JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA 11 DE SETEMBRO DE 1989.
O artista Bel Borba tem exposição Amostra Grátis |
Ele
mesmo avisa a quem interessar possa que o sucesso para um artista e a certeza
de que nunca vai deixar de fazer arte. Só fazer arte. Tudo isso.Evitar
se inscrever nos limitados, duvidosos e insuficientes cânones de mero logismo
arvorado de mercado de arte.
Bel
vende bem. Mas anda na contramão como o querido Raul Seixas, que teimava e
brigava quando alguma música de sua autoria estava fazendo sucesso. Bel , aqui
vem firme contra o mercado de arte, por não aceitá-lo como a condição essencial
para prosseguir o seu caminho em busca de sua expressão. Não aceita as
imposições e as possíveis limitações e os caminhos que o mercado possa exigir
ou apontar.
Rompe
com tudo e com a velocidade de sua arte contemporânea lança farpas para todos
os lados. Fala dos senhores absolutos da verdade. Manipuladores, dirigistas,
que, em sua opinião, em nada contribuem para a comunidade, para o circuito,
para o artista, para o mercado, e em alguns casos será aberta no próximo dia
14, em O Cavalete Galeria
de Arte, e certamente será um dos principais acontecimentos artísticos do ano
que está perto do fim. Vamos lá.
WASHINGTON
TIRA DO LIXO OS MATERIAIS DE SUA ARTE
Vivemos
numa cidade sem sorte. As últimas administrações municipais, principalmente as
de Wilson Magalhães, Manoel Castro e agora a de Fernando José, deixaram que o
lixo tomasse conta de tudo. A cidade turística virou a cidade do lixão. Um
lixão só. D e Itapuã a Itapagipe e até mesmo os bairros nobres estão
experimentando a triste realidade dos chamados bairros periféricos. Porém,
mesmo da miséria e do lixo, algumas pessoas mais sensíveis conseguem ainda
retirar um pouco de poesia e arte. É o caso dos fotógrafos que vão mostrar no
próximo dia 12 uma série de fotos sob o título Lixo Urbano numa promoção da
Fundação das Artes, a ex-Fundação Cultural, que mudou de nome e infelizmente
continua com os mesmos métodos de trabalho e o mesmo marasmo.
Porém,
foi na sede da Fundação Greogório de Mattos que o artista Washington Santana
abriu sua exposição no último dia 06. Bandeira Brasileira, onde mostra alguns
trabalhos concebido a partir de materiais tidos como imprestáveis, recolhidos
no aterro de lixo de Canabrava. Disputando com os badameiros pessoas que vivem
de recolher restos da cidade como latas, embalagens plásticas, etc, para vender
ele conseguiu reunir alguns materiais interessantes. Com dezenas de sandálias
havaianas fez uma brincadeira brasileira, a qual reproduzo na 1º página desta
edição. Esta é a segunda vez que Washington Santana mostra trabalhos feitos com
materiais recolhidos do lixo. O artista consegue recriá-los e enaltecê-los,
depois de uma permanência nos monturos condenado a morte.
O
artista os salva e dá-lhes nobreza transformando-os em elementos de sua arte
intrigante.
Vejo
Washington Santana como uma dessas pessoas inquietas, incompreendidas á
primeira vista, por qualquer pessoa normal, mas quando alguém para e ouve as
suas idéias atenta para inquietação que rege a sua criatividade, fica conhecendo um artista que
tem pique para vencer e tesar qualquer dificuldade. Ele vai em frente com seus
motores invisíveis e realiza. Tem necessidade visceral de executar a sua obra e
para isso se vale dos materiais que dispõe. Se não estão ás suas mãos vai á
Canabrava e de lá constrói seu universo artístico. Material para ele não é
problema. O que Washington gosta mesmo é de desafio, de continuar enfrentando
as dificuldades pela simples satisfação de criar.
MANINHO
VEIO MAIS PARA DAR MAIS CORES ÀS
NOSSAS CIDADES
NOSSAS CIDADES
A
artista plástica e ilustradora Viga Gordilho, criadora do personagem Maninho,
resolveu dar-lhe vida. Com apenas três anos de idade ele sobe ao palco com as
artistas do grupo Lívia Studio de Dança, com trilha sonora de Carmem Mettig e a
direção de Fernando Guerreiro, que estréia no teatro infantil.
Portanto,
maninho transformou-se numa figura viva. Surgiu no momento em que a cidade
estava acinzentada.
Nasceu
de um dado, desses que a gente costuma a sorte. Veio para dar mais cor á cidade
e junto com seus amiguinhos começa a procura pelos quatro cantos cores para
alegrar o ambiente. Por trás desta busca da cor para colorir o mundo está uma
grande lição de vida. Nossas fábricas, sprays, desmatamentos, queimadas,
descargas de automóveis, lixo que jogamos nas praias, os esgotos que despejamos
no mar e rios, enfim, esta ação quase irreversível e destruidora do homem sobre
a Terra tem contribuído para que as cidades fiquem cinzas. Maninho é um simples
alerta para a salvação, para que possamos garantir aos nossos filhos dias
melhores, do contrário, quando adultos, eles encontrarão as árvores e os rios
apenas como registros nos livros ou mesmo confinados em parques, os quais
também na estão livres desta sanha destruidora que se abate sobre tudo.
A
criadora de Maninho, a artista Maria Virgínia Gordilho Martins, acredita que
ainda é tempo de salvação. E, para que isto se transforme em realidade.
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