JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 1989.
É PRECISO DAR VIDA AOS POBRES MUSEUS BAIANOS
Debatedores mostraram necessidade de mais ação nos museus |
Foram
abordados diversos problemas desde o funcionamento dos museus baianos, a
precariedade de suas instalações e a falta de uma programação dinâmica e
seletiva. Fui o primeiro a falar. Quando recebi o convite imaginei que o debate
fosse restrito aos convidados, porém, foi bem mais dinâmico do que esperava,
inclusive com uma razoável participação de pessoas interessadas na problemática
dos museus. Durante minha ligeira exposição mostrei que existe um marasmo,
falta de ação dos diretores de museus, que ficam de braços cruzados à espera das
parcas dotações orçamentárias; da necessidade de envolver vários segmentos da
comunidade através da criação de conselhos, para cada instituição, com a
participação de empresários, políticos e outros profissionais que realmente
tenham alguma ligação ou gosto pelas artes. Falei das programações mal
elaboradas, da necessidade de realizar exposições enaltecendo qualidades de
peças do acervo e das visitas dirigidas num trabalho a ser desenvolvido junto
aos colégios para criar um público que garante o futuro dos museus.
O acesso para o MAM-Ba é íngreme e perigoso |
Fachada do Museu Abelardo Rodrigues, Solar do Ferrão |
O
sociólogo Gey Espinheira defendeu a necessidade de um envolvimento maior do
museu com a comunidade.Revelou
não ter muito conhecimento da problemática dos museus, mas que tem a mesma
ideia do povo de que museu é uma coisa parada no tempo.Fez
algumas citações mostrando que essas instituições congelam realidades para uma
contemplação futura.
Já
Justino Marinho defendeu a necessidade dos museus desenvolverem ações que
possibilitem arrecadação de recursos, como por exemplo, a instalação de
lojinhas para venda de livros de arte, catálogos, camisas e outros objetos
promocionais com a logomarca dessas instituições ou desenhos de artistas
baianos. Disse que as programações dos museus, as famosas pautas, são guardadas
a sete chaves e pouca coisa transpira para os meios de comunicação de massa.
Informou
a museóloga Maria Célia Teixeira que de acordo com os dados obtidos numa
pesquisa feita junto a visitante dos museus concluímos que até mesmo as
etiquetas indicativas das obras e outras mensagens que existem dentro dos
museus são insuficientes para informar ao público. Fazemos essas mensagens para
nós mesmos, com uma linguagem muitas vezes inacessível aos visitantes. É
preciso um trabalho mais didático. Por exemplo, quando colocamos uma etiqueta
identificando uma custódia de prata cinzelada, é preciso explicar melhor ao
público. Ela enfatizou a necessidade de trabalhar melhor nossas exposições e principalmente os acervos.
Chico
Liberato lembrou que o Museu de Arte Moderna da Bahia, vem desenvolvendo as
oficinas de arte dando oportunidade ao surgimento de novos talentos. Porém, todos nós sabemos que
o trabalho desenvolvido nos museus baianos é muito acanhado. O próprio museu
que meu amigo Chico Liberato dirige, O MAMB, está conservando mal o seu acervo.
Obras importantes como de Pancetti, Tarsila do Amaral, etc, estão amontoadas
numa sala com alto índice de umidade.
Aliás,
venho defendendo há alguns anos a necessidade e mudar O MAMB do Solar do Unhão,
por estar muito próximo ao mar, o casario mal conservado. Isto contribui para a
deterioração do acervo. Disse também que os diretores de museus, não apenas os
de agora, porque é um problema antigo, não se movimentam para aumentar os seus
acervos e, também, não se articulam para trazer á Bahia muitas exposições
itinerantes que acontecem no Sul do País promovidas por órgãos e instituições
que podem bancar a vinda para cá.
Finalmente,
a professora Ítala Grillo falou do papel da Escola de Museologia e da
necessidade de uma integração cada vez maior dos técnicos com as necessidades e
realidades que lhe cercam.
Diria
que o que ficou constatado durante o debate foi que as verbas destinadas aos
museus são irrisórias, e, que, neste instante surge a adoção de medidas urgentes
de sobrevivência. O Museu de Arte da Bahia está com a sua clara-boia
completamente comprometida, com pingueiras por todo lado. O MAMB virou cenário
de filme e está com seu acervo em péssimo estado de conservação. O prédio do
Museu do Carmo pela mesma forma.
Museu Costa Pinto sempre primou pelo elitismo |
Também,
que os diretores de museus vivem envolvidos em problemas burocráticos e não
tomam medidas que possam dinamizá-los. O corpo técnico tem que agendar as
efemérides, as grandes datas, assuntos locais de importância, como lembrou a
museóloga Mary do Rio de uma exposição que promoveu sobre o Carnaval e que
trouxe muito público ao museu.
Sua
colega Maria Célia lembrou que uma exposição sobre o transporte urbano em
Salvador, indo das carroças e bondes puxados a burros e cavalos ao bonde
moderno, que a prefeitura está implantando daria uma bela exposição, a
arquitetura antiga e moderna de Salvador. Enfim, assunto existe, falta ação.
Vamos arregaçar as mangas, deixar de reclamar da falta de verbas.
Vamos
convocar os segmentos importantes da sociedade, deixar de lado as ideologias e
o idealismo pueril e partir para a prática. Os museus baianos precisam ganhar
vida. Eles estão desfalecendo. Vamos reanimá-los.
O
MUNDO INFANTIL DE WASHINGTON SALLES
O
artista Washington Salles continua em plena produção com seus trabalhos tendo
boa aceitação entre colecionadores de todo o País. Agora ele acaba de entregar
á Galeria Arte Visual, de Brasília, várias obras, algumas inclusive vão figurar
no acervo da galeria. Está preparando uma mostra para a Galeria Oscar
Seraphico, também em Brasília e, uma individual na Galeria Época, aqui mesmo,
no bairro do Rio Vermelho.
Ele
nos mostrará as bolas coloridas, anjos fotografando e tomando sorvetes, suas
bonecas inconfundíveis ambientadas por móveis antigos, a maternidade, enfim,
uma temática carregada de muita ternura do mundo infantil. Washington irá expor
ainda juntamente com Floriano Teixeira em Fortaleza.
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