JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 18 DE
JUNHO DE 1977
No exterior são realizados leilões que viram notícia em todo mundo |
Este
é o quadro desolador e uma prova evidente é o número de exposições realizadas
este ano. Poucas. As mais expressivas foram realizadas pelo Museu de Arte
Moderna, sem fins comerciais. As demais poderíamos destacar uma meia dúzia que
merecem destaque. Prefiro não relacioná-las para evitar, maiores
constrangimentos. Conhecendo de perto as necessidades dos nossos marchands e
também a imobilidade que toma conta de todos, escolhi para entrevistar o
Dimitri Ganzelevitch por ter uma experiência européia, e, também por sua
maneira de trabalhar que gera polêmica com alguns artistas. Disse Dimitri que
vejo uma mudança no mercado de arte da Bahia, com a presença de um público nas
galerias. Antes o público nas galerias. Antes, o público ia comprar diretamente
em mãos dos autores. Uma prova disto é que os próprios artistas já procuram
também as galerias para expor seus trabalhos.
Portanto,
começa a surgir uma pequena evolução e as galerias já colocam trabalhos,
obedecendo a determinados critérios, especialmente, da qualidade da obra.
Ele
defende que o marchand é um mal necessário para a arte e para o artista. Pois o
artista não pode mais ficar em casa pintando, esperando que de verão em verão
apareça um possível comprador porque já estamos numa metrópole com mais de um
milhão e duzentos mil habitantes, com dezenas de artistas produzindo e isto
mostra que existe uma concorrência. Por isto mesmo, o comprador procura as
galerias onde encontra uma certa variedade de
bons trabalhos expostos e o
artista percebendo este fato procura a galeria.
Estas
afirmações de Dimitri Ganzelevitch são verdadeiras e demonstram que ele vem
acompanhando e se informando do que vinha acontecendo e sobre o que está
ocorrendo. Ressalto, no entanto, que pouca coisa mudou. O número de
colecionadores baianos é muito reduzido, porque estamos num estado de condições
de adquirir obras de arte, embora saibamos que muitas galerias vendem a
crediário. O movimento nas galerias sofre uma queda na chamada baixa estação e
aumenta na época em que os hotéis ficam abarrotados de turistas. O estrangeiro
corpora trabalhos baratos primitivos e o chamado turista interno paulista,
gaúcho, carioca, especialmente vem com a determinação de comprar trabalhos de
artistas baianos consagrados. Mesmo assim este movimento ocasional não permite
um desenvolvimento maior das galerias e certamente muitas poderiam a qualquer
momento cerrar suas portas. Com isto não quer dizer que desejo o
desaparecimento de qualquer galeria. Pelo contrário, gostaria, que a Fundação
Cultural e outros órgãos estaduais dessem apoio ás galerias no sentido de
incentivar a realização de exposições. É preciso pensar antes de
comercialização, na cultura baiana e no prestígio que a Bahia desfruta no sul
do País, como celeiro de bons artistas. Basta lembrar: Rubem Valentim, Emanuel
Araújo, Jenner Augusto, Mário Cravo Filho e Neto, Floriano Teixeira, Carybé e
muitos outros. Portanto, resta que os homens encarregados da política cultural
procurem atrair os bons marchands para que possamos realizar trabalhos de
grande significação, como por exemplo, grandes salões e exposições.
PAINEL
LAZER
CHEGOU- recebi o segundo número da revista Lazer de histórias em quadrinhos e
passatempo que traz excelentes desenhos de Cedraz. A revistinha está sendo
vendida nas bancas de jornais. A qualidade dos desenhos de Cedraz é
indiscutível, embora espero que o artista amadureça mãos ainda as historinhas.
Os editores de Lazer merecem todo nosso estímulo.
DEZ ANOS- Iniciando as comemorações do seu décimo aniversário a Panorama Galeria de Arte reuniu trabalhos dos artistas Anita Dantas, Antonio Sibasolly, Carlos Simas, Déa Miranda, Djalma Barros, Ivonete, Mireles, Oswaldith pinturas e esculturas de Renato Camargo e desenhos de Walter Morais. A mostra vai até o dia 26.
BATISTA-
o entalhador Batista expõe em Bonn, na Alemanha trabalhos aonde aborda temas
primitivos.
Durante
o vernissage compareceu o embaixador do Brasil na Alemanha, Sr Jorge de
Carvalho e Silva. Na foto, o artista e sua esposa. ( Foto)
SUCESSO
DO SALÃO- Representantes de oito estados nordestinos já confirmaram sua
participação do I Salão Universitário de Artes Plásticas que será realizado em
Salvador e que tem como coordenador o professor Ivo Vellame. Ele acaba de
retornar da viagem que fez ao Nordeste onde manteve contatos com diretores de
escolas e universitários mostrando os detalhes do regulamento do Salão.
O
Salão será uma das promoções que integram o Festival de Arte, que se estenderá
de 4 a 29
de julho. As inscrições estão sendo realizadas na Escola de Belas Artes e os
prêmios totalizam CR$50 mil cruzeiros.
A
viagem do coordenador do Salão visou especialmente conseguir uma ampla
participação de artistas do Norte e Nordeste para que possamos ter uma visão
global da arte que está sendo desenvolvidas nestas regiões. Por outro lado,
possibilitará o intercâmbio das Escolas de Belas Artes em benefício para o
estudante. Daí resultou a confirmação da presença de representantes dos estados
de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão,
além da Bahia.
Os
universitários que desejarem participar do Salão, independente de técnica ou
categoria, poderão apresentar no máximo três trabalhos, entendendo-se por
trabalho uma peça ou conjunto de peças nas quais se desenvolve uma proposta.
Pretendo
dar ampla divulgação deste Salão nesta coluna e em outras páginas de A Tarde,
por entender a sua importância pára o desenvolvimento das artes plásticas na
Bahia, e, também como incentivo aos novos artistas que estudam nas várias
unidades universitárias.
COSTA
LIMA - O
artista Costa Lima abriu sua exposição individual na Galeria O Cavalete, no Rio
Vermelho. A mostra reúne quadros a óleo com temática casarios, interiores e
marinhas. É um jovem pintor que impressiona por gostar de pintar interiores,
hoje, uma temática esquecida por novos valores. A pressa do mundo moderno leva
a maioria a procurar outras temáticas mais ligadas como realidade e esquecem
dos interiores onde estão os locais calmos e de meditação. Daí Costa Lima ter
uma importância fundamental porque assim temos a certeza de que bons trabalhos
continuarão sendo produzidos, a exemplo, dos feitos por Raimundo Aguiar,
Presciliano Silva e outros que se dedicaram aos interiores.
É
verdade que Costa Lima ainda não alcançou o nível de um desses mestres citados.
Porém, é um jovem talentoso e acima de tudo um profissional que vive do seu
ofício, pois a pintura é sua atividade principal e única.
Concordo
com a ideia de Romano Galeffi quando lembra que Costa Lima não deve ficar
preocupado em fotografar ou melhor em copiar como tal os interiores.
O
certo é que mesmo aquele que se dispõe a copiar alguma coisa sempre acrescenta
ou diminui. Isto porque o ato de criação mesmo subordinado a uma copilação
sempre tem algo de pessoal e de diferente. O certo é que o artista deve sempre
acrescentar ou retirar aquilo que achar desnecessário. Acredito na força
criadora de Costa Lima. Não quero falar em aristocrática memória ou outros
bichos porque cairia num vazio.
Gosto
de falar palavras que possibilitem a formação de imagens.Digo
a Costa Lima que a máquina fotográfica está aí e cada vez mais sofisticada.É
capaz de reproduzir como a máquina de filmar movimentos sucessivos num apertar
de botão. Portanto, vamos pintar casarios, marinhas e interiores com a
preocupação de dar o toque pessoal do artista, que antes de mais nada é um
criador que brinca com o pincel e as tintas. E Costa Lima é um jovem que começa
a despontar, mas certamente dentro de
pouco tempo será melhor reconhecido o seu valor.
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