JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 10 DE SETEMBRO DE 1977
No
próximo dia 13 estará expondo na galeria
da Pousada do Carmo o artista Ângelo de Aquino reunindo pinturas e desenhos. Em
sua exposição realizada no ano passado na galeria Luiz Buarque de Holanda, no
Rio de Janeiro, dizia Ângelo que a arte que eu fiz até aqui, e que muitos como
eu fizeram, estava levando artistas e espectadores, críticos para um túnel
escuro, sem saída. Poucos participavam efetivamente de seu conteúdo. Seu
hermetismo fez nós solitários e marginais. Vivíamos fechados numa espécie de
clube de corações solitários. Não, eu não quero ser um herói da arte, não quero
ser marginal consagrado.Quero
viver da pintura.Quero
especializar-me.Até
bem pouco tempo, para sustentar o tipo de arte que fazia, atuava como macaco de
circo fazendo de tudo.
Um
desabafo de um artista consciente que busca incessantemente uma comunicação
maior com o seu público. Mas para isto necessita de subsídios que lhe garantam
a subsistência para que suas mensagens sejam espalhadas por todos os lugares e
consumidas por um número maior de pessoas. Ele tem idéias e conhecimento do
mercado de arte no país, pois já expôs em vários estados brasileiros e até no
exterior. Tem um vasto curriculum e consta de várias publicações especializadas
em arte de outros países.
Disse
Ângelo em 1976:
As
galerias de arte, hoje, não querem mais investir no artista, principalmente se
ele for jovem. Não querem correr nenhum risco mais, só querem especular. Não se
interessam por nada do que está acontecendo, mas apenas pelo artista
consagrado, ou morto. No início da década de 60 existiam aqui marchands que
investiam no artista jovem, de vanguarda. Ganharam muito dinheiro, mas deram
sua contribuição á nossa arte. Hoje, para a maioria das galerias tanto faz
expor ou não expor, e se promovem uma exposição não se importam com a venda.
Porque seu lucro vem da especulação com obras de autores consagrados ou
best-sellers. Se eu vender toda a minha exposição darei á galeria um lucro de
CR$ 50 mil. O que significa isto diante do que se pode ganhar com a venda de um
único Portinari? A situação, portanto, é dramática. Ninguém estar tentando
criar mercado de arte para as novas propostas e novos artistas. Não haverá uma
terceira posição entre o artista marginal e o best-seller? Devo acreditar que
existe, caso contrário, é o suicídio, é o suicídio. É preciso pensar outras
alternativas, uma delas, quem sabe, seria a reunião de artistas em torno de uma
galeria administrada pelos próprios artistas.
Estas
e outras informações foram prestadas por Aquino em 1976.
Como
a vida é um processo dinâmico e só os loucos têm idéias fixas é possível que
este artista tenha amadurecido e até fortalecido estas idéias e afirmações que
considera da maior importância. Sempre pauto por uma defesa intransigente dos
artistas que suam diante de seus cavaletes noites adentro em busca de novas
formas e expressões. Sempre defenderei a necessidade de um maior cuidado para
com os jovens que necessitam de apoio e incentivo. Porém, é preciso critérios
para que não corramos no erro de apoiar jovens artistas sem qualquer
possibilidade de profissionalização, porque não dispõem de condições para
criação de qualidade. Aguardo Ângelo de Aquino, com a certeza de que suas
idéias estão mais firmes e que sua mostra seja realmente tão significativa
quanto àquela que realizou em 1976 no Rio de Janeiro.
ANNA
CAROLINA EXPÕE GRAVURAS NA
GALERIA MACUNAÍMA
GALERIA MACUNAÍMA
Com
uma série de vinte e duas gravuras recentes, muitas das quais com colagens,
a gravadora Anna Carolina apresenta na
Galeria Macunaíma, uma nova exposição individual, co apresentação do crítico
Walmir Ayala.
Carioca
de nascimento, Anna Carolina começou a participar de salões de arte a partir de
1975, no I Salão Nacional de Desenho e Artes Gráficas, onde conquistou Medalha
de Prata. Neste mesmo ano, além de participar de vários salões oficiais, foi
também premiada no II Concurso Nacional de Artes Plásticas de Goiás e no 32
Salão Paranaense.
Anna
Carolina aprendeu xilogravura com José Altino, na Escolinha Arte do Brasil e
frequentou o atelier livre de Abelardo Zaluar. Em 1975, realizou sua primeira
mostra individual na Oficina de Arte em Barra Mansa. Em
1976, expôs individualmente no Centro de Pesquisa de Arte no Rio de Janeiro, e
no Museu Guido Viaro, em Curitiba.
O
telefone tem sido um dos enfoques mais constantes de Anna Carolina, vinculado a
símbolos repressivos como a tesoura, o nó, o cadeado, o revólver, conceituando
sua idéia com a impressão da gravura na própria página da lista telefônica.
Atualmente utilizando colagens, Anna Carolina prossegue em sua pesquisa
associando novos símbolos, salsicha/dedo, cigarro/dedo, em gravura que
apresenta nesta mostra na Galeria Macunaíma.
DOIS
ESCULTORES
Tati
Moreno e Margareth Moura exporão a partir do próximo dia 23 na galeria O
Cavalete, no Rio Vermelho. Margareth
é gaúcha de nascimento, e está radicada em São Paulo. Tem
trabalhos em vários museus, já tendo recebido o prêmio da Bienal de São Paulo
em 1974.
A
escultora gaúcha vai expor seus últimos trabalhos em bronze e Tati Moreno
realizou sua última mostra na galeria do Hotel Meridien, e, agora, volta com
novos trabalhos frutos de seu talento criativo. Vamos aguardar que será um
importante acontecimento nesta cidade cheia de pintores e pobre em escultores. Na foto
um trabalho de Margareth.
UMA DESCOBERTA IMPORTANTE
Reprodução de uma cena da Dança Macabra, autor não especificado |
No
momento, circula no mercado uma edição fascinante do caderno de desenho
original que, em Amsterdan, está sendo exibido como parte de uma grande
exposição em homenagem a Rubens. O álbum, com capa de couro, traz 44 desenhos
da Dança Macabra, de Holbein, anteriores a 1600. Estes dados constavam do
catálogo do leilão de Mak van Waay, editado em setembro de 1969. Esta
observação, acompanhando uma das reproduções, aguçou a curiosidade do
bibliofilo H.D. Fann.
No
momento, circula no mercado uma edição fascinante do caderno de desenho
original que, em Amsterdam, está sendo exibido como parte de uma grande
exposição em homenagem a Rubens. O álbum, com capa de couro, traz 44 desenhos
da Dança Macabra de Holbein, anteriores a 1600. estes dados constavam do
catálogo do leilão de Mak van Waay, editado em setembro de 1969. esta
observação, acompanhando uma das reproduções, aguçou a curiosidade do
bibliófilo H.D. Pfann.
Através
dos Ex Libris da contra-capa, ele reconstruiu interessante história. Após a
pesquisa do professor Van Regteren Altena, ficou claro que os desenhos não eram
originais.
Holbein
gravou a Dança Macabra em madeira, em tamanho menor que os desenhos do livro
descoberto. Tudo indica serem os desenhos meras cópias. Mas de quem?
O
professor Van Regeteren Altena lembrou então certo fato relatado em livreto do
pintor Joachim Von Sandratt que, em 1627, se encontrara com Peter Paul Rubens.
Quando ambos viajavam em direção ao norte dos Países Baixos. Rubens
aparentemente ia se encontrar com alguns colegas pintores, porém, em realidade
buscava realizar um contato diplomático secreto visando uma possível paz com a
Espanha.
Rubens
almoçou com Honthorst em Utrecht. Partindo
dali para Amsterdam, viajando pelos canais em um barco trekschuit o cinquentão
Rubens contou ao jovem colega Sandrart que, quando estudante, estudara os
trabalhos dos mestres alemães Dürer, Stimmer e Holbein, deste último copiando a
Dança Macabra.
Morrendo
Rubens, seu aluno Jan van Boechorst herdou o livro de desenhos. Num leilão em
Paris, em 1771, um emissário da Rússia adquiriu-o para presentear o Tzar em Petersburgo. Mais
tarde um esperto livreiro de Paris o readquiriu, e por intermédio dos príncipes
de Liechtenstein Fê-lo chegar às mãos de Pfann, em Amsterdam.
Durante
todo o tempo era crença geral que se tratava de uma obra de Holbein. Suposição
sem fundamento. O professor Regteren Altena considera estas cópias de Holbein
feitas por Rubens como os mais antigos trabalhos conhecidos do mestre de
Antuérpia.
O
pequeno álbum, de autor agora identificado, é atração na mostra comemorativa
dos 400 anos da morte de Rubens. Segurado contra roubo pela quantia de meio
milhão de florins, foi comprado há tempos por Pfann por apenas 3.800 florins.
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