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domingo, 5 de maio de 2013

VIÚVA DE JOÃO ALVES VENDE ACARAJÉ


JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 07 DE MAIO DE 1977

    

D. Neide Alves sustenta suas filhas vendendo acarajé no Comércio
Poucos lembram de Neide Amália Brito Alves de Oliveira, a viúva de João Alves, um dos maiores artistas plásticos da Bahia, que morreu acerca de sete anos, deixando além da mulher, duas filhas, Josemeire Brito Alves de Oliveira, atualmente com 11 anos e, Jandiara Brito Alves de Oliveira, com 10 anos de idade, e mais duas filhas de  dona Neide, nascidas do seu primeiro casamento. Ao lado da mãe, que hoje é vendedora de acarajé, na Avenida Estados Unidos, no Comércio, as duas filhas do grande pintor baiano, lutam pela sobrevivência, pois apesar da fama do pai, após a sua morte, nada mais restou para a família a não ser as recordações de um homem muito humano e bom pai de família.
Os amigos de João Alves na sua maioria, composta de intelectuais baianos, que não saíam de sua casa por ocasião dos grandes carurus ou mesmo durante visitas informais, simplesmente esqueceram de dona Neide Amália. Muitos deles, prometeram ajudar a viúva, mas nada de concreto fizeram até agora. As telas primitivas de João Alves estão espalhadas pelo Brasil e por vários outros países do mundo, uma vez que foram e continuam sendo, até hoje, disputadas pelos colecionadores de artes plásticas.

QUEIXA

Segundo conta dona Neide Amália, enquanto viveu no lado de João Alves nunca lhe faltou o carinho especial do marido, bem como a amizade de grandes figuras baianas que constantemente visitavam sua casa, para conhecer e adquirir os trabalhos de João, ou mesmo bater papo até altas horas da noite. A casa de dona Neide, onde também era instalado o atelier de João Alves, ficava no fim de linha do bairro de Cosme de Farias, mas nem a distância impedia que as pessoas chegassem até lá. Além dos baianos, pessoas do Rio, São Paulo, Belo Horizonte e até do Exterior também frequentavam a residência do casal, enquanto hoje, ninguém a procura, como se ela só existisse, enquanto viveu ao lado do marido.
A maior queixa de Neide se refere á exploração que foi vítima o seu marido, na maioria das vezes pelos seus maiores amigos. Segundo ela, na base da amizade, os amigos de João Alves adquiriram os seus quadros a preços irrisórios e muitas vezes chegavam a revender com lucros extraordinários, enquanto João recebia o mínimo. Ela não sabe avaliar o valor atual das telas de João Alves, um dos primeiros a retratar a Lavagem do Bonfim, igrejas e Casarões de Salvador, além de paisagens e figuras baianas. Neide reconhece que ele foi vítima de uma exploração desenfreada dos amigos, entre os quais o marchand Renot que tem uma galeria na Ladeira da Barra que ainda hoje conforme informações da viúva, possui vários quadros do grande artista baiano.
Em poder da viúva, nada resta da grande obra de José Alves que morreu aos 60 anos vítima de ataque cardíaco. O único quadro que decorava as paredes da casa do artista teve que ser vendido, segundo dona Neide, a um gerente de uma agência Bancária instalada na Praça da Inglaterra a fim de custear as despesas de funeral do artista e outras dívidas deixadas por ele em armazéns e casas comerciais da cidade.
Tela de João Alves, de 1962, hoje está valorizada
Dona Neide Amália, não se lembra das exposições realizadas pelo marido, porém, afirma que os seus trabalhos eram bastante disputados, sendo que poucos eram levado ás galerias para serem vendidos. Geralmente as pessoas adquiriam lá mesmo em nossa casa.

DIFICULDADES

Antes de conhecer João Alves, dona Neide Amália morava com seus pais na Vasco da Gama e mais duas filhas que nasceram do seu primeiro casamento. Nessa época, viúva pela primeira vez, ela já vendia acarajé na Praça da Inglaterra, para sustentar as filhas. Lá na praça, conheceu João Alves também viúvo, e  começaram a namorar até que comadre Zélia e compadre Jorge Amado, resolveram fazer o nosso casamento.
Durante oito anos, eles viveram muito bem, até que João Alves faleceu e as dificuldades começaram a surgir. Conta que logo após a morte do marido, os amigos prometeram parar o INPS para ela a fim de que  mais tarde, pudesse receber uma pensão. Entretanto, tudo não passou de promessas e assim continua lutando sozinha para garantir a alimentação e educação das filhas. A princípio a coisa foi bem mais difícil e até as jóias que ele deixou, bem como outras que eu possuía, tive que empenhar na Caixa Econômica para garantir a nossa subsistência. Essas jóias, dona Neide não conseguiu reaver, porque após o prazo, não teve o dinheiro para saldar o débito e acabou perdendo tudo.
Hoje, do casal só resta uma casinha no Cosme de Farias, que está alugada a um bancário, para ajudar a manutenção da família.
Dona Neide, vende acarajé no Comércio, pois segundo ela, esta foi a única solução encontrada para a sobrevivência dos familiares de um homem cuja fama ultrapassou as fronteiras do País.
Sem os amigos de outrora e ao lado de suas filhas Neide Amália Brito Alves de Oliveira, reside num velho casarão localizado no Largo do Pelourinho. Estou vivendo com a ajuda de Deus e ás custas do Anjo da minha guarda para garantir a nossa sobrevivência, conclui.

                        PAINEL
LEILÃO - O leilão  de arte que está sendo promovido pelo Instituto Baiano  Reabilitação já conta com mais de cem trabalhos doados por artistas plásticos baianos. O leilão será  realizado na segunda quinzena deste mês, dentro da campanha encetada pela entidade para aumentar o número de atendimentos.
O leilão terá lugar no Salvador Praia Hotel sob a responsabilidade de Orlando Pereira. As obras poderão ser adquiridas mediante financiamento de um banco e serão fixados preços mínimos para cada trabalho.
ANDREW WYETH -O pintor norte-americano Andrew Wyeth esquerda entrando no hall do Instituto da França, em Paris, conduzido pelo secretário da entidade, Emanuel Bondeville, Wyeth tornou-se o primeiro norte-americano membro da Academia francesa de Belas Artes. FOTO.

A MORTE DE ESTEVÃO- foi encontrado morto, recentemente em Ouro Preto o pintor Estevão de Souza, que fora acusado há algum tempo de haver falsificado Guinard. Fabricava quadros em série para vender aos turistas e por isto foi desprezado pelos marchands e galerias. Era muito popular. Quando Guinard era visto falaram em Minas que três telas falsas foram pintadas por Estevão. Mas, nada ficou provado. Agora ele desaparece deixando a dúvida no ar.

JOUBERT- a Galeria O Cavalete está apresentando trabalho do artista sergipano Joubert.

OS AUTORES- alguns franquistas ainda acreditam na mistificação de que os bascos e os vermelhos republicanos bombardearam Guernica em 26 de abril de 1937. Guernica é o símbolo da conivência de Franco com a suástica alemã. Guernica que foi imortalizada num painel de Picasso será lembrada como um reflexo ou consequência de um totalitarismo sangrento. E a frase de Picasso respondendo a uma indagação de um oficial nazista em Paris durante a ocupação, se ele era o autor de Guernica a que o pintor respondeu "Não. Os autores de Guernica foram os senhores."

SALÃO- Será inaugurado no próximo dia 28 de maio a mostra das pinturas e gravuras que estarão concorrendo a prêmios do V Salão Jovem, promovido pelo Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, de Santos, São Paulo. Os trabalhos poderão ser entregues até o dia 14, e farão, jus aos seguintes prêmios: CR$ 15, 10, quatro de 5 e um de 3 mil cruzeiros.
Os interessados podem obter maiores informações na Galeria Rag, na Boca do Rio.

ANTONETO - O pintor Antoneto (Antonio Francisco de Souza Neto acaba de ser premiado com uma em Brasília  com a medalha de prata no 4.º Salão de Inconfidência realizado pela Associação dos Artistas Plásticos do Distrito Federal . Lá os prêmios foram entregues a todos os artistas e teve um catálogo organizado. Antoneto foi também premiado no I Salão de Verão promovido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia. Já disse mais de uma vez que este jovem pintor é uma das grandes revelações das artes plásticas nos últimos anos. O que ele precisa é continuar pintando com critérios de um profissional.


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