JORNAL A TARDE,SALVADOR,
SEGUNDA-FEIRA 24 DE JULHO DE 1989
MAURICE DEBAUVAIS EXPÕE 18 OBRAS
NO MERIDIÉN
Mais
uma atividade cultural feita em homenagem ao bicentenário da Revolução
Francesa. O consulado daquele país, em Salvador, com o apoio da Aliança
Francesa e do Hotel Le Meridién, estão promovendo até o dia 31 a exposição retrospectiva,
com 18 quadros em tinta a óleo do artista francês, Maurice Debauvais.
Formado
pela Escola de Belas Artes da cidade de Rouen, uma das mais importantes da
Europa, onde nasceu há 50 anos, o pintor pós impressionista se revela
apaixonado pelas fortes cores vibrantes da Bahia. Motivo pelo qual disse
retornar pela terceira vez. Foi na paisagem baiana, sobretudo na orla marítima,
que disse ter se inspirado para compor duas de SUS mais belas obras em
exposição- e cujos preços preferiu não anunciar. Alagados e Pescador de
Arembepe a predominância do amarelo, simbolizando a influência marcante do Sol
em nosso ambiente.
Maurice
Debauvais diz que procurou realçar também a riqueza do elemento humano e dos
peixes, no caso de O Pescador e a sensibilidade das construções em palafitas, em Alagados. Outra
curiosidade que se evidencia no trabalho do artista é que ao invés de pintar
tradicionalmente com pincéis, prefere utilizar espátulas. Merecendo inclusive o
elogio do ex-diretor da Escola de Belas Artes de Rouen, em Savary.
A
justaposição das cores aplicadas pela espátula lhes dão uma transparência
delicada. O desenho estilizado e ás vezes nítido, contribui no todo para
acentuar as formas no ritmo, sublinhar a cor, o que consolida o conjunto, dando
á obra sua coesão e sua unidade. Além disso comenta que as diferentes partes do
quadro são dispostas de maneira a serem indispensáveis umas ás outras e a
formarem uma estrutura arquitetural sólida, repousando sobre si mesma.
Afora
a análise do crítico, o próprio pintor explica que os ambientes que o marcaram
nos vários países por onde peregrinou, como Espanha, Itália e Grécia, o
influenciaram bastante, carregando sua obra de emoção. No Panorama de Rouen,
por exemplo, onde há nítida predominância do azul, comenta, com humor que
aquela cor está gravada em sua mente desde quando nos tempos de Exército, no
deserto, só via areia e céu. (Zildenor Dourado).
O artista Maurice Debauvais com duas das dezoito telas que estão expostas no Hotel Meridién |
Ao
pé do fogão é usado apena a luz natural, a fotógrafa Iêda Marques conseguiu
captar emoções/situações inesquecíveis da realidade rural do Brasil,
particularmente o mundo social visto pelo ângulo feminino. Suas fotos das
cozinhas e da comunidade rural de Cutia,em Boninal, na Chapada Diamantina, são
de rara beleza. Uma prévia já foi mostrada ao público na Bienal o ano passado.
Mas a grande produção apresentou no programa Terça Fotográfica, uma promoção do
Núcleo de Fotografia da Fundação Cultural, que aconteceu dessa vez na Sala
Walter da Silveira, nos Barris. Nesse mesmo dia, o Núcleo apresentou o
audiovisual resultado da oficina Fazendo audiovisual.
Ieda
Marques apresentou uma audiovisual com 80 slides produzidos a partir de 1987.
Algumas de suas fotos de Cutia já ganharam o mundo.
Ela
foi uma das fotógrafas brasileiras selecionadas no concurso internacional
organizado pela Comunidade Européia para a exposição Mulheres Vista Por Mulheres que vai percorre a Europa e América Latina.
Seis
fotos suas estão também em exposição na Suíça, integrando a mostra Saúde Para Todos, uma promoção da Organização Mundial de Saúde. Além disso, ela é um dos
destaques da mostra Brasil-cenários e personagens, da Funarte, que está em
cartaz na União Soviética e que também vai percorrer vários países do mundo.
Tudo
isso ainda é pouco para definir o trabalho dessa baiana de Boninal, que estudou
Pedagogia na USP, mas que se apaixonou e se profissionalizou mesmo foi em Fotografia. O
critico e diretor da Escola de Fotografia Imagem-Ação, de São Paulo, Claúdio
Feijó, não poupa elogios as fotos de Ieda ao declarar que seu trabalho é de
nível internacional. Ou o crítico Rubens Fernandes Júnior júri da Bienal que
fez questão de destacar a força das cozinhas do interior baiano de Ieda.
Mais
do que captar imagens das cozinhas e das comunidades rurais do nosso País, Ieda
Marques utiliza a fotografia como importante trabalho de registro e
documentação das relações sociais nas zonas rurais, onde as mulheres têm um
papel fundamental. Em Cutia, por exemplo, ela mostra que são as mulheres que
assumem o trabalho e até da agricultura de subsistência, afinal é muito grande
o E êxodo masculino para São Paulo por causa da seca.
E
se as relações sociais se estabelecem a partir das mulheres, as cozinhas são
muito representativas.
Constatando
com o vazio dos outros cômodos das casas, as cozinhas são sempre muito
enfeitadas, com as panelas, talheres e pratos utilizados também como objetos de
decoração.
Importante
salientar também a transformação cultural da zona rural através das cozinhas.
Como diz Ieda, com a devastação ecológica, está cada vez mais difícil encontrar
lenha..
E
com isso, o fogão a gás já está entrando nas cozinhas da zona rural,
influenciando diretamente nas relações, que não mais se estabelecem, infelizmente,
ao pé do fogão.
Uma das cozinhas da zona rural fotografada com luz natural pela fotógrafa Iêda Marques |
Na
próxima quinta-feira, na Galeria Prova do Artista, no Salvador Praia Hotel, o artista
plástico, Anísio Dantas, estará expondo desenhos e gravuras. O crítico de arte
Jacob Klintowitz afirma que após percorrer um longo caminho, começou com
figuras trabalhadas em tonalidades, com ênfase no sensualismo, agora casa
formas geométricas com paisagens gestuais e telúricas, na preocupação com
espaços imaginários, cósmicos, mágicos. Artista de boa formação, solidamente
ancorado na prática da pintura como veículo ideal para as suas idéias, ele tem
pesquisado a percepção de realidades diversas da convenção. Anísio Dantas
nasceu em 1933. Iniciou sua carreira em 1964, no então estado da Guanabara.
Participou desde então de diversas coletivas, como o Salão Nacional de Arte
Moderna, Salão Air France, Bienal de Artes Plásticas da Bahia, Bienal de São
Paulo, exposições na Suíça, Espanha, Japão, na Bienal Ibero Americana do
México.
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