JORNAL A TARDE , SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA
1º DE MAIO DE 1989
AS FLORES DO DESERTO NA ÓTICA DE
LOURDINHA PORTO
Flores,
paisagens rurais e casario são temas
tidos por algumas pessoas como não muito nobres para serem explorados por
artistas plásticos. Uns dizem que estão desgastados, outros que são temas
antigos e, finalmente, que são muitos utilizados por artistas sem maior
qualificação profissional. Na verdade entendo essas reações como preconceito e,
também, as situo no plano da desinformação. Qualquer tema é nobre desde que
seja tratado com determinados critérios de qualidade.
O
tema pode ou não ter grande significado na obra do artista. O que importa acima
de tudo é a concepção, a forma de conceber a obra. Um tema inadvertidamente
tido como desgastado pode ganhar em qualidade e nobreza a depender da
capacidade criativa de quem executou a obra.
Esta
introdução faz-se necessária porque vou falar de uma artista mulher que pinta
flores. Seu nome é Lourdinha Porto, uma apaixonada pela natureza.Esta
mesma natureza que vem sendo vilipendiada em nosso País , onde as
florestas viram pastos e desertos da noite para o dia. Onde os índios são
encurralados e jogados para as cidades causando total destruição de suas
culturas.
Lourdinha
não é uma botânica e não existe preocupação com a classificação científica das
flores. Apenas a preocupação é estética. Sabemos que existem flores de todas as
cores e matizes, de virtudes específicas como as que desprendem perfumes
maravilhosos, outras tem propriedades energéticas, alucinógenas e até mesmo
afrodisíacas. O que nos interessa, na verdade, são as suas composições
inspiradas em flores que ela pode ver em sua viagem por Israel, Egito, Grécia e
México. Também não poderiam faltar as flores do nosso País que tem realmente
uma flora das mais ricas em todo o mundo. A singeleza da flor é tão marcante em
nossas vidas que sempre comparamos a mulher a uma flor, enaltecendo as suas
qualidades e fragilidade feminina. Aí estão implícitos a beleza, o cheiro gostoso e até mesmo o jeito meigo.
Lembremos como as pessoas ficam felizes quando recebem flores, como por
exemplo, uma corbelha de rosas vermelhas no dia do aniversário! Lembremos ainda
como os parentes das pessoas queridas que morrem procuram colocar nos ataúdes
flores e mais flores. Elas, portanto estão também, ligadas as nossas alegrias e
tristezas. Nos acompanham durante a nossa existência até o desaparecimento.
Esta relação entre nós, seres humanos, e as flores, é muito intensa Lourdinha
Porto resgata este tema, na medida em que, apresenta 30 obras de qualidade, com
boa concepção pictórica e ainda por cima com uma preocupação em buscá-las desde
o deserto israelense até o berço da Civilização, que é a Grécia.
Numa
espécie de diário que escreveu durante a viagem, do qual ela teve a delicadeza
de mostrar, a artista deixa transparecer uma carga emotiva muito grande e acima
de tudo uma satisfação em encontrar novas flores para aumentar seu universo de
conhecimento.
Esta
baiana de Riacho de Santana já participou de vários cursos em atelieres de
artistas e do curso livre de pintura da Escola de Belas Artes, da UFBa.,
trabalha profissionalmente desde 1983. esta é a sua quarta exposição
individual.
Estão
sendo apresentadas 30 obras, todas retratando flores, especialmente as flores
que brotam no deserto. Sua exposição foi aberta no último dia 26, e está aberta
ao público diariamente no Museu Carlos Costa Pinto, na Vitória.
ARTISTA
MINEIRO MOSTRA A SUA OBRA INQUIETANTE
Rui Santana envolvido e iluminado por suas obras |
Ninguém
pode ficar estático diante de uma tela de sua autoria. Pelos menos terá uma
sensação diferente ou fará um comentário. E o artista busca exatamente tirar as
pessoas da inércia, do bem comportado para participar do seu processo criativo.
Ele consegue com forte presença do preto iluminar as suas telas, que demonstram
a necessidade de um esforço criativo e também físico.
Apesar
do preto, não fecha. Abre, esta frase ele ouviu de um visitante de sua
exposição e ficou muito satisfeito porque realmente reflete a relação que se
estabelece entre o espectador e sua obra. Sua preferência pela cor preta, neste
momento histórico que vivemos, diz Rui Santana ser um reflexo de tudo que aí
está. Mas, esperançoso como todo brasileiro, ou pelo menos a maioria e, aí
estão aqueles que sempre acham que o Brasil é o país do futuro, o artista
mineiro vê uma saída.
Discursivo
e informado Rui Santana defende que sua obra tem a marca da contemporaneidade.
E uma arte vinculada ao tempo. Não estou preso a um passado remoto ou a um
futuro que possa descortinar-se. Estou fazendo uma arte dentro de uma realidade
temporal que ora vivemos.
Jogando
as cores básicas, o vermelho, para garantir a iluminação (abertura) finalmente,
a cor preta, a qual usa em grandes quantidades. No seu trabalho o espectador
pode enxergar muita coisa ou não enxergar nada. Sua obra convive com esta
dualidade, permitindo uma discussão por ser instigante e provocante. Talvez aí
esteja implícita uma analogia entre o inconsciente e o próprio universo que
gravitamos.
Na
conversa que mantive com o artista pude sentir um pouco da sua inquietação e da
sua busca em realizar uma obra que tenha uma maior participação do público. Ele
não deseja fazer uma mostra e apenas colocar seus quadros nas paredes e ouvir
elogios. Rui quer uma interação maior entre o visitante e a sua obra. Isto
normalmente ele consegue através do seu fazer pictórico que nos mostra muita
habilidade, e suas formas inconscientes
ou não, nos emocionam.
ABELLEIRA
VOLTA A EXPOR MULHERES EM
SÃO PAULO
Esta
é a segunda exposição individual do artista
Abelleira na capital paulista. A abertura está prevista para o próximo
dia 10 de maio e terá lugar na Associação Brasileira de Listas Telefônicas, que
fica na Avenida Pacaembu.
Ele
vai levar 21 telas enfocando a figura humana e detalhes de rostos, seios e
pernas de mulheres.Depois
de vários anos trabalhando com o pincel, Abelleira fez opção pela espátula e
vem melhorando dia a dia a qualidade da sua obra, na medida em que vai
aprendendo os macetes deste novo instrumento de trabalho. Sua primeira
exposição em São Paulo
aconteceu em 87, e em outubro deste anos estará expondo na Espanha, nas cidades
de Portevedra e Madri.
Nenhum comentário:
Postar um comentário