JORNAL A TARDE ,SALVADOR, SÁBADO, 19 DE NOVEMBRO DE 1977
A Bahia é pródiga em falsos valores. Temos forjado ao longo da nossa
História econômica, política, social e cultural falsos valores, que
aproveitando-se da hospitalidade e bondade dos baianos vão estendendo seus
tentáculos.
Pessoas
sem qualquer valor artístico ou intelectual que passam a ser vistas como
escritores, poetas, escultores, pintores e até ricaços, sem um níquel. Vivem
nas altas rodas paparicando os últimos fatos que tomaram conhecimento, pelo
alto, através das múltiplas publicações, e assim vão ganhando status de
entendidos nisto ou naquilo. São capazes de colocar em xeque a capacidade de
responsáveis profissionais, porque dá Ibope. Conversam sobre tudo, embora não
entendam patavinas de nada. Um ciclo que vai crescendo como uma bola de neve e
aí começam usufruir da bondade baiana. Assim temos escultor, que faz orixás e
exus à semelhança de artistas populares, que vendem nas barracas do Mercado
Modelo, só que esses são mais autênticos, porque afloram de uma realidade e
cultura populares. Mas é gente pobre e não pode compartilhar das altas
rodas. Temos intelectuais forjados e colecionadores de objetos de arte, que
começaram a comprar de qualquer jeito e de repente se dizem entendidos. Temos
poetas que nunca escreveram nada que mereça destaque, mas que conseguem impor
por razões que prefiro não citar. Temos pintores e gravadores de péssima
qualidade, que são badalados a toda hora.
É preciso não confundir amizade com capacidade. Você pode ser amigo de pseudo
artista, mas isto não quer dizer que deva incentivar a sua carreira, se
realmente o cara não tem nada para mostrar. È preferível dizer-lhe que procure
outra atividade do que cooperar para formação de um falso valor, que mais cedo
ou mais tarde será desmascarado como o falso brilhante, brilha em certo tempo,
mas este brilho falso será no futuro símbolo de engano.
Forjam
de tal forma esses falsos valores nesta Bahia de Todos os Santos, que os caras
criam até tipos com vestes apropriadas, cortes de cabelo e outros utensílios,
alguns até bizarros e fora de moda. Tudo serve para criar uma capa de
falsidade, quase impenetrável. Daí é o passo dos almoços e dos jantares onde
são citados na colunas sociais. Infelizmente estamos numa cidade onde as colunas
sociais ainda arrastam multidões para as exposições. É sinal de prestígio sair
o nome nas colunas, e está garantida a presença de dezenas de pessoas, que
também sonham em ser incluídas nas listas divulgadas dias após a exposição. Mas
o bom artista vence a todos estes obstáculos pela sua capacidade e
perseverança. É verdade que alguns desses falsos valores enriquecem e muito
deles podemos apontar aqui em Salvador.
Vivem
no fausto porque bajulam, mas tenho certeza que não estão com a consciência
tranquila porque na realidade eles sabem que a sua produção carece de tudo que
significa Arte.Fazem
uma arte menor que é consumida e reconhecida por quem nada entende.
ARTISTAS
CANADENSES NO SOLAR DO UNHÃO
Uma das máscaras expostas no Solar do Unhão |
A
mostra consta de 46 peças selecionadas pelo Ministério de Assuntos Índios e do
Norte do Canadá dentre trabalhadores representativos da Costa do Pacífico e do
Canadá Central. A exposição é intitulada Elos de Tradição e prestigia as novas
formas de arte que surgiram durante os últimos anos á medida que os artistas
canadenses introduziram nas suas criações o espírito e as tradições de seus
antepassados índios. O estilo moderno que aparece em algumas peças é explicado
como resultado de uma integração dinâmica das tradicionais convenções de arte
indígena e as influências da sociedade contemporânea. As máscaras, que são as
peças mais surpreendentes da mostra, combinam vários tipos de madeira com
outros materiais produzidos pela natureza tais como penas, ossos, peles de
animais e cabelos humanos, sendo exemplo típicos da herança cultural dos índios
da Costa do Pacífico do Canadá.
Ao
lado da exposição estão sendo projetados alguns filmes etnográficos produzidos
pelo Instituto Nacional do Filme do Canadá sobre a arte e os costumes dos
índios. O filme de longa-metragem J. A. Martin, Fotógrafo, recebeu este ano no
Festival de Cinema de Canes dois importantes prêmios pela melhor representação
feminina dado a Monique Mercure e o prêmio da OCIC dado ao realizador Jean
Beaudoin, foi apresentado no último dia 17, no cine Bristol. O filme é um
retrato intimista de um casal vivendo sob a sufocante moral da zona rural de
Quebec no fim do século passado. O diretor Jean Beaudoin realizou uma obra
plasticamente cheias de nuances dos sentimentos dos personagens. O filme foi
apresentado com legenda em português.
Ficamos
assim agradecidos a Embaixada do Canadá tal o interesse existente no país,
especialmente, na Bahia pela cultura e pelas coisas canadenses, justificado
pelo crescente intercâmbio de idéias e pessoas.
CÉZANNE NO MUSEU DE ARTE MODERNA DE NOVA IORQUE
Sinto
uma alegria intensa, meu amigo, em conversar a sós com você, escrevia Emile
Zola em maio de 1866 numa carta que fez a seu amigo Paul Cézanne um dos grandes
pintores Impressionistas.
Todos
que gostam da arte sentem imensa alegria quando podem olhar e observar de perto
com intimidade, obras de Cézanne, como as que estão agora expostas nas amplas
salas do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Um homem que também teve suas
dúvidas e vacilações, como chegou a escrever:o céu do meu futuro é um negro
absoluto, mas que traduzia nas cores e temas escolhidos a alegria e as cores
fortes das frutas e das copas das árvores.
Quando
vivo evitava o contato e ficava irritado quando lhe tocava os ombros ou quando
o tomavam pelo braço talvez porque este contágio lhe tirasse a tranqüilidade
necessária a um criador.
Freqüentador
dos cafés literários, principalmente o café Guerbois, preferido dos pintores,
ele sentia-se sem aquele ambiente necessário porque a solidão era seu destino.
Fez a sua primeira exposição em 1874 na Societé Anonyme des Artistes Peintres,
Sculpteurs e Graveurs, no estúdio de Nadar, não recebendo elogios da crítica,
até então muito fechada. Em 1877 suas telas aparecem junto ás de Monet, Sisley,
no terceiro Salão impressionista, e provocam risos e Incompreensões. Daí as
exposições se sucedem com intervalos longos: Exposição dos XX, em Bruxelas, em
1890; exposição geral de Vollard, em 1895. Toma parte no Salon des Independants
em 1898 e 1899. Em 1900 participa da Grande Exposition Internationale com três
telas. Daí seu valor é reconhecido e torna-se presença marcante no Salon des
Independants em 1901 e 1902 e, em 1904 no Salon d’Automme com uma sala inteira.
Em outubro de 1906 caiu doente vinda a falecer dias depois, exatamente no dia
22 de outubro de 1906.
É
portanto com grande festa que o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque realiza
esta exposição de Cézanne com a colaboração dos Museus Nacionais de Paris, que
ficará aberta ao público até 3 de janeiro de 1978. Assim quem for á Nova Iorque
neste período não deve deixar de visitar esta importante exposição pois
certamente será um fato inesquecível.
OS
PÁSSAROS E OS CAVALOS INDOMÁVEIS DE CRISTIANO
Foi
em 1973 o início de um trabalho de pesquisa em torno do movimento dos cavalos.
Os indomáveis Corcéis que correm nos prados. Sua apreensão significa prova de
força e agilidade. Eles correm indomáveis nas telas brancas que são tingidas
por manchas espontâneas de tintas, com a maestria do pincel de Cristiano. Um
ilustrador, desenhista e publicitário que tornou-se pintor. Um mineiro
acostumado a conviver nos vales e serras de sua Minas Gerais com o cavalo que
transportava em seu lombo os senhores e as sinhazinhas, que carregava o ouro e
outras pedras preciosas, que eram retiradas pelos escravos das serras e grutas.
Tudo isto está presente na figura dos cavalos pintados por Cristiano que eleva
a beleza e a altivez deste animal rico em potencialidades plásticas.
Continuando
a examinar sua carreira pictórica encontramos o mesmo artista destacando os
movimentos com outro elemento rico em plasticidade. Os
pássaros, com seu bater de asas constantes. O símbolo da liberdade, que não
deixa de procurar os céus, mesmo quando aprisionado numa gaiola de arame.
Entre
manchas e pinceladas rápidas, Cristiano vai trazendo para as telas os
pequeninos e frágeis, mas velozes seres cobertos de penas. Juntou-os, cavalos e
pássaros todos vagando entre belas composições plásticas e corretas combinações
de cores. Nesta busca continua de captar a nobreza, a leveza, e, principalmente,
os movimentos cadenciados ou rápidos transportou o artista a dança introduzindo
um novo elemento: o homem. Busquei então o homem em suas manifestações de
movimento, em suas raízes, revela em seu depoimento. Surgem assim as figuras
humanas abstraídas em plena alegria de viver. Livres como de cavalos e pássaros,
um sonho que todos nós sensíveis desejamos e buscamos. Cristiano, que já expôs
este ano na Galeria Panorama, está agora na Galeria Guignard, em Minas Gerais , mas
certamente voltará porque é um artista do movimento.
PAINEL
PRÉ-COLOMBIANA - O
mais importante acervo da arte pré-colombiana da América do Sul, pertencente ao
Museu do Ouro do Peru está no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, até 04
de dezembro do corrente.A
mostra, conta com os patrocínios do Banco do Brasil e do ME-Funarte compõe-se
de cerca de 300 peças em ouro, entre objetos utilitários de adorno e de uso
pessoal, de culturas como Vicus (300-200 d.C.) Paracas (300 a .C.-100 d.C). Nazca
(200-800 d.C), Mochica(200-800 d.C.), Chimus(1000-1461 d.C e Inca, dentre
outras.
PALESTRAS - Paralelamente à exposição, o MAM realiza uma série de palestras sobre as culturas
pré-colombianas e o ciclo do ouro, no Brasil e na América do Sul.
TENREIRO - O
MAM- Rio inaugurou também 2º andar do Bloco de Exposições, a mostra Um Tempo no
Espaço de Tenreiro, abrangendo 30 anos de trabalho do artista português,
naturalizado brasileiro, Joaquim Tenreiro.A
mostra consta de 120 obras das suas várias fases: pinturas, retratos, naturezas
mortas, paisagens, figuração geométrica, obra construtivista, produção recente,
e outras. Permanecerá aberta ao público até 21 de dezembro.
PINTURA BRITÂNICA - Sob
o patrocínio do Consulado Britânico, está sendo realizada a mostra
A Cor na Pintura Britânica, reunindo cerca de 200 telas de 20 artistas britânicos contemporâneos. Organizada originariamente para participar da última Bienal de São Paulo, acabou não sendo apresentada, mas do MAM do Rio deverá seguir para outras capitais, inclusive São Paulo. Integram a mostra artistas de várias gerações, muito deles já conhecidos entre nós, como é o caso de Richard Smith grande Prêmio na Bienal de São Paulo, em 1967 e Hitchens, Heron e Scott, que constaram da primeira Bienal, em 1951. As obras em sua maioria são produção recente, de meados da década de 70 para cá, o que se conclui que não se trata de um exposição de velhos mestres, apesar das obras de Ivon Hitchens (1893) e Willian Scott 1913.Entre os mais jovem, estão Allen Jones, Tom Phillips, Stephen Buckley, Richard Smith e outros.
A Cor na Pintura Britânica, reunindo cerca de 200 telas de 20 artistas britânicos contemporâneos. Organizada originariamente para participar da última Bienal de São Paulo, acabou não sendo apresentada, mas do MAM do Rio deverá seguir para outras capitais, inclusive São Paulo. Integram a mostra artistas de várias gerações, muito deles já conhecidos entre nós, como é o caso de Richard Smith grande Prêmio na Bienal de São Paulo, em 1967 e Hitchens, Heron e Scott, que constaram da primeira Bienal, em 1951. As obras em sua maioria são produção recente, de meados da década de 70 para cá, o que se conclui que não se trata de um exposição de velhos mestres, apesar das obras de Ivon Hitchens (1893) e Willian Scott 1913.Entre os mais jovem, estão Allen Jones, Tom Phillips, Stephen Buckley, Richard Smith e outros.
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