo estará caminhando célere em busca de uma produção
pictórica de boa qualidade. Essa exposição que inaugura no dia 30 na galeria O
Cavalete já é uma pequena amostra de sua potencialidade e principalmente de espontaneidade
como seus personagens vão surgindo e ocupando o branco da tela ou do papel. É
uma pintura doce, que na leveza do traço e do colorido, revela exatamente a sua
própria maneira de ser.
Para
melhor compreensão desta artista transcrevo um texto de Zivé Giudice inserido
no catálogo e outro que fiz para essa exposição da Ângela.
Vejamos: Existem
artistas cuja obra é essencialmente cerebral, pensada, rigorosamente
sintonizada com certas tendências e o seu tempo.Existem
artistas cuja obra surge espontaneamente da necessidade de revelar certos
sentimentos e energias. Ângela Cardoso é uma artista assim.
Com
uma carreira recente, surgiu no 1ª Salão Baiano de Artes Plásticas, 1988,
premiada no 2ª Salão Baiano, 1989, mas com uma produção considerável, até porque
ela sabe e acredita que, só assim, trabalhando muito, será possível obter
resultados em favor da sua obra. Ângela Cardoso já se insere entre os novos
talentos das artes plásticas na Bahia. A sua produção atual nos revela um
trabalho mais depurado onde certos artifícios começam a dar lugar a uma ideia,
um pensamento. Avanços discretos, mas com sabedoria e a paciência de quem sabe
que também o tempo é imprescindível- Zivé Giudice.
Sua
vivência entre seus cinco filhos deu-lhe um sentimento maternal de alegria. Uma
alegria que está estampada nos risos de mulheres fartas, preguiçosamente
deitadas ou recostadas e nos muitos elementos circenses que povoam o seu mundo
pictórico.
Depois
de permanecer três anos sem realizar qualquer obra com cunho profissional, Ângela
Cardoso retorna, e retorna com o pé direito ficando em seu aprendizado e em sua
percepção. Ela consegue trabalhar bem com
os pastéis oleosos, com guache, e acrílico, unindo técnicas e sempre
procurando preencher todos os espaços das telas.
As
cores são trabalhadas, e com isto não temos cores cruas. Acredito que
facilmente Ângela Cardoso vai ocupar um lugar de destaque no mercado de arte
baiano porque ela tem o potencial e
disposição para enfrentar os tortuosos caminhos da profissão- Reynivaldo Brito.
GALERIA
ABRE COM OBRAS DE RAIMUNDO OLIVEIRA
Começa
bem a Galeria de Arte Ada que estará funcionando a partir de amanhã na Alameda
Antunes, nº18, na Barra sob a direção de Adailda e do publicitário Fernando
Carvalho. Para marcar a abertura desse novo espaço cultural, eles programaram
uma individual do saudoso e festejado Raimundo Oliveira, inclusive o catálogo
convite da inauguração traz uma foto desta obra do pintor feirense, que
reproduzo acima. Também é muito positiva a disposição dos proprietários da galeria
em prestar uma homenagem permanente ao mestre Clarival Prado Valadares, fixando
o seu nome em ambiente desse espaço cultural, como também de Raimundo Oliveira.
Falo
com alegria desta homenagem, especialmente a do mestre Clarival pela sua
sabedoria e simplicidade. Lembro do convite que Ivo Vellame lhe fez para ser
jurado de um salão que organizou e, com que respeito e cuidado ele emitia
conceitos ou pareceres sobre as obras de artistas iniciantes. Sua palavra era
sempre marcada pela conciliação.
Por
outro lado, o surgimento de um novo espaço para a arte é sempre visto por este
colunista com muita alegria e disposição de incentivar para que surjam outros.
O artista baiano precisa ser mostrado e apresentado profissionalmente,
afastando alguns aventureiros que confundem comercializar arte com vender
bananas por trás do balcão de uma quitanda.
Tenho
plena certeza que Adailda e Fernando vão dar mais uma demonstração de
competência, administrando profissionalmente a Ada Galeria de Arte e que este
espaço seja realmente um elemento propulsor do movimento artístico da Bahia.
CÉSAR
ROMERO VAI EXPOR SEUS SIGNOS EM BRASÍLIA
Faixa Emblemática,obra de César Romero |
O
artista César Romero abre uma nova exposição amanhã na La Galleria de Brasília onde
vai mostrar suas faixas emblemáticas até o dia 12 de dezembro. São 25 pinturas
e um recorte executados nesses últimos dois anos, utilizando liquitex sobre
tela. Os formatos, informa o artista, variam de 60x60 a 100cm x 100cm.
César
Romero tem ocupado quase todo o seu tempo e energia em busca constante e ininterrupta
de uma visualidade brasileira, correndo atrás de uma semiótica nordestina, que
é traduzida de forma plástico-visual. Entende César que sua arte enquanto
linguagem, é uma sucessão de símbolos de raízes ancestrais, que emerge do
popular.
São
11 anos de trabalho onde ele vem coletando, reinterpretando e recriando uma
coerência interna e registrando as marcas que o povo criou. César diz ainda que
as colchas de retalhos feitas cuidadosamente com muita criatividade pelas
mulheres pobres nordestinas lhe interessaram pela variedade de cores, formas e
as texturas diferenciadas. Daí evoluiu para uma representação plástica onde o
movimento surge dando mais vida ainda àquela peça importante do artesanato
nordestino.
O
artista não se acanha em dizer que sua obra pretende ser uma espécie de memória
do meu povo. Há um lado seletivo em mim, um lado de escolha intelectual, onde
filtro o popular, que é sempre raiz e o transformo numa meta-linguagem,
recriando os sinais populares. Sempre estive ligado ás manifestações populares.
Hoje
ele cuida muito da pintura nos seus valores intrínsecos, porque a minha pintura
está com novos signos pesquisados em recentes viagens pelo Nordeste. Tenho
buscado novas cores e entonações.
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