JORNAL A TARDE,SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA 18
DE SETEMBRO DE 1989
CELUQUE NOS TRANSPORTA A0S
MISTÉRIOS DO COSMO
Fractal,obra de Celuque em acrílica sobre tela |
Fascinado
pelo universo, o artista Celuque consegue efeitos de luminosidade que
engrandecem a sua obra. Utilizando de um fundo preto e tintas acrílicas,
Celuque que constrói o seu universo onde corpos celestiais gravitam em
movimentos coordenados do preto, ora o alaranjado, ora o branco e agente fica
extasiado diante da possibilidade de viajar por este mundo luminoso e
misterioso. Aí damos asas á imaginação e percorremos como esses heróis das
histórias em quadrinhos e que atualmente invadem o vídeo, as galáxias que
conseguimos criar e realizamos viagens fantásticas.
De
repente nos deparamos com suas obras onde predomina a ação de quebrar, de
desperdiçar, tendo a sua origem no latim de fractor, o que quebra. Assim
Celuque vai construindo suas obras que simplesmente as chama de fractais, como
resultado de um corpo inteiro que se vai dividindo em pedaços e esses em nova
partículas que vão-se fracionando se quebrando numa ação multiplicadora. Em
alguns momentos a gente tem a sensação que suas partículas estão em ação,
aumentando á medida em que-se vão fracionando. Realmente, essas obras, onde
surgem os elementos que nos transportam ás galáxias e ás fractais, demonstram maturidade
do artista que dispõe de toda uma técnica e criatividade exemplares.
Quanto
a presença da figuração, confesso que senti que Celuque não chegou lá. Falta
alguma coisa que faça a ponte entre esta figuração e os elementos do mundo de
sua fantasia cósmica. A figura do Davi, mesmo envolvida por alguns elementos
pictóricos que acompanham a sua obra, não foi capaz de me emocionar. Cheguei a
conversar com Celuque e ele me respondeu que pretende continuar trabalhando
também com a figuração. Espero que no futuro próximo possa encontrar exatamente
o que busca, para que acabe este hiato entre esses dois momentos de sua arte.
Sua
exposição apresenta um bom nível do conjunto das obras, principalmente as telas
que lembram os elementos do Universo. A luminosidade é perfeita, com grandes
efeitos de cores fortes, e, mesmo á disposição e agrupamento das manchas de
cor. São obras para serem observadas numa certa distância para que o espectador
sinta toda a profundidade que o artista quis transmitir.
CENTO
E VINTE PAINÉIS DE ART NOUVEAU NO TCA
Cento
e vinte painéis de Art Nouveau compõem a
mostra organizada pelo Instituto Goethe de Munique formados de fotografias,
diapositivos grandes e algumas peças de móveis que ilustram bem este momento da
arte mundial. As peças são exemplos procedentes de quase todos os países
europeus e dos Estados Unidos, a influência do Jugendstil nas áreas da
arquitetura, pintura, decoração interiores, artes aplicadas, esculturas,
ilustração de livros e cartazes.
O
material será exposto agrupado de acordo com os estilos floral, linear e
geométrico, que caracterizam a Art Noveau, como também é conhecido este período
da história da arte que se estende de 1980 a 1910 e que os países
de língua alemã chamam de Jugendstil.
A
exposição que o Instituto Goethe de Salvador vai montar será aberta no próximo
dia 20, no Foyer do Teatro Castro Alves, onde permanecerá até o próximo dia 15
de outubro.
A
Arte Nova não está isenta de reminiscências barrocas. O enunciado quase
patético é um traço comum a ambas as épocas. O movimento dinâmico, os ritmos
freqüentes das linhas curvas e ondulantes, a utilização, como ornamentos de
figuras de peixes e insetos, as extremidades espiraladas e curvas dos motivos e
a sua plasticidade são aspectos também comuns. O romantismo tinha já
aprofundado o interesse pela investigação da história da arte; mas só nos fins
do século se produziram resultados visíveis, que não tem caráter historicista,
antes são o resultado de uma oura reflexão. Como precursores do movimento
global da arte do fin de siécle podem
citar-se os grupos de pintores que se formaram em Inglaterra, em França e na
Alemanha na viragem do século, os chamados pré-rafaelitas, os nabis e os
nazarenos.
Nestes
grupos trabalham pela primeira vez artistas individuais conscientemente num
estilo uniforme. Verificava-se neles um vivo intercâmbio de idéias, que ia
enriquecer os pintores individualmente e lhes permitia elevar-se acima das suas
próprias possibilidades.
A
influência mais duradora foi a dos seus quadros, o recurso e ritmos florais são
tendências que vamos encontrar também na Arte Nova internacional. Um sentido
estético extremamente requintado animou também todo o fin de siécle. Os
símbolos do movimento pré-rafaelita, a flor-de-lis, o olho de pavão e o
girassol, bem como as figuras de mulher tristes e misteriosas, são
característicos de toda a pintura da viagem do século.
Os
fatores referidos levaram, nos diversos países e de acordo com a situação e
mentalidade específicas, á formação de uma imagem diferenciada daquilo que
pretendemos formular com o conceito de Arte Nova. Também a personalidade dos
artistas se transformou neste período. Ao lado do pintor e do escultor
tradicionais surge, com importância decisiva, o artista que marca todas as
formas de expressão e criação com seu estilo próprio: O arquiteto não projeta
apenas o edifício, mas também todo o equipamento, indo até os mais pequenos
detalhes. Pretendia-se, que a nova concepção do trabalho artístico se
estendesse a todos os objetos.
Jugendstil
é o termo usado nos países de língua alemã para uma época da história da arte que
se inicia por volta de 1890, e que de há uns anos a esta parte vem suscitando
um interesse verdadeiramente notável. Este interesse é múltiplo, não se
limitando apenas no âmbito da arte, mas alargando-se a todo o estilo de vida da
chamada Belle Époque. Os olhares que se voltam para trás enchem-se da nostalgia
dum mundo cheio de grandes nomes, que tinha sido o do período burguês da
fundação do segundo império alemão, e esquecem a atmosfera quase revolucionária
em que vivia este seu mundo.
Esta
imagem superficial é, assim, contraditória, e move-se freqüentemente no âmbito
das emoções sensuais e da vivência duma geração. Por aqui se pode ver já como o
Jupendstil abrange um vasto domínio, ainda não totalmente explorado, pelo
simples fato de que ele suscita esperanças e pensamentos extremamente
subjetivos que, alíás, se revelam quase todos corretos. Raramente uma categoria
da história da arte designa uma variedade tão grande de formas de expressão,
sobretudo se pensarmos no curto período a que se refere a chamada viragem do
século. Por um lado, os produtos de luxo de toda uma geração que quer criar as
suas formas de expressão próprias, por outro lado, a confissão artística de uma
época que pretendia restaurar a unidade de vida
e arte. Certos aspectos do mau gosto do século XIX, contra os quais o
novo estilo precisamente lutou e dos quais nos libertou, t~em sido
incorretamente apelidados de Jugendstil, e daí o considerarem-se freqüentemente
a peluche e as palmas como motivos estilísticos característicos da Arte Nova.
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