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segunda-feira, 15 de abril de 2013

GRAVURA BAIANA PRECISA RETOMAR A SUA PRODUÇÃO - 19 DE JUNHO DE 1989.


JORNAL A TARDE,SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA 19 DE JUNHO DE 1989.

GRAVURA BAIANA PRECISA RETOMAR A SUA PRODUÇÃO

Já era tempo de mudança. Finalmente as oficinas que vinham funcionando no Solar do Unhão vão receber uma dose de incentivo. Sempre vi o trabalho das oficinas como de grande importância para o movimento de arte da Bahia e aplaudi a iniciativa dos seus fundadores. Porém as oficinas caíram na mesmice e não prosperavam, não procuravam inovar, trazendo á Bahia artistas de outros estados para que os alunos pudessem tomar conhecimento de novas informações e habilidades.
Não estou aqui discutindo o talento dos artistas, que lá ensinaram Todos são de reconhecido valor. O que questiono é exatamente a necessidade, inclusive para os seus professores das oficinas que aqui aportassem artistas conceituados de outros lugares, porque entendia ser muito importante a troca de informações.
Agora parece que esta idéia que sempre tive com relação ás oficinas, vai ser concretizada. Os cursos foram suspensos pelo Departamento de Artes Plásticas, da Secretaria da Cultura, e o barracão onde funcionam as oficinas foi reformado. A produção do filme Orquídea Negra patrocinou a reforma de alguns equipamentos e a Secretaria de Cultura as obras do prédio.
O programa antigo vai continuar, na parte da manhã, e, à tarde, um professor-artista de preferência de fora, vai repassar suas experiências para os baianos. O primeiro convidado é Sérvulo Esmeraldo, um gravador e escultor cearense de gabarito. Com muitos anos de profícuo trabalho ele vai mostrar aqui a sua arte numa exposição, e, ao mesmo tempo, contribuíra para o desenvolvimento da gravura baiana. Sabemos que a Bahia já foi um grande centro produtor de gravuras, e diga-se de passagem, gravuras de qualidade. Hansen Bahia, Edson da Luz, Juarez Paraíso, Calasans Neto e muitos outros contribuíram para que ostentássemos um lugar de destaque na gravura nacional.
Alguns quase deixariam de fazer gravuras, outros morreram e a produção caiu Hoje, a gravura baiana tem pouca produção e qualidade duvidosa. Será, portanto, uma oportunidade da retomada da gravura baiana.
Uma notícia me deixa mais tranqüilo. O dinheiro arrecadado com o aluguel do restaurante do Solar do Unhão está sendo repassado para o Departamento de Artes Plásticas e, assim, será possível manter este programa, juntando algum recurso do orçamento da própria Secretaria da Cultura.
Por outro lado, informa Zivé Giudice, do Departamento de Artes Plásticas que serão redimensionados os espaços das oficinas de escultura e cerâmica as quais terão lugares próprios, evitando que fiquem misturadas com a de gravura em papel. Esta terá uma atividade bem maior, nesta nova fase das oficinas. Concordo com a colocação de cada oficina num determinado espaço desde que integradas, e vamos agora aguardar o cumprimento das promessas. Estaremos daqui de plantão para aplaudir as boas iniciativas e exigir o benefício do próprio artista e da cultura dos baianos. Também os artistas daqui, mesmo os profissionais, poderão utilizar o espaço, e vamos torcer para que a gravura baiana retome o seu lugar no cenário artístico nacional. Já era tempo.

                       ZAU SEABRA QUESTIONA A ESSÊNCIA DA MODERNIDADE

Nesta tela intitulada Sublimação, Zau Seabra
 mostra e questiona o consumismo desenfreado
Estamos vivendo tempos de facilidades nunca vistos. Os aparelhos telefônicos com utilização de raios laser, carros com memória, sistemas de comunicação cada vez mais instantâneos, os satélites programados e os computadores que conversam, estão aí nas vitrines e nas indústrias á disposição do homem moderno. Por outro lado, nas sociedades onde a concorrência  individual e a livre iniciativa ainda estão num estágio mais atrasado, como no Brasil, a grande maioria da população ainda não pode desfrutar dessas benesses, tão alardeadas pelos futuristas. Ao contrário, estão vivendo tempos de fome, de miséria, de falta de abrigo e de saúde abalada. Nos grandes aglomerados urbanos os pobres se degladiam  em busca da sobrevivência e muitos roubam e até matam.
Uma guerra civil não declarada e quase sempre quando a Polícia bate num barraco lá encontra fatalmente os aparelhos eletrônicos e outros bens de consumo da sociedade moderna, os quais foram roubados de alguém que os comprara. Muitos ficam neuróticos, incapazes de entender as dificuldades que lhes são postas á frente.
A ânsia pela liberdade varre o mundo. Na China 1.400 jovens foram tragicamente massacrados pelas armas automáticas e os possantes tanques. Na Rússia, várias minorias étnicas lutam por liberdade e Gorbachev acena com a possibilidade de derrubar o vergonhoso muro de Berlim. Na Argentina, a hiperinflação se encarrega de espalhar a miséria e alertar nós brasileiros de que também podemos sofrer deste mal. É exatamente este universo de contradições e de incertezas que Zau Seabra, uma aluna da Escola de Belas Artes faz o seu discurso pictórico intitulado.
Nóias Urbanas, onde mostra a modernização do universo urbano e suas conseqüências positivas ou negativas em contraponto com os sonhos de liberdades, facilidades desenvolvimento tencológico onde o medo do presente do futuro se encontram.
Seu trabalho é calcado nesse mundo e tem forte conteúdo social tendo o ser humano como centro de tudo. Ela já participou de algumas coletivas e expôs no Salão Universitário de Artes Visuais promovido pela Universidade Federal da Bahia, sob a coordenação do professor Ivo Vellame. Evidente que ainda jovem, dando seus primeiros  passos no mercado de arte, Zau Seabra tem muito que aprender com relação á técnica e sua relação com outros materiais. Pelo menos ela já demonstra uma disposição e alguma informação sobre o mundo que lhe cerca. Não é uma simples pessoa que tem alguma habilidade.
Considero que a informação é o elemento primeiro para o início de um trabalho pictórico consciente e questiona dor da realidade. Aí sim, está o toque inovador e o papel do artista de estar sempre na frente. Zau Seabra está expondo na Galeria do Aluno.

   MARIA ADAIR EXPÕE SUAS TRAMAS EM  CONQUISTA

Maria Adair convida:
Sente-se na Trama
A trepidante Maria Adair, depois de andar pelo exterior levando suas tramas, agora chega á cidade do frio (nem tão fria assim) Vitória da Conquista  para expor na Galeria de Arte  Geraldo Rocha.
Nascida em Itiruçu, no interior da Bahia, certamente, as tão decantadas raízes tenham contribuído para esta volta, com toda força de sua pintura, que antes de tudo demonstra uma potencialidade de ação muito grande. São linhas que se cruzam ora mostrando tensões contidas, ora a vontade de sair, por aí sem destino, como os milhares de jovens que colocaram uma mochila nas costas e perambularam por este mundo afora até retornarem ás casas dos pais...
A artista consegue nos levar a percorrer aqueles caminhos quase superpostos em busca de novas emoções.
Qualquer objeto serve para a sua busca incessante. Uma cadeira, uma gamela, enfim, o que estiver ao seu redor pode servir de suporte para a explosão de sua força criativa. Esta abstração da realidade que está presente na obra de Maria Adair nos distancia de uma representação objetiva, mas também nos envolve em tramas de cores fortes e emocionantes. A energia transmitida pelas linhas que se entrecruzam e a luminosidade do cromatismo nos levam a momentos de prazer, quando nem pensamos, já estamos navegando por um mundo cheio de fantasias e subjetividades. Verdadeiros sonhos, onde muitas vezes procuramos o princípio das linhas e encontramos outra saída e tudo volta ao princípio. Uma trama perfeita rica em sensibilidade e energia.





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