JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 07 DE MAIO DE 1977
D. Neide Alves sustenta suas filhas vendendo acarajé no Comércio |
Os
amigos de João Alves na sua maioria, composta de intelectuais baianos, que não
saíam de sua casa por ocasião dos grandes carurus ou mesmo durante visitas
informais, simplesmente esqueceram de dona Neide Amália. Muitos deles,
prometeram ajudar a viúva, mas nada de concreto fizeram até agora. As telas
primitivas de João Alves estão espalhadas pelo Brasil e por vários outros
países do mundo, uma vez que foram e continuam sendo, até hoje, disputadas
pelos colecionadores de artes plásticas.
QUEIXA
Segundo
conta dona Neide Amália, enquanto viveu no lado de João Alves nunca lhe faltou
o carinho especial do marido, bem como a amizade de grandes figuras baianas que
constantemente visitavam sua casa, para conhecer e adquirir os trabalhos de
João, ou mesmo bater papo até altas horas da noite. A casa de dona Neide, onde
também era instalado o atelier de João Alves, ficava no fim de linha do bairro
de Cosme de Farias, mas nem a distância impedia que as pessoas chegassem até
lá. Além dos baianos, pessoas do Rio, São Paulo, Belo Horizonte e até do
Exterior também frequentavam a residência do casal, enquanto hoje, ninguém a
procura, como se ela só existisse, enquanto viveu ao lado do marido.
A
maior queixa de Neide se refere á exploração que foi vítima o seu marido, na
maioria das vezes pelos seus maiores amigos. Segundo ela, na base da amizade,
os amigos de João Alves adquiriram os seus quadros a preços irrisórios e muitas
vezes chegavam a revender com lucros extraordinários, enquanto João recebia o
mínimo. Ela não sabe avaliar o valor atual das telas de João Alves, um dos
primeiros a retratar a Lavagem do Bonfim, igrejas e Casarões de Salvador, além
de paisagens e figuras baianas. Neide reconhece que ele foi vítima de uma
exploração desenfreada dos amigos, entre os quais o marchand Renot que tem uma
galeria na Ladeira da Barra que ainda hoje conforme informações da viúva,
possui vários quadros do grande artista baiano.
Em
poder da viúva, nada resta da grande obra de José Alves que morreu aos 60 anos
vítima de ataque cardíaco. O único quadro que decorava as paredes da casa do
artista teve que ser vendido, segundo dona Neide, a um gerente de uma agência
Bancária instalada na Praça da Inglaterra a fim de custear as despesas de
funeral do artista e outras dívidas deixadas por ele em armazéns e casas
comerciais da cidade.
Tela de João Alves, de 1962, hoje está valorizada |
DIFICULDADES
Antes
de conhecer João Alves, dona Neide Amália morava com seus pais na Vasco da Gama
e mais duas filhas que nasceram do seu primeiro casamento. Nessa época, viúva
pela primeira vez, ela já vendia acarajé na Praça da Inglaterra, para sustentar
as filhas. Lá na praça, conheceu João Alves também viúvo, e começaram a namorar até que comadre Zélia e
compadre Jorge Amado, resolveram fazer o nosso casamento.
Durante
oito anos, eles viveram muito bem, até que João Alves faleceu e as dificuldades
começaram a surgir. Conta que logo após a morte do marido, os amigos prometeram
parar o INPS para ela a fim de que mais
tarde, pudesse receber uma pensão. Entretanto, tudo não passou de promessas e
assim continua lutando sozinha para garantir a alimentação e educação das
filhas. A princípio a coisa foi bem mais difícil e até as jóias que ele deixou,
bem como outras que eu possuía, tive que empenhar na Caixa Econômica para
garantir a nossa subsistência. Essas jóias, dona Neide não conseguiu reaver,
porque após o prazo, não teve o dinheiro para saldar o débito e acabou perdendo
tudo.
Hoje,
do casal só resta uma casinha no Cosme de Farias, que está alugada a um
bancário, para ajudar a manutenção da família.
Dona
Neide, vende acarajé no Comércio, pois segundo ela, esta foi a única solução
encontrada para a sobrevivência dos familiares de um homem cuja fama
ultrapassou as fronteiras do País.
Sem
os amigos de outrora e ao lado de suas filhas Neide Amália Brito Alves de
Oliveira, reside num velho casarão localizado no Largo do Pelourinho. Estou
vivendo com a ajuda de Deus e ás custas do Anjo da minha guarda para garantir a
nossa sobrevivência, conclui.
PAINEL
LEILÃO - O leilão de arte que está sendo promovido pelo Instituto Baiano Reabilitação já conta com mais de cem trabalhos doados por artistas plásticos baianos. O leilão será realizado na segunda quinzena deste mês, dentro da campanha encetada pela entidade para aumentar o número de atendimentos.
LEILÃO - O leilão de arte que está sendo promovido pelo Instituto Baiano Reabilitação já conta com mais de cem trabalhos doados por artistas plásticos baianos. O leilão será realizado na segunda quinzena deste mês, dentro da campanha encetada pela entidade para aumentar o número de atendimentos.
O
leilão terá lugar no Salvador Praia Hotel sob a responsabilidade de Orlando
Pereira. As obras poderão ser adquiridas mediante financiamento de um banco e
serão fixados preços mínimos para cada trabalho.
ANDREW WYETH -O
pintor norte-americano Andrew Wyeth esquerda entrando no hall do Instituto da
França, em Paris, conduzido pelo secretário da entidade, Emanuel Bondeville,
Wyeth tornou-se o primeiro norte-americano membro da Academia francesa de Belas
Artes. FOTO.
A
MORTE DE ESTEVÃO- foi encontrado morto, recentemente em Ouro Preto o pintor
Estevão de Souza, que fora acusado há algum tempo de haver falsificado Guinard.
Fabricava quadros em série para vender aos turistas e por isto foi desprezado
pelos marchands e galerias. Era muito popular. Quando Guinard era visto falaram
em Minas que três telas falsas foram pintadas por Estevão. Mas, nada ficou
provado. Agora ele desaparece deixando a dúvida no ar.
JOUBERT-
a Galeria O Cavalete está apresentando trabalho do artista sergipano Joubert.
OS AUTORES- alguns franquistas ainda acreditam na mistificação de que os bascos e os vermelhos republicanos bombardearam Guernica em 26 de abril de 1937. Guernica é o símbolo da conivência de Franco com a suástica alemã. Guernica que foi imortalizada num painel de Picasso será lembrada como um reflexo ou consequência de um totalitarismo sangrento. E a frase de Picasso respondendo a uma indagação de um oficial nazista em Paris durante a ocupação, se ele era o autor de Guernica a que o pintor respondeu "Não. Os autores de Guernica foram os senhores."
SALÃO-
Será inaugurado no próximo dia 28 de maio a mostra das pinturas e gravuras que
estarão concorrendo a prêmios do V Salão Jovem, promovido pelo Centro Cultural
Brasil-Estados Unidos, de Santos, São Paulo. Os trabalhos poderão ser entregues
até o dia 14, e farão, jus aos seguintes prêmios: CR$ 15, 10, quatro de 5 e um
de 3 mil cruzeiros.
Os
interessados podem obter maiores informações na Galeria Rag, na Boca do Rio.
ANTONETO - O
pintor Antoneto (Antonio Francisco de Souza Neto acaba de ser premiado com uma
em Brasília com a medalha de prata no 4.º Salão de Inconfidência realizado pela Associação dos Artistas Plásticos do Distrito Federal . Lá os
prêmios foram entregues a todos os artistas e teve um catálogo organizado.
Antoneto foi também premiado no I Salão de Verão promovido pela Fundação Cultural
do Estado da Bahia. Já disse mais de uma vez que este jovem pintor é uma das
grandes revelações das artes plásticas nos últimos anos. O que ele precisa é
continuar pintando com critérios de um profissional.
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