JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA 06 DE
NOVEMBRO DE 1989
UM CONTADOR DE HISTÓRIAS É
DESTAQUE NA ESCOLA DE BELAS ARTES
Uma necessidade de falar através de suas figuras |
Murilo
acaba de desligar-se da Fundação de Artes. Não tinha nada a fazer por lá. O
mesmo se sucedia com Zivé Giudice, pois são criadores por excelência e nada tem
a ver com a burocracia que impera nesses órgãos caolhos. O que eles precisam é
cuidar da produção da sua arte com mais afinco, levando a profissionalização
cada vez mais com a seriedade que ela exige, para que possamos, todos juntos,
colher os frutos de seus talentos.
Ivo
Vellame soube não deixar a peteca cair. O destaque do Mês era uma tentativa de
tirar o Museu de Arte Moderna da Bahia do marasmo a que sempre foi relegado. Lá
sua esposa Malba fazia um levantamento da história de um artista e o
homenageava, como fazem vários museus em todo o mundo, a exemplo da Pinacoteca
de São Paulo. Seus dirigentes ficaram desinteressados e agora o Destaque é
levado na Escola de Belas Artes.
Fez
sua primeira individual em 1976 e continua até hoje fascinado pela figura
humana. Foi um dos participantes da chamada Geração 70, que hoje está cada vez
mais presente no mercado de arte baiano. O tempo vai mostrar o quanto fomos
felizes ao escolhermos aqueles artistas para a mostra, que será sempre uma
marca na arte baiana.
Aí
está á produção desse grupo, que mesmo antes já se destacava, e esta foi uma
das razões por que tentamos fazer aquele movimento. Queríamos continuar,
formando um segundo grupo. Mas as vaidades pessoais e as incompreensões me
desestimularam e terminei ficando na primeira mostra que valeu por si só.
Na
apresentação do Destaque, Ivo faz uma alusão ao que escrevi sobre ele no
Catálogo da Geração 70. Vejamos: Reynivaldo
Brito, critico de arte, provocador e animador da cultura artística baiana,
soube se mostrar clarividente a respeito dos mais dotados jovens d geração dos
anos 70, registrou no dos seus textos que Murilo é dos artistas que apresentam
um trabalho contemporâneo e em constante evolução, prevendo, portanto, no texto
critico de 76, o grande talento do artista,. A maior parte das pinturas mais
recentes de Murilo (foto) são telas de grandes dimensões. São obras de 89, não
se trata de um expressivismo dramático e enfermo, coisa das primeiras produções
do artista. È uma fase de síntese, plasticamente esplêndida, mista de instinto
e fina racionalidade, doce equilíbrio entre desenho gráfico e com plástica.
Nela figuram os palhaços, os arruados das meretrizes, os gatos de olhos acessos
nos telhados da cidade velha, figuram os músicos, e a dama da noite
enfrenta-nos com seu lenço alegre.
Murilo
requintado de personagens, de bichos e de coisas. Ele nos oferece nas obras da
próxima exposição, na Galeria Época, a sua mais ambiciosa realização a síntese dos seus progressos, algumas
obras-primas da atual pintura baiana e reafirma o seu interesse pelo humano.
CERAMISTAS
LUTAM PELO RECONHECIMENTO DA ARTE
Cincinha Maia e Marília Mascarenhas |
Fazer
cerâmica, segundo elas, é um trabalho duro, que requer muita, muita paciência.
Para fazer cerâmica não se pode fazer cera, disseram. E: nem meter o dedo em
lugar indevido, já que o trabalho é quase 100% manual.
O
fato é que a arte da cerâmica é tão apaixonante e de tal modo envolvente que,
segundo Marília, a integração com o barro cru e lembra de uma frase: Trata-me
bem, lembra-se que eu já fui como você. Segundo ela, é a voz do barro,
referindo-se a nós, que já fomos barro. Cincinha Campos por sua vez, considera
a cerâmica um trabalho eminentemente artístico e artesanal, ainda que não seja
reconhecida e aceita, como é, por exemplo, um quatro a óleo.
Mas
a Associação Baiana de Arte e Cerâmica está lutando com unhas e dentes para que
a cerâmica seja mais respeitado como arte< disse Maia.
PERFEIÇÃO
Já
foi provado até mesmo em literatura que quem faz cerâmica pensa atingir a
perfeição. No livro O Velho Zorba, de Nikos Kazantizacs, a personagem Zorba
corta, com um machado, um de seus dedos fora, simplesmente porque o dedo
atrapalhava o manuseio das peças de cerâmica. O protagonista do livro apenas
pergunta a Zorba se doeu. Claro que doeu, disse Zorba, Marília Mascarenhas e
Cidinha Maia, evidentemente, não chegaram a cortar nenhum dedo com um machado.
Mas nós buscamos a harmonia e, quem sabe, a perfeição, dizem elas.
O
primeiro processo do trabalho desenvolvido por elas e, obviamente, conseguir o
barro. Este vem de São Paulo.
Depois
e feito um projeto, o qual, na prática, sai quase sempre diferente do traçado
original. Em seguida ao projeto, um oleiro se encarrega de bater o barro, já
decantado, para retirar o ar.
E
o oleiro quem faz as pelas, ou seja, montinhos de barro que são levados ao
forno. O restante é feito a mão.
A
temática mais freqüente no trabalho das cerâmicas e a fauna, numa linha
ecológica, bem como linhas geométricas. Elas já participaram de exposições no
Rio de Janeiro, a convite da Associação de Ceramistas daquele estado, mas dizem
que o trabalho na tem sido recompensado do ponto de vista material. Em geral
compra-se muita cerâmica produzida em série.
Não
dão muita importância aos trabalhos originais .É participando de exposições que
valorizamos nosso trabalho, diz Marília ( Paulo Dantão)
A
ESCULTURA MARCA D’ÁGUA
Concebida para representar a Memória da Águia na Bahia, a escultura Marca d”água de autoria do artista Astor Lima, será feita numa estrutura tubular em aço de 200 mml e tem um perfeito equilíbrio plástico. Informa o escultor que esta obra terá 2,20m de altura e 2,5 de largura e
Astor
Lima este tentando sensibilizar algum empresário para que sua escultura seja
executada e instalada em frente ao prédio sede da Memória da Água nos jardins
do Parque do Queimado. Será um grande serviço que se prestará à Bahia.
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