JORNAL A TARDE, SALVADOR, 15 DE
DEZEMBRO DE 1979
O FLECHAR DOS ESPAÇOS
Emanoel
Araújo inaugura sua exposição na próxima terça-feira na Galeria da Pousada do
Carmo depois de doze anos sem realizar uma individual em Salvador. A volta de
Emanoel como expositor em Salvador me faz relembrar o artista que concebia suas
gravuras figurativas com os famosos gatos.
Agora,
mais maduro, ele nos brinda com relevos e esculturas geometrizantes
cuidadosamente concebidas. Não nos apresenta uma retrospectiva de sua obra mas
uma síntese dos últimos anos mostrando os caminhos percorridos e seu vôo em
busca dos espaços através dos relevos e posteriormente das esculturas.
Nesta
mostra colocará quatro peças que integraram sua presença no último Festival de
Arte Negra na Nigéria, algumas gravuras e os relevos que representam seu último
degrau em busca da escultura.
Falando
de sua escultura Emanoel Araújo diz que todos esses trabalhos flecham os espaços.
Tem momento que agente começa a descobrir coisas e a caminhar em busca de objetivos
ainda vividos na imaginação. Sempre achei que a gravura deveria ocupar um lugar
importante. A partir daí vieram as gravuras figurativas, bem maiores. Isto
aconteceu até 1968. A
seguir vieram os relevos e os espaços vazados.
Voltaram
às gravuras planas dando destaque ás reentrâncias e textura da própria madeira.
E a idéia de ocupar os espaços, de flechá-los como ele mesmo afirma. Não
podemos esquecer das gravuras de armar, formadas por faixas que nos permitam um
jogo lúdico em busca da concepção de novas formas. Hoje, o Emanoel é um
escultor que partiu da gravura plana,
figurativa desembocou com maestria em busca de espaços e formas mais ousados e livres. Sua intimidade com a
madeira vem de longe e mesmo agora suas peças são feitas em madeira pintada em
cores cinza, vermelho e azul, dentre outras.
Posso
afirmar que Emanoel Araújo, natural de Santo Amaro da Purificação, é hoje um
artista conhecido em todo o Brasil, e tem uma coerência em tudo que vem
realizando. Um amadurecimento artístico onde o figurativo de gatos e mulheres
foi substituído pelas formas geométricas. Percorreu como afirmou o decorador
José Pedreira solitariamente, nesses últimos anos o seu caminho em direção do
objeto e do espaço. E aí está o menino de Santo Amaro flechando os espaços com
suas formas pontuagudas, mas que carregam e se encerram dentro deles algo
ligado com a sua gente.
Ele
espera que a sua mostra seja vista pelos jovens, e também, por seus colegas,
muitos dos quais não conhecem na tonalidade a sua obra. Agora é uma boa oportunidade
depois de doze anos de afastamento das galerias em Salvador. está curioso, como
um iniciante de como será recebido pelo público baiano, pois seu contato maior é com o público do
eixo Rio-São Paulo.
LIVRO
SOBRE O MUSEU NACIONAL DE B. ARTES
A
implantação do Museu de Belas Artes, as diversas fases de sua construção e do
seu funcionamento, e a reprodução das obras de seu acervo com dados biográficos
do autor e um retrato da época, são os assuntos abordados no primeiro volume da
coleção Museus Brasileiros lançando pelas edições MEC-Funarte.
Idealizada
pelo antigo diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas, Alcídio Mafra de
Souza, com seleção de texto do Prof. Edson Motta e trabalho gráfico da divisão
da programação da Funarte, a coleção Museu do Brasil 196 páginas com reprodução de setenta e oito obras de
artistas brasileiros e estrangeiros do acervo do MNBA refletir o esforço pela
sobrevivência da memória nacional, expressão hoje tão usada quanto
incompreendida segundo Roberto Parreira, diretor executivo da Funarte. Esse
esforço, acrescentou, deve estar efetivamente vinculado a uma permanente
valorização do patrimônio artístico Brasil.
Para
Édson Motta, atual diretor do MNBA, a vida dos museus cresce de importância,
nos dias atuais, pela legítima compreensão de sua atuação cultural e didática
no seio da comunidade.
O
museu adquire real importância como uma casa de cultura no cenário das
atividades inteligentes do país e a sua ação dinamiza-se ou deve dinamizar-se,
por força da nova compreensão que transfere o museu de uma elite fechada, como
acontecia até o século XIX, diretamente para o povo, sem fronteiras de classes
e educação.
Primeira
das obras produzidas no volume-Nossa senhora da Ajuda, da escola fluminense de
pintura, do século XVIII é considerada a mais antiga obra de arte do período
colonial brasileiro, passando por pintores do século XVIII, até os artistas da
fase modernista brasileira.
Mostra
trabalhos de Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, entre outras.
Durante
o lançamento do livro, estiveram expostos no saguão do MNBA, algumas das obras
reproduzidas no livro: Copo d’Água, de Aurélio Figueiredo, Engenho de Mandioca,
de Modesto Broscos Y Gomes, A Caminho da Escola, de Eliseu d’Ângelo Visconti
(capa do livro) e Paisagem de Sabará, de Alberto de Veiga Guinard.
Os
próximos volumes da coleção Museu Brasileiro já programados são o Museu de São
Paulo, Museus de Imagens do Inconsciente, Museu de Arte Sacra da Bahia e Museu
Paraense Emílio Goeldi.
O
preço do volume sobre o MNBA é de CR$300,00.
BIENAL
INFANTO-JUVENIL PRESTA HOMENAGEM AO ANO INTERNACIONAL DA CRIANÇA
A
Galeria Sérgio Milliet(Rua Araújo porto Alegre, 80) expõe, de 18 de dezembro a
31 de janeiro, 96 trabalhos de dois painéis selecionados entre 1780 obras
enviadas de todo o país por crianças e jovens de até 17 anos. A comissão,
indicada pela Funarte para fazer a seleção do material, definiu em quatro dias
os participantes da mostra baseada nos critérios de revelação do jogo
imaginário, expressão e comunicação por meio de arte, vinculação da arte com o
desenvolvimento, sob a orientação das diretrizes básicas para a arte na
educação.
Fizeram
parte do júri João Vicente Salgueiro(diretor do Instituto Nacional de Artes
Plásticas), Abelardo Zaluar, Noêmia Varela, Vilma Cunha, Augusto Rodrigues,
Alcídio Mafra de Souza, Arnaldo Rigueira, Germano Blum e Agostinho Olavo.
A
Exposição tem caráter didático e está aberta a escolas de 2ª a 6ª feira, das 10
às 18 horas. Além das pinturas e desenhos serão exibidos cerca de 20 objetos de
cerâmica e uma série de fotografias que descreve a atividade das crianças em
escolinhas de arte.
A
Bienal foi organizada com a participação das Secretarias de Educação nos vários
estados e de várias escolinhas de arte. Tem os seguintes Objetivos: A
conscientização da coletividade, a respeito da atividade expressiva e criadora,
como fator integral do indivíduo; canalização das experiências que as
secretarias vêm realizando no campo da criatividade; apresentação de imagens e
idéias espontâneas de obras que revelem a emoção e o sentimento na arte da
criança e do jovem e o levantamento do que se vem fazendo no Brasil no campo da
atividade artística voltada para a educação.
A
idéia da montagem desta Bienal surgiu para dar continuidade a um trabalho
anterior da Funarte, voltado para a criança. Para participar junto à UNESCO das
comemorações do Ano Internacional da Criança, a Funarte organizou a
participação do Brasil no Concurso Mundial de Desenho Infantil, realizado em
Paris, que tinha como tema Como Viverei no Ano 2000.
O
Instituto Nacional de Artes Plásticas foi o responsável pela difusão e
organização do concurso recebendo 4180 inscrições. Deste índice surpreendente
de participação nacional foram selecionados, em março de 1979, 10 trabalhos. As
obras foram para Paris e um brasileiro Fábio Henrique da Silva Araújo, de 9
anos, ficou entre os 100 melhores trabalhos escolhidos por aquela entidade
internacional.
O
sucesso do concurso aliado a umas das linhas de ação do INAP-Funarte:
Dinamização da educação artística, fez com que surgisse a Bienal Infanto
Juvenil.
Ela
pretende revelar um painel do mundo imaginário da criança e do adolescente no
Brasil de nossos dias.
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