JORNAL A TARDE,SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 28 DE AGOSTO DE 1989.
GILSON PINTA BANANEIRAS DRIBLANDO A BANALIDADE
Gilson Rodrigues com uma das telas que estão na Galeria Época |
Escrevi
no catálogo de sua exposição que está aberta ao público na Galeria Época que
uma forte trama envolve o observador de sua arte. As estrelas de Janaína
transformam-se num símbolo forte e quase indecifrável. As folhas verdes das
bananeiras são transpostas para as telas e ganham beleza em outras tonalidades,
uma demonstração da capacidade criativa do artista. Um paciente trabalho, que
lembra os monges que habitam os silenciosos conventos e que não tem compromisso
com o tempo. Eles não tem compromisso com o tempo. Eles não tem pressa. Assim é
a arte que ora Gilson desenvolve com uma trama intrigante, onde cada tracinho
necessita de um bom tempo para que sua função seja ressaltada.
Gilson
fica embaraçado quando lhe peço para falar um pouco da sua arte. Ele diz que falar
da intuição fica difícil. Realmente, o seu trabalho é intuitivo e artista tem
mais é que pintar. Falar da obra, para ele, é um verdadeiro trauma, uma
dificuldade quase intransponível. Mas, basta olhar suas telas que elas falam
muito por Gilson. Sua relação com as folhas e até com os cachos das bananeiras
nos faz lembrar de um país tropical onde esta planta é um símbolo presente,
inclusive das nossas mazelas continentais.
República
de bananas, expressão que basta para designar um país do Terceiro Mundo que
vive enfrentando dificuldades e golpes em cima de golpes. Gilson resgata este
símbolo e dá grandiosidade pictórica.
Na
sua obra o símbolo ganha ou recupera a grandeza de sua majestosa plasticidade.
O verde intenso e a própria forma da folha de bananeira têm realmente uma
plasticidade significativa. Gilson percebeu o ato e, assim, vem desenvolvendo
esta temática com criatividade e competência.
GUIA
DAS ARTES FAZ TRÊS ANOS
A Revista Guia das Artes está completando três anos de vida. Recebi um convite de Rita Câmara, na Art Nata Galeria de Arte, para o lançamento da edição comemorativa, que ocorreu no último dia 22. Infelizmente fiquei impossibilitado de comparecer, devido às minhas atribuições à noite no jornal, sempre sujeitas às imprevisões dos fatos jornalísticos. Quero apena salientar a qualidade da publicação especialmente a presença de galerias baianas, e também aproveitar para lembrar que é necessário também inclui artistas daqui com entrevistas de qualidade. O Guia de Artes começou a circular em setembro de 1986 com o objetivo de dar cobertura ao mercado de arte no Brasil, que até então não contava com uma publicação especializada. O evento da Art Nata conta ainda com uma coletiva reunindo obras de Vauluizio Bezerra, Murilo, Leonardo Celuque, Leonel Mattos, Mário Cravo Neto, Carlos Rodrigues, dentre outros. A tiragem da revista é de 15 mil exemplares, sendo que 2,5 são enviados a executivos, empresários, críticos e galerias por mala-direta.
JORGE
GAMA EXPÕE DEPOIS DE CINCO ANOS AUSENTE
Delicadeza, uma palavra capaz de expressar no primeiro contato com o dublê de publicitário e artista plástico Jorge Gama. Nem lembra de perto, que esta figura aparentemente serena possa estar envolvida com layouts , mídia, espaços, faturamentos e outros assuntos que contribuem para neurotizar muita gente.
Embora
esteja dirigindo o setor de criação da Propeg sabemos que a publicidade envolve
outras áreas, quer queira ou não o criador, que tenta de todas as formas ficar
envolvido em sua área de sensível e intocável. Porém, as pessoas de outros
setores sempre estão ao seu redor, todas buscando atender melhor a sua
clientela. Os prazos são fatais. E o tempo corre célere no relógio e nas veias
e nervos das pessoas envolvidas com uma campanha publicitária qualquer,. E o
nosso Jorge Gama já foi até morar em São Paulo quando a agência resolveu abrir uma
filial na capital paulista, mesmo lá não perdeu a tranquilidade, e vez por
outra surgia uma obra, chegando até a fazer algumas exposições. Sua última
exposição foi na Galeria Rubayat, em São Paulo , em 1984.
Olhando
as obras que estão estampadas em seu catálogo , sentimos que a gente da Bahia,
como diz o nosso querido Jorge Amado, está presente em todas elas. É a gente
simples que é retratada no cuidadoso desenho e depois transporta para a tela.
Formado pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, Jorge Gama é um desses
artistas que a vida profissional carregou para outras paragens , mas que a sua
força intuitiva não permitiu que esquecesse a pintura. O curioso é que este
carioca de 60 anos continua disposto a pintar. Sua exposição está na Galeria
Arte Viva, que funciona no Farol Praia Center, na Barra.
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