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sábado, 4 de maio de 2013

O MERCADO DE ARTE


JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 18 DE JUNHO DE 1977

No exterior são realizados  leilões
que viram notícia em todo  mundo
Entro numa sala onde estão expostos diversos objetos de arte entre telas, desenhos, esculturas, e tapeçarias. Numa carteira improvisada uma mocinha ou um rapaz sonolentos passam uma tarde chata e ficam assustados com meus passos, pensando que chega um possível comprador ou colecionador de obras de arte. Na realidade é um visitante que não deseja comprar nada, mas simplesmente examinar como anda o movimento de arte em Salvador. A conclusão não poderia ser outra: tudo parado! Parado à espera que os turistas do sul do País ou algum estrangeiro aportem em Salvador, em busca de uma lembrança da Bahia. Digo isto porque a maioria busca exatamente quadros de primitivos. Talvez seja daqueles, que está exatamente nos primitivos à essência de uma arte nacional, pois eles ainda não foram consumidos pelos modismos e outros ismos não degradantes que assistimos impassíveis.
Este é o quadro desolador e uma prova evidente é o número de exposições realizadas este ano. Poucas. As mais expressivas foram realizadas pelo Museu de Arte Moderna, sem fins comerciais. As demais poderíamos destacar uma meia dúzia que merecem destaque. Prefiro não relacioná-las para evitar, maiores constrangimentos. Conhecendo de perto as necessidades dos nossos marchands e também a imobilidade que toma conta de todos, escolhi para entrevistar o Dimitri Ganzelevitch por ter uma experiência européia, e, também por sua maneira de trabalhar que gera polêmica com alguns artistas. Disse Dimitri que vejo uma mudança no mercado de arte da Bahia, com a presença de um público nas galerias. Antes o público nas galerias. Antes, o público ia comprar diretamente em mãos dos autores. Uma prova disto é que os próprios artistas já procuram também as galerias para expor seus trabalhos.
Portanto, começa a surgir uma pequena evolução e as galerias já colocam trabalhos, obedecendo a determinados critérios, especialmente, da qualidade da obra.
Ele defende que o marchand é um mal necessário para a arte e para o artista. Pois o artista não pode mais ficar em casa pintando, esperando que de verão em verão apareça um possível comprador porque já estamos numa metrópole com mais de um milhão e duzentos mil habitantes, com dezenas de artistas produzindo e isto mostra que existe uma concorrência. Por isto mesmo, o comprador procura as galerias onde encontra uma certa variedade de  bons trabalhos expostos e  o artista percebendo este fato procura a galeria.
Estas afirmações de Dimitri Ganzelevitch são verdadeiras e demonstram que ele vem acompanhando e se informando do que vinha acontecendo e sobre o que está ocorrendo. Ressalto, no entanto, que pouca coisa mudou. O número de colecionadores baianos é muito reduzido, porque estamos num estado de condições de adquirir obras de arte, embora saibamos que muitas galerias vendem a crediário. O movimento nas galerias sofre uma queda na chamada baixa estação e aumenta na época em que os hotéis ficam abarrotados de turistas. O estrangeiro corpora trabalhos baratos primitivos e o chamado turista interno paulista, gaúcho, carioca, especialmente vem com a determinação de comprar trabalhos de artistas baianos consagrados. Mesmo assim este movimento ocasional não permite um desenvolvimento maior das galerias e certamente muitas poderiam a qualquer momento cerrar suas portas. Com isto não quer dizer que desejo o desaparecimento de qualquer galeria. Pelo contrário, gostaria, que a Fundação Cultural e outros órgãos estaduais dessem apoio ás galerias no sentido de incentivar a realização de exposições. É preciso pensar antes de comercialização, na cultura baiana e no prestígio que a Bahia desfruta no sul do País, como celeiro de bons artistas. Basta lembrar: Rubem Valentim, Emanuel Araújo, Jenner Augusto, Mário Cravo Filho e Neto, Floriano Teixeira, Carybé e muitos outros. Portanto, resta que os homens encarregados da política cultural procurem atrair os bons marchands para que possamos realizar trabalhos de grande significação, como por exemplo, grandes salões e exposições.

                             PAINEL

LAZER CHEGOU- recebi o segundo número da revista Lazer  de histórias em quadrinhos e passatempo que traz excelentes desenhos de Cedraz. A revistinha está sendo vendida nas bancas de jornais. A qualidade dos desenhos de Cedraz é indiscutível, embora espero que o artista amadureça mãos ainda as historinhas. Os editores de Lazer merecem todo nosso estímulo.



DEZ ANOS- Iniciando as comemorações do seu décimo aniversário a Panorama Galeria de Arte reuniu trabalhos dos artistas Anita Dantas, Antonio Sibasolly, Carlos Simas, Déa Miranda, Djalma Barros, Ivonete, Mireles, Oswaldith pinturas e esculturas de Renato Camargo e desenhos de Walter Morais. A mostra vai até o dia 26.
BATISTA- o entalhador Batista expõe em Bonn, na Alemanha trabalhos aonde aborda temas primitivos.
Durante o vernissage compareceu o embaixador do Brasil na Alemanha, Sr Jorge de Carvalho e Silva. Na foto, o artista e sua esposa. ( Foto)

SUCESSO DO SALÃO- Representantes de oito estados nordestinos já confirmaram sua participação do I Salão Universitário de Artes Plásticas que será realizado em Salvador e que tem como coordenador o professor Ivo Vellame. Ele acaba de retornar da viagem que fez ao Nordeste onde manteve contatos com diretores de escolas e universitários mostrando os detalhes do regulamento do Salão.
O Salão será uma das promoções que integram o Festival de Arte, que se estenderá de 4 a 29 de julho. As inscrições estão sendo realizadas na Escola de Belas Artes e os prêmios totalizam CR$50 mil cruzeiros.
A viagem do coordenador do Salão visou especialmente conseguir uma ampla participação de artistas do Norte e Nordeste para que possamos ter uma visão global da arte que está sendo desenvolvidas nestas regiões. Por outro lado, possibilitará o intercâmbio das Escolas de Belas Artes em benefício para o estudante. Daí resultou a confirmação da presença de representantes dos estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão, além da Bahia.
Os universitários que desejarem participar do Salão, independente de técnica ou categoria, poderão apresentar no máximo três trabalhos, entendendo-se por trabalho uma peça ou conjunto de peças nas quais se desenvolve uma proposta.
Pretendo dar ampla divulgação deste Salão nesta coluna e em outras páginas de A Tarde, por entender a sua importância pára o desenvolvimento das artes plásticas na Bahia, e, também como incentivo aos novos artistas que estudam nas várias unidades universitárias.

COSTA LIMA - O artista Costa Lima abriu sua exposição individual na Galeria O Cavalete, no Rio Vermelho. A mostra reúne quadros a óleo com temática casarios, interiores e marinhas. É um jovem pintor que impressiona por gostar de pintar interiores, hoje, uma temática esquecida por novos valores. A pressa do mundo moderno leva a maioria a procurar outras temáticas mais ligadas como realidade e esquecem dos interiores onde estão os locais calmos e de meditação. Daí Costa Lima ter uma importância fundamental porque assim temos a certeza de que bons trabalhos continuarão sendo produzidos, a exemplo, dos feitos por Raimundo Aguiar, Presciliano Silva e outros que se dedicaram aos interiores.
É verdade que Costa Lima ainda não alcançou o nível de um desses mestres citados. Porém, é um jovem talentoso e acima de tudo um profissional que vive do seu ofício, pois a pintura é sua atividade principal e única.
Concordo com a ideia de Romano Galeffi quando lembra que Costa Lima não deve ficar preocupado em fotografar ou melhor em copiar como tal os interiores.
O certo é que mesmo aquele que se dispõe a copiar alguma coisa sempre acrescenta ou diminui. Isto porque o ato de criação mesmo subordinado a uma copilação sempre tem algo de pessoal e de diferente. O certo é que o artista deve sempre acrescentar ou retirar aquilo que achar desnecessário. Acredito na força criadora de Costa Lima. Não quero falar em aristocrática memória ou outros bichos porque cairia num vazio.
Gosto de falar palavras que possibilitem a formação de imagens.Digo a Costa Lima que a máquina fotográfica está aí e cada vez mais sofisticada.É capaz de reproduzir como a máquina de filmar movimentos sucessivos num apertar de botão. Portanto, vamos pintar casarios, marinhas e interiores com a preocupação de dar o toque pessoal do artista, que antes de mais nada é um criador que brinca com o pincel e as tintas. E Costa Lima é um jovem que começa a despontar, mas  certamente dentro de pouco tempo será melhor reconhecido o seu valor.

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