JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 22 DE
JANEIRO DE 1977
SALÃO DE VERÃO NASCE VITORIOSO
Um óleo sobre tela de Antoneto mostrando uma festa na vila |
Dos
185 artistas inscritos no
I Salão de Verão organizado pela Fundação Cultural do
Estado, apenas 69 vão expor seus trabalhos. Foram
enviados 518 obras entre pinturas, esculturas, objetos, xilos e desenhos das
quais apenas 168 serão mostradas, depois de uma cuidadosa seleção, feita pela
comissão julgadora do Salão. Como participante da comissão julgadora considero
este Salão gratificante pelo volume de obras apresentadas e pela qualidade das
obras de alguns novos valores que começam e despertar no setor das artes
visuais em nosso Estado.
No
entanto, notei a disciplina de alguns artistas conhecidos e, com exposições
realizadas, inclusive por órgãos culturais, em enviar para o Salão, trabalhos
sem qualidade. Esta displicência mostra o desinteresse ou simplesmente não
sabem medir o valor do seu trabalho. Isto resulta em desprestígio, que pode ser
avaliado ,pelo número de obras retiradas
pela comissão. Assim o público terá oportunidade de visitar as salas
onde ficarão expostas as obras e encontrar apenas um quadrinho, insignificante,
de uma artista conhecido.
Os Bichos do artista Francisco Augusto |
É
um exemplo para os que começam. A necessidade de uma autocrítica, de uma
reavaliação daquilo que estão fazendo em relação ao que fizeram antes. É a
febre das frases. O artista nem começa e já alcança três ou mais fases. O
trabalho artístico é fruto de um amadurecimento de uma ideia e como tal deve
ser concretizado. Nada de extravagâncias ou muito menos improvisação neste País
do jeitinho. Vamos trabalhar sério, mostrando aquilo que sabemos fazer em
benefício próprio e da cultura baiana.
Notamos
também que certas pessoas continuam trabalhando tão mal como começaram. são
casos que a única solução é a desistência. Parece duro a gente falar em
desistência, mas é a realidade. Essas pessoas foram eliminadas do Salão.
Este
Salão tem por objetivo proporcionar uma amostragem mais panorâmica possível das artes visuais em nosso Estado. Não
existiu o espírito de concorrência, embora estejam presentes os Prêmios de
Detalhe de uma tela de Luis Britto |
Aquisição que serão conferidos por entidades culturais e empresas privadas. A
mostra foi reduzida ou ilimitada simplesmente por falta de qualidade dos
trabalhos apresentados por algumas pessoas e pelo espaço físico disponível a montagem.
Assim cada artista exporá no máximo duas obras. Tivemos muita dificuldade em
julgar os trabalhos apresentados. Eram 518 obras. Nos reunimos por mais de seis
horas seguidas e revimos por duas vezes as obras recusadas para diminuir a
possibilidade de erro. Chegamos a um consenso geral na escolha desses nomes que
são: Maria Luísa; Vera Lima, Maria Betânia; Ida Reis, Kátia Berbert, Francisco
Nascimento, Eduardo Carvalho, Elmo Sacramento, Luís Brito, Otávio Nascimento,
Justino Marinho; Ubirajara Mutti, Leonel Rocha, José Antônio Cunha, Idalina
Almeida, Glei Melo, Hermes Lopes, Francisco Vieira, Walter Pinheiro, Itamar
Espinheira, Henrique Pepe, Gilson Rodrigues, Miguel Najar, Romilda de Oliveira,
Anna Georgina, Arlindo Gomes, César Romero, Roberval Marinho, Carlos Alberto
Simas, Graça Ramos, Zélia Oliveira Rosa Alice, Sérgio Velloso, Waldenberg,
Denise Pitágoras,
Edson Calmon, Gildázio Vieira, Maria Auxiliadora Lopes, Zivé
Giudice, Maria Adair, José Palles, Carlos França, Reinaldo Gonzaga, Humberto
Vellame, Edmilson Ribeiro, Antônio Luiz, Sólon Barreto, Roberto Meirelles, Rita
Barreto, Bartira, Francisco Assis, Therezinha Lima, Ângela Maria Cunha, Maria
Tehofila da Silva, Joselito Duque, Tião Claudio Vultagio, Ângela F. Cunha, Emma
Vale; Leo Toniolo, Yuriko Kaminda, José Artur, José Leão Bandeira, Wilson Isse,
Antônio C. Meireles, Eduardo Simas, Hilda de Oliveira, Bráulio Lopes, Paulo
Diniz, Antônio Benedito, Fernando Belém, Cléia Azevedo, Jorge Bandeira, Leila
Maria Gaeta; Severina de Melo, Carmem Carvalho, Clara de Souza, Alberto Borba,
José Emerson, Botelho Pedrosa, Gláucia Maria, Calixto Sales, Bruno Visco,
Antoneto, Zu Campos, Herbert Eloy, Renato de Medeiros, Marlene Cardoso, Márcia
Tourinho, Juarez Maranhão, Almiro, Rita Moraes, José Carlos Lauria, Benedito
Barreto, Marlene Batista, Sidney Roberto, Renato Viana.
DETALHES
Tela de Jorge Bandeira |
Os
nomes apresentados aqui não estão em ordem de classificação, porque o I Salão
de Verão não tem classificação para evitar a competição entre os artistas. A
relação obedece a ordem em que a comissão ia escolhendo os trabalhos enviados.
Quanto aos recusados, trabalhos, podem ser retirados a partir de terça-feira no
Museu do Estado, situado na Avenida Joana Angélica.
Por
indicação de um dos membros da Comissão julgadora foi aprovada para apreciação pela Funarte Estado, situado a
Avenida Joana Angélica.
Por
indicação de um dos membros da Comissão Julgadora foi aprovada para apreciação
pela Fundação Cultural, uma moção para que sejam escolhidos cincos artistas,
que posteriormente seriam lançados numa exposição, visando incentivá-los.
A
Comissão Julgadora foi composta de Calasans Neto, Reynivaldo Brito, Ivo Vellame
Jacyra Oswald, Geraldo Machado e Pasqualino Magnavita.
Notamos
ainda a grande avalanche de casarios, mal feitos, mal estruturados.
Trabalhos
sem qualidade que servem apenas para enganar o turista menos avisado que deseja
levar um pedacinho da Bahia.
Uma
artista iniciante enviou uma tela que era a maior de todas. Fomos examiná-la de
perto e na sua ficha a tela gigante
estava avaliada em 150 mil
cruzeiros. Era minha opinião deveria ser uma simples apelação do artista
iniciante, que se chama Waldenberg.
A
tela lembra aquelas estampas germânicas. Não apresenta qualidade, nem
criatividade, nem tampouco o seu autor tem um nome formado para pedir tão alto
preço. Concluo apenas com a hipótese que o gigantismo da mesma tenha lhe
impressionado ao ponto de levar a fixar tal preço.
Destaco
alguns trabalhos apresentados que poderão ser indicados para os Prêmios de
aquisição e cujos nomes revelo: Antoneto, Luís Brito, Kátia Berbert, Francisco
Augusto, José Carlos Lauria, Jorge Bandeira, Justino Marinho, Humberto Vellame,
Carmem Carvalho, Juarez Maranhão, Edmilson Ribeiro, Zélia Oliveira. Esses são
alguns dos nomes que poderão ser indicados.
Digo
poderão, porque serão escolhidos 20 nomes de comum acordo com a Comissão
Julgadora, os quais serão depois conhecidos.
PAINEL
CARTUNS
E QUADRINHOS - De
24 a 28
deste mês estará aberta ao público uma exposição de cartuns e quadrinhos
baianos na Biblioteca Central, nos Barris, promovido pelo Centro de Pesquisa e
Comunicação de Massa. Exporão: Lage, Setúbal, Nildão, Cedraz, Jorge Silva,
Limiro, Menandro Ramos, Carlos Ferraz, APS, J. Lessa, Calunga, Carlos França,
dentro outros.
Esta
mostra é muito importante tendo em vista a seleção dos melhores trabalhos que
representarão a Bahia na exposição Panorama do Quadrinho Brasileiro 77 no Museu
de Arte Moderna, reunindo Ziraldo Henfil, Maurício de Souza e Perotti.
PRESERVAR-
Já que não podemos salvar o homem, Chico da Silva encontra-se atualmente
internado num hospital psiquiátrico, bastante debilitado, procuraremos defender
a sua obra contra a ação de dezenas de copiadores. Estas palavras refletem o
objetivo da Fundação Francisco Domingos da Silva, que quatro artistas cearenses
e um pesquisador norte-americano lançaram num programa da TV educativa no
Ceará.
KANTOR
EM FILME- Um
grupo de amantes da pintura compareceu á exibição do filme sobre a obra de
Kantor, este pintor argentino divulgou em vários países da Europa e Oriente. O
filme apresenta toda a sua obra pictórica e mostra detalhes interessantes com
utilização de luz que varia de intensidade. Esta variação destaca alguns
detalhes de suas telas.
Kantor
é uma das figuras humanas mais sensacionais que já conheci. Um homem de grande
sensibilidade. A simplicidade de suas telas é resultado de um trabalho
amadurecido de uma artista que tem um nome internacional a zelar e portanto
está fora de atitudes mesquinhas que nunca o atingirão.
PAISAGEM
BRASILERIA- Uma paisagem brasileira pintada pelo holandês Frans Post, datada de
1664, foi vendida por um milhão e 200 mil cruzeiros na Sotheby Parke Bernet, de
Londres. A tela mostra as ruínas da cidade de Olinda tendo no primeiro plano um
grupo de regras.
VAN
DYCK FICA- A pintura de Van Dick Madona Com a Criança, vendida no último verão
europeu a um museu americano, vai içar na Inglaterra. Foram arrecadados nada
menos que 231 mil libras esterlinas, cerca de 4 milhões e 620 mil cruzeiros
para pagar a soma alcançada pela peça num leilão.
GAM-
Jornal Mensal de Artes, de bom nível o Jornal Mensal de Artes editado por Hélio
Silva e Duda Machado, no Rio de Janeiro.
O
último número que é o 35, apresenta uma matéria sobre o Grupo Tribus e outra
com o pintor Antônio Berni.
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